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Enem 2022 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas


Questão 40 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Pressupostos e Subentendidos antífrase

   10 DE MAIO

      Fui na delegacia e falei com o tenente. Que homem amavel! Se eu soubesse que ele era tão amavel, eu teria ido na delegacia na primeira intimação. (...) O tenente interessou-se pela educação dos meus filhos. Disse-me que a favela é um ambiente propenso, que as pessoas tem mais possibilidades de delinquir do que tornar-se util a patria e ao país. Pensei: se ele sabe disto, porque não faz um relatorio e envia para os politicos? O senhor Janio Quadros, o Kubstchek [9] e o Dr. Adhemar de Barros? Agora falar para mim, que sou uma pobre lixeira. Não posso resolver nem as minhas dificuldades.

      ...O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora.               

      Quem passa fome aprende a pensar no próximo, e nas crianças.

JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2014.


A partir da intimação recebida pelo filho de 9 anos, a autora faz uma reflexão em que transparece a



a)

lição de vida comunicada pelo tenente.    

b)

predisposição materna para se emocionar.

c)

atividade política marcante da comunidade.

d)

resposta irônica ante o discurso da autoridade.

e)

necessidade de revelar seus anseios mais íntimos.

Resolução

a) Incorreta. A autora debocha da leitura que o tenente faz sobre o seu entorno e não trata as observações que ele fez como lições de vida.
b) Incorreta. A reflexão não apresenta qualquer indicativo de alguma emoção profunda, mas de certa indignação sarcástica com a constatação do tenente sobre o ambiente em que vivia.
c) Incorreta. Nas reflexões da autora, não são mencionadas quaisquer atividades políticas da comunidade.
d) Correta. O tom irônico do texto inicia-se a partir da frase “Que homem amável!” e vai sendo reforçado por construções de sentido claramente invertido como em “Se eu soubesse que ele era tão amável”, “interessou-se pela educação dos meus filhos” ou “se ele sabe disto, porque não faz um relatório e envia para os políticos?”. Nessa sequência de enunciados, que marca a reflexão feita pela autora depois de receber a intimação, fica evidente a intenção de indicar os sentidos contrários do que se apresenta, ou seja, de que a autoridade não se interessou verdadeiramente pela educação dos filhos e de que não estava sendo amável. Nesse sentido, pode-se afirmar que a autora visa ao sarcasmo em relação ao discurso da autoridade que se coloca diante dela.
e) Incorreta. Não são revelados anseios íntimos, de caráter individual, nas reflexões, mas anseios de caráter governamental, de quadros políticos que deveriam ser vinculados aos que passam ou passaram fome.
 

Questão 41 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Pressupostos e Subentendidos

     São vários os fatores, internos e externos, que influenciam os hábitos das pessoas no acesso à internet, assim como nas práticas culturais realizadas na rede. A utilização das tecnologias de informação e comunicação está diretamente relacionada aos aspectos como: conhecimento de seu uso, acesso à linguagem letrada, nível de instrução, escolaridade, letramento digital etc. Os que detêm tais recursos (os mais escolarizados) são os que mais acessam a rede e também os que possuem maior índice de acumulatividade das práticas. A análise dos dados nos possibilita dizer que a falta de acesso à rede repete as mesmas adversidades e exclusões já verificadas na sociedade brasileira no que se refere a analfabetos, menos escolarizados, negros, população indígena e desempregados. Isso significa dizer que a internet, se não produz diretamente a exclusão, certamente a reproduz, tendo em vista que os que mais acessam são justamente os mais jovens, escolarizados, remunerados, trabalhadores qualificados, homens e brancos. 

SILVA. F. A. B.; ZIVIANE. P.; GHEZZI. D R. As tecnologias digitais e seus usos. Brasília; Rio de Janeiro: ipea. 2019 (adaptado).

