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Unesp 2022 - 1ª fase - dia 2


Questão 31 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Roma Expansão Romana

A conquista da Gália por Júlio César foi comparada, com razão, a um genocídio, e criticada pelos próprios romanos da época, nesses mesmos termos. Mas Roma se expandiu por um mundo de violência endêmica, de focos rivais de poder apoiados por forças militares [...] e de mini-impérios.

(Mary Beard. SPQR: uma história da Roma Antiga, 2017.)

Segundo o excerto,



a)

a brutalidade das ações militares era incentivada pelos senadores romanos.

b)

o conceito de imperialismo foi criado a partir do expansionismo romano.

c)

os romanos celebraram acriticamente a conquista de outros territórios.

d)

a violência cotidiana era estimulada nos territórios ocupados pelos romanos.

e)

os povos dos territórios ocupados pelos romanos eram militarizados.

Resolução

a) Incorreta. A expansão romana foi um processo de conquistas militares realizadas pela república romana que se iniciaram por volta do século V a.C. na Península Itálica e culminaram com a anexação de boa parte da Europa no século II a.C. Não é possível afirmar que os senadores romanos incentivassem a violência empregada nas conquistas militares. O texto, genericamente, diz que, no caso da Gália, os próprios romanos criticavam a violência empregada nas conquistas e a consideraram um genocídio.

b) Incorreta. O imperialismo é um conjunto de medidas adotadas por um Estado organizado, com objetivo de conquistar direta ou indiretamente outras regiões vizinhas ou distantes. Embora já possamos identificar esse tipo de procedimento em povos da Antiguidade anteriores aos romanos, tais como os egípcios, o conceito em si só foi academicamente formulado na Idade Contemporânea, no final do século XIX.

c) Incorreta. O próprio texto afirma que a conquista da Gália foi criticada e comparada pelos próprios romanos a um genocídio.

d) Incorreta. O texto não nos permite concluir que os romanos incentivavam a violência cotidianamente em seus territórios conquistados.

e) Correta. O texto nos indica que os povos conquistados tinham forças militares bastante organizadas e viviam em territórios onde a violência era endêmica: "Roma se expandiu por um mundo de violência endêmica, de focos rivais de poder apoiados por forças militares [...] e de mini-impérios".

Questão 32 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Idade Média

[...] a Europa começa a se constituir com a Idade Média. A civilização da Antiguidade romana só compreendia uma parte da Europa: os territórios do sul, situados na sua maioria em torno do Mediterrâneo.

(Jacques Le Goff. A Idade Média explicada aos meus filhos, 2007.)

A constituição da Europa na Idade Média derivou, entre outros fatores,



a)

da bipartição do Império Romano em dois Estados política e economicamente aliados.

b)

da liderança do Papado sobre os territórios europeus na luta pela reconquista da Terra Santa.

c)

da articulação das diversas regiões do continente num espaço político e religioso comum.

d)

da unificação das terras do ocidente europeu, para combater invasores oriundos da Eurásia.

e)

da uniformização jurídica e social dos vários Estados europeus, na busca de novas rotas para as Índias.

Resolução

a) Incorreta. A divisão do antigo Império Romano se deu em 395 d.C., quando o imperador Teodósio repartiu seus domínios entre seus dois filhos. Foi assim que surgiu o Império Romano do Ocidente e o Império Romano do Oriente. Porém, segundo o texto, os domínios romanos estavam localizados mais ao sul da Europa, próximos ao Mediterrâneo e, assim, ainda não constituíam o que o autor do excerto, o historiador Jacques Le Goff, considera como a Europa, uma vez que esse conceito incluiria regiões que não pertenciam ao antigo Império Romano.

b) Incorreta. De fato, a participação do papado para a unificação do território europeu foi muito importante, uma vez que o Cristianismo dava coerência e unificação cultural a todos os povos que lá habitavam. Porém, a questão da conquista da Terra Santa se dará apenas com o advento das Cruzadas, que se iniciaram apenas na Baixa Idade Média, a partir do século XI.

c) Correta. A conversão dos povos bárbaros ao Cristianismo ao longo da primeira metade da Alta Idade Média pôde criar um espaço geográfico que, embora estivesse perpassado por grandes disputas internas, ganhou certa unidade política e religiosa quando se transformou naquilo que foi chamado de cristandade, onde certos valores políticos e religiosos eram comuns a todos.

