Urgência emocional
Se tudo é para ontem, se a vida engata uma primeira e sai em disparada, se não há mais tempo para paradas estratégicas, caímos fatalmente no vício de querer que os amores sejam igualmente resolvidos num átimo de segundo. Temos pressa para ouvir "eu te amo". Não vemos a hora de que fiquem estabelecidas as regras de convívio: somos namorados, ficantes, casados, amantes? Urgência emocional. Uma cilada. Associamos diversas palavras ao AMOR: paixão, romance, sexo, adrenalina, palpitação. Esquecemos, no entanto, da palavra que viabiliza esse sentimento: "paciência". Amor sem paciência não vinga. Amor não pode ser mastigado e engolido com emergência, com fome desesperada. É uma refeição que pode durar uma vida.
MEDEIROS. M. Disponlvel em: http://porumavidasimples.blogspot.com.br. Acesso em: 20 ago. 2017 (adaptado).
Nesse texto de opinião, as marcas linguísticas revelam uma situação distensa e de pouca formalidade, o que se evidencia pelo(a)
a) |
impessoalização ao longo do texto, como em: "se não há mais tempo". |
b) |
construção de uma atmosfera de urgência, em palavras como: "pressa". |
c) |
repetição de uma determinada estrutura sintática, como em: "Se tudo é para ontem". |
d) |
ênfase no emprego da hipérbole, como em: "uma refeição que pode durar uma vida". |
e) |
emprego de metáforas, como em: "a vida engata uma primeira e sai em disparada". |
a) Incorreta. Não é possível sustentar que a presença de construções impessoais caracterize necessariamente informalidade, uma vez que não há relação direta entre tais marcas linguísticas.
b) Incorreta. A atmosfera de urgência construída no texto, em especial no primeiro período, serve como base para sustentação da reflexão central. De acordo com a cronista, estamos vivendo em um contexto cada vez mais agitado e ágil, o qual faz com que as pessoas encarem o sentimento amoroso com impaciência. No entanto, essa estratégia, por si só, não caracteriza uma situação distensa e de pouca formalidade.
c) Incorreta. A estrutura condicional “Se tudo é para ontem” não configura informalidade.
d) Incorreta. No final de seu texto, Martha Medeiros compara uma refeição a um amor. Levando em consideração o trecho “uma refeição que pode durar uma vida” e a comparação estabelecida, é possível afirmar que a autora constrói uma metáfora, e não uma hipérbole.
e) Correta. Ao longo da crônica, a autora lança mão de metáforas construídas em linguagem pouco formal, como “a vida engata uma primeira e sai em disparada”, trecho em que a agilidade da vida é comparada ao arranque de um veículo automotor.
O complexo de falar difícil
O que importa realmente é que o(a) detentor(a) do notável saber jurídico saiba quando e como deve fazer uso desse português versão 2.0, até porque não tem necessidade de alguém entrar numa padaria de manhã com aquela cara de sono falando o seguinte: "Por obséquio, Vossa Senhoria teria a hipotética possibilidade de estabelecer com minha pessoa uma relação de compra e venda, mediante as imposições dos códigos Civil e do Consumidor, para que seja possível a obtenção de 10 pãezinhos em temperatura estável para que a relação pecuniária no valor de R$ 5,00 seja plenamente legitima e capaz de saciar minha fome matinal?".
O problema é que temos uma cultura de valorizar quem demonstra ser inteligente ao invés de valorizar quem é. Pela nossa lógica, todo mundo que fala difícil tende a ser mais inteligente do que quem valoriza o simples, e 99,9% das pessoas que estivessem na padaria iriam ficar boquiabertas se alguém fizesse uso das palavras que eu disse acima em plenas 7 da manhã em vez de dizer: "Bom dia! O senhor poderia me vender cinco reais de pão francês?".
Agora entramos na parte interessante: o que realmente é falar difícil? Simplesmente fazer uso de palavras que a maioria não faz ideia do que seja é um ato de falar difícil? Eu penso que não, mas é assim que muita gente age. Falar difícil é fazer uso do simples, mas com coerência e coesão, deixar tudo amarradinho gramaticalmente falando. Falar difícil pode fazer alguém parecer inteligente, mas não por muito tempo. É claro que em alguns momentos não temos como fugir do português rebuscado, do juridiquês propriamente dito, como no caso de documentos jurídicos, entre outros.
