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Fuvest - 1ª fase


Questão 1 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos publicitários Adjetivo

Examine este cartaz, cuja finalidade é divulgar uma exposição de obras de Pablo Picasso.

Nas expressões “Mão erudita” e “Olho selvagem”, que compõem o texto do anúncio, os adjetivos “erudita” e “selvagem” sugerem que as obras do referido artista conjugam, respectivamente,



a)
civilização e barbárie.
b)
requinte e despojamento.
c)
modernidade e primitivismo.
d)
liberdade e autoritarismo.
e)
tradição e transgressão.
Resolução

O adjetivo “erudito” nas artes costuma se referir a obras de alta complexidade, que exigiram para ser feitas um alto nível de pequisa e estudo de teoria e das técnicas tradicionais da parte do artista. Assim, a expressão “Mão erudita” faz referência à formação acadêmica de Pablo Picasso, que frequentou a  Real Academia de Bellas Artes de San Fernando e portanto dedicou-se por algum tempo a dominar as técnicas tradicionais da pintura, através inclusive do estudo e cópia de grandes obras dos pintores clássicos presentes no acervo do Museu do Prado. “Olho selvagem”, por sua vez, faz referência à busca radical por liberdade expressiva que caracteriza a obra do artista. A palavra “Selvagem” nesse caso remeteria ao que não é domesticado, não reconhece convenções e regras. Assim, a exposição visa chamar atenção para o fato de que a obra de Picasso une ao mesmo tempo a tradição e a transgressão, como explicitado na alternativa E. Não é possível dizer que a expressão “mão erudita” seja associável à modernidade, uma vez que a arte moderna combate os valores da arte acadêmica, o que elimina a alternativa C. Ao mesmo tempo, não é possível afirmar que haja autoritarismo na obra de Picasso, o que invalida a alternativa D. Também se mostra inconsistente dizer que as obras de Picasso apresentariam “barbárie”, o que invalida a alternativa A. Por fim, a palavra “requinte” caracteriza grande apuro e esmero no fazer de alguma coisa, tendo um sentido do que é considerado sofisticado, distinto e elegante. A palavra “despojamento”, por sua vez, caracteriza aquilo que é simples, sem ornamentos, modesto. Utilizar ambas para descrever a obra de Picasso seria inadequado, já que não se pode dizer da obra de Picasso que seja simples, e também não é adequado caracterizar o aspecto erudito de sua obra como requintado, uma vez que a obra do artista, em sua intensa busca pela síntese formal, é marcada por um enorme fascínio por inúmeras manifestações artísticas pouco valorizadas pelo stablishment das artes de sua época, como a arte africana, a arte medieval etc. Trata-se, em suma, de um artista que gostava de afirmar que levou a vida toda para “aprender a pintar como as crianças”. Tais considerações tornam inadequada a alternativa B.

Questão 2 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos científicos e de divulgação científica

A adoção do cardápio indígena introduziu nas cozinhas e zonas de serviço das moradas brasileiras equipamentos desconhecidos no Reino. Instalou nos alpendres roceiros a prensa de espremer mandioca ralada para farinha. Nos inventários paulistas é comum a menção de tal fato. No inventário de Pedro Nunes, por exemplo, efetuado em 1623, fala-se num sítio nas bandas do Ipiranga “com seu alpendre e duas camarinhas no dito alpendre com a prensa no dito sítio” que deveria comprimir nos tipitis toda a massa proveniente do mandiocal também inventariado. Mas a farinha não exigia somente a prensa – pedia, também, raladores, cochos de lavagem e forno ou fogão. Era normal, então, a casa de fazer farinha, no quintal, ao lado dos telheiros e próxima à cozinha.

Carlos A. C. Lemos, Cozinhas, etc.