d) Incorreta. Nunca aconteceu uma total união de todas as terras do ocidente no intuito de combater as invasões dos povos bárbaros que, vindos da Ásia, tentaram se estabelecer no continente Europeu até pelo menos o século X.

e) Incorreta. O conceito de Estado se reduziu drasticamente após a queda do Império Romano do Ocidente em 476 d.C. Nesse sentido, ao longo do período feudal, nunca houve um Estado estável com unificação jurídica e social que tivesse pretensões de organizar expedições com o objetivo de buscar especiarias orientais.

Questão 33 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Reforma Protestante Contra-Reforma Protestante

São características da Reforma protestante e da Contrarreforma católica, respectivamente,



a)

a criação do Tribunal do Santo Ofício e a proibição da comercialização de perdões e indulgências.

b)

a rejeição da busca capitalista do lucro e a manutenção do dogma da infalibilidade papal.

c)

a defesa do celibato clerical e a decretação de uma listagem de livros proibidos.

d)

a justificação pela fé e o avanço do trabalho missionário e educativo.

e)

a condenação da usura e a defesa da livre tradução e interpretação dos textos religiosos.

Resolução

a) Incorreta. O Tribunal do Santo Ofício, ou Santa Inquisição, era uma instituição católica que já existia desde o século XII e que tinha como objetivo principal eliminar movimentos considerados heréticos pela Igreja. Assim, sua adoção foi uma característica da Reforma católica ou Contrarreforma. O mesmo podemos afirmar com relação à proibição da venda de indulgências, ou seja, do perdão, que passou a vigorar após a realização do Concílio de Trento (1546-1563), um dos acontecimentos mais importantes da Contrarreforma.

b) Incorreta. A rejeição da busca capitalista pelo lucro não pode ser considerada uma característica da Reforma protestante. Ao contrário, segundo o sociólogo Max Weber (1864-1920), a reforma calvinista, que tinha entre seus pontos principais a valorização do trabalho, acabou criando um ambiente favorável ao desenvolvimento do capitalismo a partir do século XVI. De fato, a manutenção da crença na infalibilidade do papa foi uma característica da contrarreforma, uma vez que ela foi confirmada pelo Concílio de Trento.

c) Incorreta. A defesa do celibato clerical, ou seja, a proibição ao clérigo de se casar, não foi uma característica da Reforma protestante. Ao contrário, um dos expoentes das reformas religiosas, Martinho Lutero, após romper com a Igreja, logo se casou. De fato, a criação de uma lista de livros proibidos, chamado de Índex, foi uma das características da Contrarreforma, pois foi um dos pontos aprovados pelo Concílio de Trento.

d) Correta. A justificação pela fé foi o ponto defendido por Lutero para mostrar sua opinião de como os indivíduos alcançariam a salvação de suas almas. Dessa forma, esse conceito é uma característica da Reforma Protestante. Já a criação da Companhia de Jesus (1534), cujo objetivo era a atuação dos chamados padres jesuítas no campo da educação e serviço missionário, marcou uma das medidas adotadas pelo Igreja católica ao longo da Contrarreforma.

e) Incorreta. A condenação à usura e cobrança de juros não foi uma característica da Reforma Protestante, uma vez que essa visão era a predominante advinda da Igreja católica. Ao mesmo tempo, havia uma condenação dos católicos à livre leitura e interpretação da Bíblia, pois aquela instituição desejava monopolizar o conhecimento em relação às escrituras.

Questão 34 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Escravidão

Real alicerce da sociedade, os escravos chegaram a constituir, em regiões como o Recôncavo, na Bahia, mais de 75% da população. Desde o século XVI e até a extinção do tráfico, em 1850, o regime demográfico adverso verificado entre os cativos – em razão das mortes prematuras e da baixa taxa de nascimento – levou a uma taxa de crescimento negativo [...].

(Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling. Brasil: uma biografia, 2018.)

