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Enem 2021 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas


Questão 40 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos literários Ideologia

          Comportamento geral 

Você deve estampar sempre um ar de alegria 

E dizer: tudo tem melhorado 

Você deve rezar pelo bem do patrão 

E esquecer que está desempregado 

 

Você merece 

Você merece 

Tudo vai bem, tudo legal 

Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé 

Se acabarem com teu carnaval

 

 Você deve aprender a baixar a cabeça 

E dizer sempre: muito obrigado 

São palavras que ainda te deixam dizer 

Por ser homem bem disciplinado

 

 Deve pois só fazer pelo bem da nação

 Tudo aquilo que for ordenado 

Pra ganhar um fuscão no juízo final 

E diploma de bem-comportado 

GONZAGUINHA. Luiz Gonzaga Jr. Rio de Janeiro; Odeon, 1973 (fragmento) 

 

Pela análise do tema e dos procedimentos argumentativos utilizados na letra da canção composta por Gonzaguinha na década de 1970, infere-se o objetivo de



a)

ironizar a incorporação de ideias e atitudes conformistas.

b)

convencer o público sobre a importância dos deveres cívicos. 

c)

relacionar o discurso religioso à resolução  de problemas sociais.

d)

questionar o valor atribuído pela população às festas populares. 

e)

defender uma postura coletiva indiferente aos valores dominantes.

Resolução

a) Correta. Verifica-se a postura irônica em relação a ideias e atitudes conformistas ao longo de toda a letra da canção. Na primeira estrofe, o "ar de alegria", a fala de que "tudo tem melhorado" e a reza "pelo bem do patrão" opõem-se à realidade do desemprego apresentada no último verso. Além disso, o emprego dos verbos "dever" e "esquecer" remetem à imposição do comportamento conformista, passivo, que aceita, sem se opor, uma realidade indesejada. As estrofes seguintes desenvolvem esse tema: há novas afirmações pretensamente otimistas ("Você merece", "Tudo vai bem, tudo legal"), a distração alienante por meio da cerveja e do samba (seguida pela ameaça de "acabarem com teu carnaval") e a reiteração da postura submissa ("baixar a cabeça", "dizer sempre: muito obrigado", "ser homem bem disciplinado", fazer "Tudo aquilo que for ordenado" e ganhar "diploma de bem-comportado").

b) Incorreta. Os "deveres cívios" mencionados na alternativa podem ser uma menção ao primero verso da última estrofe ("Deve pois só fazer pelo bem da nação"). Porém, a afirmação apresentada em tal verso é irônica e remete ao discurso das classes dominantes no intuito de manter seu poder, garantindo que a população, em nome de um bem maior e coletivo, continue a fazer "Tudo aquilo que for ordenado".

c) Incorreta. A única referência que poderia ser relacionada a um discurso religioso seria a ideia de "rezar pelo bem do patrão", presente na primeira estrofe da canção. Excetuando-se esse verso, não há elementos religiosos, além de que a letra não apresenta uma resolução de problemas sociais, mas a manutenção de desigualdades por meio de uma atitude imposta de conformismo.

d) Incorreta. A letra da canção cita, na segunda estrofe, o carnaval; no entanto, o objetivo não é questionar o valor atribuído pela população a essa festa popular, mas associá-la a um momento de diversão e liberdade que pode ser usado como meio de ofuscar a realidade opressora vivenciada pelo povo.

e) Incorreta. A defesa de uma postura coletiva pode ser, equivocadamente, relacionada ao verso "Deve pois só fazer pelo bem da nação", presente na última estrofe. Vale aqui a mesma observação apontada na alternativa b: a afirmação apresentada é irônica e remete ao discurso das classes dominantes no intuito de manter seu poder, garantindo que a população, em nome de um bem maior e coletivo, continue a fazer "Tudo aquilo que for ordenado".

Questão 41 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

poesia e música

Se for possível, manda-me dizer: 

– É lua cheia. A casa está vazia – 

Manda-me dizer, e o paraíso

 Há de ficar mais perto, e mais recente 

Me há de parecer teu rosto incerto.

 Manda-me buscar se tens o dia 

Tão longo como a noite. Se é verdade 

Que sem mim só vês monotonia. 

E se te lembras do brilho das marés 

De alguns peixes rosados

 Numas águas

 E dos meus pés molhados, manda-me dizer:

– É lua nova – E revestida de luz te volto a ver. 

