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Unesp 2022 - 1ª fase - dia 2


Questão 1 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Vocabulary Cartoons / Comics

Examine o cartum de David Sipress, publicado no Instagram por CartoonStock, em 13.06.2021.

“I can cure your back problem, but there’s a risk that you’ll be left with nothing to talk about.”

Depreende-se da fala do médico que seu paciente é



a)

arrogante.

b)

dissimulado.

c)

monótono.

d)

distraído.

e)

pedante.

Resolução

No cartum, o médico diz ao paciente:

" Eu posso curar seu problema nas costas, mas há o risco de você ficar sem nada para falar." 

a) Incorreta. Arrogante é característica de quem mostra soberba.

b) Incorreta. Dissimulado é aquele que demonstra falsidade.

c) Correta. Depreende-se da fala do médico que seu paciente é monótono, pois, segundo o médico, se ele não tiver mais o assunto refrente ao seu problema nas costas para conversar com outras pessoas, ele não terá mais nada para falar, ou seja, ele só fala de seu problema nas costas, ele não tem outro repertório.

d) Incorreta. Distraído é aquele que frequentemente perde a atenção.

e) Incorreta. Pedante é aquele que se expressa ostentando explicitamente erudição

 

Questão 2 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Macário Pressupostos e Subentendidos

Para responder às questões de 02 a 08, leia o trecho do drama Macário, de Álvares de Azevedo.

MACÁRIO (chega à janela): Ó mulher da casa! olá! ó de casa!

UMA VOZ (de fora): Senhor!

MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma aqui...

A VOZ: O burro?

MACÁRIO: A mala, burro!

A VOZ: A mala com o burro?

MACÁRIO: Amarra a mala nas tuas costas e amarra o burro na cerca.

A VOZ: O senhor é o moço que chegou primeiro?

MACÁRIO: Sim. Mas vai ver o burro.

A VOZ: Um moço que parece estudante?

MACÁRIO: Sim. Mas anda com a mala.

A VOZ: Mas como hei de ir buscar a mala? Quer que vá a pé?

MACÁRIO: Esse diabo é doido! Vai a pé, ou monta numa vassoura como tua mãe!

A VOZ: Descanse, moço. O burro há de aparecer. Quando madrugar iremos procurar.

OUTRA VOZ: Havia de ir pelo caminho do Nhô Quito. Eu conheço o burro...

MACÁRIO: E minha mala?

A VOZ: Não vê? Está chovendo a potes!...

MACÁRIO (fecha a janela): Malditos! (atira com uma cadeira no chão)

O DESCONHECIDO: Que tendes, companheiro?

MACÁRIO: Não vedes? O burro fugiu...

O DESCONHECIDO: Não será quebrando cadeiras que o chamareis...

MACÁRIO: Porém a raiva... [...]

O DESCONHECIDO: A mala não pareceu-me muito cheia. Senti alguma coisa sacolejar dentro. Alguma garrafa de vinho?

MACÁRIO: Não! não! mil vezes não! Não concebeis, uma perda imensa, irreparável... era o meu cachimbo...

O DESCONHECIDO: Fumais?

MACÁRIO: Perguntai de que serve o tinteiro sem tinta, a viola sem cordas, o copo sem vinho, a noite sem mulher – não me pergunteis se fumo!

O DESCONHECIDO (dá-lhe um cachimbo): Eis aí um cachimbo primoroso. [...]

MACÁRIO: E vós?

O DESCONHECIDO: Não vos importeis comigo. (tira outro cachimbo e fuma)

MACÁRIO: Sois um perfeito companheiro de viagem. Vosso nome?

O DESCONHECIDO: Perguntei-vos o vosso?

MACÁRIO: O caso é que é preciso que eu pergunte primeiro. Pois eu sou um estudante. Vadio ou estudioso, talentoso ou estúpido, pouco importa. Duas palavras só: amo o fumo e odeio o Direito Romano. Amo as mulheres e odeio o romantismo.

O DESCONHECIDO: Tocai! Sois um digno rapaz. (apertam a mão)

MACÁRIO: Gosto mais de uma garrafa de vinho que de um poema, mais de um beijo que do soneto mais harmonioso. Quanto ao canto dos passarinhos, ao luar sonolento, às noites límpidas, acho isso sumamente insípido. Os passarinhos sabem só uma cantiga. O luar é sempre o mesmo. Esse mundo é monótono a fazer morrer de sono.

O DESCONHECIDO: E a poesia?

MACÁRIO: Enquanto era a moeda de ouro que corria só pela mão do rico, ia muito bem. Hoje trocou-se em moeda de cobre; não há mendigo, nem caixeiro de taverna que não tenha esse vintém azinhavrado¹. Entendeis-me?

O DESCONHECIDO: Entendo. A poesia, de popular tornou-se vulgar e comum. Antigamente faziam-na para o povo; hoje o povo fá-la... para ninguém...

(Álvares de Azevedo. Macário/Noite na taverna, 2002.)

1azinhavrado: coberto de azinhavre (camada de cor verde que se forma na superfície dos objetos de cobre ou latão, resultante da corrosão destes quando expostos ao ar úmido)


Para Macário, a poesia deveria ser



a)

elitista.

b)

hermética.

c)

despojada.

d)

engajada.

e)

sentimental.