 

Traduz corretamente uma relação espacial expressa no texto o que se encontra em:



a)
A prensa é paralela aos tipitis.
b)
A casa de fazer farinha é adjacente aos telheiros.
c)
As duas camarinhas são transversais à cozinha.
d)
O alpendre é perpendicular às zonas de serviço.
e)
O mandiocal e o Ipiranga são equidistantes do sítio.
Resolução

a) Incorreta. Analisando-se o texto, a prensa, responsável por “espremer mandioca ralada para farinha”, não estaria paralela aos tipitis (recipientes cilíndricos feitos de palha), mas em seu interior, o que é evidenciado pela preposição “no”, presente no trecho “[...] ‘a prensa no dito sítio’ que deveria comprimir nos tipitis”. Assim, a preposição permite que o leitor compreenda que a prensa é um objeto que está presente no interior dos tipitis, o que impede que eles sejam paralelos.

b) Correta. O texto de Carlos A. C. Lemos busca evidenciar a inserção de equipamentos indígenas nas moradias brasileiras, dentre esses, ganha destaque a prensa de mandioca, presente na casa de fazer farinha. Assim, a fim de elucidar melhor ao leitor o local no qual essa “casa” se encontrava no interior das moradias, o autor expõe que elas eram encontradas ao lado dos telheiros. Dessa forma, o trecho “a casa de fazer farinha, no quintal, ao lado dos telheiros” confirma que a primeira é adjacente, ou seja, situada ao lado, dos segundos.

c) Incorreta. Observando-se o texto, é possível inferir que as camarinhas, ou seja, pequenos cômodos que o autor cita, estão presentes no interior dos alpendres e que, por sua vez, possuem em seu interior as prensas de fazer mandioca. Tendo isso em vista, conclui-se que as camarinhas compunham a casa de fazer farinha e, por conta disso, não é cabível afirmar que elas são transversais à cozinha, uma vez que o texto não traz a relação espacial exata entre a casa de fazer farinha e a cozinha (“casa da fazer farinha [...] próxima à cozinha.”).

d) Incorreta. Pensando-se no conceito de um alpendre – telhado saliente, sustentado por colunas, acima de portas ou varandas –, é plausível afirmar que ele é perpendicular às zonas de serviço, uma vez que entre essas e o alpendre pode-se formar um ângulo de 90º. Porém, tendo em vista o enunciado da questão, é preciso que o texto expresse essa relação espacial, o que não ocorre e torna a alternativa incorreta. Para além, a relação exposta pelo autor é de que as zonas de serviços estão no interior dos alpendres, como fica claro, por exemplo, no trecho “duas camarinhas no dito alpendre”.

e) Incorreta. Baseando-se na leitura do texto, não é possível inferir se o mandiocal e o Ipiranga são equidistantes do sítio, uma vez que o autor não aborda essa questão; ele apenas cita que sítio localizava-se no Ipiranga e, pelo fato de focar na presença da prensa de mandioca no sítio, pode-se deduzir que nele havia um mandiocal.

Questão 3 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

histórica

A adoção do cardápio indígena introduziu nas cozinhas e zonas de serviço das moradas brasileiras equipamentos desconhecidos no Reino. Instalou nos alpendres roceiros a prensa de espremer mandioca ralada para farinha. Nos inventários paulistas é comum a menção de tal fato. No inventário de Pedro Nunes, por exemplo, efetuado em 1623, fala-se num sítio nas bandas do Ipiranga “com seu alpendre e duas camarinhas no dito alpendre com a prensa no dito sítio” que deveria comprimir nos tipitis toda a massa proveniente do mandiocal também inventariado. Mas a farinha não exigia somente a prensa – pedia, também, raladores, cochos de lavagem e forno ou fogão. Era normal, então, a casa de fazer farinha, no quintal, ao lado dos telheiros e próxima à cozinha.

Carlos A. C. Lemos, Cozinhas, etc.