HILST, H Júbilo, memória, noviciado da paixão .São Paulo. Cia. das Letras, 2018. 

 

Falando ao outro, o eu lírico revela-se vocalizando um desejo que remete ao



a)

ceticismo quanto à possibilidade do reencontro.

b)

tédio provocado pela distância física do ser amado.

c)

sonho de autorrealização desenhado pela memória.

d)

julgamento implícito das atitudes de quem se afasta.

e)

questionamento sobre o significado do amor ausente.

Resolução

a) Incorreta. O eu lírico não apresenta ceticismo em relação ao encontro, ao contrário disso, consegue visualizar esse momento, ao imaginar a interação com o ser amado.

b) Incorreta. Não é correto classificar como tédio o que o eu lírico demonstra sentir em relação à ausência do ser amado, uma vez que as cenas que imagina revelam a intenção de um reencontro motivada pelas lembranças boas e pela vontade de estar naquelas situações, ou seja, não é o tédio atual que motiva o eu lírico, mas a vontade de retornar a um momento já vivido.  

c) Correta. Ao imaginar as interações que gostaria de ter com o ser amado e associá-las ao reencontro, como indica o verso final do poema (“E revestida de luz te volto a ver”), o eu lírico projeta, a partir das suas memórias, a intenção de atender aos seus anseios. O sonho de autorrealização, então, justifica-se na medida em que o reencontro se apresenta como uma intenção de reviver plenamente os momentos passados e, de certa forma, de expandir as possibilidades de interação com o ser amado. É a memória que conduz essa intenção do eu lírico, pois é na memória que se ancoram as possibilidades por ele vislumbradas. Vale ressaltar ainda que é recorrente, na obra de Hilda Hilst, a temática da autorrealização e do sujeito como ser potente e central das suas ações e aspirações.

d) Incorreta. Não há, ao longo do poema, nenhum trecho que indique julgamento do eu lírico em relação ao outro, justamente porque as suas intenções são centradas em si mesmo, e não voltadas às atitudes alheias.

e) Incorreta. Embora o tema do amor ausente possa ser facilmente reconhecido no poema, esse amor não aparece sendo questionado, mas exaltado e motivador das intenções do eu lírico.

Questão 42 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos literários língua oral e língua escrita

                   Falso moralista 

Você condena o que a moçada anda fazendo 

e não aceita o teatro de revista 

arte modema pra você não vale nada 

e até vedete você diz não ser artista 

 

Você se julga um tanto bom e até perfeito 

Por qualquer coisa deita logo falação 

Mas eu conheço bem o seu defeito 

e não vou fazer segredo não 

 

Você é visto toda sexta no Joá 

e não é só no Carnaval que vai pras bailes se acabar 

Fim de semana você deixa a companheira 

e no bar com os amigos bebe bem a noite inteira 

 

Segunda-feira chega na repartição 

pede dispensa para ir ao oculista 

e vai curar sua ressaca simplesmente 

Você não passa de um falso moralista 

NELSON SARGENTO. Sonho de um sambista. São Paulo: Eldorado, 1979.

 

As letras de samba normalmente se caracterizam por apresentarem marcas informais do uso da língua. Nessa letra de Nelson Sargento, são exemplos dessas marcas 



a)

"falação" e "pras bailes".

b)

"você" e "teatro de revista". 

c)

"perfeito" e "Carnaval". 

d)

"bebe bem" e "oculista".

e)

"curar" e "falso moralista". 

Resolução

a) Correta. “Falação” faz menção ao ruído produzido por muitas vozes, termo comumente utilizado na coloquialidade. Em “pros bailes” ocorre a contração de “para o”, uso corriqueiro na linguagem informal e oralidade.

b) Incorreta. O pronome de tratamento "você" é usado em tratamentos informais, íntimos e familiares. No entanto, não há marcas de informalidade em “teatro de revista”, o que invalida a alternativa.

c) Incorreta. Não há marcas de informalidade em “perfeito” e “Carnaval”.

d) Incorreta. Não há marcas de informalidade em “bebe bem” e “oculista”.

e) Incorreta. Não há marcas de informalidade em “curar” e “falso moralista”.

