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Unicamp 2020 - 1ª fase


Questão 61 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

O bem amado

“Para inaugurar é preciso ter um defunto. Mas, por desgraça, nenhum turista se afoga, nenhuma calamidade se abate sobre a cidade e os moribundos têm o desplante de ressuscitarem. Na ordem estabelecida por Odorico, o bem vira mal e o mal, bem.”

(Anatol Rosenfeld, “A obra de Dias Gomes”, em Teatro de Dias Gomes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972, p. xxvii.)

A comicidade de O Bem-amado, de Dias Gomes, deriva em grande medida da inversão de valores que a peça encena. Considerando os propósitos satíricos da obra, assinale a alternativa que evidencia tal inversão.



a)

A destinação de recursos para a construção de um cemitério público confere dignidade aos mortos.

b)

A hospitalidade dada aos doentes ilustra o uso do orçamento em prol do sistema público de saúde.

c)

A promoção do pistoleiro a delegado de polícia visa à reinserção social do criminoso.

d)

A inauguração do cemitério dá oportunidade a que se reverencie a memória do benfeitor da cidade.

Resolução

a) Incorreta. Em sua campanha política para a prefeitura de Sucupira, Odorico Paraguaçu promete construir um cemitério defendendo o direito de os cidadãos sucupirenses serem enterrados na cidade. Entretanto, tal promessa é feita tendo em vista a vitória nas eleições, e não a garantia da dignidade dos mortos.

b) Incorreta. O único doente que encontrou a hospitalidade foi o primo Ernesto, cuja vinda para Sucupira foi custeada com dinheiro público por Odorico, que esperava que ele morresse na cidade. Dessa forma, o orçamento foi empregado para atender aos interesses políticos do prefeito, e não em prol do sistema público de saúde.

c) Incorreta. A promoção do pistoleiro Zeca Diabo como delegado configura-se, de fato, como uma inversão de valores, entretanto, a intenção de Odorico ao promovê-lo era a de que o cangaceiro, com seu caráter violento, provocasse uma morte na cidade, ou seja, em nenhum momento a reinserção social do criminoso foi cogitada.

d) Correta. A inauguração do cemitério ocorre com o enterro de Odorico Paraguaçu, assassinado por Zeca Diabo. Nesse momento, o jornalista Neco Pereira, um dos principais opositores do prefeito, faz um discurso à beira de sua cova, exaltando as virtudes do líder político. Diante dessa cena, o público que havia presenciado as ações desonestas e ilícitas de Odorico sabe que o discurso do jornalista é falso e, assim, identifica a inversão de valores encenada pela peça na medida em que presencia um político corrupto ser exaltado como um exemplo de virtude moral e política. Dessa forma, explicitam-se os propósitos satíricos da obra de Dias Gomes presentes na denúncia da vida política brasileira, caracterizada pela permanência de estruturas arcaicas comandadas por políticos corruptos e carreiristas.

Questão 62 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

A cabra vadia

No livro A cabra vadia: novas confissões, Nelson Rodrigues inicia a crônica “Os dois namorados” com a seguinte afirmação:

“há coisas que um grã-fino só confessa num terreno baldio, à luz de archotes, e na presença apenas de uma cabra vadia.”

Na crônica “Terreno baldio” ele recorre ao mesmo animal para explicar a ideia que teve de criar “entrevistas imaginárias”:

“Não podia ser um gabinete, nem uma sala. Lembrei-me, então, do terreno baldio. Eu e o entrevistado e, no máximo, uma cabra vadia. Além do valor plástico da figura, a cabra não trai. Realmente, nunca se viu uma cabra sair por aí fazendo inconfidências.”

(Nelson Rodrigues, A cabra vadia: novas confissões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016, p. 52 e160.)
 

O caráter confessional associado à figura da cabra nas crônicas tem relação com



a)

a veracidade dos depoimentos que o cronista testemunha nas entrevistas.

b)

a impostura dos contemporâneos que são objeto dos comentários do cronista.

c)

a antipatia do jornalista no que diz respeito à busca de identidade dos artistas entrevistados.

d)

a sinceridade dos intelectuais que são objeto das crônicas dos jornalistas.