 


Ao analisarem a correlação entre os hábitos e o perfil socioeconômico dos usuários da internet no Brasil, os pesquisadores



a)

apontam o desenvolvimento econômico como solução para ampliar o uso da rede.

b)

questionam a crença de que o acesso à informação é igualitário e democrático.

c)

afirmam que o uso comercial da rede é a causa da exclusão de minorias.

d)

refutam o vínculo entre níveis de escolaridade e dificuldade de acesso.

e)

condicionam a expansão da rede à elaboração de políticas inclusivas.

Resolução

a) Incorreta. No texto, os pesquisadores não indicam soluções na análise apresentada.

b) Correta. As informações descritas no texto evidenciam que escolaridade, raça e classe social são fatores que interferem no acesso à informação. Conforme análise dos pesquisadores, “a falta de acesso à rede repete as mesmas adversidades e exclusões já verificadas na sociedade brasileira no que se refere a analfabetos, menos escolarizados, negros, população indígena e desempregados”.

c) Incorreta. O texto não faz menção a um “uso comercial da rede”.

d) Incorreta. O texto identifica relação entre escolaridade e dificuldade de acesso (Os que detêm tais recursos (os mais escolarizados) são os que mais acessam a rede e também os que possuem maior índice de acumulatividade das práticas), e não a nega, como exposto na afirmativa.

e) Incorreta. O texto não cita qualquer condição para que ocorra o crescimento da rede de internet.

Questão 42 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

intertexto

TEXTO I 

      A língua não é uma nomenclatura, que se apõe a uma realidade pré-categorizada, ela é que classifica a realidade. No léxico, percebe-se, de maneira mais imediata, o fato de que a língua condensa as experiências de um dado povo.

FIORIN. J. Língua, modernidade e tradição. Diversitas. n 2. mar.-set. 2014.

 

TEXTO II

      As expressões coloquiais ainda estão impregnadas de discriminação contra os negros. Basta recordar algumas delas, como passar um “dia negro”, ter um “lado negro”, ser a “ovelha negra” da família ou praticar “magia negra”.

Disponível em: https://brasil.elpais.com. Acesso em 22 maio 2018.

 


O Texto II exemplifica o que se afirma no Texto I, na medida em que defende a ideia de que as escolhas lexicais são resultantes de um



a)

expediente próprio do sistema linguístico que nos apresenta diferentes possibilidades para traduzir estados de coisas.

b)

ato inventivo de nomear novas realidades que surgem diante de uma comunidade de falantes de uma língua.

c)

mecanismo de apropriação de formas linguísticas que estão no acervo da formação do idioma nacional.

d)

processo de incorporação de preconceitos que são recorrentes na história de uma sociedade.

e)

recurso de expressão marcado pela objetividade que se requer na comunicação diária.

Resolução

a) Incorreta. O texto I não apresenta o sistema linguístico como algo que tenha um expediente próprio, mas como um sistema vinculado à comunidade, às "experiências de um dado povo”.
b) Incorreta. O texto II não apresenta um ato inventivo de nomear novas realidades. Na verdade, trata da nomenclatura de uma realidade já existente e a analisa.
c) Incorreta. O Texto I não fala de mecanismos de apropriação de formas linguísticas de acervo de um idioma nacional, logo não é possível que o Texto II seja um exemplo desse tipo de mecanismo.
d) Correta. Como o Texto I apresenta que a “a língua condensa as experiências de um dado povo”, o texto II exemplifica esse processo, ao mostrar que várias expressões coloquiais presentes na língua incorporam a discriminação e o racismo contra negros.
e) Incorreta. O Texto I não apresenta que a língua seria marcada pela objetividade, mas por experiências culturais.
 

Questão 43 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

linguagem verbal e não verbal

Disponível em www.facebook com/senadolederal. Acesso em 9 dez. 2017.


Considerando-se a função social dos posts, essa imagem evidencia a apropriação de outro gênero com o objetivo de



a)

promover o uso adequado de campanhas publicitárias do governo.

b)

divulgar o projeto sobre transparência da administração pública.

c)

responsabilizar o cidadão pelo controle dos gastos públicos.

d)

delegar a gestão de projetos de lei ao contribuinte.

e)

assegurar a fiscalização dos gastos públicos.

