Uma transformação de Möbius é um quociente de polinômios de grau 1. Essas transformações são muito importantes em computação gráfica e também na área da engenharia conhecida como “processamento de sinais”. Considere a função
,
definida para , , que é uma versão simplificada de uma transformação de Möbius.
Sobre a função inversa de , é correto afirmar que
a) |
, para |
b) |
, para . |
c) |
, para . |
d) |
, para . |
Sendo , para encontrarmos a função inversa devemos trocar x e y de lugar na igualdade e isolarmos y. Deste modo, fazendo a troca, temos:
Note, portanto, que para que possamos isolar y e encontrarmos a função inversa, devemos ter . Assim,
Isolando y na igualdade, temos:
Uma transformação de Möbius é um quociente de polinômios de grau 1. Essas transformações são muito importantes em computação gráfica e também na área da engenharia conhecida como “processamento de sinais”. Considere a função
,
definida para , , que é uma versão simplificada de uma transformação de Möbius.
Considere a sequência , definida por , e para cada , temos , ou seja,
• ,
•
•
e assim sucessivamente. Então, a soma dos 100 primeiros termos desta sequência vale
a) |
140. |
b) |
370. |
c) |
600. |
d) |
740. |
Sendo e , como foi fornecido pelo enunciado, temos
Calculando o valor de , encontramos
Como a sequência é obtida de maneira recursiva (cada termo, a partir do segundo, depende do anterior) e , a sequência fica se alternando entre os valores e .
Nesse caso, dos 100 primeiros termos da sequência, 50 são iguais a , enquanto os outros 50 são iguais a .
Portanto, a soma dos 100 primeiros termos é
Para qual valor de o sistema de equações lineares
admite infinitas soluções?
a) |
1. |
b) |
2. |
c) |
−1. |
d) |
−2. |
Solução 1
Para que o sistema linear apresentado apresente infinitas soluções, ou seja, que ele seja possível e indeterminado, o determinante da matriz dos coeficientes desse sistema deve ser nulo. Assim, temos:
Entretanto, um sistema impossível (sem solução) também apresenta determinante da matriz dos coeficientes nulo. Assim, devemos substituir os valores encontrados acima e escalonar o sistema. Deste modo, temos:
Para ,
Multiplicando a segunda linha por -1, temos:
Observe, portanto, que há uma contradição nas informações da primeira e da segunda linha. Assim, para o sistema é impossível, não tendo solução.
Para ,
Observe que as duas linhas são idênticas, havendo, portanto, uma informação em duplicidade. Deste modo, este sistema pode ser reduzido para
Com uma única equação e duas incógnitas, para cada valor de x, teremos um valor diferente para y, sendo sua solução
Assim, para o sistema é possível e indeterminado, tendo infinitas soluções.
Solução 2
Observando o sistema
Supondo , podemos trocar a segunda linha por ela mesma mais a vezes a primeira linha, assim:
Observemos a segunda linha do sistema. Para que este sistema linear apresente infinitas soluções o coeficiente de x deve ser nulo, caso contrário haveria apenas uma solução para a incógnita x e, portanto, apenas uma solução para y, indicando um sistema possível e determinado. Deste modo, temos:
Para , temos:
Note, porém, que o lado esquerdo da equação é igual a 0 e o lado direito da equação é igual a 2. Sendo assim, este seria um sistema impossível.
Para , temos:
Note, então, que independente do valor de x, a equação é satisfeita. Logo, há infinitas soluções. Deste modo, o único valor de a que torna o sistema possível e indeterminado (com infinitas soluções) é .
Cabe ressaltar que nossa suposição inicial era não nulo, deste modo, verificando o caso , temos:
Ou seja, o sistema teria apenas uma solução, sendo possível e determinado.
A figura seguinte mostra um triângulo retângulo ABC. O ponto M é o ponto médio do lado AB, que é a hipotenusa.