ARAÚJO, H. Disponlvel em: www.diariojurista.com. Acesso em: 20 nov. 2021 (adaptado).
Nesse artigo de opinião, ao fazer uso de uma fala rebuscada no exemplo da compra do pão, o autor evidencia a importância de(a)
a) |
se ter um notável saber jurídico. |
b) |
valorização da inteligência do falante. |
c) |
falar difícil para demonstrar inteligência. |
d) |
coesão e da coerência em documentos jurídicos. |
e) |
adequação da linguagem à situação de comunicação. |
a) Incorreta. Para o autor, o saber jurídico tem sua importância limitada a contextos jurídicos, o que não se verifica no exemplo da compra do pão.
b) Incorreta. De acordo com a opinião expressa, de fato, a utilização uma linguagem rebuscada é comumente associada à inteligência do falante. No entanto, segundo o autor, tal hábito é equivocado, uma vez que “o problema é que temos uma cultura de valorizar quem demonstra ser inteligente ao invés de valorizar quem é”.
c) Incorreta. Na concepção do autor, a inteligência de um indivíduo não é medida pelo domínio de uma fala rebuscada, mas, sim, pela capacidade de adequar a variedade linguística utilizada à situação vivenciada.
d) Incorreta. A importância da coesão e da coerência não se resume apenas aos documentos jurídicos, mas a todas as situações, formais ou informais.
e) Correta. De acordo com o autor, deve-se usar uma linguagem rebuscada em ambientes e/ou contextos de fato formais, como no caso de documentos jurídicos. Em contextos informais, como em uma ida à padaria, deve-se adequar a linguagem usada, uma vez que, na concepção do autor, “o que importa realmente é que o(a) detentor(a) do notável saber jurídico saiba quando e como deve fazer uso desse português 2.0”.
Ciente de que, no campo da criação, as inovações tecnológicas abrem amplo leque de possibilidades - ao permitir, e mesmo estimular, que o artista explore a fundo, em seu processo criativo, questões como a aleatoriedade, o acaso, a não linearidade e a hipermídia -, Leo Cunha comenta que, no que tange ao campo da divulgação, as alternativas são ainda mais evidentes: "Afinal, é imensa a capacidade de reprodução, multiplicação e compartilhamento das obras artísticas/culturais. Ao mesmo tempo, ganham dimensão os dilemas envolvidos com a questão da autoria, dos direitos autorais, da reprodução e intervenção não autorizadas, entre outras questões". Já segundo a professora Yacy-Ara Froner, o uso de ferramentas tecnológicas não pode ser visto como um fim em si mesmo. Isso porque computadores, samplers, programas de imersão, internet e intranet, vídeo, televisão, rádio, GPD etc. são apenas suportes com os quais os artistas exercem sua imaginação.
SILVA JR., M. G. Movidas pela dúvida. Minas faz Ciências, n. 52, dez.-fev. 2013 (adaptado).
Segundo os autores citados no texto, a expansão de possibilidades no campo das manifestações artísticas promovida pela internet pode pôr em risco o(a)
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sucesso dos artistas. |
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valorização dos suportes. |
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proteção da produção estética. |
d) |
modo de distribuição de obras. |
e) |
compartilhamento das obras artísticas. |
a) Incorreta. O texto não faz referência ao sucesso dos artistas como um fator colocado em risco pela expansão das possibilidades da manifestação artística promovidas pela internet.
b) Incorreta. O texto aponta para uma preocupação em relação à valorização dos suportes, mas não no sentido de estarem eles em risco. O que o texto ressalta é apenas a ideia de que o suporte não deveria se sobrepor à criatividade artística.
c) Correta. Os riscos mencionados no texto (autoria, direitos autorais, intervenções não autorizadas, por exemplo) apontam para questões ligadas à segurança e confiabilidade das produções artísticas. Nesse sentido, a internet traz consigo a expansão de possibilidades da manifestação artística, juntamente com a ameaça à proteção da produção estética.
d) Incorreta. De acordo com o texto, o modo de distribuição das obras é o que mais mudou a partir da expansão propiciada pela internet. Não é correto, portanto, afirmar que ele esteja em risco.
e) Incorreta. O compartilhamento de obras artísticas, segundo o texto, alcançou novos patamares com a internet, o que não é caracterizado como um risco, mas como novas possibilidades para a produção artística.