Resolução

a) Incorreta.  Não há indícios, no texto, de que a falta de divulgação dos gastos públicos com publicidade seja causa de uso inadequado de campanhas publicitárias, para que o objetivo da imagem fosse ser promover, então, seus usos mais adequados. É apresentado que há uma proposta que obriga o órgão público a divulgar o gasto, apenas, promovendo mais transparência. 

b) Correta. Levando em consideração a função social dos posts, que é a de divulgação, de transmissão de informações, e associando isso à exposição da informação em um outdoor (recurso utilizado para divulgações em geral), pode-se concluir que há um objetivo de divulgação de um projeto de transparência de gastos públicos - conteúdo anunciado no outdoor.

c) Incorreta. Por mais que o acesso aos gastos públicos desse ao cidadão maior noção da gestão monetária feita pelo governo, isso não o responsabilizaria pelo controle desses gastos, já que as instâncias de poder responsáveis por isso não seriam alteradas. 

d) Incorreta. A divulgação do gasto com anúncio na peça publicitária não delega a gestão de projetos de lei ao contribuinte. Além disso, a resposta à pergunta do anúncio ("Qual sua opinião?") não daria ao contribuinte o poder de gerir projetos de lei nem se o contribuinte se propusesse a respondê-la. 

e) Incorreta. A função social de um post não passa por assegurar ações, mas sim por apresentar informações a um público-alvo. A imagem, ao trazer a representação de um outdoor, não assegura a fiscalização dos gastos públicos, mas informa sobre uma proposta política que visa mais transparência, não necessariamente assegurando mais fiscalização. 

Questão 44 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

infográfico

                                           Disponível em: https:/ltab.uol.com.br. Acesso em. 25 ago. 2017 (adaptado).


O texto sobre os chamados nativos digitais traz informações com a função de



a)

propor ações específicas para cada etapa da infância.

b)

estabelecer regras que devem ser seguidas à risca.

c)

explicar os efeitos do acesso precoce à internet.

d)

determinar a incorporação de rituais à educação dos filhos.

e)

educar com base em um conjunto de estratégias formativas.

Resolução

a) Correta. De acordo com o guia prático da Sociedade Brasileira de Pediatra, a exposição às telas deve ser feita de forma gradativa, respeitando as especificidades de cada etapa da infância. Em vista disso, o texto propõe ações específicas para cada faixa etária.

b) Incorreta. Como apontado no título do texto, o guia serve como um manual de orientação, e não de regras que devem ser seguidas à risca.

c) Incorreta. O texto tem como função orientar pais e responsáveis sobre como inserir as crianças no universo digital. Embora a faixa etária “De 2 a 5 anos” apresente alguns efeitos do acesso demasiado à internet (exposição à violência virtual), não é possível afirmar que esse seja o intuito do guia, uma vez que não se verifica esse foco.

d) Incorreta. O documento não propõe rituais, mas orientações de especialista acerca do tempo de exposição às telas em diferentes faixas da infância.

e) Incorreta. Não há qualquer menção a estratégias formativas.

Questão 45 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos literários

Notas 

     Soluços, lágrimas, casa armada, veludo preto nos portais, um homem que veio vestir o cadáver, outro que tomou a medida do caixão, caixão, essa, tocheiros, convites, convidados que entravam, lentamente, a passo surdo, e apertavam a mão à família, alguns tristes, todos sérios e calados, padre e sacristão, rezas, aspersões d'água benta, o fechar do caixão a prego e martelo, seis pessoas que o tomam da essa, e o levantam, e o descem a custo pela escada, não obstante os gritos, soluços e novas lágrimas da família, e vão até o coche fúnebre, e o colocam em cima e traspassam e apertam as correias, o rodar do coche, o rodar dos carros, um a um... Isto que parece um simples inventário, eram notas que eu havia tomado para um capítulo triste e vulgar que não escrevo.                                                               

ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em 25 jul. 2022.