Resolução

a) Correta. Macário afirma que a poesia “Enquanto era a moeda de ouro que corria só pela mão do rico, ia muito bem”. Em seguida, lamenta o fato de ter-se transformado em “moeda de cobre” que transita entre as classes populares (mendigos, caixeiros de taverna). Assim, demonstra sua postura elitista, ao utilizar-se de metáforas para defender que a poesia, tal qual uma moeda de ouro, deve circular em meio aos membros das classes dominantes da sociedade. Essa afirmação será ratificada na fala seguinte, do "desconhecido": "Entendo. A poesia, de popular tornou-se vulgar e comum. Antigamente faziam-na para o povo; hoje o povo fá-la... para ninguém...".

b) Incorreta. Embora possamos relacionar o elitismo ao hermetismo, ou seja, a uma produção literária de difícil compreensão que, por conseguinte, estaria limitada a um determinado grupo, o ponto principal presente no discurso de Macário é a defesa de que a poesia deva estar "nas mãos dos ricos", controlada pelas camadas dominantes da sociedade. 

c) Incorreta. Macário não defende a ideia de uma poesia despojada, ou seja, simples, sem adornos. Pelo contrário, ao valorizar uma produção poética associada à moeda de ouro, percebe-se que, para a personagem, a poesia deve ser luxuosa, pomposa, rebuscada. 

d) Incorreta. Em momento algum Macário relaciona a produção poética a uma postura engajada, ou seja, comprometida com a defesa de ideais. A noção de poesia expressa pela personagem relaciona-se, fundamentalmente, a uma expressão artística voltada para as elites.

e) Incorreta. Nota-se claramente que Macário refuta o sentimentalismo no momento em que afirma: "Quanto ao canto dos passarinhos, ao luar sonolento, às noites límpidas, acho isso sumamente insípido. Os passarinhos sabem só uma cantiga. O luar é sempre o mesmo. Esse mundo é monótono a fazer morrer de sono". Por meio dessa declaração, é possível perceber que Macário não se sente atraído por imagens normalmente evocadas em poesias sentimentais, as quais considera enfadonhas.

Questão 3 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Macário Pressupostos e Subentendidos

Para responder às questões de 02 a 08, leia o trecho do drama Macário, de Álvares de Azevedo.

MACÁRIO (chega à janela): Ó mulher da casa! olá! ó de casa!

UMA VOZ (de fora): Senhor!

MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma aqui...

A VOZ: O burro?

MACÁRIO: A mala, burro!

A VOZ: A mala com o burro?

MACÁRIO: Amarra a mala nas tuas costas e amarra o burro na cerca.

A VOZ: O senhor é o moço que chegou primeiro?

MACÁRIO: Sim. Mas vai ver o burro.

A VOZ: Um moço que parece estudante?

MACÁRIO: Sim. Mas anda com a mala.

A VOZ: Mas como hei de ir buscar a mala? Quer que vá a pé?

MACÁRIO: Esse diabo é doido! Vai a pé, ou monta numa vassoura como tua mãe!

A VOZ: Descanse, moço. O burro há de aparecer. Quando madrugar iremos procurar.

OUTRA VOZ: Havia de ir pelo caminho do Nhô Quito. Eu conheço o burro...

MACÁRIO: E minha mala?

A VOZ: Não vê? Está chovendo a potes!...

MACÁRIO (fecha a janela): Malditos! (atira com uma cadeira no chão)

O DESCONHECIDO: Que tendes, companheiro?

MACÁRIO: Não vedes? O burro fugiu...

O DESCONHECIDO: Não será quebrando cadeiras que o chamareis...

MACÁRIO: Porém a raiva... [...]

O DESCONHECIDO: A mala não pareceu-me muito cheia. Senti alguma coisa sacolejar dentro. Alguma garrafa de vinho?

MACÁRIO: Não! não! mil vezes não! Não concebeis, uma perda imensa, irreparável... era o meu cachimbo...

O DESCONHECIDO: Fumais?

MACÁRIO: Perguntai de que serve o tinteiro sem tinta, a viola sem cordas, o copo sem vinho, a noite sem mulher – não me pergunteis se fumo!

O DESCONHECIDO (dá-lhe um cachimbo): Eis aí um cachimbo primoroso. [...]

MACÁRIO: E vós?

O DESCONHECIDO: Não vos importeis comigo. (tira outro cachimbo e fuma)

MACÁRIO: Sois um perfeito companheiro de viagem. Vosso nome?

O DESCONHECIDO: Perguntei-vos o vosso?

MACÁRIO: O caso é que é preciso que eu pergunte primeiro. Pois eu sou um estudante. Vadio ou estudioso, talentoso ou estúpido, pouco importa. Duas palavras só: amo o fumo e odeio o Direito Romano. Amo as mulheres e odeio o romantismo.

O DESCONHECIDO: Tocai! Sois um digno rapaz. (apertam a mão)

MACÁRIO: Gosto mais de uma garrafa de vinho que de um poema, mais de um beijo que do soneto mais harmonioso. Quanto ao canto dos passarinhos, ao luar sonolento, às noites límpidas, acho isso sumamente insípido. Os passarinhos sabem só uma cantiga. O luar é sempre o mesmo. Esse mundo é monótono a fazer morrer de sono.

O DESCONHECIDO: E a poesia?

MACÁRIO: Enquanto era a moeda de ouro que corria só pela mão do rico, ia muito bem. Hoje trocou-se em moeda de cobre; não há mendigo, nem caixeiro de taverna que não tenha esse vintém azinhavrado¹. Entendeis-me?

O DESCONHECIDO: Entendo. A poesia, de popular tornou-se vulgar e comum. Antigamente faziam-na para o povo; hoje o povo fá-la... para ninguém...

(Álvares de Azevedo. Macário/Noite na taverna, 2002.)

1azinhavrado: coberto de azinhavre (camada de cor verde que se forma na superfície dos objetos de cobre ou latão, resultante da corrosão destes quando expostos ao ar úmido)


“O DESCONHECIDO: Fumais?

MACÁRIO: Perguntai de que serve o tinteiro sem tinta, a viola sem cordas, o copo sem vinho, a noite sem mulher – não me pergunteis se fumo!”

À pergunta do Desconhecido, Macário



a)

responde afirmativamente, e sua resposta carrega um tom espirituoso.

b)

acaba por não responder, já que devolve a pergunta com um insulto.

c)

evita dar uma resposta clara, em uma evidente tentativa de confundir seu interlocutor.

d)

responde negativamente, e sua resposta carrega um tom espirituoso.

e)

acaba por não responder, já que devolve a pergunta com outra pergunta.