Além de “tipitis”, constituem contribuição indígena para a língua portuguesa do Brasil as seguintes palavras empregadas no texto:



a)
“cardápio” e “roceiros”.
b)
“alpendre” e “fogão”.
c)
“mandioca” e “Ipiranga”.
d)
“sítio” e “forno”.
e)
“prensa” e “quintal”.
Resolução

a) Incorreta. A palavra “cardápio”, de acordo com o dicionário Houaiss, tem origem no latim: “chārta,ae, no sentido de papel, carta + dāps,ìs no sentido de banquete oferecido aos deuses, refeição, comida”. Já a palavra “roceiros” seria formada por sufixação (roça + -eiro), sendo que “roça” também tem origem latina.

b) Incorreta. A palavra alpendre é de origem duvidosa e segundo o dicionário Houaiss, provavelmente está relacionada com o verbo “pender”, do latim pendēre. Na palavra fogão, o elemento de composição fog- também se origina do latim focus,ī , no sentido de “fogo, lume, habitação”, conforme consta no Houaiss.

c) Correta. Conforme consta no dicionário Houaiss, a palavra “mandioca” tem origem no tupi mandi'oka, “no sentido de mandioca, raiz da planta chamada mandi´ïwa”. “Ipiranga” também tem origem no tupi, através da junção dos termos 'y (rio) e pyrang (vermelho).

d) Incorreta. Segundo o Houaiss, a palavra “sítio” tem origem controversa, enquanto “forno” origina-se do latim fūrnus/fōrnus,ĭ no sentido de “forno”.

e) Incorreta. A palavra prensa é formada por um elemento de composição –prim-, do verbo latino premo, ism pressi, pressum, premĕre, no sentido de “fazer pressão sobre, apertar, comprimir, por carga em”, de acordo com o dicionário Houaiss. Já a palavra “quintal”, segundo Leite de Vasconcelos, citado por Houaiss, tem origem no latim vulgar - quintanale.

Questão 4 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Iracema

Nasceu o dia e expirou.

Já brilha na cabana de Araquém o fogo, companheiro da noite. Correm lentas e silenciosas no azul do céu, as estrelas, filhas da lua, que esperam a volta da mãe ausente.

Martim se embala docemente; e como a alva rede que vai e vem, sua vontade oscila de um a outro pensamento. Lá o espera a virgem loura dos castos afetos; aqui lhe sorri a virgem morena dos ardentes amores.

Iracema recosta-se langue ao punho da rede; seus olhos negros e fúlgidos, ternos olhos de sabiá, buscam o estrangeiro, e lhe entram n’alma. O cristão sorri; a virgem palpita; como o saí, fascinado pela serpente, vai declinando o lascivo talhe, que se debruça enfim sobre o peito do guerreiro.

José de Alencar, Iracema.

 


Atente para as seguintes afirmações, extraídas e adaptadas de um estudo do crítico Augusto Meyer sobre José de Alencar:

 

I. “Nesta obra, assim como nos ‘poemas americanos’ dos nossos poetas, palpita um sentimento sincero de distância poética e exotismo, de coisa notável por estranha para nós, embora a rotulemos como nativa.”

II. “Mais do que diante de um relato, estamos diante de um poema, cujo conteúdo se concentra a cada passo na magia do ritmo e na graça da imagem.”

III. “O tema do bom selvagem foi, neste caso, aproveitado para um romance histórico, que reproduz o enredo típico das narrativas de capa e espada, oriundas da novela de cavalaria.”

 

 

É compatível com o trecho de Iracema aqui reproduzido, considerado no contexto dessa obra, o que se afirma em



a)
a) I, apenas.
b)
b) III, apenas.
c)
c) I e II, apenas.
d)
d) II e III, apenas.
e)
e) I, II e III.
Resolução

I. Correta. De acordo com Augusto Meyer, ainda que a obra Iracema possa ser chamada de “nativa”, havia nela uma “distância poética” e um “exotismo” que a tornavam estranha para seus leitores. Ao classificar o romance como uma obra nativista, o crítico alude aos elementos tipicamente cearenses e brasileiros presentes na constituição da narrativa: o índio e a natureza. Entretanto, ao referir-se à distância poética, o crítico aponta que, na época da composição da obra, tais elementos eram distantes da realidade do autor e dos leitores. De fato, Iracema, publicado em 1865, narra uma história que remonta aos inícios da colonização do Brasil. Alencar recria uma narrativa de base mitológica com personagens indígenas, ancestrais do povo brasileiro, que já teriam deixado de existir há muito tempo e que, portanto, soariam exóticas para os próprios leitores brasileiros do século XIX.