O recurso linguístico que permite a Machado de Assis considerar um capítulo de Memórias póstumas de Brás Cubas como inventário é a



a)

enumeração de objetos e fatos.    

b)

predominância de linguagem objetiva.

c)

ocorrência de períodos longos no trecho.

d)

combinação de verbos no presente e no pretérito.

e)

presença de léxico do campo semântico de funerais.

Resolução

a) Correta. Um inventário é uma relação de bens, móveis e imóveis que pertencem a determinada pessoa. Trata-se de um documento que pode ser elaborado em vida ou após a morte. Por extensão de sentido, podemos compreender também que se trata de uma enumeração de coisas ou processos, uma descrição minuciosa com base nessas enumerações. No trecho, é apresentada tal enumeração com descrições e elementos que serviriam para “um capítulo triste”, um capítulo que apresentaria um contexto fúnebre, o qual poderia evocar, portanto, também pela aproximação semântica um gênero muito recorrente a situações como as do falecimento de alguém. Desse modo, pode-se afirmar que o conceito de “inventário” foi utilizado, em sua extensão de sentido, como uma lista de que tudo que poderia ter sido descrito no trecho.
b) Incorreta. Embora haja uma descrição de elementos com pouca subjetivação explícita, a seleção vocabular de elementos vinculados a um velório emprega ao trecho um caráter fúnebre que não permite sua classificação como objetiva. Além disso, a presença da classificação, na ultima frase, de que tal sequência de elementos constituiria um “capítulo triste” corrobora para a presença da subjetividade no trecho.
c) Incorreta. Há dois períodos no trecho, dentre os quais o primeiro caracteriza-se como bastante longo. Entretanto, essa estruturação sintática não configura uma particularidade ou característica de um inventário.
d) Incorreta. A articulação dos tempos do presente e dos pretéritos do indicativo é feita no texto narrativo para organizar os eventos numa sequência temporal e, principalmente, no caso dos verbos no presente, para aproximar os eventos narrados do leitor. Essa articulação, porém, não é característica do gênero inventário.
e) Incorreta. A presença de léxico do campo semântico dos funerais contribui para o caráter pesaroso do relato, mas não se configura como uma característica do gênero inventário.
 

Questão 46 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Pré-Socráticos

      Empédocles estabelece quatro elementos corporais - fogo, ar, água e terra -, que são eternos e que mudam aumentando e diminuindo mediante misturas e separação; mas os princípios propriamente ditos, pelos quais aqueles são movidos, são o Amor e o Ódio. Pois é preciso que os elementos permaneçam alternadamente em movimento, sendo ora misturados pelo Amor, ora separados pelo Ódio.

SIMPLÍCIO. Física, 25, 21. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural, 1996.


O texto propõe uma reflexão sobre o entendimento de Empédocles acerca da arché, uma preocupação típica do pensamento pré-socrático, porque

 

 



a)

exalta a investigação filosófica. 

b)

transcende ao mundo sensível. 

c)

evoca a discussão cosmogônica. 

d)

fundamenta as paixões humanas.

e)

corresponde à explicação mitológica. 

Resolução

A questão faz menção aos pré-socráticos e, sendo assim, traz o debate sobre a "arché", princípio natural do cosmos ou, dito de outra maneira, elemento primordial para a origem do universo. Na abordagem desse tema, alguns conceitos comumente aparecem, entre eles o conceito de cosmologia e o conceito de cosmogonia.

Quando usamos o verbete "cosmologia" nos referimos à área da filosofia que estuda, pensa e debate o cosmos, de forma "racional" (lógica). A história da filosofia começa justamente pela cosmologia, mas, a bem da verdade, depois dos pré-socráticos ninguém mais se interessou muito pelo assunto. Então, ao falar em cosmologia, imediatamente pensamos em autores como Empédocles. 