Ora, sempre que surge uma nova técnica, ela quer demonstrar que revogará as regras e coerções que presidiram o nascimento de todas as outras invenções do passado. Ela se pretende orgulhosa e única. Como se a nova técnica carreasse com ela, automaticamente, para seus novos usuários, uma propensão natural a fazer economia de qualquer aprendizagem. Como se ela se preparasse para varrer tudo que a precedeu, ao mesmo tempo transformando em analfabetos todos os que ousassem repeli-la.
Fui testemunha dessa mudança ao longo de toda a minha vida. Ao passo que, na realidade, é o contrário que acontece. Cada nova técnica exige uma longa iniciação numa nova linguagem, ainda mais longa na medida em que nosso espírito é formatado pela utilização das linguagens que precederam o nascimento da recém-chegada.
ECO, U.; CARRIÈRE, J. C. Não contem com o fim do livro. Rio de Janeiro: Record, 2010 (adaptado).
O texto revela que, quando a sociedade promove desenvolvimento de uma nova técnica, o que mais impacta seus usuários é a
a) |
dificuldade na apropriação da nova linguagem. |
b) |
valorização da utilização da nova tecnologia. |
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recorrência das mudanças tecnológicas. |
d) |
suplantação imediata dos conhecimentos prévios. |
e) |
rapidez no aprendizado do manuseio das novas invenções. |
a) Correta. O texto aponta que há uma dificuldade bastante acentuada quando novas tecnologias surgem, pois cada “nova técnica exige uma longa iniciação numa nova linguagem” e os que não a aprendem são tratados como “analfabetos”.
b) Incorreta. Embora exista uma valorização da utilização da nova tecnologia, pois ela seria tratada como mais avançada em relação às anteriores, não é esse o elemento que mais impacta seus usuários. No texto, essa seria uma característica da própria tecnologia em si.
c) Incorreta. A ênfase no texto é dada à chegada de uma nova tecnologia e ao seu impacto sobre os usuários, e não à recorrência das várias mudanças tecnológicas.
d) Incorreta. Embora o texto mencione que ocorre uma tentativa de suplantação dos conhecimentos das tecnologias anteriores quando surge uma nova, esse fator não é tratado como aquele que causa maior impacto nos usuários dessa tecnologia. No texto, a ênfase é posta sobre a dificuldade desses usuários de aprenderem essa nova tecnologia.
e) Incorreta. O texto trata exatamente da dificuldade e "longa iniciação" – e não na rapidez – com o aprendizado de novas linguagens tecnológicas.
Papos
– Me disseram...
– Disseram-me.
– Hein?
– O correto e "disseram-me". Não "me disseram".
– Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é "digo-te"? - O quê?
– Digo-te que você...
– O "te" e o "você" não combinam.
– Lhe digo?
– Também não. O que você ia me dizer?
– Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. [...]
– Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender.
Mais uma correção e eu...
– O quê?
– O mato.
– Que mato?
– Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem?
– Pois esqueça-o e pára-te. Pronome no lugar certo e elitismo!
– Se você prefere falar errado...
– Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou
entenderem-me?
VERISSIMO, L. F. Comédias para se ler escola. Rio de Janeiro. Objetiva, 2001 (adaptado).
Nesse texto, o uso da norma-padrão defendido por uma dos personagens torna-se inadequado em razão do (a)
a) |
falta de compreensão causada pelo choque entre gerações. |
b) |
contexto de comunicação em que a conversa se dá. |
c) |
grau de polidez distinto entre os interlocutores. |
d) |
diferença de escolaridade entre os falantes. |
e) |
nível social dos participantes da situação. |
a) Incorreta. Não há informações no texto que sustentem que os interlocutores são de “gerações diferentes”.
b) Correta. O texto apresenta uma conversa entre dois interlocutores, em que um pretende contar algo ao outro. Esse tipo de contexto de comunicação é normalmente caracterizado pela intimidade e informalidade entre os falantes. Nesse sentido, a defesa do uso da norma-padrão torna-se inconveniente.
c) Incorreta. A polidez refere-se ao uso de formas linguísticas (como “por favor”, ou pronomes como “senhor” e “senhora”) que evidenciem a gentileza do enunciador ao, por exemplo, utilizar o imperativo (ou seja, expressar uma ordem). Porém, no texto, tais estruturas não são encontradas nas falas dos enunciadores.
d) Incorreta. O texto não apresenta informações sobre a escolaridade dos interlocutores.
e) Incorreta. Não há elementos no texto que evidenciem a classe social dos participantes da conversa.