A variação demográfica indicada no excerto provocou



a)

a proibição das punições físicas e a melhoria no tratamento destinado aos escravizados.

b)

o surgimento de leis destinadas à redução do uso de escravizados nas lavouras de cana.

c)

o apoio da Coroa portuguesa ao apresamento e à escravização de indígenas.

d)

a necessidade constante de importação de mão de obra de africanos escravizados.

e)

o estímulo à imigração e a transição para o trabalho assalariado nas cidades e no campo.

Resolução

a) Incorreta. Na verdade, a alta taxa de mortalidade dos escravos estava diretamente ligada aos maus tratos que os cativos sofriam. Assim, não podemos dizer que houve períodos de proibições de castigos físicos ou melhoria de tratamento. Ao contrário, diante de qualquer possibilidade de alguma revolta, o tratamento se tornava ainda mais rígido e, na verdade, a opção dos senhores foi ampliar a importação de escravos diante da alta mortalidade e, assim, poder repor os números de trabalhadores.

b) Incorreta. Embora tenham existido algumas leis que tinham por objetivo acabar com o tráfico, como por exemplo a de 1831, elas não foram cumpridas. Dessa forma, até 1850, quando a Lei Eusebio de Queirós acabou definitivamente com o tráfico de escravos, nenhuma restrição havia sido colocada contra essa atividade.

c) Incorreta. Embora a prática de escravização dos indígenas tenha tido um auge no século XVII, no contexto do domínio holandês de parte da região Nordeste, logo a partir do século XVIII, no contexto das reformas pombalinas, o trabalho escravo indígena foi proibido pela coroa portuguesa.

d) Correta. De fato, diante da necessidade de reposição da mão de obra escrava devido à sua alta taxa de mortalidade, os senhores de engenho optaram pelo aumento sistemático da importação de novos braços para suas lavouras.

e) Incorreta. O estímulo à imigração se deu apenas após a segunda metade do século XIX com a proibição do tráfico pela Lei Eusébio de Queirós, fato que levou à necessidade de substituir a mão de obra escrava e ao estímulo para a vinda de imigrantes, o que levou a uma lenta transição para o trabalho assalariado.

Questão 35 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Brasil Colônia

[O rei D. João III] ordenou que se povoasse esta província, repartindo as terras por pessoas que se lhe ofereceram para as povoarem e conquistarem à custa de sua fazenda, e dando a cada um 50 léguas por costa com todo o seu sertão [...]; são sismeiros das suas terras, e as repartem pelos moradores como querem, todavia movendo-se depois alguma dúvida sobre as datas, não são eles os juízes delas, senão o provedor da fazenda, nem os que as recebem de sesmaria têm obrigação de pagar mais que dízimo a Deus dos frutos que colhem [...].

(Frei Vicente do Salvador. História do Brasil (1500-1627). In: www.dominiopublico.gov.br.)

O excerto, do século XVII, caracteriza a



a)

definição de rigoroso sistema tributário voltado aos interesses da Coroa portuguesa.

b)

autorização para a instalação de sesmarias destinadas exclusivamente ao cultivo de algodão e tabaco.

c)

constituição de um regime fundiário apoiado na pequena propriedade rural.

d)

atribuição de poder político, econômico e jurídico aos senhores de engenho.

e)

criação das capitanias hereditárias e a atribuição de direitos aos donatários.

Resolução

a) Incorreta. O texto não trata de um rígido sistema tributária, pois na verdade o único imposto que os colonos que desejassem se tornar ocupantes de terras no Brasil colonial deveriam pagar era o dízimo à Igreja.

b) Incorreta. Não há no texto nenhuma menção a cultivos obrigatórios que deveriam ser praticados pelos colonos e, diferentemente do que diz a alternativa, sabemos que nessa época foi a cultura da cana de açúcar que predominou no Brasil Colônia.

c) Incorreta. O regime fundiário implantado pelos portugueses no Brasil foi a plantation, ou seja, a monocultura, a produção voltada para o mercado externo, a utilização da mão de obra escrava e o latifúndio, que consistia em grandes propriedades, de modo que não era apoiado na pequena propriedade rural.

d) Incorreta. O texto deixa claro que os sesmeiros não são juízes, mas apenas provedores da fazenda. Assim, não podemos afirmar que os senhores de engenho detinham, ao menos teoricamente, o total poder jurídico da região.

e) Correta. O texto descreve o sistema de capitanias hereditárias, estabelecido pelo rei D. João III (1502-1557) em 1534 com objetivo de iniciar a efetiva colonização do Brasil por parte de Portugal. Eram 14 capitanias divididas em 15 lotes. Os responsáveis pela administração do sistema eram os donatários e cujas funções o documento descreve.