Resolução

a) Incorreta. Baseado em sua experiência como jornalista, Nelson Rodrigues afirmava que nenhuma entrevista era verdadeira, uma vez que os entrevistados eram hipócritas e não falavam aquilo que realmente sentiam ou pensavam. Em vista disso, ele cria as “entrevistas imaginárias”, de caráter ficcional, nas quais seria possível acessar a suposta verdade dos entrevistados que, no terreno baldio, na presença da cabra vadia, poderiam confessar seus mais secretos pensamentos. De qualquer forma, em nenhum dos dois tipos de entrevista – a real e a imaginária – a veracidade estaria presente.

b) Correta. Pode-se considerar “impostura” como ato ou dito do impostor, artifício para enganar ou ainda calúnia ou mentira. Para Nelson Rodrigues, muitas figuras públicas de seu tempo, que gozavam de consideração pública, agiam como impostores, uma vez que externalizam opiniões que seriam aprovadas pela sociedade e que lhes garantiriam popularidade. O modo que o cronista encontrou para criticar o oportunismo e a hipocrisia de tais figuras foi criar a situação da entrevista imaginária que ocorreria à meia-noite, num terreno baldio, sem a vigilância do público, tendo somente como testemunha uma cabra vadia, animal conhecido por ser confiável e por não fazer inconfidências, isto é, por não revelar segredos e indiscrições. Assim, nessa situação ficcional inusitada, o “entrevistado” expressaria suas “verdadeiras” opiniões, pois saberia que elas não seriam divulgadas e que seus segredos estariam bem guardados. Note-se que a pretensão do autor não era revelar a verdade sobre o suposto entrevistado, mas evidenciar as contradições que, segundo ele, estavam presentes nos discursos públicos dessas pessoas.

c) Incorreta. A questão da busca da identidade dos entrevistados não era o objetivo do jornalista, mas sim a investigação sobre suas posturas e declarações públicas.

d) Incorretas. Para Nelson Rodrigues, não apenas os intelectuais, mas personalidades de várias áreas, não eram sinceros nas entrevistas que concediam aos jornalistas. Assim, em seus textos, o cronista faz a crítica a esse comportamento.

Questão 63 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

poesia e música

O poema abaixo vem impresso na orelha do livro Psia, de Arnaldo Antunes.

(Arnaldo Antunes, Psia. São Paulo: Iluminuras, 2012.)

Na orelha do livro, Antunes apresenta ao leitor seu processo de criação poética. É correto dizer que o autor se propõe a



a)

revelar a primazia da comunicação oral sobre a escrita das palavras.

b)

discutir a flexão de gênero, que torna a palavra “psia” um substantivo.

c)

defender a conversão das palavras em coisas, mudando seu estatuto.

d)

explorar o poder de representação da interjeição exclamativa “psiu!”.

Resolução

a) Incorreto.  Nos versos “Eu berro as palavras no microfone/ da mesma maneira com que/ as desenho, com cuidado,/ na página”, o poeta afirma que a oralidade e a escrita recebem a mesma atenção, sem que haja primazia de uma sobre outra. 

b) Incorreto. Não há uma discussão sobre a flexão de gênero da palavra, mas a sugestão de um neologismo (“Psia é feminino/ de psiu; que serve para chamar a atenção/ de alguém, ou para pedir/ silêncio”.), a partir da analogia com outras palavras da língua que formem o par /u/ e /a/. 

c) Correto. Ao propor esse exercício metalinguístico, o poeta afirma que a elocução, oral e escrita, tem uma finalidade: “Para transformá-las em coisas,/ em vez de substituírem/ as coisas”. Esse movimento de materialização do objeto linguístico procura negar a referencialidade, isto é, que a linguagem erija um mundo em vez de que seja somente representação dele. 

d) Incorreto. Não se trata diretamente da interjeição “Psiu!”. De qualquer forma, cumpre dizer que interjeições não são itens lexicais plenos (como nomes e verbos), por isso não parece adequado falar de representação nesse caso. Ademais, como se mencionou no item anterior, a referencialidade é explicitamente combatida pelo poeta. 