“Vida perfeita” em redes sociais pode afetar a saúde mental
Nas várias redes sociais que povoam a internet, os chamados digital influencers estão sempre felizes e pregam a felicidade como um estilo de vida. Essas pessoas espalham conteúdo para milhares de seguidores, ditando tendência e mostrando um estilo de vida sonhado por muitos, como o corpo esbelto, viagens incríveis, casas deslumbrantes, carros novos e alegria em tempo integral, algo bem improvável de ocorrer o tempo todo, aponta Carla Furtado, mestre em psicologia e fundadora do Instituto Feliciência.
A problemática pode surgir com a busca incessante por essa felicidade, que gera efeitos colaterais em quem consome diariamente a "vida perfeita" de outros. Daí vem o conceito de positividade tóxica: a expressão tem sido usada para abordar uma espécie de pressão pela adoção de um discurso positivo aliada a uma vida editada para as redes sociais. Para manter a saúde mental e evitar ser atingido pela positividade tóxica, o uso racional das redes sociais é o mais indicado, aconselha a médica psiquiatra Renata Nayara Figueiredo, presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr).
Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br. Acesso em: 21 nov. 2021 (adaptado).
Associada ao ideário de uma “vida perfeita”, a positividade tóxica mencionada no texto é um fenômeno social recente, que se constitui com base em
a) |
representações estereotipadas e superficiais de felicidade. |
b) |
ressignificações contemporâneas do conceito de alegria. |
c) |
estilos de vida inacessíveis para a sociedade brasileira. |
d) |
atitudes contraditórias de influenciadores digitais. |
e) |
padrões idealizados e nocivos de beleza física. |
a) Correta. Segundo o texto, a felicidade significaria, para os influenciadores digitais, “ter um corpo esbelto, viagens incríveis, casas deslumbrantes, carros novos e alegria em tempo integral”, ele também revela uma “edição da vida para as redes sociais” (o que significa que não há aspectos negativos, mas que não são mostrados), ou seja, uma superficialidade. Esse estilo de vida que desconsidera aspectos não relacionados ao consumo, por exemplo, e é “editado” (ou seja, é mostrado apenas o que se quer e não a realidade) é o que prejudica parte da sociedade que acompanha os influenciadores.
b) Incorreta. O texto não faz menção a uma mudança do sentido de alegria em tempos passados e atualmente.
c) Incorreta. Os influenciadores são parte da sociedade brasileira e usufruem, ainda que, em alguns casos, nem sempre, do estilo de “um estilo de vida sonhado por muitos”, por isso é incorreta afirmação de que a sociedade brasileira, como um todo, não teria acesso à “felicidade”.
d) Incorreta. O texto não afirma que os influenciadores realizam ações contraditórias, mas sim pouco prováveis de ocorrerem o tempo todo, como estar sempre feliz e pregar que os seguidores também adotem tal estilo de vida.
e) Incorreta. O texto aponta para uma série de elementos que configuram a imagem de “felicidade como estilo de vida”, como carros, casas e viagens, e não apenas a “beleza física”.
TEXTO I
EL GRECO, Laocoonte. Óleo sobre tela, 1,37 cm x 1,72 cm. National Gallery of Art, Whashington, EUA, circa 1610-1614.
Disponível em: https://imagens.nga.gov. Acesso em: 28 jun. 2019 (adaptado).
TEXTO II
Essa impressionante obra apresenta o sacerdote Laocoonte sendo punido pelos deuses por tentar alertar os troianos da ameça do Cavalo de Troia, que escondia um grupo de soldados gregos. Enviadas pelos deuses, serpentes marinhas são vistas matando Laocoonte e seus dois filhos como forma de punição.
KAY, A. In: FARTHING, S. (Org.). Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2011 (adaptado).
