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Questão 45 Enem 2022 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Questão 45

textos literários

Notas 

     Soluços, lágrimas, casa armada, veludo preto nos portais, um homem que veio vestir o cadáver, outro que tomou a medida do caixão, caixão, essa, tocheiros, convites, convidados que entravam, lentamente, a passo surdo, e apertavam a mão à família, alguns tristes, todos sérios e calados, padre e sacristão, rezas, aspersões d'água benta, o fechar do caixão a prego e martelo, seis pessoas que o tomam da essa, e o levantam, e o descem a custo pela escada, não obstante os gritos, soluços e novas lágrimas da família, e vão até o coche fúnebre, e o colocam em cima e traspassam e apertam as correias, o rodar do coche, o rodar dos carros, um a um... Isto que parece um simples inventário, eram notas que eu havia tomado para um capítulo triste e vulgar que não escrevo.                                                               

ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em 25 jul. 2022.


O recurso linguístico que permite a Machado de Assis considerar um capítulo de Memórias póstumas de Brás Cubas como inventário é a



a)

enumeração de objetos e fatos.    

b)

predominância de linguagem objetiva.

c)

ocorrência de períodos longos no trecho.

d)

combinação de verbos no presente e no pretérito.

e)

presença de léxico do campo semântico de funerais.

Resolução

a) Correta. Um inventário é uma relação de bens, móveis e imóveis que pertencem a determinada pessoa. Trata-se de um documento que pode ser elaborado em vida ou após a morte. Por extensão de sentido, podemos compreender também que se trata de uma enumeração de coisas ou processos, uma descrição minuciosa com base nessas enumerações. No trecho, é apresentada tal enumeração com descrições e elementos que serviriam para “um capítulo triste”, um capítulo que apresentaria um contexto fúnebre, o qual poderia evocar, portanto, também pela aproximação semântica um gênero muito recorrente a situações como as do falecimento de alguém. Desse modo, pode-se afirmar que o conceito de “inventário” foi utilizado, em sua extensão de sentido, como uma lista de que tudo que poderia ter sido descrito no trecho.
b) Incorreta. Embora haja uma descrição de elementos com pouca subjetivação explícita, a seleção vocabular de elementos vinculados a um velório emprega ao trecho um caráter fúnebre que não permite sua classificação como objetiva. Além disso, a presença da classificação, na ultima frase, de que tal sequência de elementos constituiria um “capítulo triste” corrobora para a presença da subjetividade no trecho.
c) Incorreta. Há dois períodos no trecho, dentre os quais o primeiro caracteriza-se como bastante longo. Entretanto, essa estruturação sintática não configura uma particularidade ou característica de um inventário.
d) Incorreta. A articulação dos tempos do presente e dos pretéritos do indicativo é feita no texto narrativo para organizar os eventos numa sequência temporal e, principalmente, no caso dos verbos no presente, para aproximar os eventos narrados do leitor. Essa articulação, porém, não é característica do gênero inventário.
e) Incorreta. A presença de léxico do campo semântico dos funerais contribui para o caráter pesaroso do relato, mas não se configura como uma característica do gênero inventário.