Questão 64 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Semântica

Texto I

Os idiomas e suas regras são coisas vivas, que vão se modificando de maneira dinâmica, de acordo com o momento em que a sociedade vive. Um exemplo disso é a adoção do termo “maratonar”, quando os telespectadores podem assistir a vários ou a todos os episódios de uma série de uma só vez. Contudo, ao que parece, a plataforma Netflix não quer mais estar associada à “maratona” de séries. A maior razão seria a tendência atual que as gigantes da tecnologia têm seguido para evitar o consumo excessivo e melhorar a saúde dos usuários.

(Adaptado de Claudio Yuge, “Você notou? Netflix parece estar evitando o termo ‘maratonar’.” Disponível em https://www.tecmundo.com.br/ internet/133690-voce-notou-net flix-pareceevitando-termo-maratonar.htm. Acessado em 01/06/2019.)

Texto II

(Disponível em http://www.willtirando.com.br/anesia-417/. Acessado em 01/06/ 2019.)

Embora os dois textos tratem do termo “maratonar” a partir de perspectivas distintas, é possível afirmar que o Texto II retoma aspectos apresentados no Texto I porque



a)

esclarece o significado do neologismo “maratonar” como esforço físico exaustivo, derivado de “maratona”.

b)

deprecia a definição de “maratona” como ação contínua de superação de dificuldades e melhoria da saúde.

c)

reflete sobre o impacto que a falta de exercícios físicos e a permanência em casa provocam na saúde.

d)

menospreza o uso do termo “maratonar” relacionado a um estilo de vida sedentário, antagônico a maratona.

Resolução

a) Incorreto. Diferentemente do que se afirma na alternativa, os textos apresentam um sentido novo para “maratonar” (“...quando os telespectadores podem assistir a vários ou a todos os episódios de uma série de uma só vez...”), afastando seu significado do de sua raiz, “maratona”.  

b) Incorreto. Ambos os textos apresentam posições críticas a “maratonar”. No primeiro excerto, lê-se que a Netflix, gigante do streaming, “não quer mais estar associada à ‘maratona’ de séries”, pela conotação ruim que esse termo possa ter, associado ao sedentarismo dos que passam horas a fio na frente das telas. Na tira, a crítica vem da avó, que dá à neta uma definição de “maratonar” no passado (“sou do tempo em que ‘maratona’ significava ‘prova de resistência e esforço físico’”). 

c) Incorreto. A tira não faz uma reflexão sobre a saúde, como se lê assertiva. Trata-se mais de uma leitura moral, que valoriza “resistência e esforço físico” e condena (ou vê como pior) “ficar o dia todo no sofá vendo tv”. Associar essa valoração à questão da saúde seria superinterpretar o texto.    

d) Correto. A avó é bastante enfática na desaprovação que faz do sentido moderno de “maratonar” (“sou do tempo em que ‘maratona’ significava ‘prova de resistência e esforço físico’”). Dessa maneira, sua postura se aproxima da da Netflix, como se apresentou no Texto 1. 

Questão 65 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Conjunção

Leia o texto a seguir e responda às questões 65 e 66.


O telejornalismo é um dos principais produtos televisivos. Sejam as notícias boas ou ruins, ele precisa garantir uma experiência esteticamente agradável para o espectador. Em suma, ser um “infotenimento”, para atrair prestígio, anunciante e rentabilidade. Porém, a atmosfera pesada do início do ano baixou nos telejornais: Brumadinho, jovens atletas mortos no incêndio do CT do Flamengo, notícias diárias de feminicídios, de valentões armados matando em brigas de trânsito e supermercados. Conjunções adversativas e adjuntos adverbiais já não dão mais conta de neutralizar o tsunami de tragédias e violência, e de amenizar as más notícias para garantir o “infotenimento”. No jornal, é apresentada matéria sobre uma mulher brutalmente espancada, internada com diversas fraturas no rosto. Em frente ao hospital, uma repórter fala: “mas a boa notícia é que ela saiu da UTI e não precisará mais de cirurgia reparadora na face...”. Agora, repórteres repetem a expressão “a boa notícia é que...”, buscando alguma brecha de esperança no “outro lado” das más notícias.