II. Correta. Não apenas Augusto Meyer, mas muitos críticos apontaram para os aspectos poéticos presentes em Iracema, tais como o “ritmo” da linguagem e a “graça da imagem”. Podemos citar como exemplo o trecho “Correm lentas e silenciosas”, em que se verifica um trabalho linguístico que confere musicalidade ao texto a partir do uso de assonância (a repetição da vogal aberta “o” e da vogal nasal “em/en”) e aliteração (repetição do fonema consonantal representado pela letra “s” e pela sílaba “ci”). O paralelismo também pode ser citado como um recurso sintático que confere musicalidade ao texto, uma vez que o aproxima da estrutura paralelística das canções: “Lá o espera a virgem loura dos castos afetos;/ aqui lhe sorri a virgem morena dos ardentes amores”. Pode-se apontar também o trabalho com a função poética da linguagem a fim de sugerir imagens a partir de recursos como:

Personificação: “Já brilha (...) o fogo, companheiro da noite”; “correm (...) no azul do céu, as estrelas, filhas da lua, que esperam a volta da mãe ausente”.

Adjetivação: “Correm lentas e silenciosas”; “virgem loura dos castos afetos/ virgem morena dos ardentes amores”.

Metáfora: “ternos olhos de sabiá”.

Comparações: “como a alva rede que vai e vem, sua vontade oscila de um a outro pensamento”; “...a virgem palpita; como o saí fascinado pela serpente vai declinando o lascivo talhe...”.

III. Incorreta. Ainda que se observe o aproveitamento do tema do bom selvagem na constituição do personagem Poti e a referência ao romance de cavalaria na caracterização de Martim, Iracema não pode ser considerado um romance histórico, uma vez que, a partir da recriação poética do encontro do nativo com o colonizador português, o narrador recria uma narrativa mitológica sobre o surgimento do primeiro cearense e, por extensão, do primeiro brasileiro.

Questão 5 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Iracema

Nasceu o dia e expirou.

Já brilha na cabana de Araquém o fogo, companheiro da noite. Correm lentas e silenciosas no azul do céu, as estrelas, filhas da lua, que esperam a volta da mãe ausente.

Martim se embala docemente; e como a alva rede que vai e vem, sua vontade oscila de um a outro pensamento. Lá o espera a virgem loura dos castos afetos; aqui lhe sorri a virgem morena dos ardentes amores.

Iracema recosta-se langue ao punho da rede; seus olhos negros e fúlgidos, ternos olhos de sabiá, buscam o estrangeiro, e lhe entram n’alma. O cristão sorri; a virgem palpita; como o saí, fascinado pela serpente, vai declinando o lascivo talhe, que se debruça enfim sobre o peito do guerreiro.

José de Alencar, Iracema.

 


No texto, corresponde a uma das convenções com que o Indianismo construía suas representações do indígena



a)
o emprego de sugestões de cunho mitológico compatíveis com o contexto.
b)
a caracterização da mulher como um ser dócil e desprovido de vontade própria.
c)
a ênfase na efemeridade da vida humana sob os trópicos.
d)
o uso de vocabulário primitivo e singelo, de extração oral-popular.
e)
a supressão de interdições morais relativas às práticas eróticas.
Resolução

a) Correta. O subtítulo de Iracema, “Lenda do Ceará”, sugere o aspecto lendário e mitológico da narrativa. Para Alencar, o romance seria, de fato, a reconstituição poética de um mito de fundação tal qual os próprios indígenas nativos teriam narrado. A intenção do autor seria, portanto, (re)criar a lenda do surgimento do Ceará e também do Brasil a partir da narração do encontro de duas raças heroicas simbolizadas por Iracema, a selvagem americana e Martim, o colonizador português, pais de Moacir, o primeiro brasileiro. Nesse sentido, o excerto apresentado retrata um momento crucial na narrativa, quando o guerreiro branco se debate entre os sentimentos de saudade e de dever em relação à noiva que deixara em sua terra e o desejo que sente por Iracema. Atraída por Martim, a jovem indígena, ignorando as interdições de sua tribo, força uma aproximação física, tornando a resistência de Martim quase impossível. A partir dessa aproximação, o sentimento dos protagonistas se intensifica de modo a dar prosseguimento ao conflito que fará com que Iracema traia sua tribo e fuja com seu amado.