O valor de é
a) |
|
b) |
|
c) |
|
d) |
|
Observe a figura a seguir:
Em um triângulo retângulo, a mediana relativa à hipotenusa é igual à metade da hipotenusa. Logo, temos que
Para calcular a medida do lado , aplicamos o Teorema de Pitágoras no triângulo :
Solução I
Calculamos agora o valor de ao aplicar o Teorema dos Cossenos no triângulo :
Finalmente, pela Relação Funamental da Trigonometria, obtemos:
Como , seu seno é um valor positivo. Portanto,
Solução II
No triângulo ABC, temos:
No triângulo CMB, temos pelo teorema dos senos:
Em um sorteio com cartelas numeradas de 0001 a 2000, João decidiu comprar todas as cartelas em que a numeração exibisse os números 2 e 5, e nenhuma a mais. Por exemplo, João comprou as cartelas 1205 e 0025, mas não comprou as cartelas 0514 e 2000.
Considere as afirmações:
I) João comprou 108 cartelas.
II) Se ao invés das cartelas com 2 e 5, João tivesse comprado as cartelas com 1 e 5, ele teria comprado menos cartelas.
III) João comprou 18 cartelas que possuem o número 3.
Assinale a alternativa correta:
a) |
Todas as afirmações são verdadeiras. |
b) |
Apenas a afirmação I é verdadeira. |
c) |
Apenas a afirmação II é verdadeira. |
d) |
Apenas as afirmações I e III são verdadeiras. |
Analisemos primeiramente a quantidade de cartelas que João comprou.
Como os números vão de até e João não comprou a cartela de número (pois esta não possui o algarismo ), o primeiro algarismo das cartelas que João comprou é o ou o .
Dentre os três algarismos restantes, deve haver pelo menos um algarismo e um algarismo . Seja o outro algarismo. Separamos a contagem em dois casos:
1º caso. e .
Nesse caso, há possibilidades para , além das duas possibilidades de escolha do primeiro algarismo ( ou ).
Além disso, os algarismos , e podem aparecer em qualquer ordem nas três últimas posições, o que corresponde a uma permutação de três elementos distintos: maneiras.
Sendo assim, o total de cartelas desse caso é:
2º caso. ou .
Nesse caso, há possibilidades para o algarismo inicial e outras duas possibilidades para .
Porém, note que dentre os três algarismos finais, dois deles se repetem. Sendo assim, a quantidade de ordenações desses algarismos corresponde a uma permutação de três elementos com repetição de dois: maneiras.
Logo, a quantidade de cartelas desse caso é:
Portanto, João comprou cartelas, de modo que a afirmação (I) é VERDADEIRA.
Observe então que a quantidade de cartelas com os algarismos e é muito superior a .
Com efeito, ao impor que apareçam pelo menos um algarismo e pelo menos um algarismo dentre os três últimos algarismos, podemos contabilizar cartelas, de modo análogo à contagem inicial.
Além destas, há aquelas cartelas nas quais o algarismo figura apenas como algarismo inicial e que possuem pelo menos um algarismo dentre os três algarismos finais.
Contabilizando a quantidade de tais cartelas, temos:
Note que A, B, C, D, E e F precisam ser diferentes de 1, pois os casos em que isso ocorre já estão contabilizados nas 108 cartelas anteriores.
Além disso, tem a finalidade de evitar repetições com os casos já contabilizados em (a) e, analogamente, e evitam repetições com os casos já contabilizados em (a) e (b).
Assim, o total de cartelas com algarismos e é
Concluímos assim que a afirmação (II) é FALSA.
Por fim, as cartelas que João comprou que possuem o algarismo são aquelas nas quais os três últimos algarismos são , e , enquanto o primeiro algarismo é o ou o . Assim, a quantidade de cartelas compradas que possuem o algarismo é
Portanto, a afirmação (III) é FALSA.
Na figura abaixo estão representados os gráficos de uma parábola, de uma reta, e o ponto , que é um dos pontos de intersecção da reta com a parábola.
O valor de é
a) |
-7,5 |
b) |
-7 |
c) |
-6,5 |
d) |
-6 |
Lembrando que uma função quadrática pode ser escrita em sua forma fatorada como:
,
onde e são os zeros da função (raízes) e é o coeficiente do termo quadrático. Assim, observando o gráfico da função quadrática dada, podemos observar que as raízes são iguais a e . Deste modo, substituindo, temos:
Além disso, o ponto pertence ao gráfico desta parábola. Assim, substituindo, temos:
Assim, a função quadrática será:
A função afim pode ser escrita como . Como os pontos e pertencem à reta, temos:
Assim, para encontrarmos os pontos de intersecção entre os gráficos, basta que igualemos as expressões de e . Deste modo,
Como o ponto P é um ponto de abscissa negativa, temos que . Substituindo na função afim, temos:
Portanto,
As gravuras eram um importante e significativo meio de comunicação nas sociedades europeias. Os ecos do Novo Mundo chegavam à Europa rapidamente pelas mãos daqueles que nunca tinham pisado no continente recém-descoberto.