(Adaptado de Wilson R. V. Ferreira, Globo adota “a boa notícia é que...” para tentar se salvar do baixo astral nacional. Disponível em https://cinegnose. Blogs pot.com/2019/02/globo-adotaboa-noticia-e-que-para.html. Acessado em 01/03 /2019.)

Considerando a matéria apresentada no jornal, o uso da conjunção adversativa seguido da expressão “a boa notícia é que” permite ao jornalista



a)

apontar a gravidade da notícia e compensá-la.

b)

expor a neutralidade da notícia e reforçá-la.

c)

minimizar a relevância da notícia e acentuá-la.

d)

revelar a importância da notícia e enfatizá-la.

Resolução

a) Correto. As gramáticas costumam atribuir às conjunções adversativas o papel de introduzir o argumento mais forte de uma oposição. Dessa maneira, ao tratar de um tema disfórico (como o acidente de Brumadinho ou o incêndio no CT do Flamengo, citados no texto), o jornalista teria como saída a fórmula “mas a boa notícia é que...”, que evocaria uma afirmação eufórica poderosa o suficiente para desfazer eventuais sensações ruins constituídas pela primeira etapa da reportagem. 

b) Incorreto. O texto não fala de neutralidade, mas das grandes tragédias que aconteceram no início do ano e como esse panorama negativo desafia as formulações otimistas exigidas pelo “infotenimento”. 

c) Incorreto. Tampouco se trata de minimizar a “importância da notícia”, como se afirma na alternativa, mas uma tentativa de atenuar o negativismo de alguns temas, ao oferecer, de maneira contrastante, um argumento positivo. 

d) Incorreto. A ênfase seriam as facetas diferentes de uma mesma notícia, com a finalidade de suavizar a experiência dos telespectadores, a fim de vender um produto que garanta “uma experiência esteticamente agradável para o espectador”. 

Questão 66 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Estrutura Vocabular - Processos de formação de palavras

Leia o texto a seguir e responda às questões 65 e 66.


O telejornalismo é um dos principais produtos televisivos. Sejam as notícias boas ou ruins, ele precisa garantir uma experiência esteticamente agradável para o espectador. Em suma, ser um “infotenimento”, para atrair prestígio, anunciante e rentabilidade. Porém, a atmosfera pesada do início do ano baixou nos telejornais: Brumadinho, jovens atletas mortos no incêndio do CT do Flamengo, notícias diárias de feminicídios, de valentões armados matando em brigas de trânsito e supermercados. Conjunções adversativas e adjuntos adverbiais já não dão mais conta de neutralizar o tsunami de tragédias e violência, e de amenizar as más notícias para garantir o “infotenimento”. No jornal, é apresentada matéria sobre uma mulher brutalmente espancada, internada com diversas fraturas no rosto. Em frente ao hospital, uma repórter fala: “mas a boa notícia é que ela saiu da UTI e não precisará mais de cirurgia reparadora na face...”. Agora, repórteres repetem a expressão “a boa notícia é que...”, buscando alguma brecha de esperança no “outro lado” das más notícias.

(Adaptado de Wilson R. V. Ferreira, Globo adota “a boa notícia é que...” para tentar se salvar do baixo astral nacional. Disponível em https://cinegnose. Blogs pot.com/2019/02/globo-adotaboa-noticia-e-que-para.html. Acessado em 01/03 /2019.)

Para se referir a matérias jornalísticas televisivas que informam e, ao mesmo tempo, entretêm os espectadores, o autor cria um neologismo por meio de



a)

derivação prefixal.

b)

composição por justaposição.

c)

composição por aglutinação.

d)

derivação imprópria.

