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Questão 4 1ª fase

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Questão 4

Iracema

Atente para as seguintes afirmações, extraídas e adaptadas de um estudo do crítico Augusto Meyer sobre José de Alencar:

 

I. “Nesta obra, assim como nos ‘poemas americanos’ dos nossos poetas, palpita um sentimento sincero de distância poética e exotismo, de coisa notável por estranha para nós, embora a rotulemos como nativa.”

II. “Mais do que diante de um relato, estamos diante de um poema, cujo conteúdo se concentra a cada passo na magia do ritmo e na graça da imagem.”

III. “O tema do bom selvagem foi, neste caso, aproveitado para um romance histórico, que reproduz o enredo típico das narrativas de capa e espada, oriundas da novela de cavalaria.”

 

 

É compatível com o trecho de Iracema aqui reproduzido, considerado no contexto dessa obra, o que se afirma em



a)
a) I, apenas.
b)
b) III, apenas.
c)
c) I e II, apenas.
d)
d) II e III, apenas.
e)
e) I, II e III.
Resolução

I. Correta. De acordo com Augusto Meyer, ainda que a obra Iracema possa ser chamada de “nativa”, havia nela uma “distância poética” e um “exotismo” que a tornavam estranha para seus leitores. Ao classificar o romance como uma obra nativista, o crítico alude aos elementos tipicamente cearenses e brasileiros presentes na constituição da narrativa: o índio e a natureza. Entretanto, ao referir-se à distância poética, o crítico aponta que, na época da composição da obra, tais elementos eram distantes da realidade do autor e dos leitores. De fato, Iracema, publicado em 1865, narra uma história que remonta aos inícios da colonização do Brasil. Alencar recria uma narrativa de base mitológica com personagens indígenas, ancestrais do povo brasileiro, que já teriam deixado de existir há muito tempo e que, portanto, soariam exóticas para os próprios leitores brasileiros do século XIX.

II. Correta. Não apenas Augusto Meyer, mas muitos críticos apontaram para os aspectos poéticos presentes em Iracema, tais como o “ritmo” da linguagem e a “graça da imagem”. Podemos citar como exemplo o trecho “Correm lentas e silenciosas”, em que se verifica um trabalho linguístico que confere musicalidade ao texto a partir do uso de assonância (a repetição da vogal aberta “o” e da vogal nasal “em/en”) e aliteração (repetição do fonema consonantal representado pela letra “s” e pela sílaba “ci”). O paralelismo também pode ser citado como um recurso sintático que confere musicalidade ao texto, uma vez que o aproxima da estrutura paralelística das canções: “Lá o espera a virgem loura dos castos afetos;/ aqui lhe sorri a virgem morena dos ardentes amores”. Pode-se apontar também o trabalho com a função poética da linguagem a fim de sugerir imagens a partir de recursos como:

Personificação: “Já brilha (...) o fogo, companheiro da noite”; “correm (...) no azul do céu, as estrelas, filhas da lua, que esperam a volta da mãe ausente”.

Adjetivação: “Correm lentas e silenciosas”; “virgem loura dos castos afetos/ virgem morena dos ardentes amores”.

Metáfora: “ternos olhos de sabiá”.

Comparações: “como a alva rede que vai e vem, sua vontade oscila de um a outro pensamento”; “...a virgem palpita; como o saí fascinado pela serpente vai declinando o lascivo talhe...”.

III. Incorreta. Ainda que se observe o aproveitamento do tema do bom selvagem na constituição do personagem Poti e a referência ao romance de cavalaria na caracterização de Martim, Iracema não pode ser considerado um romance histórico, uma vez que, a partir da recriação poética do encontro do nativo com o colonizador português, o narrador recria uma narrativa mitológica sobre o surgimento do primeiro cearense e, por extensão, do primeiro brasileiro.