Questão 43 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Pressupostos e Subentendidos

   Introdução a Alda

    Dizem que ninguém mais a ama. Dizem que foi uma boa pessoa. Sua filha de doze anos não a visita nunca e talvez raramente se lembre dela. Puseram-na numa cidade triste de uniformes azuis e jalecos brancos, de onde não pôde mais sair. Lá, todos gritam-lhe irritados, mal se aproxima, ou lhe batem, como se faz com sacos de areia para treinar os músculos. 

    Sei que para todos ela já não é, e ninguém lhe daria uma maçã cheirosa, bem vermelha. Mas não é verdade que alguém não a possa mais amar. Eu amo-a. Amo-a quando a vejo por trás das grades de um palácio, onde se refugiou princesa, chegada pelos caminhos da dor. Quando fora do reino sente o mundo de mil lanças, e selvagem prepara-se, posta no olhar. Amo-a quando criança brinca na areia sem medo. Uns pés descalços, uma mulher sem intenções. Cercada de mundo, às vezes sofrendo-o ainda. 

CANÇADO, M. L. O sofredor do ver. Belo Horizonte: Autêntica. 2015. 

Ao descrever uma mulher internada em um hospital psiquiátrico, o narrador compõe um quadro que expressa sua percepção



a)

irônica quanto aos efeitos do abandono familiar. 

b)

resignada em face dos métodos terapêuticos em vigor.

c)

alimentada pela imersão lírica no espaço da segregação.

d)

inspirada pelo universo pouco conhecido da mente humana.  

e)

demarcada por uma linguagem alinhada à busca da lucidez.

Resolução

a) Incorreta. Ao longo do texto não é identificada a presença de afirmações contrárias ao que o autor pretende expressar.

b) Incorreta. O autor não menciona os “métodos terapêuticos” utilizados no hospital psiquiátrico. 

c) Correta. O hospital psiquiátrico, destinado a receber e a recuperar aqueles considerados uma ameaça ao convívio social, é caracterizado pelo autor de um palácio, e a mulher aprisionada nele, como uma princesa.  Essa visão romantizada do espaço e das condições da paciente do hospital é proporcionada pelo lirismo com o qual o autor enxerga o contexto retratado.

d) Incorreta. Não é possível afirmar que universo retratado pelo autor seja “pouco conhecido da mente humana”, pois refere-se a elementos fantasiosos, como palácios e princesas, comumente difundidos na cultura popular.

e) Incorreta. Com a menção a elementos característicos de um contexto fantasioso, devido à utilização do lirismo, o autor afasta-se da descrição que prioriza a razão, a lucidez.

Questão 44 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

poesia e música

             O pavão vermelho

Ora, a alegria, este pavão vermelho, 

está morando em meu quintal agora. 

Vem pousar como um sol em meu joelho 

quando é estridente em meu quintal a aurora. 

 

Clarim de lacre, este pavão vermelho 

sobrepuja os pavões que estão lá fora. 

É uma festa de púrpura. E o assemelho 

a uma chama do lábaro da aurora. 

 

É o próprio doge a se mirar no espelho. 

E a cor vermelha chega a ser sonora

neste pavão pomposo e de chavelho.

 

Pavões lilases possuí outrora. 

Depois que amei este pavão vermelho, 

os meus outros pavões foram-se embora. 

COSTA, S, Poesia completa: Sosígenes Costa. Salvador. Conselho Estadual de Cultura, 2001.

 

Na construção do soneto, as cores representam urn recurso poético que configura uma imagem com a qual o eu lírico



a)

revela a intenção de isolar-se em seu espaço.

b)

simboliza a beleza e o esplendor da natureza.

c)

experimenta a fusão de percepções sensoriais.

d)

metaforiza a conquista de sua plena realização. 

e)

expressa uma visão de mundo mística e espiritualizada.