Resolução

O texto apresenta a tese de que o telejornalismo tem como função a garantia de “uma experiência esteticamente agradável para o espectador”, a fim de que se atraiam “prestígio, anunciante e rentabilidade”. Para atingir esse fim estético, que estaria acima do conteúdo jornalístico, as agruras da realidade devem ser atenuadas. Dessa maneira, o jornalismo está condicionado à lógica do entretenimento. Por isso, o autor cunha a palavra “infotenimento” para justificar a informação que entretém ou o entretenimento que informa. Esse vocábulo seria o resultado da composição entre info[mação] e [entre]tenimento. Note-se a artificialidade dessa junção, produzida ad hoc, isto é, um vocábulo confeccionado para essa situação comunicativa específica. Quando se trata da aglutinação, strictu sensu, esse é um processo natural que acontece na acomodação fonética de uma frase [nominal] que caminha para uma estrutura de palavra. Assim, como não se trata de um processo diacrônico (ou seja, que se desenvolve no tempo), talvez fosse mais adequado descrever essa composição como uma palavra-valise ou amálgama, e não aglutinação. Essa seria, portanto, a alternativa mais próxima da descrição do processo de formação do neologismo "infotenimento", embora não esteja totalmente adequada.

Questão 67 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos jornalísticos

Texto I

Texto II

O que levou Marta, seis vezes a melhor do mundo, a enfrentar a Austrália de chuteiras pretas? Adianto, não foi o futebol “raiz”. Marta não fechou patrocínio com nenhuma das gigantes do mercado esportivo. Não recebeu nenhuma proposta à altura do seu futebol. Isso diz muito sobre o machismo no esporte. A partir disso, a atleta decidiu calçar a luta pela diversidade.

(Fonte: https://www.hypeness.com.br/2019/06/chuteira-sem-logo-e-com-simbolo-de-igualdade -de-genero-foi-mais-um-golaco-de-marta/. Acessado em 18/06/2019.)

Considerando o tweet e o texto acima, é correto afirmar que a atleta



a)

enfrentou o time adversário com chuteiras pretas, mesmo que não tenha sido influenciada pelo futebol “raiz”.

b)

usou chuteiras sem logotipo e luta pela igualdade de gênero no esporte, mesmo sendo considerada seis vezes a melhor do mundo.

c)

não recebeu patrocínio de nenhuma grande empresa, embora a chuteira preta sem logotipo simbolize o futebol “raiz”.

d)

optou por lutar contra o machismo no esporte, embora as propostas de patrocínio não tenham considerado seu valor.

Resolução

a) Incorreta. Não é possível saber se Marta foi ou não foi influenciada pelo futebol “raiz” (ou seja, o futebol tradicional, diferente do modelo comercial que vigora atualmente). O que o Texto II afirma é que isso não foi o que motivou a atleta a utilizar as chuteiras pretas, e sim a falta de igualdade de gênero no esporte.

b) Correta. Segundo os textos, ao optar por usar chuteiras sem logotipos e com o símbolo pela equidade no esporte, a atleta, consequentemente, luta pela igualdade de gênero no futebol. Mesmo sendo considerada seis vezes a melhor jogadora do mundo, Marta não fechou patrocínio com nenhuma das gigantes do mercado esportivo e, diante da clara postura machista do mundo do futebol, teve que recorrer à atitude mencionada no tweet e no texto.

c) Incorreta. A chuteira simboliza a luta pela equidade de gênero no esporte, e não o futebol “raiz”.

d) Incorreta. A ausência de propostas de patrocínio adequadas foi justamente o que motivou a jogadora a protestar por meio da chuteira preta. O uso da conjunção concessiva “embora” é inadequada, uma vez que as ideias trazidas na alternativa não contrastam, e, sim, justificam a escolha de Marta. Para corresponder ao indicado pelos textos, a afirmativa poderia ser reescrita da seguinte forma: “optou por lutar contra o machismo no esporte, uma vez que as propostas de patrocínio não consideraram seu valor”.

Questão 68 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos literários

– Pela milionésima vez, por favor, “se amostrar” não existe. Não pega bem usar uma expressão incorreta como essa.

– Ora veja, incorreto para mim é o que não faz sentido, “se amostrar” faz sentido para boa parte do país.

– Por que você não usa um sinônimo mais simples da palavra? Que tal “exibido”? Todo mundo conhece.

– Não dá, porque quem se exibe é exibido, quem se amostra é amostrado. Por exemplo: quando os vendedores de shopping olham com desprezo para os meninos dos rolezinhos e moram no mesmo bairro deles, são exibidos. Eles acham que a roupa de vendedor faz deles seres superiores. Por outro lado, as meninas e os meninos dos rolezinhos vão para os shoppings para se amostrar uns para outros, e são, portanto, amostrados. Percebeu a sutileza da diferença?