b) Incorreta. Movida pela paixão, Iracema, a virgem de Tupã, ignora as tradições religiosas de sua tribo, que determinavam que ela deveria manter-se casta, e entrega-se a Martim. Nesse sentido, a personagem segue sua própria vontade, desobedecendo às interdições que lhe eram impostas.

c) Incorreta. O texto não faz referência à efemeridade da vida humana sob os trópicos.

d) Incorreta. Ao recriar a lenda de fundação do Ceará, José de Alencar cria também uma linguagem supostamente original, que seria falada pelos primeiros habitantes do Brasil. Dessa forma, o texto reproduziria os aspectos dessa linguagem, caracterizada por um vocabulário singelo e primitivo, capaz de expressar a visão de mundo dos selvagens, muito próxima da natureza. Para criar essa linguagem, o autor emprega uma série de recursos poéticos e, por isso, é equivocado afirmar que ele recorre a uma linguagem de extração oral-popular.

e) Incorreta. As interdições morais relativas às práticas eróticas não são suprimidas, pelo contrário, o desencadeamento do conflito é promovido justamente pela desobediência de Iracema aos preceitos de sua tribo que determinavam que ela deveria manter-se virgem.

Questão 6 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

prosa (interpretação) Adjetivo Verbo Pronomes possessivos

Nasceu o dia e expirou.

Já brilha na cabana de Araquém o fogo, companheiro da noite. Correm lentas e silenciosas no azul do céu, as estrelas, filhas da lua, que esperam a volta da mãe ausente.

Martim se embala docemente; e como a alva rede que vai e vem, sua vontade oscila de um a outro pensamento. Lá o espera a virgem loura dos castos afetos; aqui lhe sorri a virgem morena dos ardentes amores.

Iracema recosta-se langue ao punho da rede; seus olhos negros e fúlgidos, ternos olhos de sabiá, buscam o estrangeiro, e lhe entram n’alma. O cristão sorri; a virgem palpita; como o saí, fascinado pela serpente, vai declinando o lascivo talhe, que se debruça enfim sobre o peito do guerreiro.

José de Alencar, Iracema.

 


É correto afirmar que, no texto, o narrador



a)
prioriza a ordem direta da frase, como se pode verificar nos dois primeiros parágrafos do texto.
b)
usa o verbo “correr” (2º parágrafo) com a mesma acepção que se verifica na frase “Travam das armas os rápidos guerreiros, e correm ao campo” (também extraída do romance Iracema).
c)
recorre à adjetivação de caráter objetivo para tornar a cena mais real.
d)
emprega, a partir do segundo parágrafo, o presente do indicativo, visando dar maior vivacidade aos fatos narrados, aproximando-os do leitor.
e)
atribui, nos trechos “aqui lhe sorri” e “lhe entram n’alma”, valor possessivo ao pronome “lhe”.
Resolução

a) Incorreta. Nos dois primeiros parágrafos, encontramos exemplos de hipérbato, figura de sintaxe em que ocorre a inversão da ordem direta (sujeito-verbo-complemento): “Já brilha na cabana de Araquém o fogo” e “Correm lentas e silenciosas no azul do céu, as estrelas”.

b) Incorreta. No excerto citado pela questão, o verbo “correr” foi empregado conotativamente para referir-se ao movimento das estrelas que vão aparecendo no céu, já na frase apresentada pela alternativa, esse verbo é empregado em seu sentido denotativo, para fazer referência à corrida dos guerreiros pelo campo.

c) Incorreta. A adjetivação, empregada como recurso poético, confere ao texto um caráter subjetivo seja para criar a atmosfera noturna e romântica que envolve os amantes – “Correm lentas e silenciosas no azul do céu, as estrelas - seja para caracterizar Iracema a partir da perspectiva do desejo e da sensualidade: “virgem morena dos ardentes amores”; “Iracema recosta-se langue”; “olhos negros e fúlgidos, ternos olhos de sabiá” e “lascivo talhe”.