Produzida no início do século XVII, a obra maneirista distingue-se pela
a) |
representação da nudez masculina. |
b) |
distorção ao repesentar a figura humana. |
c) |
evocação de um fato da cultura clássica grega. |
d) |
presença do tema da morte como punição da família. |
e) |
utilização da perspectiva para integrar os diferentes planos. |
TEXTO I
TEXTO II
Embora não fosse um grupo ou um movimento organizado, o Minimalismo foi um dos muitos rótulos (incluindo estruturas primárias, objetos unitários, arte ABC e Cool Art) aplicados pelos críticos para descrever estruturas aparentemente simples que alguns artistas estavam criando. Quando a arte minimalista começou a surgir, muitos críticos e um público opinativo julgaram-na fria, anônima e imperdoável. Os materiais industriais pré-fabricados frequentemente usados não pareciam ‘’arte’’.
DEMPSEY, A. Estilos, escolas e movimentos. São Paulo: Cosac & Naify, 2003 (adaptado).
De acordo com os textos I e II, compreende-se que a obra minimalista é uma
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Representação da simplicidade pelo artista. |
b) |
Exploração da técnica da escultura cubisa. |
c) |
Valorização do cotidiano por meio da geometria. |
d) |
Utilização da compelxidade dos elementos formais. |
e) |
Combinação de formas sintéticas no espaço utilizado. |
a) Incorreta. Donald Judd, assim como a maioria dos minimalistas, utiliza como objeto artístico em seus trabalhos formas simples, entretanto, não é possível afirmar que o trabalho representa a simplicidade, pois carrega e reflete toda uma carga da história da arte, buscando proporcionar aos espectadores uma reflexão sobre essa temática. A saber, tentavam superar a produção artística carregada de sentimentalismo e ornamentalismo.
b) Incorreta. O Cubismo foi um movimento que trabalhou com a quebra da perspectiva, portanto, rompia com a representação real das imagens. Para além desse fato, o Cubismo transformava imagens orgânicas em formas geométricas. Ao se analisar a imagem acima, percebe-se uma representação abstrata e simplificada, sem nenhuma referência a objetos complexos geometrizados e sem perspectiva.
c) Incorreta. Não é possível afirmar que faz referência ao cotidiano, pois o trabalho de Donald Judd não possui nenhum ícone / símbolo que remeta de fato ao cotidiano. Como mencionado no texto II “...muitos críticos e um público opinativo julgaram-na fria, anônima e imperdoável”, ou seja, não há como o objeto em questão fazer uma referência ao cotidiano.
d) Incorreta. O nome minimalismo é autoexplicativo, uma arte mínima. Nesse movimento os artistas buscavam produzir arte da maneira mais simples possível, de uma maneira mínima. É possível constatar tal conceito analisando a imagem do trabalho com formas simples e repetitivas e com a reflexão que o texto II proporcionou.
e) Correta. O trabalho em questão de Donald Judd que, assim como mencionado no texto II, fez parte do movimento artístico minimalista, buscava superar a produção artística do passado, afetadas e carregadas de cargas emotivas e conceituais e, para tanto, trabalhavam com formas simples e repetidas no espaço expositor. Acreditavam que dessa forma transpareceriam uma nova maneira de arte, mais asséptica e sem emoção.
Vanda vinha do interior de Minas Gerais e de dentro de um livro de Charles Dickens. Sem dinheiro para criá-la, sua mãe a dera, com sete anos, a uma conhecida. Ao recebê-la, a mulher perguntou o que a garotinha gostava de comer. Anotou tudo num papel. Mal a mãe virou as costas, no entanto, a fulana amassou a lista e, como uma vilã de folhetim, decretou: “A partir de hoje, você não vai mais nem sentir o cheiro dessas comidas!”.
Vanda trabalhou lá até os quinze anos, quando recebeu a carta de uma prima com uma nota de cem cruzeiros, saiu de casa com a roupa do corpo e fugiu num ônibus para São Paulo.
Todas as vezes que eu ou minhas irmãs a importunávamos com nossas demandas de criança mimada, ela nos contava histórias da infância de gata-borralheira, fazia-nos apertar seu nariz, quebrado por uma das filhas da “patroa” com um rolo de amassar pão e nos expulsava da cozinha: “Sai pra lá, peste, e me deixa acabar essa janta!”.
PRATA, A. Nu de botas. São Paulo: Cia. das Letras, 2013 (adaptado).