Quando usamos o verbete "cosmogonia", tradicionalmente nos referimos à mitologia, ou seja, nos referimos às explicações fantasiosas que existiam antes do surgimento da filosofia, explicações assim chamadas (de fantasiosas) porque repletas de elementos não lógicos ou desprovidas de relações e nexos causais plausíveis. Entretanto, vale uma observação: essa relação entre cosmogonia e mitologia é, como supracitado, "tradicional", não necessária. Pensando etimologicamente, "cosmogonia" significa "origem do mundo". Essa origem pode se dar através de elementos naturais, como a água de Tales ou os 4 elementos de Empédocles (fogo, ar, água e terra), ou através de elementos fantasiosos (e por isso relacionamos, comumente, cosmogonia e mitologia).

Dito isso, analisemos os itens a seguir:

a) Incorreta. A busca pelas causas primeiras do universo revelou-se como fundamental para o surgimento do pensamento filosófico (e não para a sua "exaltação", como coloca o item) na medida em que se consolidou como ponto de partida para a racionalização do mundo. Ademais, se é verdade que a investigação filosófica viu, em pré-socráticos como Empédocles, a tentativa de substituir os elementos divinos da mitologia grega pelos elementos naturais do cosmos, é verdade também que vários dos primeiros filósofos misturavam elementos naturais a ideias transcendetais (míticas), como o próprio texto do exercício mostra (Empédocles relaciona os 4 elementos com o Amor e o Ódio); sem contar que, por óbvio, essa "mistura" não tem nenhum nexo causal plausível. Por esses motivos (uso do verbo "exaltar" e a mistura de elementos naturais com elementos "transcendentais", não podemos dizer que o texto de Empedócles, ao trazer o debate sobre a arché, "exalta a investigação filosófica".

Nota: Não podemos deixar de notificar que a questão tem problemas de clareza e falta de rigor conceitual. Isso porque o estudante poderia pensar: "Mas se os pré-socráticos ajudaram a filosofia a nascer, eles não à exaltaram, de certo modo?". Embora esse seja um raciocínio válido, ele não nos parece suficiente para sustentar a alternativa como correta, conforme explicações acima, já que contribuir para o nascimento não é o mesmo que exaltar.

b) Incorreta. Não podemos afirmar que uma das características do pensamento pré-socrático é a transcendência do mundo sensível, uma vez que muitos dos primeiros filósofos estabeleciam como arché do universo elementos naturais e, como tais, pertencentes ao mundo sensível. O próprio Tales de Mileto, talvez o mais conhecido dos pré-socráticos, disse ter sido a água o elemento primordial do cosmos.

c) Correta. A discussão cosmogônica é a discussão sobre as origens do universo. Relaciona-se, portanto, às diferentes cosmovisões existentes na Grécia Antiga. Embora o termo seja frequentemente utilizado para falar de questões míticas, pode também ser utilizado para se referir a outras interpretações de mundo, como a filosófica. Nesse sentido, poderíamos dizer que o debate sobre a arché é um debate sobre a origem do mundo, debate próprio de cada pré-socrático. No entanto, mesmo que atrelemos cosmogonia apenas à mitologia, ainda assim o item permanece correto, devido ao verbo que o item utiliza: evocar. Isso porque todas as vezes que qualquer pré-socrático discute a arché do universo ele evoca (chama, traz ao debate) a discussão cosmogônica, ou seja, chama o debate da origem do mundo, mesmo que seja a origem fantasiosa do mundo (nesse caso ele, pré-socrático, estaria "evocando" o debate para contrapor as ideias fantasiosas por trás dos mitos).

d) Incorreta. As paixões humanas em nada se relacionam com o debate dos pré-socráticos e suas buscas pelos elementos primordiais da criação.

e) Incorreta. A arché não corresponde às explicações mitológicas e, via de regra, as contrapõe.

 

Questão 47 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Urbanização brasileira

     Macrocefalia urbana pode ser entendida como a massiva concentração das atividades econômicas em algumas metrópoles que propicia o desencadeamento de processos descompassados: redirecionamento e convergência de fluxos migratórios, déficit no número de empregos, ocupação desordenada de determinadas regiões da cidade e estigmatização de estratos sociais, que comprometem substancialmente a segurança pública urbana.  

SANTOS, M. O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos. São Paulo: Edusp, 2004.