Resolução

a) Correta. Nota-se, pela resposta de Macário, que a personagem considera óbvia a interpelação feita pelo desconhecido, uma vez que ele havia acabado de expressar grande desapontamento pela perda de seu cachimbo ("Não! não! mil vezes não! Não concebeis, uma perda imensa, irreparável... era o meu cachimbo..."); logo, seria fácil presumir que Macário fumasse e, por isso, a pergunta era totalmente desnecessária. Em sua fala, de modo espirituoso e irônico, sugere uma série de outras possíveis perguntas óbvias ("de que serve o tinteiro sem tinta, a viola sem cordas, o copo sem vinho, a noite sem mulher") que podem ser tomadas como uma resposta afirmativa à pergunta de seu interlocutor.

b) Incorreta. Não é correto afirmar que Macário não responde à pergunta feita pelo desconhecido; sua resposta, ao elencar situações em que algo perde a função pela ausência de um elemento fundamental ("o tinteiro sem tinta, a viola sem cordas, o copo sem vinho, a noite sem mulher"), dá a entender que o cachimbo é essencial para ele e, portanto, que Macário é fumante. Também não se pode considerar sua fala propriamente um insulto, mas uma observação irônica em relação à pergunta feita por seu interlocutor.

c) Incorreta. Macário não tenta confundir seu interlocutor, mas demonstrar o quão óbvia havia sido sua pergunta. Apesar de não dizer objetivamente que fuma, tal informação é facilmente perceptível no discurso da personagem.

d) Incorreta. Macário não responde negativamente; sua fala dá a entender que a personagem é fumante, uma vez que o cachimbo seria tão fundamental para ele quanto a tinta para um tinteiro, ou as cordas para uma viola.

e) Incorreta. Macário não faz perguntas de volta ao seu interlocutor, mas sugere outras perguntas, de natureza semelhante, que o "desconhecido" poderia ter feito. Por meio dessas sugestões, demonstra ser fumante; ou seja, acaba por responder afirmativamente à interpelação feita. 

 

Questão 4 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Macário Figuras de Linguagem

Para responder às questões de 02 a 08, leia o trecho do drama Macário, de Álvares de Azevedo.

MACÁRIO (chega à janela): Ó mulher da casa! olá! ó de casa!

UMA VOZ (de fora): Senhor!

MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma aqui...

A VOZ: O burro?

MACÁRIO: A mala, burro!

A VOZ: A mala com o burro?

MACÁRIO: Amarra a mala nas tuas costas e amarra o burro na cerca.

A VOZ: O senhor é o moço que chegou primeiro?

MACÁRIO: Sim. Mas vai ver o burro.

A VOZ: Um moço que parece estudante?

MACÁRIO: Sim. Mas anda com a mala.

A VOZ: Mas como hei de ir buscar a mala? Quer que vá a pé?

MACÁRIO: Esse diabo é doido! Vai a pé, ou monta numa vassoura como tua mãe!

A VOZ: Descanse, moço. O burro há de aparecer. Quando madrugar iremos procurar.

OUTRA VOZ: Havia de ir pelo caminho do Nhô Quito. Eu conheço o burro...

MACÁRIO: E minha mala?

A VOZ: Não vê? Está chovendo a potes!...

MACÁRIO (fecha a janela): Malditos! (atira com uma cadeira no chão)

O DESCONHECIDO: Que tendes, companheiro?

MACÁRIO: Não vedes? O burro fugiu...

O DESCONHECIDO: Não será quebrando cadeiras que o chamareis...

MACÁRIO: Porém a raiva... [...]

O DESCONHECIDO: A mala não pareceu-me muito cheia. Senti alguma coisa sacolejar dentro. Alguma garrafa de vinho?

MACÁRIO: Não! não! mil vezes não! Não concebeis, uma perda imensa, irreparável... era o meu cachimbo...

O DESCONHECIDO: Fumais?

MACÁRIO: Perguntai de que serve o tinteiro sem tinta, a viola sem cordas, o copo sem vinho, a noite sem mulher – não me pergunteis se fumo!

O DESCONHECIDO (dá-lhe um cachimbo): Eis aí um cachimbo primoroso. [...]

MACÁRIO: E vós?

O DESCONHECIDO: Não vos importeis comigo. (tira outro cachimbo e fuma)

MACÁRIO: Sois um perfeito companheiro de viagem. Vosso nome?

O DESCONHECIDO: Perguntei-vos o vosso?

MACÁRIO: O caso é que é preciso que eu pergunte primeiro. Pois eu sou um estudante. Vadio ou estudioso, talentoso ou estúpido, pouco importa. Duas palavras só: amo o fumo e odeio o Direito Romano. Amo as mulheres e odeio o romantismo.

O DESCONHECIDO: Tocai! Sois um digno rapaz. (apertam a mão)

MACÁRIO: Gosto mais de uma garrafa de vinho que de um poema, mais de um beijo que do soneto mais harmonioso. Quanto ao canto dos passarinhos, ao luar sonolento, às noites límpidas, acho isso sumamente insípido. Os passarinhos sabem só uma cantiga. O luar é sempre o mesmo. Esse mundo é monótono a fazer morrer de sono.

O DESCONHECIDO: E a poesia?

MACÁRIO: Enquanto era a moeda de ouro que corria só pela mão do rico, ia muito bem. Hoje trocou-se em moeda de cobre; não há mendigo, nem caixeiro de taverna que não tenha esse vintém azinhavrado¹. Entendeis-me?

O DESCONHECIDO: Entendo. A poesia, de popular tornou-se vulgar e comum. Antigamente faziam-na para o povo; hoje o povo fá-la... para ninguém...