– Entendo, mas está errado.

– Como é que está errado se você entende? Você não aceita a inventividade linguística do povo. “Amostrar” é verbo torto no manual das conjugações e “amostrado” é particípio de amostra grátis! Captou?

(Adaptado de Cidinha da Silva, Absurdada. Disponível em http://notarodape. blogspot. com/ search/label/Cotidiano. Acessado em 22/05/2019.)

Considerando que a comparação entre modos de falar pode ser fonte de preconceito, o exemplo citado por uma das personagens da crônica



a)

reforça o preconceito em relação às turmas de jovens de um mesmo bairro, com base nos significados de “amostrado” e “exibido”. 

b)

explicita o preconceito, valendo-se de “amostrado” e “exibido” para distinguir dois grupos de jovens do mesmo bairro.

c)

dissimula o preconceito e reconhece que “se amostrar” é, de fato, um verbo que não está de acordo com as normas gramaticais.

d)

refuta o preconceito e confirma o desconhecimento da regra de formação do particípio passado do verbo “se amostrar”.

Resolução

 

a) Incorreta. O exemplo citado não reforça o preconceito em relação às turmas de jovens de um mesmo bairro, mas, sim, o explicita por meio da distinção entre “amostrado” e “exibido”.

b) Correta. Na crônica reproduzida, uma das personagens, na tentativa de defender o uso de “se amostrar”, utiliza de um exemplo que ilustra o uso adequado dessa expressão. Para ela, é o preconceito que motiva a distinção entre os dois jovens do mesmo bairro, uma vez que “os vendedores de shopping olham com desprezo para os meninos dos rolezinhos [...] eles se acham que a roupa de vendedor faz deles seres superiores”.

c) Incorreta. No texto, o preconceito não aparece dissimulado, mas explícito. Além disso, o exemplo trazido busca ilustrar a pertinência no uso do “amostrar”, posição que fica clara no trecho final do texto, quando a personagem, ao ser questionada sobre o emprego desse verbo, replica: “Como é que está errado se você entende? Você não aceita a inventividade linguística do povo. “Amostrar” é verbo torto no manual das conjugações e “amostrado” é particípio de amostra grátis. Captou?”.

d) Incorreta. O exemplo não busca refutar o preconceito, mas evidenciá-lo. Além disso, “amostrado” é, de fato, particípio passado de “amostrar”, o que invalida a afirmação de que a personagem desconhece a regra de formação do verbo. No entanto, segundo norma-padrão, ele é usado no sentido de “separar elementos como amostra ou exemplo de amostras” (Dicionário Aulete), e não para o intuito defendido pela personagem, o que torna essa aplicação inadequada.

Questão 69 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

charges e tirinhas textos literários

Texto I

Leia os versos iniciais da peça Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come (1966), de Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar. Em formato de cordel, os versos são cantados por todos os atores.

Se corres, bicho te pega, amô.

Se ficas, ele te come.

Ai, que bicho será esse, amô?

Que tem braço e pé de homem?

Com a mão direita ele rouba, amô,

e com a esquerda ele entrega;

janeiro te dá trabalho, amô,

dezembro te desemprega;

de dia ele grita "avante”, amô,

de noite ele diz: "não vá":

Será esse bicho um homem, amô,

ou muitos homens será?

(Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 3.)

Texto II

Observe a charge de Laerte que fez parte da mostra Maio na Paulista, em 2019.

(Laerte, Exposição Maio na Paulista, de Laerte e Angeli, 2019. Disponível em https://gq.globo.com/Cultura/ noticia/2019/05/ laerte-e-angeli-participam-de-exposicao-ao-arlivre-na-avenida-paulista.html. Acessado em 02/06/2019.)

Considerando a relação entre os textos I e II, conclui-se que a charge

 



a)

resgata a temática do cordel, rompendo com o impasse vivido pelos personagens.

b)

reafirma o dilema dos personagens da peça, parafraseando os versos iniciais do cordel.

c)

evidencia a tradição popular nordestina, utilizando a imagem para sofisticar os versos.

d)

confirma a força transformadora da versificação popular, reproduzindo-a em imagens.