(Adaptado de TATSCH, Flavia Galli. A construção visual da América em gravuras: códigos de Percepção e suas transformações. In: III Encontro Nacional de Estudos da Imagem, 03 a 06 de maio de 2011, Londrina – PR.)
A partir da leitura da imagem e do texto acima – que versam, ambos, sobre a construção visual, em gravuras, da América do início da Era Moderna –, é correto afirmar que
a) |
a gravura traz elementos greco-romanos para representar a descoberta do Novo Mundo. Nela, o continente foi simbolizado pela paisagem típica da América e pela presença de Américo Vespúcio. |
b) |
o código visual da gravura, produzido em um contexto medieval, traz o encontro de Américo Vespúcio com as terras americanas, representado pelos artefatos europeus, como, por exemplo, a rede. |
c) |
a gravura alude ao encontro entre Américo Vespúcio e a América, representados, na imagem, pelo navegador e pela indígena nua. Essa representação resultava dos relatos escritos sobre o Novo Mundo e da tradição imagética europeia. |
d) |
a gravura usa elementos visuais da cultura europeia para apresentar a Europa como detentora de civilidade e a América indígena, grotesca, armada e opositora aos domínios europeus. |
Jan van der Straet (Giovanni Stradano) nasceu em Bruges e era filho de uma família nobre empobrecida. Durante o Século XVII, o artista aprendeu diversas técnicas pictóricas e gráficas, tendo trabalho em Roma, Nápoles e Pisa. Em uma de suas viagens à Antuérpia, Straet foi autor de inúmeras gravuras, alcançando grande fama com a elaboração de séries ou desenhos únicos (geralmente executados sob encomenda). Por encomenda, o artista criou uma série de gravuras denominada Nova Reperta, da qual faz parte a imagem Vespúcio descobre a América.
a) Incorreta. Podemos considerar a influência greco-latina na gravura somente no que se refere aos traços fisionômicos e à proporção do corpo. No entanto, considerando a concepção mais ampla e simbólica da gravura, Straet e alguns de seus contemporâneos buscavam demonstrar que a cultura dos gregos e romanos, que era tradicionalmente o modelo a ser comparado, tinha sido superada. Tais artistas buscavam enfatizar símbolos que representavam uma Nova Era (tais como a descoberta da América, a arma de fogo e a imprensa). Além disso, a afirmativa está incorreta também por afirmar o continente foi simbolizado pela paisagem típica e pela presença do navegador português, pois é a indígena que representa o Novo Mundo.
b) Incorreta. A Idade Média se iniciou no século V d.C. e teve seu término no século XV d.C. Assim, o código visual da gravura não foi produzido em um contexto medieval, mas sim durante a Modernidade (séculos XV - XVIII). Além disso, a rede representada na imagem não é um artefato europeu, mas sim associado aos indígenas americanos.
c) Correta. A imagem mostra uma indígena nua que se levanta da rede para falar com o europeu. América, representada pela a indígena de cabelos compridos, ornamento na canela direita e um enfeite na cabeça, observa o português. Já Vespúcio aparece vestido e armado, segurando nas mãos artefatos sugestivos de seus conhecimentos astronômicos. As imagens do continente americano produzidas nesse contexto foram feitas por artistas que nunca tinham visitado o Novo Mundo. Devido à impossibilidade de desenhos realizados in loco, a principal referência para a produção das imagens eram as descrições textuais, sendo essas muito pautadas pelo repertório do imaginário medieval. .
d) Incorreta. É correto afirmar que a imagem, que opõe a indígena nua e o navegador armado e vestido, pode ser interpretada a partir da oposição entre os conceitos de civilização e barbárie. No entanto, tal afirmativa é descartada ao afirmar que a América indígena é "grotesca, armada e opositora ao domínio dos europeus". A representação da América como um corpo nu feminino, que se levanta de uma rede em direção ao colonizador, é incompatível com a ideia de oposição ou resistência armada; pelo contrário, a sugestão é de o oferecimento à conquista dos colonizadores.