Questão 36 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Revolução Industrial

Entrar numa fábrica pela primeira vez podia ser uma experiência aterrorizante: o ruído e o movimento do maquinário; o ar sufocante, cheio de pó de algodão, muitas vezes, mantido opressivamente quente para reduzir a quebra; o fedor penetrante de óleo de baleia e de gordura animal usados para lubrificar as máquinas (antes da disponibilidade de produtos petrolíferos) e do suor de centenas de trabalhadores; os semblantes pálidos e os corpos doentios dos operários; o comportamento feroz dos supervisores, alguns dos quais carregavam cintos ou chicotes para impor disciplina. Nas salas de tecelagem, o barulho ensurdecedor de dezenas de teares, cada um com uma lançadeira recebendo pancadas de martelo umas sessenta vezes por minuto, impossibilitava que os trabalhadores se ouvissem.

(Joshua B. Freeman. Mastodontes:

a história da fábrica e a construção do mundo moderno, 2019.)

 

O trabalho nas primeiras fábricas inglesas é caracterizado no excerto



a)

pela insalubridade e opressão no ambiente de trabalho

b)

pela apropriação do tempo e do excedente do trabalho pelo capitalista.

c)

pelo aumento da produtividade e da otimização do ritmo de trabalho.

d)

pelo desenvolvimento da tecnologia e da divisão de tarefas.

e)

pelo aproveitamento de energia de origem mineral.

Resolução

O excerto selecionado para a questão descreve as condições de trabalho nas primeiras fábricas inglesas, ou seja, aborda o contexto da Revolução Industrial, momento no qual o sistema fabril - e depois industrial - tornou-se predominante na Inglaterra e, posteriormente, serviu de modelo para a lógica econômica de outros países. No caso da primeira Revolução Industrial, que ocorreu em meados do século XVIII, além do pioneirismo inglês, podemos observar características como a utilização do motor a vapor, a importânica do ferro e do carvão, a exploração de mão de obra feminina e infantil, a falta de regulação das condições de trabalho e a relevância da indústria têxtil. Analisando esse contexto específico, podemos concluir que:

a) Correta. O trecho citado destaca exatamente as más condições de trabalho nas primeiras fábricas inglesas, descrevendo com detalhes a insalubridade do ambiente e a situação opressiva a que os trabalhadores eram submetidos. Aparecem menções ao ar sufocante, ao barulho do maquinário, ao mau cheiro presente na fábrica e ao comportamento agressivo dos supervisores, que poderiam chegar a impor a disciplina de trabalho por meio de castigos físicos, com cintos e chicotes.

b) Incorreta. Embora a discussão sobre a apropriação do tempo e do excedente de trabalho por parte do capitalista seja coerente com o contexto da Revolução Industrial, o excerto não possui essa abordagem econômica. Os argumentos a respeito da apropriação do tempo de trabalho ganhariam corpo principalmente no século XIX, já com a segunda Revolução Industrial em curso, notadamente por meio do conceito de mais-valia ou mais-valor desenvolvido por Karl Marx (1818-1883).

c) Incorreta. A produtividade, sob a lógica de trabalho industrial, passava por um aumento, e os responsáveis pela gestão das fábricas delineavam formas de otimizar a produção. Porém, essas não são questões levantadas pelo excerto, que se concentra nos danos causados aos trabalhadores, assumindo uma postura bastante crítica e valorizando mais a questão humana do que o rendimento econômico.

d) Incorreta. As Revoluções Industriais foram momentos que contaram com desenvolvimento tecnológico, desde o motor a vapor e os novos teares na primeira até a locomotiva e a energia elétrica na segunda. Novas formas de divisão do trabalho também surgem, com cada vez menos o trabalhador tendo domínio de todas as etapas de produção, o que era comum no trabalho artesanal. Mas o trecho destacado não se interessa em abordar a questão tecnológica como avanço, mas sim como maneira de extrair mais sofrimento do trabalhador, o que se nota pela maneira como o autor descreve as máquinas. Em relação à divisão de tarefas, embora seja uma questão que surge tangencialmente no texto, quando se comenta a existência de supervisores na fábrica e a divisão do espaço fabril em diferentes áreas, não é o que caracteriza o trabalho na passagem citada. 

e) Incorreta. A energia mineral foi utilizada nesse contexto, notadamente por meio do carvão mineral, cuja queima fornecia meios de funcionamento para o motor a vapor. Porém, essa maneira de se utilizar a energia não aparece diretamente no excerto.