(Álvares de Azevedo. Macário/Noite na taverna, 2002.)

1azinhavrado: coberto de azinhavre (camada de cor verde que se forma na superfície dos objetos de cobre ou latão, resultante da corrosão destes quando expostos ao ar úmido)


“MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma aqui...

A VOZ: O burro? MACÁRIO: A mala, burro!

A VOZ: A mala com o burro?

MACÁRIO: Amarra a mala nas tuas costas e amarra o burro na cerca.”

Para produzir o efeito cômico desse diálogo, o autor lança mão do recurso expressivo denominado



a)

antítese: a oposição, numa mesma expressão ou frase, de duas palavras ou de dois pensamentos de sentidos contrários.

b)

eufemismo: o emprego de palavra ou expressão no lugar de outra palavra ou expressão considerada desagradável.

c)

hipérbole: a ênfase resultante do exagero na expressão ou na comunicação de uma ideia.

d)

ambiguidade: a presença, num texto, de unidades linguísticas que podem significar coisas diferentes.

e)

personificação: a atribuição de características humanas a seres inanimados ou irracionais.

Resolução

a) Incorreta. Não se verifica o uso de antítese no trecho, ou seja, não há palavras ou pensamentos com sentidos opostos sendo explorados em nenhuma dessas falas.

b) Incorreta. O trecho não apresenta eufemismos (palavra de acepção mais agradável); pelo contrário, há o emprego de termo ofensivo, desagradável, quando Macário insulta seu interlocutor, chamando-o de "burro" (ignorante).

c) Incorreta. O exagero não está presente em nehuma das falas apresentadas; trata-se de afirmações objetivas, concretas.

d) Correta. Nota-se a exploração da ambiguidade no jogo semântico em torno da palavra "burro", empregada tanto para referir-se ao animal que transportava a mala de Macário ("Desate a mala de meu burro e tragam-ma aqui..."), quanto, em sentido conotativo e pejorativo, para explicitar a ignorância da "voz" que conversa com Macário ("A mala, burro!"). Nesse segundo caso, o termo é usado como um vocativo, direcionando-se ao interlocutor de Macário.

e) Incorreta. Não há personificação (atribuição de carcaterísticas humanas e seres inanimados) no trecho em questão; na fala "A mala, burro!", Macário pretende insultar seu interlocutor, chamando-o, ofensivamente, de ignorante.

Questão 5 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos literários conotação

Para responder às questões de 02 a 08, leia o trecho do drama Macário, de Álvares de Azevedo.

MACÁRIO (chega à janela): Ó mulher da casa! olá! ó de casa!

UMA VOZ (de fora): Senhor!

MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma aqui...

A VOZ: O burro?

MACÁRIO: A mala, burro!

A VOZ: A mala com o burro?

MACÁRIO: Amarra a mala nas tuas costas e amarra o burro na cerca.

A VOZ: O senhor é o moço que chegou primeiro?

MACÁRIO: Sim. Mas vai ver o burro.

A VOZ: Um moço que parece estudante?

MACÁRIO: Sim. Mas anda com a mala.

A VOZ: Mas como hei de ir buscar a mala? Quer que vá a pé?

MACÁRIO: Esse diabo é doido! Vai a pé, ou monta numa vassoura como tua mãe!

A VOZ: Descanse, moço. O burro há de aparecer. Quando madrugar iremos procurar.

OUTRA VOZ: Havia de ir pelo caminho do Nhô Quito. Eu conheço o burro...

MACÁRIO: E minha mala?

A VOZ: Não vê? Está chovendo a potes!...

MACÁRIO (fecha a janela): Malditos! (atira com uma cadeira no chão)

O DESCONHECIDO: Que tendes, companheiro?

MACÁRIO: Não vedes? O burro fugiu...

O DESCONHECIDO: Não será quebrando cadeiras que o chamareis...

MACÁRIO: Porém a raiva... [...]

O DESCONHECIDO: A mala não pareceu-me muito cheia. Senti alguma coisa sacolejar dentro. Alguma garrafa de vinho?

MACÁRIO: Não! não! mil vezes não! Não concebeis, uma perda imensa, irreparável... era o meu cachimbo...

O DESCONHECIDO: Fumais?

MACÁRIO: Perguntai de que serve o tinteiro sem tinta, a viola sem cordas, o copo sem vinho, a noite sem mulher – não me pergunteis se fumo!

O DESCONHECIDO (dá-lhe um cachimbo): Eis aí um cachimbo primoroso. [...]

MACÁRIO: E vós?

O DESCONHECIDO: Não vos importeis comigo. (tira outro cachimbo e fuma)

MACÁRIO: Sois um perfeito companheiro de viagem. Vosso nome?

O DESCONHECIDO: Perguntei-vos o vosso?

MACÁRIO: O caso é que é preciso que eu pergunte primeiro. Pois eu sou um estudante. Vadio ou estudioso, talentoso ou estúpido, pouco importa. Duas palavras só: amo o fumo e odeio o Direito Romano. Amo as mulheres e odeio o romantismo.

O DESCONHECIDO: Tocai! Sois um digno rapaz. (apertam a mão)

MACÁRIO: Gosto mais de uma garrafa de vinho que de um poema, mais de um beijo que do soneto mais harmonioso. Quanto ao canto dos passarinhos, ao luar sonolento, às noites límpidas, acho isso sumamente insípido. Os passarinhos sabem só uma cantiga. O luar é sempre o mesmo. Esse mundo é monótono a fazer morrer de sono.

O DESCONHECIDO: E a poesia?

MACÁRIO: Enquanto era a moeda de ouro que corria só pela mão do rico, ia muito bem. Hoje trocou-se em moeda de cobre; não há mendigo, nem caixeiro de taverna que não tenha esse vintém azinhavrado¹. Entendeis-me?