As estimativas sobre a população de Palmares no século XVII oscilam entre 5 e 20 mil pessoas. A crônica abaixo, de 1678, descreve o território palmarino:
Reconhecem-se todos obedientes a um que se chama “o Ganga Zumba”, que quer dizer “Senhor Grande”. A este tem por seu rei e senhor todos os mais, assim naturais dos Palmares como vindos de fora. Habita na sua cidade real que chamam o Macaco. Esta é a metrópole entre as mais cidades e povoações. Está fortificada toda em cerco de pau a pique, com torneiras abertas para ataque e defesa. E pela parte de fora toda se semeia de estrepes de ferro e buracos no chão. Ocupa esta cidade dilatado espaço, forma-se mais de 1500 casas. A segunda cidade chama-se Sirbupira; nesta habita o irmão do rei que se chama “o Zona”. É fortificada toda de madeira e pedras, compreende mais de oitocentas casas. Das mais cidades e povoações darei notícia quando lhe referir as ruínas.
(Adaptado de: ANTT, Manuscrito da Livraria, cod. 1185, fls. 149-55v. In: LARA, Silvia; FACHIN, Phablo (org.). Guerra contra Palmares: o manuscrito de 1678. São Paulo: Chão Editora, 2021, p. 9 – 49.)
Sobre a organização do espaço palmarino, é correto afirmar que
a) |
os negros que fugiram para Palmares ocuparam os espaços urbanos das vilas coloniais na Serra da Barriga; essas vilas tinham sido abandonadas por Portugal durante as guerras de expulsão, de Pernambuco, dos holandeses. |
b) |
o que se convencionou chamar de quilombo de Palmares era uma rede de povoações fortificadas, formadas por centenas de casas e interligadas por meio de um sistema político influenciado por lógicas culturais africanas. |
c) |
as povoações que constituíam Palmares se originaram da estrutura urbanística construída por Nassau nas serras de Pernambuco e Alagoas, a partir da racionalidade holandesa na época da luta pelo domínio do açúcar. |
d) |
a maioria da população negra que vivia nos mocambos de Palmares no século XVII era crioula, ou seja, nascida no Brasil, e combinava a influência da organização política de Angola e das redes urbanas litorâneas e europeias de Pernambuco. |
a) Incorreta. Não é correto afirmar que o Quilombo dos Palmares se formou no espaço de antigas vilas coloniais. Os mocambos associados aos Palmares sequer constituíram pontos fixos ao longo dos anos, sendo realocados ou mesmo reconstruídos em virtude de necessidades naturais ou de ataques de forças inimigas. Tanto sua estrutura de defesa, com paliçadas e armadilhas, bem como a organização interna remontam aos espaços de acampamentos centro-africanos do século XVII e, embora resguardem alguma influência adquirida no contato com os colonos na América (como a presença de capelas), tratavam-se de comunidades com características bastante divergentes das vilas coloniais portuguesas.
b) Correta. Conforme o documento atesta, o território dos Palmares compreendia um grupo de mocambos, e não somente um único agrupamento de escravos fugidos. Além dos mocambos do Macaco e de Sirbupira citados pelo texto base, a documentação de época também revela a existência de outros núcleos populacionais, como Tabocas, Amaro, Zumbi e Andalaquituxe. Quanto à estrutura política palmarina, a documentação colonial reconhece a liderança de Ganga Zumba, “rei” que contava com uma rede de parentes o principal cargo político e militar nos vários mocambos que compunham Palmares. Tal organização remete às estruturas de reinos e sobados centro-africanos, também estados linhageiros e no qual o parentesco era determinante para a ocupação das chefias militar e políticas, indicando uma clara relação entre as estruturas políticas existentes em ambos os lados do Atlântico.
c) Incorreta. A rede de mocambos palmarinos não se originaram das influências urbanísticas nassalinas, mas sim traziam fortes influências centro-africanas. As próprias demandas militares dos mocambos determinavam muitas das características desses espaços, impondo mesmo um caráter provisório às comunidades que, segundo relatos, chegaram a ser cercados, atacados e deslocados ao longo de sua existência. Portanto, a organização desses espaços dialoga mais com elementos existentes em acampamentos militares da região de Congo-Angola do que com a lógica urbanística introduzida por Maurício de Nassau em Pernambuco.
d) Incorreta. Embora crioulos também habitassem os mocambos dos Palmares, não é possível inferir que estes compunham a maioria da população local. O grande afluxo de escravos centro-africanos para o Nordeste no século XVII, a baixa expectativa de vida dos cativos na região e a presença de costumes, tradições e práticas políticas centro-africanas em Palmares sugerem um grande número de escravos africanos em Palmares.