Questão 37 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Doutrinas Sociais do Século XIX Anarquismo

Se eu tivesse que responder à seguinte pergunta: O que é a escravatura? e respondesse sem hesitar: É o assassínio, o meu pensamento ficaria perfeitamente expresso. Não precisarei de fazer um grande discurso para mostrar que o poder de privar o homem do pensamento, da vontade e da personalidade, é um poder de vida e morte e que fazer de um homem escravo equivale a assassiná-lo. Por que, então, a essa outra pergunta: O que é a propriedade? não posso responder simplesmente: É o roubo, ficando com a certeza de que me entendem, embora esta segunda proposição não seja mais que a primeira, transformada?

(Pierre Joseph Proudhon. O que é a propriedade?, 1975.)

O texto, escrito em 1840, expressa uma posição



a)

anarquista, de crítica ao direito de propriedade e de defesa do valor supremo da liberdade.

b)

comunista, de crítica à burguesia e de defesa da revolução social como forma de construir um Estado proletário.

c)

liberal, de defesa do direito de propriedade e de crítica às desigualdades sociais.

d)

positivista, de crítica à falta de ordem social e de defesa de ações voltadas ao progresso.

e)

marxista, de defesa da eliminação da propriedade privada e de crítica ao regime de trabalho assalariado.

Resolução

O texto citado é de autoria de Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), pensador central tanto para o chamado socialismo utópico quanto para o desenvolvimento das ideias anarquistas ao longo do século XIX. O autor francês, por meio de obras como O Que é a Propriedade? (1840), da qual o excerto escolhido para a questão faz parte, realiza uma defesa apaixonada da liberdade, propondo um pensamento social que o colocou em choque tanto com as autoridades europeias de sua época quanto com pensadores contemporâneos, como os propositores do socialismo científico, que criticaram o seu pensamento como sendo utópico e romântico. Porém, algumas de suas ideias seriam retomadas pelas correntes anarquistas e por pensadores como Mikhail Bakunin (1814-1876) e Piotr Kropotkin (1842-1921). 

a) Correta. Embora as ideias anarquistas ganhem corpo após a atividade de Proudhon, seus escritos e seu ativismo foram fundamentais para a formação dessa corrente de pensamento, que se contrapõe a toda forma de autoridade - como o Estado - e advoga pela ação direta e pela liberdade, questionando noções tradicionais da sociedade burguesa europeia, como a propriedade. No trecho citado, Proudhon levanta uma questão que seria trabalhada intensamente pelos anarquistas, que é a crítica da propriedade. Para o pensador francês, a propriedade é uma fonte de injustiça e sua posse concentrada em poucas mãos significaria retirar de um número expressivo de pessoas o direito à terra, ao trabalho e, em última instância, à própria liberdade individual. Dessa forma, Proudhon realiza uma comparação com a escravidão, dizendo que escravizar um homem equivale a assassiná-lo, já que esse indivíduo perderia a autonomia e a dignidade humana, seria uma criatura sem liberdade. Porém, o autor realiza também uma provocação à sociedade de sua época, afirmando que, ao se referenciar à escravidão como assassinato, ele poderia ser perfeitamente compreendido, mas que, ao usar a mesma lógica argumentativa transportada ao assunto da propriedade, precisaria se explicar com muito mais detalhes, já que o direito à propriedade representa algo tão arraigado na sociedade europeia após a Idade Moderna que o indivíduo europeu teria dificuldade em engendrar uma crítica a esse conceito.  

