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Questão 9 Unesp 2022 - 1ª fase - dia 2

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Questão 9

Fernando Pessoa Ricardo Reis

Carpe diem. É um lema latino que significa, lato sensu, “aproveita bem o dia” ou “aproveita o momento fugaz”. Esta expressão tem paralelo em línguas modernas, como no inglês: “Take time while time is, for time will away”.

(Carlos Alberto de Macedo Rocha. Dicionário de locuções e expressões da língua portuguesa, 2011. Adaptado.)

Tal lema manifesta-se mais explicitamente nos seguintes versos de Fernando Pessoa:



a)

Hoje, Neera, não nos escondamos,

Nada nos falta, porque nada somos.

Não esperamos nada

E temos frio ao sol.

b)

A realidade

Sempre é mais ou menos

Do que nós queremos.

Só nós somos sempre

Iguais a nós-próprios.

c)

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...

Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer

Porque eu sou do tamanho do que vejo

E não do tamanho da minha altura…

d)

Sofro, Lídia, do medo do destino.

A leve pedra que um momento ergue

As lisas rodas do meu carro, aterra

               Meu coração.

e)

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.

Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos

Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.

                    (Enlacemos as mãos.)

Resolução

O Carpe Diem foi amplamente explorado durante o perído neoclássico, em que se insere a poesia árcade. Na obra do modernista português Fernando Pessoa, a estética e a filosofia do arcadismo são retomadas por meio do heterônimo Ricardo Reis.

a) Incorreta. Os dois últimos versos apresentados nessa alternativa ("Não esperamos nada / E temos frio ao sol") afastam-se do Carpe Diem, visto que inexiste uma preocupação em aproveitar, face à fugacidade da vida, os prazeres proporcionados pelo momento presente.

b) Incorreta. Esses versos não exploram o conceito de brevidade, tampouco a necessidade de aproveitar-se o momento presente. A realidade apresentada é insatisfatória, "Sempre é mais ou menos / Do que nós queremos", e o ser humano é focado sob o ponto de vista de uma constância ("Só nós somos sempre / Iguais a nós-próprios").

c) Incorreta. Os versos pertencem à obra do heterônimo Alberto Caeiro, e tematizam uma percepção da realidade de acordo com os valores e conhecimentos de mundo de cada um: "sou do tamanho do que vejo". Em defesa de uma vida simples, coligada à natureza, Caeiro valoriza o espaço de sua aldeia, que "é tão grande como outra terra qualquer". Não há, portanto, relação entre tais versos e o Carpe Diem.

d) Incorreta. Embora o eu lírico expresse, com seu "medo do destino", um pensamento que possa ser relacionado ao conceito de efemeridade, não há um movimento em direção ao aproveitamento do tempo presente, apenas o assombro perante tal constatação ("aterra / Meu coração").

e) Correta. Nesses versos, o eu lírico convida sua musa, Lídia, a contemplar o curso das águas do rio. A observação da natureza desperta a reflexão a cerca da brevidade da vida ("Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos / Que a vida passa"). Na sequência desse raciocício, surge a necessidade de aproveitar-se o momento presente, uma vez que a vida e a juventude são efêmeras. Assim, o eu lírico chama a amada para gozar dos prazeres proporcionados pelo idílio amoroso: "(Enlacemos as mãos.)". Assim, verifica-se claramente a exploração do lema Carpe Diem.