O DESCONHECIDO: Entendo. A poesia, de popular tornou-se vulgar e comum. Antigamente faziam-na para o povo; hoje o povo fá-la... para ninguém...

(Álvares de Azevedo. Macário/Noite na taverna, 2002.)

1azinhavrado: coberto de azinhavre (camada de cor verde que se forma na superfície dos objetos de cobre ou latão, resultante da corrosão destes quando expostos ao ar úmido)


Observa-se expressão empregada em sentido figurado na seguinte fala:



a)

“MACÁRIO: Não vedes? O burro fugiu…”

b)

“A VOZ: Não vê? Está chovendo a potes!…”

c)

“A VOZ: Descanse, moço. O burro há de aparecer. Quando madrugar iremos procurar.”

d)

“O DESCONHECIDO: Não será quebrando cadeiras que o chamareis…”

e)

“A VOZ: Mas como hei de ir buscar a mala? Quer que vá a pé?

Resolução

a) Incorreta. A expressão “o burro fugiu”, na fala apontada, é literal, o animal havia realmente escapado, por isso não pode ser lida como tendo um sentido figurado.

b) Correta. A expressão “chovendo a potes” está empregada em sentido figurado, uma vez que deve ser compreendida como “chovendo muito/intensamente”.

c) Incorreta. Não há na fala destacada nenhuma expressão que possa ser lida em sentido figurado.

d) Incorreta. Quando o personagem diz “quebrando cadeiras”, ele está fazendo uma referência ao que havia, de fato, acontecido: Macário havia atirado uma cadeira ao chão depois de notar que seu burro havia fugido. Portanto, essa fala não pode ser compreendida em seu sentido figurado.

e) Incorreta. A expressão “buscar a mala” é empregada em seu sentido literal, assim como “vá (ir) a pé”, que, embora seja uma expressão bastante comum no cotidiano e pudesse ser lida como uma expressão idiomática, deve ser compreendida, nesse contexto, literalmente e não figurativamente.

Questão 6 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Subordinação Conjunções (valores semânticos)

Para responder às questões de 02 a 08, leia o trecho do drama Macário, de Álvares de Azevedo.

MACÁRIO (chega à janela): Ó mulher da casa! olá! ó de casa!

UMA VOZ (de fora): Senhor!

MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma aqui...

A VOZ: O burro?

MACÁRIO: A mala, burro!

A VOZ: A mala com o burro?

MACÁRIO: Amarra a mala nas tuas costas e amarra o burro na cerca.

A VOZ: O senhor é o moço que chegou primeiro?

MACÁRIO: Sim. Mas vai ver o burro.

A VOZ: Um moço que parece estudante?

MACÁRIO: Sim. Mas anda com a mala.

A VOZ: Mas como hei de ir buscar a mala? Quer que vá a pé?

MACÁRIO: Esse diabo é doido! Vai a pé, ou monta numa vassoura como tua mãe!

A VOZ: Descanse, moço. O burro há de aparecer. Quando madrugar iremos procurar.

OUTRA VOZ: Havia de ir pelo caminho do Nhô Quito. Eu conheço o burro...

MACÁRIO: E minha mala?

A VOZ: Não vê? Está chovendo a potes!...

MACÁRIO (fecha a janela): Malditos! (atira com uma cadeira no chão)

O DESCONHECIDO: Que tendes, companheiro?

MACÁRIO: Não vedes? O burro fugiu...

O DESCONHECIDO: Não será quebrando cadeiras que o chamareis...

MACÁRIO: Porém a raiva... [...]

O DESCONHECIDO: A mala não pareceu-me muito cheia. Senti alguma coisa sacolejar dentro. Alguma garrafa de vinho?

MACÁRIO: Não! não! mil vezes não! Não concebeis, uma perda imensa, irreparável... era o meu cachimbo...

O DESCONHECIDO: Fumais?

MACÁRIO: Perguntai de que serve o tinteiro sem tinta, a viola sem cordas, o copo sem vinho, a noite sem mulher – não me pergunteis se fumo!

O DESCONHECIDO (dá-lhe um cachimbo): Eis aí um cachimbo primoroso. [...]

MACÁRIO: E vós?

O DESCONHECIDO: Não vos importeis comigo. (tira outro cachimbo e fuma)

MACÁRIO: Sois um perfeito companheiro de viagem. Vosso nome?

O DESCONHECIDO: Perguntei-vos o vosso?

MACÁRIO: O caso é que é preciso que eu pergunte primeiro. Pois eu sou um estudante. Vadio ou estudioso, talentoso ou estúpido, pouco importa. Duas palavras só: amo o fumo e odeio o Direito Romano. Amo as mulheres e odeio o romantismo.

O DESCONHECIDO: Tocai! Sois um digno rapaz. (apertam a mão)

MACÁRIO: Gosto mais de uma garrafa de vinho que de um poema, mais de um beijo que do soneto mais harmonioso. Quanto ao canto dos passarinhos, ao luar sonolento, às noites límpidas, acho isso sumamente insípido. Os passarinhos sabem só uma cantiga. O luar é sempre o mesmo. Esse mundo é monótono a fazer morrer de sono.

O DESCONHECIDO: E a poesia?

MACÁRIO: Enquanto era a moeda de ouro que corria só pela mão do rico, ia muito bem. Hoje trocou-se em moeda de cobre; não há mendigo, nem caixeiro de taverna que não tenha esse vintém azinhavrado¹. Entendeis-me?

O DESCONHECIDO: Entendo. A poesia, de popular tornou-se vulgar e comum. Antigamente faziam-na para o povo; hoje o povo fá-la... para ninguém...

(Álvares de Azevedo. Macário/Noite na taverna, 2002.)

1azinhavrado: coberto de azinhavre (camada de cor verde que se forma na superfície dos objetos de cobre ou latão, resultante da corrosão destes quando expostos ao ar úmido)


Enquanto era a moeda de ouro que corria só pela mão do rico, ia muito bem.” Em relação à oração que o sucede, o trecho sublinhado expressa noção de



a)

tempo.

b)

comparação.

c)

concessão.

d)

causa.

e)

condição.