b) Incorreta. O pensamento de Proudhon entra em desacordo com os comunistas - ou socialistas científicos - por conta de sua crítica a uma atividade centralizadora, como o Estado e a organização partidária. Dessa forma, para o autor, a revolução proletária também seria uma solução autoritária da qual desconfiava, bem como da formação de um Estado proletário como caminho de transição para a sociedade sem classes proposto pelo pensamento comunista.

c) Incorreta. O pensamento liberal parte de uma defesa do direito à propriedade e pode apresentar críticas a desigualdade social, porém, não liga a existência da propriedade com a desigualdade social, que é o que defende o pensamento proudhoniano.

d) Incorreta. Proudhon não interpretava a sociedade da mesma forma linear própria dos positivistas, que argumentavam em favor de um progresso constante da sociedade. Para o autor francês, o necessário era uma ruptura com muitas das estruturas existentes no contexto em que vivia, e não apenas um reordenamento social em torno de uma noção de ordem - algo que ele poderia julgar autoritário - que poderia, de forma etapista, levar a um alavancamento do progresso.

e) Incorreta. Apesar de Proudhon ter tido inicialmente uma relação amistosa com Karl Marx, o pensador alemão tornou-se um grande crítico de suas ideias, notadamente a partir do livro Miséria da Filosofia (1847), que responde diretamente à obra de Proudhon intitulada Sistema de Contradições Econômicas ou Filosofia da Miséria (1846). Marx e os que compartilhavam de suas ideias julgavam o pensamento prodhoniano utópico e pouco voltado para as mudanças revolucionárias no contexto do capital e do trabalho e na estrutura política como um todo. Dessa forma, há um afastamento entre Prodhon e os marxistas. Ambos criticam a propriedade, mas os marxistas propõem a sua superação com um argumento revolucionário que Proudhon julga tendendo ao autoritarismo. A mesma falta de acordo encontra-se nas possibilidades de modificação do sistema de trabalho. O fato de o trabalho ser assalariado não é um problema em si; o que se identifica como necessário de mudança, principalmente para o pensamento marxista, é a existência da mais-valia, ou seja, de tempo de trabalho não pago, fazendo com que o trabalhador receba um valor equivalente a menos do que efetivamente produziu.

Questão 38 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Guerra do Paraguai

A Guerra do Paraguai ou da Tríplice Aliança expôs



a)

as diferenças estruturais e institucionais entre as colonizações portuguesa e espanhola na América.

b)

a hegemonia da presença imperialista britânica e norte-americana na América do Sul.

c)

as tensões regionais e disputas comerciais e políticas entre os Estados da região.

d)

as ideologias opostas e as distintas posturas diplomáticas adotadas pelos novos Estados americanos.

e)

a insistência política e militar espanhola para preservar suas últimas colônias americanas.

Resolução

A Guerra do Paraguai ocorreu entre os anos de 1864 e 1870 e envolveu, de um lado, o Paraguai, governado por Solano López, e, do outro, a aliança formada por Brasil, Argentina e Uruguai, conhecida como Tríplice Aliança. Tendo sido um dos maiores conflitos militares da história da América, foi sujeito a diversas interpretações e a um longo debate historiográfico. Após os anos de guerra, o Paraguai terminou devastado, enquanto o Brasil, seu principal adversário, vivenciou mudanças que levariam a uma reconfiguração da sociedade e do império brasileiros. Entre elas, podemos notar a profissionalização e o aumento de importância do Exército; a intensificação do debate sobre a abolição, inclusive por conta de escravos terem sido libertos para incorporar as tropas brasileiras; o início das tensões que levariam à crise do império e a presença forte do império brasileiro na Bacia do Rio da Prata.

a) Incorreta. Embora existam diferenças entre as colonizações espanhola e portuguesa (órgãos administrativos, formas de trabalho adotadas, configurações da exploração econômica), a Guerra do Paraguai pode ser entendida em torno das dinâmicas nacionais dos países sul-americanos, países esses que buscavam construir e consolidar seus Estados e seus territórios, não dialogando com seus passados coloniais e sim com seus presentes de países independentes.