No livro “A invenção dos direitos humanos”, a historiadora Lynn Hunt nomeou dois mecanismos de transformação na França de fins do século XVIII. O primeiro seria a popularização dos chamados romances epistolares. As cartas enviadas pelas protagonistas discorrem sobre as emoções humanas para os leitores. As lutas das personagens Clarissa e Pâmela, descritas por Samuel Richardson, ou as questões de Júlia, personagem de Jean-Jacques Rousseau, fizeram com que os leitores reconhecessem a legitimidade de seus desejos e de suas vivências. Outro mecanismo de transformação social foi a campanha contra a tortura, marcada por uma nova visão de corpo. Para Hunt, ler relatos de tortura e romances epistolares ajudou a moldar o foro íntimo de cada um, o que teve repercussão na política.
Considerando o texto acima e o contexto histórico comentado, assinale a alternativa correta sobre os direitos humanos.
a) |
O nascimento dos direitos humanos ligou-se ao aparecimento do sentimento de empatia entre diferentes sujeitos sociais, independentemente de sua condição social, como se podia ver nos romances epistolares. Isso influenciou os preceitos de liberdade individual e de igualdade social. |
b) |
Conhecidas através dos romances policiais editados pela imprensa revolucionária francesa, as personagens literárias femininas subalternas ganharam importância ao se oporem à tortura, defendida pelo Terceiro Estado nos debates sobre direitos humanos. |
c) |
O nascimento dos direitos humanos envolveu a contestação, pela imprensa francesa, da tortura como prática de obtenção de testemunho ou como castigo. Isso se devia ao fato de que a tortura feria a concepção cristã de corpo, defendida pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão |
d) |
Ao afirmar que todos são iguais perante a lei e que todos gozam dos mesmos direitos, independentemente de sua origem social ou nascimento, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão defendia o cidadão passivo, indiferente à violência e à humilhação na convivência cotidiana. |
A questão traz um importante debate para as ciências humanas, a saber, o debate sobre direitos humanos. Embora a discussão seja amplamente conhecida nos dias de hoje, no sentido de se veicular em diferentes canais e circular em diferentes ambientes e contextos, a expressão e, mais ainda, a ideia, não é da história atual, de nossos dias, mas vem de longa data: pelo menos do final do século XVIII, no cenário da Revolução Francesa e de outros movimentos burgueses modernos. Aliás, é justamente a partir daí que o exercício começa, trazendo um texto para comentar a França dos últimos anos do século XVIII.
Ademais, a questão aborda os direitos humanos na perspectiva de seu nascimento, colocando os romances epistolares como fundamentais para a construção dessa ideia. E, tendo isso em vista, avaliamos os itens, como segue:
a) Correta. Podemos entender direitos humanos da seguinte forma: a ideia segundo a qual todos e todas necessitam de condições fundamentais mínimas para uma existência digna. Nesse viés, empatia e outros termos das ciências humanas, como alteridade e solidariedade, são necessários para colocar em prática essa "poderosa" ideia presente entre os franceses do final do século XVIII. Poderosa ideia que, como a alternativa coloca, começa a se concretizar quando da popularização dos romances epistolares (conforme menciona o texto que introduz o exercício), que fazem as pessoas de diferentes classes despertarem os anseios de liberdade individual e igualdade social, mais dois de tantos outros ingredientes que, quando somados, vão dando corpo e vida à construção dos direitos humanos, construção essa que já dura mais de dois séculos. Vale destacar que os romances epistolares eram aqueles com a narrativa elaborada a partir de correspondências.