Resolução

A oração sublinhada, subordinada à que a sucede, expressa uma relação de simultaneidade, transmitindo a ideia de que os eventos expressos por ambas as orações ocorriam juntos em algum momento passado. Tendo isso em mente, o trecho sublinhado deve ser corretamente classificado como oração subordinada adverbial temporal, o que nos leva a assinalar como correta a alternativa A.

Poderia haver dúvidas em relação à alternativa B, no entanto, não há uma relação de comparação expressa nas orações, inclusive, não sendo possível para o leitor recuperar quais seriam os termos/conceitos comparados por elas. As demais alternativas (concessão, causa e condição) expressam sentidos ainda mais distantes do expresso pela oração sublinhada.

Questão 7 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Pronomes pessoais Valores semânticos (preposição) Empregos (artigo)

Para responder às questões de 02 a 08, leia o trecho do drama Macário, de Álvares de Azevedo.

MACÁRIO (chega à janela): Ó mulher da casa! olá! ó de casa!

UMA VOZ (de fora): Senhor!

MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma aqui...

A VOZ: O burro?

MACÁRIO: A mala, burro!

A VOZ: A mala com o burro?

MACÁRIO: Amarra a mala nas tuas costas e amarra o burro na cerca.

A VOZ: O senhor é o moço que chegou primeiro?

MACÁRIO: Sim. Mas vai ver o burro.

A VOZ: Um moço que parece estudante?

MACÁRIO: Sim. Mas anda com a mala.

A VOZ: Mas como hei de ir buscar a mala? Quer que vá a pé?

MACÁRIO: Esse diabo é doido! Vai a pé, ou monta numa vassoura como tua mãe!

A VOZ: Descanse, moço. O burro há de aparecer. Quando madrugar iremos procurar.

OUTRA VOZ: Havia de ir pelo caminho do Nhô Quito. Eu conheço o burro...

MACÁRIO: E minha mala?

A VOZ: Não vê? Está chovendo a potes!...

MACÁRIO (fecha a janela): Malditos! (atira com uma cadeira no chão)

O DESCONHECIDO: Que tendes, companheiro?

MACÁRIO: Não vedes? O burro fugiu...

O DESCONHECIDO: Não será quebrando cadeiras que o chamareis...

MACÁRIO: Porém a raiva... [...]

O DESCONHECIDO: A mala não pareceu-me muito cheia. Senti alguma coisa sacolejar dentro. Alguma garrafa de vinho?

MACÁRIO: Não! não! mil vezes não! Não concebeis, uma perda imensa, irreparável... era o meu cachimbo...

O DESCONHECIDO: Fumais?

MACÁRIO: Perguntai de que serve o tinteiro sem tinta, a viola sem cordas, o copo sem vinho, a noite sem mulher – não me pergunteis se fumo!

O DESCONHECIDO (dá-lhe um cachimbo): Eis aí um cachimbo primoroso. [...]

MACÁRIO: E vós?

O DESCONHECIDO: Não vos importeis comigo. (tira outro cachimbo e fuma)

MACÁRIO: Sois um perfeito companheiro de viagem. Vosso nome?

O DESCONHECIDO: Perguntei-vos o vosso?

MACÁRIO: O caso é que é preciso que eu pergunte primeiro. Pois eu sou um estudante. Vadio ou estudioso, talentoso ou estúpido, pouco importa. Duas palavras só: amo o fumo e odeio o Direito Romano. Amo as mulheres e odeio o romantismo.

O DESCONHECIDO: Tocai! Sois um digno rapaz. (apertam a mão)

MACÁRIO: Gosto mais de uma garrafa de vinho que de um poema, mais de um beijo que do soneto mais harmonioso. Quanto ao canto dos passarinhos, ao luar sonolento, às noites límpidas, acho isso sumamente insípido. Os passarinhos sabem só uma cantiga. O luar é sempre o mesmo. Esse mundo é monótono a fazer morrer de sono.

O DESCONHECIDO: E a poesia?

MACÁRIO: Enquanto era a moeda de ouro que corria só pela mão do rico, ia muito bem. Hoje trocou-se em moeda de cobre; não há mendigo, nem caixeiro de taverna que não tenha esse vintém azinhavrado¹. Entendeis-me?

O DESCONHECIDO: Entendo. A poesia, de popular tornou-se vulgar e comum. Antigamente faziam-na para o povo; hoje o povo fá-la... para ninguém...

(Álvares de Azevedo. Macário/Noite na taverna, 2002.)

1azinhavrado: coberto de azinhavre (camada de cor verde que se forma na superfície dos objetos de cobre ou latão, resultante da corrosão destes quando expostos ao ar úmido)


Retoma um termo mencionado anteriormente no texto a palavra sublinhada em:



a)

“O DESCONHECIDO: Perguntei-vos o vosso?”

b)

“O DESCONHECIDO: Não será quebrando cadeiras que o chamareis…”

c)

“A VOZ: Não vê? Está chovendo a potes!…”

d)

“A VOZ: Mas como hei de ir buscar a mala? Quer que vá a pé?”

e)

“MACÁRIO: Esse mundo é monótono a fazer morrer de sono.”