O processo de concentração espacial apresentado foi estimulado por qual fator geográfico?

 



a)

Limitação da área ocupada.

b)

Êxodo da população do campo.

c)

Ampliação do risco habitacional.

d)

Deficiência do transporte alternativo.

e)

Crescimento da taxa de fecundidade.

Resolução

O processo de macrocefalia urbana gera a formação de espaços urbanos muito grandes e densamente povoados cujo crescimento se dá de forma acelerada e desordenada. Tais características reproduzem e ampliam inúmeros problemas encontrados nas grandes cidades de países subdesenvolvidos, tais como exclusão social, desemprego, problemas socioambientais, dificuldade na mobilidade urbana e na capacidade de realização de planejamento urbano para superação desses obstáculos. A combinação dos problemas descritos gera o processo de segregação espacial que por sua vez intensifica a exclusão social nos espaços urbanos.

a) Incorreta. As cidades do mundo onde ocorrem o processo de macrocefalia se localizam tanto em regiões mais limitadas em termos de tamanho quanto em grandes áreas geográficas.

b) Correta. A concentração de atividades econômicas em poucos pontos do território exerce uma forte atração sobre os migrantes, esses oriundos especialmente de áreas rurais. A enorme parcela  da população que fez êxodo rural em países subdesenvolvidos, especialmente após 1940, fugia das péssimas condições de vida no campo. O elevado grau de concentração fundiária, o desemprego e a pobreza geravam precariedade do padrão de vida dessas pessoas, que migraram para áreas urbanas em busca de melhores condições.

c) Incorreta. O risco habitacional, sendo encarado tanto como a falta de acesso à moradia quanto ao perigo iminente que esta pode oferecer à vida das pessoas, é uma consequência (e não causa ou fator estimulador) do processo de macrocefalia, pois o elevado número de pessoas que não tem acesso a condições de moradia digna é reflexo da exclusão social.

d) Incorreta. A macrocefalia urbana é expressa no espaço por uma deficiência e precariedade dos sistemas de transportes públicos tradicionais (sistemas de ônibus, ferroviário e metroviário), sendo isso uma consequência (não causa) da macrocefalia. Por conta disso muitas vezes a população de baixa renda até encontra formas alternativas de minimizar o problema.

e) Incorreta. Embora as taxas de fecundidade fossem elevadas nos países subdesenvolvidos no pós 2ª Guerra, não houve um aumento da taxa de fecundidade. Havia um acelerado crescimento populacional provocado pela queda da taxa de mortalidade.

Questão 48 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Escolas Helenísticas

      Entretanto, nosso amigo Basso tem ânimo alegre. Isso resulta da filosofia: estar alegre diante da morte, forte e contente qualquer que seja o estado do corpo, sem desfalecer, ainda que desfaleça.

SÊNECA, L. Cartas morais. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1990.


O excerto refere-se a uma carta de Sêneca na qual se apresenta como um bem fundamental da filosofia promover a



a)

valorização de disputas dialógicas. 

b)

rejeição das convenções sociais.     

c)

inspiração de natureza religiosa.

d)

exaltação do sofrimento.     

e)

moderação das paixões. 

Resolução

Sêneca, como representante do pensamento helênico estoico, levou as reflexões estoicas ao mundo romano, incluso as reflexões sobre a morte e a necessidade de controlar o corpo e as paixões, através do comedimento. Assim:

a) Incorreta. Nesse pensamento não há a valorização das disputas dialógicas, que seriam aquelas pautadas nas longas conversas socráticas e platônicas, por exemplo, ou nos embates sofistas. 

b) Incorreta. A rejeição das convenções sociais era valorizada por outro grupo helênico, que não os estoicos, mas sim os cínicos. A questão, como posto acima, remonta a Sêneca, porém, os pensadores romanos bebem das filosofias gregas da época de Alexandre e, nesse caso, o item tentou, digamos assim, confundir o candidato, no que diz respeito à influência de Sêneca.