b) Incorreta. A alternativa está incorreta pois o texto não trata de romances policiais, mas sim de romances epistolares, aqueles construídos a partir de cartas ou diários. É também incorreto generalizar que o Terceiro Estado apoiava a tortura, vale ressaltar, por exemplo, que o desenvolvimento da guilhotina visava oferecer uma morte "igualitária" e eliminar os suplícios típicos do período medieval.
c) Incorreta. A alternativa erra ao afirmar que a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão defendia uma concepção cristã de corpo, tema que não é sequer abordado em tal documento.
d) Incorreta. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão não defendia um cidadão passivo e indiferente, como sugere a alternativa. A prática cidadã é sempre prática, como o próprio termo já diz e, por isso, ativa. Há de se lutar por igualdade, liberdade, fraternidade, Há de se lutar por cidadania e direitos humanos. Indiferença, sobretudo à violência e humilhação, não levam à construção dos direitos. Jean-Jacques Rousseau, citado no exercício, e tantos outros nomes da história do pensamento ocidental, falaram repetidas vezes sobre isso.
Observe abaixo duas pinturas históricas oitocentistas que se tornaram cânones visuais da História do Brasil, e que são acionadas, por exemplo, nas comemorações do Bicentenário da Independência.
A partir de seus conhecimentos, assinale a alternativa correta a respeito da produção do passado histórico.
a) |
As duas telas encenam dois fatos históricos fundamentais da memória nacional: o descobrimento do Brasil e a fundação da nação independente. Inseridas no panteão histórico nacional, elas valorizam a história global e a Europa. |
b) |
Prática do ideário nacionalista oitocentista, a celebração, na pintura histórica, dos fatos nacionais estava associada à produção – do ponto de vista dos trabalhadores retratados na tela – de uma visão de passado da nação |
c) |
Celebrar eventos do passado foi estratégico para as identidades coloniais criadas no século XIX. Assim, pertencer a uma nação significava herdar um passado de valorização da diversidade étnica e igualdade social. |
d) |
Estas pinturas inseriam-se em políticas de memória que construíam e traduziam valores fundamentais das identidades nacionais. Elas ensinavam sobre as origens da nação e estabeleciam referências identitárias para os cidadãos. |
a) Incorreta. As duas telas estão inseridas no contexto da pintura histórica no Brasil. Ao longo do Império (1822-1889), especialmente a Academia Imperial de Belas Artes, havia o objetivo de contribuir, por meio das artes visuais, para a construção e consolidação de uma identidade nacional específica. Nesse sentido, artistas tais como Vitor Meirelles (1832-1908) e Pedro Américo (1843-1905), realizaram trabalhos ligados a temas chave nesse setor, como o início de nossa colonização (tela sobre a primeira missa) ou sobre o processo de independência (tela sobre o grito do Ipiranga). Nesse sentido, o objetivo final dos trabalhos não era “valorizar a história global e a Europa”, mas sim criar uma versão para a história nacional, centrada numa visão que valorizasse o Brasil e a construção de um passado para a nação.
b) Incorreta. As telas não tinham como ponto central a atuação dos trabalhadores, mas sim, no caso da Primeira Missa ressaltar a construção de um passado ligado ao cristianismo. Já a tela Independência ou Morte, destaca o papel heroico da figura de D. Pedro I para a conquista da independência.
c) Incorreta. Na verdade, as duas telas foram produzidas num contexto de criação e consolidação de identidades nacionais nos países das Américas que haviam conquistado a independência recentemente. Dessa forma, não foram produzidas em um momento histórico de colonização. De qualquer forma, esses trabalhos não visavam valorizar a diversidade étnica e a igualdade social, ao contrário, o protagonismo do passado era centrado nas elites. Dessa forma, os indígenas retratados na tela que retrata a primeira missa são coadjuvantes do protagonismo da Igreja Católica e, na tela sobre a independência, o povo está numa posição subalterna à figura do príncipe europeu.
d) Correta. No século 19, com a conquista da independência o Império muito investiu na construção de uma visão do passado que justificasse a consolidação de uma certa identidade nacional para os cidadãos brasileiros. Desde a atuação de intelectuais, tais como Araújo Porto Alegre, em instituições como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a Academia Imperial de Belas Artes, esses propósitos foram se consolidando. Artistas como Vitor Meirelles e Pedro Américo muito contribuíram para esse propósito por meio de seus trabalhos, ligados a temas como o descobrimento, a independência e guerras.