Resolução

a) Incorreta. O termo “o”, no trecho destacado, comporta-se como um artigo definido (o vosso [nome]), não sendo responsável, portanto, por retomar termo já destacado anteriormente. 

b) Correta. O termo “o”, no trecho destacado, é um pronome oblíquo átono, que retoma o termo “burro”, mencionado na fala de Macário que antecede a destacada pela alternativa ("Não vedes? O burro fugiu...”). Quando, logo em seguida, O DESCONHECIDO responde a Macário “Não será quebrando cadeiras que o chamareis”, é possível perceber que o termo “o” recupera “burro”.

c) Incorreta. O termo “a” é uma preposição que integra a expressão idiomática “chover a potes”, que indica uma chuva muito intensa. Não é possível afirmar, então, que “a” recupere, na sentença destacada, um termo mencionado anteriormente.

d) Incorreta. Analogamente ao que acontece no trecho destacado no item anterior, o termo “a” em “ir a pé” é uma preposição que integra a expressão e não tem, portanto, a função de recuperar um termo já mencionado no texto.

e) Incorreta. Novamente, o termo “a” é classificado como uma preposição, que introduz o verbo “fazer” para dar a essa expressão o sentido de causalidade: “o mundo é (tão) monótono (que chega) a fazer morrer de sono”. Não poderia, também, estar recuperando algum termo já mencionado no texto.

Questão 8 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Objetos direto e indireto

Para responder às questões de 02 a 08, leia o trecho do drama Macário, de Álvares de Azevedo.

MACÁRIO (chega à janela): Ó mulher da casa! olá! ó de casa!

UMA VOZ (de fora): Senhor!

MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma aqui...

A VOZ: O burro?

MACÁRIO: A mala, burro!

A VOZ: A mala com o burro?

MACÁRIO: Amarra a mala nas tuas costas e amarra o burro na cerca.

A VOZ: O senhor é o moço que chegou primeiro?

MACÁRIO: Sim. Mas vai ver o burro.

A VOZ: Um moço que parece estudante?

MACÁRIO: Sim. Mas anda com a mala.

A VOZ: Mas como hei de ir buscar a mala? Quer que vá a pé?

MACÁRIO: Esse diabo é doido! Vai a pé, ou monta numa vassoura como tua mãe!

A VOZ: Descanse, moço. O burro há de aparecer. Quando madrugar iremos procurar.

OUTRA VOZ: Havia de ir pelo caminho do Nhô Quito. Eu conheço o burro...

MACÁRIO: E minha mala?

A VOZ: Não vê? Está chovendo a potes!...

MACÁRIO (fecha a janela): Malditos! (atira com uma cadeira no chão)

O DESCONHECIDO: Que tendes, companheiro?

MACÁRIO: Não vedes? O burro fugiu...

O DESCONHECIDO: Não será quebrando cadeiras que o chamareis...

MACÁRIO: Porém a raiva... [...]

O DESCONHECIDO: A mala não pareceu-me muito cheia. Senti alguma coisa sacolejar dentro. Alguma garrafa de vinho?

MACÁRIO: Não! não! mil vezes não! Não concebeis, uma perda imensa, irreparável... era o meu cachimbo...

O DESCONHECIDO: Fumais?

MACÁRIO: Perguntai de que serve o tinteiro sem tinta, a viola sem cordas, o copo sem vinho, a noite sem mulher – não me pergunteis se fumo!

O DESCONHECIDO (dá-lhe um cachimbo): Eis aí um cachimbo primoroso. [...]

MACÁRIO: E vós?

O DESCONHECIDO: Não vos importeis comigo. (tira outro cachimbo e fuma)

MACÁRIO: Sois um perfeito companheiro de viagem. Vosso nome?

O DESCONHECIDO: Perguntei-vos o vosso?

MACÁRIO: O caso é que é preciso que eu pergunte primeiro. Pois eu sou um estudante. Vadio ou estudioso, talentoso ou estúpido, pouco importa. Duas palavras só: amo o fumo e odeio o Direito Romano. Amo as mulheres e odeio o romantismo.

O DESCONHECIDO: Tocai! Sois um digno rapaz. (apertam a mão)

MACÁRIO: Gosto mais de uma garrafa de vinho que de um poema, mais de um beijo que do soneto mais harmonioso. Quanto ao canto dos passarinhos, ao luar sonolento, às noites límpidas, acho isso sumamente insípido. Os passarinhos sabem só uma cantiga. O luar é sempre o mesmo. Esse mundo é monótono a fazer morrer de sono.

O DESCONHECIDO: E a poesia?

MACÁRIO: Enquanto era a moeda de ouro que corria só pela mão do rico, ia muito bem. Hoje trocou-se em moeda de cobre; não há mendigo, nem caixeiro de taverna que não tenha esse vintém azinhavrado¹. Entendeis-me?

O DESCONHECIDO: Entendo. A poesia, de popular tornou-se vulgar e comum. Antigamente faziam-na para o povo; hoje o povo fá-la... para ninguém...

(Álvares de Azevedo. Macário/Noite na taverna, 2002.)

1azinhavrado: coberto de azinhavre (camada de cor verde que se forma na superfície dos objetos de cobre ou latão, resultante da corrosão destes quando expostos ao ar úmido)


“MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma aqui...” Na oração em que está inserido, o termo sublinhado é um verbo que pede



a)

objeto direto, expresso pelo vocábulo “mala”, e objeto indireto, expresso pelo vocábulo “ma”.

b)

apenas objeto indireto, expresso pelo vocábulo “ma”.

c)

apenas objeto direto, expresso pelo vocábulo “ma”.

d)

objeto direto, expresso pelo vocábulo “burro”, e objeto indireto, expresso pelo vocábulo “ma”.

e)

objeto direto e objeto indireto, ambos expressos pelo vocábulo “ma”.

Resolução

Reproduzimos aqui o trecho do qual foi retirada a oração destacada na questão:

MACÁRIO (chega à janela): Ó mulher da casa! olá! ó de casa!

UMA VOZ (de fora): Senhor!

MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma aqui...

A VOZ: O burro?

MACÁRIO: A mala, burro!

A partir da leitura do trecho, depreende-se que Macário desejava que lhe levassem sua mala. Ao usar o verbo “tragam”, portanto, cria-se a necessidade de complementá-lo com um objeto direto (referente à “mala”) e com um objeto indireto (que seria expresso por “me” = para mim).