b) Incorreta. A presença inglesa na América do Sul era bastante expressiva, mas dava-se principalmente por meio de influência comercial, não contando de maneira direta com ocupação militar ostensiva ou interferência explícita sobre os governos americanos. Podemos até considerar que práticas imperialistas apareciam, embora não fosse um imperialismo de modelo clássico, como a Inglaterra praticava na Índia. Em relação aos Estados Unidos, já havia uma maior interferência desse país nas questões do continente americano desde a Doutrina Monroe, de 1823. Porém, considera-se que os estadunidenses lançam-se de maneira direta ao imperialismo em finais do século XIX, notadamente após sua influência na Guerra Hispano-Americana e na independência de Cuba, em 1898, portanto, após a Guerra do Paraguai. 

c) Correta. A maneira mais coerente de se explicar a Guerra do Paraguai e os conflitos envolvendo a região Platina (com as intervenções militares do Brasil na Argentina e no Uruguai) é por meio da complexa geopolítica regional ao longo do século XIX. Em um momento em que se buscava consolidar os Estados independentes na América do Sul, diversos projetos políticos surgem. No Uruguai, por exemplo, há a disputa entre o Partido Blanco (de tendência mais conservadora e representante das oligarquias rurais) e o Partido Colorado (de tendência mais liberal, representante das classes médias e intelectuais urbanos). Essas disputas políticas trazem divergências em relação ao comércio e à economia, notadamente no que se refere à navegação na Bacia do Rio da Prata, importante região para transporte e para escoamento de produtos. Se algum governante platino defendesse limitar a livre navegação na Bacia do Prata, isso poderia afetar toda a economia da região. No caso brasileiro, por exemplo, a navegação era importante para fácil acesso ao interior do país, chegando a províncias como a do Mato Grosso utilizando a bacia hidrográfica. Quando as diferenças de projetos nacionais tornaram-se inconciliáveis, o que ocorreu durante o governo de Solano López no Paraguai, explodiu a guerra.

d) Incorreta. Existiam diferenças de projetos nacionais entre os países sul-americanos naquele momento. Porém, é muito vago falar em ideologias opostas, já que a questão premente à época dizia respeito mais a uma questão comercial e política do que ideológica. No referente às posturas diplomáticas distintas, isso é uma afirmação generalista, já que nesse contexto ocorreram alianças e projetos diplomáticos comuns, como o expresso pela junção de Brasil, Argentina e Uruguai na Tríplice Aliança.

e) Incorreta. A Espanha possuía poucas colônias na América quando ocorreu a Guerra do Paraguai, sendo que o caso mais notável é o de Cuba, que continuou sob domínio espanhol até o final do século XIX. Porém, não houve intereferência espanhola para preservar colônias durante a Guerra do Paraguai, até mesmo porque os países envolvidos já haviam se emancipado de suas metrópoles, sejam elas Portugal ou Espanha.

Questão 39 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Crise de 1929 (História Geral)

Um dos motivos que contribuíram para a crise econômico-financeira do final da década de 1920 foi o



a)

descompasso entre a alta do valor real e a queda do valor nominal das ações de empresas europeias e norte-americanas comercializadas na Bolsa de Nova York.

b)

contraste entre a expansão da oferta de mercadorias norte-americanas desde a Primeira Guerra Mundial e a gradual retração do mercado europeu de importação.

c)

deslocamento de capitais do setor industrial para o agrícola, gerando um desequilíbrio na economia norte-americana e a redução dos empregos nas áreas urbanas.

d)

declínio da produção de produtos primários na América Latina, que provocou a falta de fornecedores de insumos e a queda da capacidade produtiva da indústria norte-americana.

e)

intervencionismo do Estado na economia norte-americana, em contraposição à defesa da livre-iniciativa e ao autogerenciamento do mercado.

Resolução

O final da década de 1920 foi marcado pela chamada Crise de 1929, desencadeada pela quebra da bolsa de valores de Nova York, ocasionada por uma baixa vertiginosa no preço das ações. Essa crise, uma das mais expressivas já vividas pelo capitalismo, teve reperrcussão global e encerrou uma década em que, no ambiente estadunidense, houve uma expasão do crédito, do consumo e da produção, juntamente com intensa especulação financeira e um cenário cultural efervescente. 

a) Incorreta. O descompasso observado durante o final da década de 1920 ocorreu no sentido inverso, ou seja, houve uma queda no valor real das ações, em oposição ao seu valor nominal. Dessa forma, as ações eram vendidas por um valor superior ao que realmente valiam, o que gerou uma bolha especulativa insustentável.