Resolução

a) Correta. O versos iniciais da peça "Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come" apresentam indiretamente uma crítica à Ditadura Militar (1964 - 1985), na qual o "bicho" é caracterizado pela esfera governamental, como pode-se depreender pelos versos finais do Texto I: "Será esse bicho um homem, amô, / ou muitos homens será?". No decorrer do cordel, os autores expõem o caráter enganador do "monstro" pois, ao mesmo tempo em que este disponibiliza alguns benefícios, retira as ofertas logo em seguida, deixando os indivíduos sem diversos direitos. No Texto II, Larte busca resgatar essa temática, motivado pelo dia 1º de maio, Dia do Trabalhador. Na charge, fica implícito que o "monstro" representa a perda de direitos trabalhistas. No entanto, diferente do ocorrido na peça, os personagens da charge, no momento em que se unem, rompem com a exploração do "monstro", que foge ao deparar-se com a revolta popular.

b) Incorreta. Os personagens da charge não reafirmam o dilema dos personagens da peça, mas, sim, o superam por meio da união popular.

c) Incorreta. A charge de Laerte não evidencia a tradição popular nordestina, como aconteceu na utilização do formato de cordel do poema. Nela, utiliza-se de figuras para ilustrar uma situação análoga à ocorrida no poema.

d) Incorreta. O resgate dos versos do cordel é feito para confirmar a força transformadora da união popular, não da versificação.

Questão 70 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Propriedades Gráficas do M.U. Propriedades Gráficas do M.U.V.

A volta da França é uma das maiores competições do ciclismo mundial. Num treino, um ciclista entra num circuito reto e horizontal (movimento em uma dimensão) com velocidade constante e positiva. No instante t1 , ele acelera sua bicicleta com uma aceleração constante e positiva até o instante t2. Entre t2t3, ele varia sua velocidade com uma aceleração também constante, porém negativa. Ao final do percurso, a partir do instante t3, ele se mantém em movimento retilíneo uniforme. De acordo com essas informações, o gráfico que melhor descreve a velocidade do atleta em função do tempo é



a)

b)

c)

d)

Resolução

Entre t=t0t=t1:

Segundo o enunciado o ciclista entra em determinado circuito com velocidade constante e não nula até o instante t1. Por se tratar de um movimento uniforme, então o gráfico da velocidade em função do tempo deve ser dado por um segmento de reta horizontal, conforme indicado em todas as alternativas até t=t1.

Entre t=t1t=t2:

Segundo o enunciado, o movimento do ciclista é acelerado de maneira constante até o instante t2, portanto, temos um movimento uniformemente variado e acelerado (com velocidade crescente). Dessa forma, o gráfico, dentro desse intervalo será dado por um segmento de reta conforme as alternativas (a) e (d).

Entre t=t2t=t3:

Segundo o enunciado, nesse intervalo, o ciclista irá reduzir sua velocidade com aceleração constante e negativa, portanto, temos um movimento uniformemente variado e retardado (velocidade decrescente). O gráfico, dentro desse intervalo será dado por um segmento de reta conforme a alternativa (a). Note que a alternativa (c) descreve o comportamento correto de v vs t nesse intervalo, mas essa alternativa já foi eliminada anteriormente.

Nesse momento já podemos concluir que a única alternativa possível seria a (a)

A partir de t=t3 :

Vamos verificar o último intervalo descrito, para garantirmos que a alternativa (a) está de fato correta. Segundo o enunciado, a partir de t3 o ciclista mantém um movimento retilíneo uniforme, portanto com velocidade constante. Mais uma vez o gráfico da velocidade em função do tempo será dado por uma reta horizontal.

 

Obs.: Não podemos afirmar que a velocidade ao final do percurso é maior do que a inicial, conforme o gráfico da alternativa (a), uma vez que o enunciado não fornece informação suficiente para isso. No entanto, dentre as alternativas, a única cujo gráfico se comporta de maneira qualitativamente correta, de acordo com a descrição do movimento é a (a).