Ocorre, então, um caso bastante raro atualmente nos usos cotidianos da Língua Portuguesa: uma contração entre o pronome oblíquo átono de primeira pessoa “me” (que atua como objeto indireto) e o de terceira pessoa “a” (que atua como objeto direto). Nesse sentido, então, temos que a contração “ma” expressa simultaneamente o objeto direto e o objeto indireto ligados ao verbo “tragam”. Logo, a alternativa correta é a E.

Questão 9 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Fernando Pessoa Ricardo Reis

Carpe diem. É um lema latino que significa, lato sensu, “aproveita bem o dia” ou “aproveita o momento fugaz”. Esta expressão tem paralelo em línguas modernas, como no inglês: “Take time while time is, for time will away”.

(Carlos Alberto de Macedo Rocha. Dicionário de locuções e expressões da língua portuguesa, 2011. Adaptado.)

Tal lema manifesta-se mais explicitamente nos seguintes versos de Fernando Pessoa:



a)

Hoje, Neera, não nos escondamos,

Nada nos falta, porque nada somos.

Não esperamos nada

E temos frio ao sol.

b)

A realidade

Sempre é mais ou menos

Do que nós queremos.

Só nós somos sempre

Iguais a nós-próprios.

c)

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...

Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer

Porque eu sou do tamanho do que vejo

E não do tamanho da minha altura…

d)

Sofro, Lídia, do medo do destino.

A leve pedra que um momento ergue

As lisas rodas do meu carro, aterra

               Meu coração.

e)

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.

Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos

Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.

                    (Enlacemos as mãos.)

Resolução

O Carpe Diem foi amplamente explorado durante o perído neoclássico, em que se insere a poesia árcade. Na obra do modernista português Fernando Pessoa, a estética e a filosofia do arcadismo são retomadas por meio do heterônimo Ricardo Reis.

a) Incorreta. Os dois últimos versos apresentados nessa alternativa ("Não esperamos nada / E temos frio ao sol") afastam-se do Carpe Diem, visto que inexiste uma preocupação em aproveitar, face à fugacidade da vida, os prazeres proporcionados pelo momento presente.

b) Incorreta. Esses versos não exploram o conceito de brevidade, tampouco a necessidade de aproveitar-se o momento presente. A realidade apresentada é insatisfatória, "Sempre é mais ou menos / Do que nós queremos", e o ser humano é focado sob o ponto de vista de uma constância ("Só nós somos sempre / Iguais a nós-próprios").

c) Incorreta. Os versos pertencem à obra do heterônimo Alberto Caeiro, e tematizam uma percepção da realidade de acordo com os valores e conhecimentos de mundo de cada um: "sou do tamanho do que vejo". Em defesa de uma vida simples, coligada à natureza, Caeiro valoriza o espaço de sua aldeia, que "é tão grande como outra terra qualquer". Não há, portanto, relação entre tais versos e o Carpe Diem.

d) Incorreta. Embora o eu lírico expresse, com seu "medo do destino", um pensamento que possa ser relacionado ao conceito de efemeridade, não há um movimento em direção ao aproveitamento do tempo presente, apenas o assombro perante tal constatação ("aterra / Meu coração").

e) Correta. Nesses versos, o eu lírico convida sua musa, Lídia, a contemplar o curso das águas do rio. A observação da natureza desperta a reflexão a cerca da brevidade da vida ("Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos / Que a vida passa"). Na sequência desse raciocício, surge a necessidade de aproveitar-se o momento presente, uma vez que a vida e a juventude são efêmeras. Assim, o eu lírico chama a amada para gozar dos prazeres proporcionados pelo idílio amoroso: "(Enlacemos as mãos.)". Assim, verifica-se claramente a exploração do lema Carpe Diem.

Questão 10 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

charges e tirinhas

Examine a tirinha de André Dahmer.

(André Dahmer. Malvados, 2019.)

Na tirinha, o personagem que fala ao microfone



a)

pretende tornar o mundo mais solidário.

b)

mostra-se empenhado em tornar o mundo menos egoísta.

c)

está preocupado com a própria sobrevivência.

d)

mostra-se empenhado na difusão do egoísmo.

e)

está preocupado em tornar-se menos egoísta.

Resolução

a) Incorreta. Não há nenhum indício na tirinha de que o personagem tenha a intenção de tornar o mundo mais solidário, pois, se assim fosse, ele certamente se mostraria disposto a compartilhar o que sabe, e não é isso que acontece, conforme evidencia o terceiro quadrinho.

b) Incorreta. No primeiro quadrinho, o personagem informa que apenas os mais egoístas sobrevivem e, ao afirmar, no terceiro quadrinho, que não iria ensinar o egoísmo aos demais, o personagem demonstra explicitamente não estar empenhado em tornar o mundo menos egoísta.

c) Correta. O personagem da tirinha, já no primeiro quadrinho, anuncia que apenas os mais egoístas sobrevivem. Ao ser questionado, então, se ensinaria o egoísmo às outras pessoas e responder que não, o personagem demonstra que está preocupado com a própria sobrevivência, uma vez que, seguindo a lógica por ele apresentada, se só ele soubesse ser egoísta, só ele sobreviveria. A ironia da tirinha de André Dahmer se constrói justamente nesse sentido: ao não compartilhar com os outros a sua descoberta, o personagem é caracterizado como egoísta, o que justamente o levaria a sobreviver.

d) Incorreta. O terceiro quadrinho da tirinha explicita que a difuso do egoísmo não é uma preocupação/intenção do personagem, dado que ele se recusa expressamente a ensinar o egoísmo aos outros presentes.

e) Incorreta. A própria escolha por guardar para si a descoberta que fez sobre o egoísmo demonstra que o personagem não tem interesse em se tornar menos egoísta: ao contrário, parece justamente querer se manter egoísta para conseguir sobreviver.