Pela ótica do narrador, a trajetória da empregada de sua casa assume um efeito expressivo decorrente da
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citação a referências literárias tradicionais |
b) |
alusão à inocência das crianças da época. |
c) |
estratégia de questionar a bondade humana. |
d) |
descrição detalhada das pessoas do interior. |
e) |
representação anedótica de atas de violência. |
a) Correta. Desde o início do trecho apresentado, o narrador traz referências literárias tradicionais para se referir a Vanda, afirmando que ela parecia ter vindo “de dentro de um livro de Charles Dickens” e que teve uma infância de “gata-borralheira”, por exemplo. Fica claro, então, que o narrador enxerga a trajetória da empregada de sua casa como digna de um livro. É possível ainda reconhecer a leitura de que as privações vividas por Vanda eram muito distantes da realidade do narrador, já que ele tinha “demandas de uma criança mimada”, o que reforça a noção de que era uma trajetória surpreendente.
b) Incorreta. No texto não há referência à “inocência” que as crianças tinham em determinada época.
c) Incorreta. O texto não problematiza os atos de bondade das personagens. As ações maldosas estão presentes, mas aparecem apenas como um pano de fundo para a trajetória de Vanda.
d) Incorreta. O texto descreve a trajetória de uma pessoa específica, Vanda, e não de “pessoas do interior” de modo generalizado.
e) Incorreta. Os atos de violência presentes na narrativa, como a menção ao nariz quebrado com um rolo e o próprio trabalho infantil, não são expostos de modo anedótico pelo narrador. Essas memórias parecem até descritas de maneira mais leve pela própria Vanda, que conseguia ressignificar, em certa medida, as violências sofridas, mas essa não é a percepção do narrador sobre o que a empregada havia enfrentado ao longo da vida.
TEXTO I
SILVEIRA, R. In absentia, 1938. Instalação, 17ª Bienal de São Paulo.
Disponível em: www.bienal.org.br. Acesso em: 1 set. 2016 (adaptado).
TEXTO II
O termo ready-made criado por Marcel Duchamp (1887-1968) para designar um tipo de objeto, por ele inventado, que consiste em um ou mais artigos de uso cotidiano, produzidos em massa, selecionados sem critérios estéticos e expostos como obras de arte em espaços especializados (museus e galerias). Seu primeiro ready-made, de 1912, é uma roda de bicicleta montada sobre um banquinho (Roda de bicicleta). Ao transformar qualquer objeto em obra de arte, o artista realiza uma crítica radical ao sistema da arte.
Disponível em: www.bienai.org br. Acesso em: 1 set. 2016 (adaptado).
A instalação In absentia propõe um diálogo com o ready-made Roda de bicicleta, demonstrando que
a) |
as formas de criticar obras do passado se repetem. |
b) |
a recorrência de temas marca a arte no final do século XX. |
c) |
as criações desmistificam os valores estéticos estabelecidos. |
d) |
o distanciamento temporal permite a transformação dos referenciais estéticos. |
e) |
o objeto ausente sugere a degradação da forma superando o modelo artístico. |
a) Incorreta. Regina Silveira, artista contemporânea brasileira, além de trabalhar com uma arte com profundo conceito, utiliza a deformação das imagens em suas pinturas, o que é possível encontrar no trabalho em questão, uma releitura de um trabalho de Duchamp, apropriado ao seu estilo e valores artísticos.
b) Incorreta. A utilização da roda e do banco nos trabalhos de Marcel Duchamp e Regina Silveira não significa que a produção artística do século XX seja sempre a mesma. Tal afirmação se torna errônea diante do número gigantesco de trabalhos produzidos nesse contexto sem nenhuma relação com esses itens em questão.
c) Correta. É possível afirmar que tais criações artísticas, de Duchamp e de Silveira, proporcionam uma desmistificação dos valores estéticos (padrão de arte clássica valorizando técnica, forma e beleza), pois, na primeira, o artista utilizou um objeto banal, do dia a dia, sem nenhum componente e valor estético, transformando-o em arte; na segunda, a artista, além da referência a dois objetos corriqueiros, promove uma deformação da imagem deles, o que não valoriza a estética em si. Em ambos há uma demonstração do potencial artístico além da beleza.
d) Incorreta. Mesmo com os objetos artísticos sendo produzidos em momentos diferentes, o referencial é semelhante em ambos. Em Duchamp, é usado de fato um banco e uma roda; em Silveira, uma representação de um banco e de uma roda.
e) Incorreta. Em ambos as obras, é possível verificar a presença de objetos (de Duchamp o objeto em si, de Silveira a representação imagética do objeto) portanto, não existe uma ausência deles e, menos ainda, uma degradação proporcionada por tal.