b) Correta. A década de 1920 foi marcada por um grande aumento da produção industrial. Parte expressiva dessa produção era destinada à exportação, tendo como destino os países europeus, que ainda se recuperavam dos efeitos da Primeira Guerra Mundial. Conforme as economias europeias foram se recuperando, e seus parques industriais foram sendo reconstruídos, a demanda por produtos importados dos Estados Unidos decresceu. Como o país estava em um ritmo de produção intenso, essa produtividade passou a não ser mais absorvida, o que gerou queda no valor dos produtos e, consequentemente, no valor das ações das empresas de capital aberto na bolsa de valores, o que constituiu uma das causas para a crise.

c) Incorreta. Não se observa esse deslocamento de capitais da indústria para a agricultura. Os Estados Unidos possuíam uma produção agrícola bastante intensa, mas o foco econômico girava em torno da indústria.

d) Incorreta. Não se identifica essa queda na produção de produtos primários na América Latina, de maneira a afetar a produção industrial estadunidense. Os países latino-americanos foram também prejudicados de maneira brutal pela crise, exatamente por serem fornecedores importantes para os Estados Unidos e terem tido alguns de seus produtos cortados da pauta de importações estadunidenses por conta do momento de crise.

e) Incorreta. A política econômica do governo estadunidense à época era não intervencionista, defendendo o livre mercado e a falta de regulação do sistema financeiro, e assim permanceu por alguns anos após a quebra da bolsa. Só houve uma mudança de direcionamento no governo de Franklin Delano Roosevelt, que durou de 1933 a 1945 e durante o qual implementou-se o New Deal, que rediscutiu o papel do Estado na economia nacional.

Questão 40 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Modernismo (FSH)

Observe a charge de Belmonte, publicada na primeira página da Folha da Noite, em 20 de fevereiro de 1922.

“SEMANA DE ARTE MODERNA"

– Estás vendo, minha filha, aquelles é que são os artistas! Coitados, não? Tão moços…!

 (https://fotografia.folha.uol.com.br, 25.02.2021.)

Ao representar a Semana de Arte Moderna, a charge ironiza



a)

o atraso da arte brasileira em relação ao que era produzido no resto do Ocidente

b)

a inexistência de preocupações, entre os artistas da vanguarda, com a cultura popular.

c)

a irracionalidade que caracterizava a produção dos participantes da vanguarda.

d)

o descompasso entre as propostas renovadoras da vanguarda e o gosto tradicional do público

e)

a formação técnica limitada dos artistas, que não conseguiam obter efeitos realistas.

Resolução

a) Incorreta. A charge apresenta um pai demonstrando para sua filha os artistas da Semana de Arte Moderna, argumentando que são "coitados", pois na exposição encontravam-se obras modernas. A ironia está presente no fato que esses artistas traziam nesse momento um avanço para as artes, mas, na incompreensão do pai, eles não produziam arte com técnicas apuradas, tal como era esperado pela maioria.

b) Incorreta. Os artistas da Semana de Arte Moderna preocuparam-se em desenvolver a cultura brasileira, desvencilhando-se da influência da arte acadêmica francesa. Para tanto, exaltavam inclusive a cultura popular, conceito abordado posteriormente no manifesto antropofágico..

c) Incorreta. De fato as obras exibidas na Semana de Arte Moderna demonstravam, em partes, uma quebra com o racional, uma vez que rompia com as Belas Artes. Entretanto, havia dentro dessa grande novidade artistica conceitos bem estruturados que dialogavam com o contexto de produções de suas obras.

d) Correta. A Semana de Arte Moderna chegou em uma São Paulo com apreço pelas Belas Artes (arte do século passado à Semana). A ideia era justamente a ruptura com as artes tradicionais, vinculadas à Europa para fomentar uma arte inovadora e, principalmente, brasileira. Entretanto, a compreensão e aceitação do público foi vagarosa, uma vez que vinham de fortes influências parnasianas e clássicas.

e) Incorreta. Os artistas que participaram da Semana de Arte Moderna tinha conhecimento técnico da prática artística, porém, a proposta modernista era justamente romper e inovar tais técnicas, criando, assim, obras além de uma reprodução da realidade.