d) Correta. É sabido que a narrativa de Iracema reconstitui um passado remoto, entretanto, o emprego dos verbos no presente do indicativo confere um dinamismo à cena, aproximando e envolvendo o leitor.

e) Incorreta. O pronome “lhe” tem valor possessivo somente em “lhe entram na alma” (entram em sua alma). No trecho “aqui lhe sorri”, o pronome “lhe” é um objeto indireto do verbo “sorri” (aqui sorri para ele).

Questão 7 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Intertextualidade e Interdiscursividade língua oral e língua escrita

Evidentemente, não se pode esperar que Dostoiévski seja traduzido por outro Dostoiévski, mas desde que o tradutor procure penetrar nas peculiaridades da linguagem primeira, aplique-se com afinco e faça com que sua criatividade orientada pelo original permita, paradoxalmente, afastar-se do texto para ficar mais próximo deste, um passo importante será dado. Deixando de lado a fidelidade mecânica, frase por frase, tratando o original como um conjunto de blocos a serem transpostos, e transgredindo sem receio, quando necessário, as normas do “escrever bem”, o tradutor poderá trazê-lo com boa margem de fidelidade para a língua com a qual está trabalhando.

Boris Schnaiderman, Dostoiévski Prosa Poesia.

 


De acordo com o texto, a boa tradução precisa



a)
evitar a transposição fiel dos conteúdos do texto original.
b)
desconsiderar as características da linguagem primeira para poder atingir a língua de chegada.
c)
desviar-se da norma-padrão tanto da língua original quanto da língua de chegada.
d)
privilegiar a inventividade, ainda que em detrimento das peculiaridades do texto original.
e)
buscar, na língua de chegada, soluções que correspondam ao texto original.
Resolução

a) Incorreta. A afirmação é problemática por entender que a recomendação do texto seja a de evitar uma transposição fiel. Não se pode considerar que a tradução feita frase a frase seja uma tradução fiel, visto que há peculiaridades tanto da língua de partida, quanto da língua de chegada às quais o bom tradutor deve ficar atento e que podem passar despercebidas caso seja feita uma tradução por blocos. Para o autor do texto, haverá a necessidade de realizar transgressões e, mesmo assim, poder-se-á obter uma boa margem de fidelidade em relação ao texto original.

b) Incorreta. Schnaiderman afirma que o tradutor deve atentar-se às características da linguagem do texto de origem, no trecho: “[...] desde que o tradutor procure penetrar nas peculiaridades da linguagem primeira”. Para o autor, é a consideração dessas características que permitirá o trabalho com o texto na língua de chegada.

c) Incorreta. Deve-se notar que, na afirmação do autor, de que o tradutor deve transgredir sem receio “quando necessário, as normas do ‘escrever bem’”, não se determina a necessidade de desvio da norma-padrão das línguas envolvidas no processo tradutório, mas sim abre-se a possibilidade para que isso seja feito em alguns casos, permitindo uma maior aproximação entre o texto original e o texto traduzido, caso a transgressão à norma seja proposital.

d) Incorreta. Para Schnaiderman, a inventividade é orientada pelas peculiaridades do texto original, isto é, uma boa tradução deverá tomá-las como ponto de partida para a criação dos afastamentos necessários em relação ao texto de origem, de modo a, paradoxalmente, promover uma aproximação entre o original e o traduzido. Deste modo, sem o entendimento das peculiaridades do texto original, não se poderia criar as especificidades do texto traduzido que, embora se aproximem pela intenção comunicativa, distinguem-se pelas características das línguas com as quais o tradutor trabalha.

e) Correta. O autor defende a ideia de que as transgressões seriam uma solução tradutória para que o texto de chegada mantivesse a mensagem do texto de origem, em sua relação com a língua e a linguagem de partida. Para isso, o autor deve dominar tanto a especificidade da língua de chegada, quanto da língua de partida, de modo a traduzir “com boa margem de fidelidade para a língua com a qual está trabalhando”.