c) Incorreta. Embora o tema da morte seja um tema comum no meio religioso, ele é aqui abordado como um tema estoico. Sêneca escreve, portanto, sob inspiração filosófica, não sob inspiração religiosa, como diz a questão. O estoicismo foi um importante movimento filosófico do Período Helênico e um de seus temas favoritos era o da morte. Aliás, esse tema também era um dos prediletos do epicurismo. É de Epicuro, por exemplo, a frase "Onde eu estou a morte não está; onde ela está, eu não estou". Por outro lado, é dos estoicos a frase "Morrer é honorável". 

d) Incorreta. O estoico não quer valorizar o sofrimento, mas apenas sofrer sem murmurar, no sentido de aceitar com calma e em silêncio as coisas que não podem ser mudadas, como é o caso da morte. Não está ao nosso alcance revertê-la, então, segundo os estoicos, é melhor aceitá-la, com o mínimo de sofrimento possível.

e) Correta. Moderar as paixões, no sentido de não deixar que nos tomem e façam conosco o que bem entendem, é uma das admoestações estoicas. A ideia é não deixar com que as sensações e os sentimentos ofusquem nossa capacidade de pensar e, consequentemente, coloquem em xeque nosso controle e discernimento. 

Questão 49 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Civilizações Pré-Colombianas

Quando os espanhóis chegaram à América, estava em seu apogeu o império teocrático dos Incas, que estendia seu poder sobre o que hoje chamamos Peru, Bolívia e Equador, abarcava parte da Colômbia e do Chile e alcançava até o norte argentino e a selva brasileira; a confederação dos Astecas tinha conquistado um alto nível de eficiência no vale do México, e no Yucatán, na América Central, a esplêndida civilização dos Maias persistia nos povos herdeiros, organizados para o trabalho e para a guerra. Os Maias tinham sido grandes astrônomos, mediram o tempo e o espaço com assombrosa precisão, e tinham descoberto o valor do número zero antes de qualquer povo da história. No museu de Lima, podem ser vistos centenas de crânios que receberam placas de ouro e prata por parte dos cirurgiões Incas.

GALEANO, E. As veias abertas da América Latina. Porto Alegre: L&PM, 2012.

As sociedades mencionadas deixaram como legado uma diversidade de

 



a)

bens religiosos inspirados na matriz cristã.

b)

materiais bélicos pilhados em batalhas coloniais.

c)

heranças culturais constituídas em saberes próprios.

d)

costumes laborais moldados em estilos estrangeiros.

e)

práticas medicinais alicerçadas no conhecimento científico. 

Resolução

a) Incorreta. As civilizações mesoamericanas, tais como as citadas no texto, não tiveram contatos relevantes com os povos europeus até o final do século 15. Dessa forma, não é possível encontrar qualquer vinculação desses povos com religiões de matriz cristã.

b) Incorreta. Segundo o texto, o legado das civilizações citadas é muito vasto e está em várias áreas da vida humana. Porém, em nenhum momento foi destacado o quesito armamentos de guerra. Na verdade, sabemos que um dos fatores para a conquista espanhola foi a superioridade nesse setor, uma vez que os europeus já dispunham de armamentos de fogo e os mesoamericanos não.

c) Correta. De fato, o texto destaca que as civilizações em questão desenvolveram de forma própria conhecimentos em várias áreas, tais como astronomia, matemática e medicina, herdados por civilizações posteriores.

d) Incorreta. O contato das civilizações mesoamericanas com os europeus se deu mais diretamente apenas a partir do final do século 15. Sendo assim, não é possível afirmar que seus costumes laborais foram fruto de contatos com estrangeiros.

e) Incorreta. Embora a prática medicinal da cirurgia de crânios ser um grande destaque da civilização inca, não podemos afirmar que isso tenha sido alicerçado por meio do acúmulo de conhecimentos científicos. A ciência e suas metodologias, tais como conhecemos hoje surgiu por volta do século 17, fruto principalmente do renascimento cultural ocorrido na Europa entre os séculos 14 e 16, sendo tais práticas muito anteriores.