Questão 8 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Intertextualidade e Interdiscursividade língua oral e língua escrita textos científicos e de divulgação científica

Evidentemente, não se pode esperar que Dostoiévski seja traduzido por outro Dostoiévski, mas desde que o tradutor procure penetrar nas peculiaridades da linguagem primeira, aplique-se com afinco e faça com que sua criatividade orientada pelo original permita, paradoxalmente, afastar-se do texto para ficar mais próximo deste, um passo importante será dado. Deixando de lado a fidelidade mecânica, frase por frase, tratando o original como um conjunto de blocos a serem transpostos, e transgredindo sem receio, quando necessário, as normas do “escrever bem”, o tradutor poderá trazê-lo com boa margem de fidelidade para a língua com a qual está trabalhando.

Boris Schnaiderman, Dostoiévski Prosa Poesia.

 


Tendo em vista que algumas das recomendações do autor, relativas à prática da tradução, fogem do senso comum, pode-se qualificá-las com o seguinte termo, de uso relativamente recente:



a)
a) dubitativas.
b)
b) contraintuitivas.
c)
c) autocomplacentes.
d)
d) especulativas.
e)
e) aleatórias.
Resolução

a) Incorreta. O texto não coloca em dúvida se a prática tradutória de traduzir frase a frase seria um caminho adequado, isto é, não deixa em aberto a discussão sobre a eficiência dessa prática, pelo contrário, não a recomenda.

b) Correta. Justamente por contrariarem o senso comum, que corresponde a um consenso sobre determinadas ideias, opiniões ou concepções, as recomendações do autor podem ser consideradas contraintuitivas, isto é, opostas àquilo que seria esperado.

c) Incorreta. As recomendações poderiam ser consideradas autocomplacentes caso tivessem por objetivo uma gratificação delas próprias, o que não é notável no excerto.

d) Incorreta. As recomendações não podem ser consideradas especulativas, na medida em que não se baseiam apenas na teoria, pelo contrário, são estabelecidas a partir da investigação da prática tradutória.

e) Incorreta. As recomendações aplicam-se a qualquer prática tradutória, independentemente de circunstâncias ou do acaso, por isso não podem ser consideradas aleatórias.

Questão 9 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Prefixal e Sufixal

Evidentemente, não se pode esperar que Dostoiévski seja traduzido por outro Dostoiévski, mas desde que o tradutor procure penetrar nas peculiaridades da linguagem primeira, aplique-se com afinco e faça com que sua criatividade orientada pelo original permita, paradoxalmente, afastar-se do texto para ficar mais próximo deste, um passo importante será dado. Deixando de lado a fidelidade mecânica, frase por frase, tratando o original como um conjunto de blocos a serem transpostos, e transgredindo sem receio, quando necessário, as normas do “escrever bem”, o tradutor poderá trazê-lo com boa margem de fidelidade para a língua com a qual está trabalhando.

Boris Schnaiderman, Dostoiévski Prosa Poesia.

 


O prefixo presente na palavra “transpostos” tem o mesmo sentido do prefixo que ocorre em

 



a)
ultrapassado.
b)
retrocedido.
c)
infracolocado.
d)
percorrido.
e)
introvertido.
Resolução

a) Correta. Assim como o prefixo trans-, o prefixo ultra- expressa a noção de algo que vai para além de um ponto de partida.

b) Incorreta. O prefixo retro- transmite a noção de recuo, retorno, diferindo-se da ideia expressa pelo prefixo trans-.

c) Incorreta. O prefixo infra- também expressa noção diferente da do prefixo colocado no enunciado, sugerindo a ideia de “abaixo, em posição inferior”.

d) Incorreta. O prefixo per- não exprime a noção de ir além de, mas sim de um movimento através de.

e) Incorreta. O prefixo intro- transmite a ideia de que algo é interior.

Questão 10 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Memórias póstumas de Brás Cubas

CAPÍTULO LIII

. . . . . . .

Virgília é que já se não lembrava da meia dobra; toda ela estava concentrada em mim, nos meus olhos, na minha vida, no meu pensamento; — era o que dizia, e era verdade.

Há umas plantas que nascem e crescem depressa;

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outras são tardias e pecas. O nosso amor era daquelas; brotou com tal ímpeto e tanta seiva, que, dentro em pouco, era a mais vasta, folhuda e exuberante criatura dos bosques. Não lhes poderei dizer, ao certo, os dias que durou esse crescimento. Lembra-me, sim, que, em certa noite, abotoou-

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se a flor, ou o beijo, se assim lhe quiserem chamar, um beijo que ela me deu, trêmula, — coitadinha, — trêmula de medo, porque era ao portão da chácara. Uniu-nos esse beijo único, — breve como a ocasião, ardente como o amor, prólogo de uma vida de delícias, de terrores, de remorsos, de prazeres

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que rematavam em dor, de aflições que desabrochavam em alegria, — uma hipocrisia paciente e sistemática, único freio de uma paixão sem freio, — vida de agitações, de cóleras, de desesperos e de ciúmes, que uma hora pagava à farta e de sobra; mas outra hora vinha e engolia aquela, como tudo

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mais, para deixar à tona as agitações e o resto, e o resto do resto, que é o fastio e a saciedade: tal foi o livro daquele prólogo.

Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.


Considerado no contexto de Memórias póstumas de Brás Cubas, o “livro” dos amores de Brás Cubas e Virgília, apresentado no breve capítulo aqui reproduzido, configura uma

 



a)
a) demonstração da tese naturalista que postula o fundamento biológico das relações amorosas.
b)
b) versão mais intensa e prolongada da típica sequência de animação e enfado, característica da trajetória de Brás Cubas.
c)
c) incorporação, ao romance realista, dos triângulos amorosos, cuja criação se dera durante o período romântico.
d)
d) manifestação da liberdade que a condição de defunto-autor dava a Brás Cubas, permitindo-lhe tratar de assuntos proibidos em sua época.
e)
e) crítica à devassidão que grassava entre as famílias da elite do Império, em particular, na Corte.
Resolução

a) Incorreta. É tradicional a vinculação de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” à escola literária realista, e não naturalista. Do excerto, não se pode pressupor uma relação de determinação entre as características biológicas dos seres humanos e suas relações.

b) Correta. O capítulo deixa claro que o episódio do beijo entre Brás Cubas e Virgília foi o gatilho (afinal, o amor entre os dois “brotou com tal ímpeto”, isto é, de forma muito intensa e rápida) para uma série de eventos que vieram a desabrochar – “uma vida de delícias, de terrores, de remorsos, de prazeres (...), de aflições (...), de cóleras, de desesperos e de ciúmes”. O beijo que os uniu, então, constitui-se apenas o início de tudo aquilo que acontece em seguida, daí a metáfora do livro: analogamente, o prólogo, em relação à totalidade do livro, funciona como elemento introdutório de toda a obra que o sucede. Assim, o “livro” dos amores de Brás Cubas e Virgília a que se refere o enunciado é tudo aquilo que resulta do encontro no portão da chácara: uma vida composta por agitações (ou, segundo a alternativa, “animação”) e pelo “resto, e o resto do resto, que é o fastio [enfado] e a saciedade”. A enumeração de elementos que delineiam essa vida é garantia da intensidade e do prolongamento em relação ao episódio que é compreendido como prólogo.

c) Incorreta. A concepção de triângulo amoroso não é romântica, mas sim realista, momento em que o casamento e as relações amorosas tais como são compreendidas no Romantismo são revistas.

d) Incorreta. É verdade que a condição de defunto-autor permite que Brás Cubas toque em temáticas proibidas, tais como o adultério, central no excerto em destaque na questão. Contudo, é equivocado defender que a metáfora do livro, construída ao longo do fragmento, serve unicamente como manifestação dessa liberdade; antes, ela foi delineada para associar o beijo a todos os eventos que se seguiram a esse episódio.

e) Incorreta. Não existem evidências textuais de uma suposta depravação da corte, quanto mais de uma crítica a ela.