Resolução

a) Incorreta. O eu lírico descreve as suas sensações e, embora haja menções (que não devem ser lidas como literais) ao quintal e aos “pavões que estão lá fora”, esses comentários não apontam para um isolamento, apenas para a constatação de um sentimento agradável experimentado pelo eu lírico.

b) Incorreta. A referência aos elementos da natureza que aparecem no poema, como o pavão e a aurora, são metafóricas. Não há no soneto, portanto, a simbolização da beleza e esplendor da natureza.

c) Incorreta. O recurso poético associado às cores não caracteriza uma fusão de percepções sensoriais, uma vez que a referência às cores e ao próprio pavão deve ser lida como metafórica, não literal.

d) Correta. O primeiro verso do soneto (“Ora, a alegria, este pavão vermelho”) evidencia a metáfora construída pelo eu lírico: a alegria parece, a ele, um pavão vermelho. As considerações seguintes reforçam o estado de espírito do eu lírico por meio da metáfora que se expande, apontando como a alegria (o pavão vermelho) se destaca de todos os outros momentos vivenciados pelo eu lírico. Nesse sentido, essa alegria pode ser lida como a plena realização do eu lírico, que se manifesta metaforizada pelas menções ao pavão vermelho. O papel das cores, nesse caso, é o de marcar a força dessa alegria em relação a outras, os “pavões lilases”, por exemplo.

e) Incorreta. Não há no soneto elementos textuais suficientes para que atribuamos a ele uma visão de mundo mística e espiritualizada.

Questão 45 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Pop Art

 

LICHTENSTEIN, R. Garota com bola. Óleo sobre tela, 153 cm x 91 ,9 cm. 

Museu de Arte Moderna de Nova York, 1961. 

Disponível em: www.moma.org. Acesso em: 4 dez. 2018.

 A obra, da década de 1960, pertencente ao movimento artístico Pop Art, explora a beleza e a sensualidade do corpo feminino em uma situação de divertimento. Historicamente, a sociedade inventou e continua reinventando o corpo como objeto de intervenções sociais, buscando atender aos valores e costumes de cada época.

Na reprodução desses preceitos, a erotização do corpo feminino tem sido constituída pela



a)

realização de exercícios físicos sistemáticos e excessivos.

b)

utilização de medicamentos e produtos estéticos.

c)

educação do gesto, da vontade e do comportamento.

d)

construção de espaços para vivência de práticas corporais. 

e)

promoção de novas experiências de movimento humano no lazer.

Resolução

a) Incorreta. A imagem do artista Roy Lichtenstein apresenta uma mulher em um momento de lazer. É possível verificar isso analisando o ambiente e sua roupa, denotando apenas uma prática esportiva lúdica. 

b) Incorreta. Não consta na obra em questão nenhuma representação de produtos médicos e estéticos.

c) Correta. Historicamente, as mulheres foram moldadas para atender aos valores estéticos de cada época. Na imagem do artista Roy Lichtenstein, por exemplo, vemos a representação da beleza e da sensualidade do corpo feminino àquela época, década de 1960. A maneira mais eficaz de reproduzir a erotização do corpo feminino segundo os preceitos que atendam aos costumes e valores de diferentes épocas é por meio da educação de seus gestos, da negação de suas vontades e da castração de seus comportamentos, mecanismos que moldarão o corpo e a própria mulher às regras vigentes.

d) Incorreta. A construção de espaços para vivências corporais não se limita somente ao corpo feminino, mas se estende também ao masculino. Portanto, não há relação com a representação erótica do corpo da mulher.

e) Incorreta. Na imagem não é possível identificar se é ou não uma nova experiência de movimento, apenas temos a representação da garota com a bola.

Questão 46 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Problemas sociais urbanos

     Houve crescimento de 74% da população brasileira encarcerada entre 2005 e 2012. As análises possibilitaram identificar o perfil da população que está nas prisões do país: homens, jovens (abaixo de 29 anos), negros, com ensino fundamental incompleto, acusados de crimes patrimoniais e, no caso dos presos adultos, condenados e cumprindo regime fechado e, majoritariamente, com penas de quatro até oito anos.

BRASIL. Mapa do encarceramento: os jovens do Brasíl.

Brasília: Presidência da República. 2015.

Nesse contexto, as políticas públicas para minimizar a problemática descrita devem privilegiar a



a)

flexibilização do Código Civil.

b)

promoção da inclusão social.

c)

redução da maioridade penal.

d)

contenção da corrupção política.

e)

expansão do período de reclusão.

Resolução

O texto do enunciado aborda a problemática do aumento do encarceramento no Brasil, apresentando dados que demonstram aspectos da criminalidade em contextos que envolvem notadamente a população masculina adulta, negra, com baixa escolaridade e os crimes são patrimoniais, ou seja, relacionados a furtos, assaltos, danos à propriedade alheia, entre outros, ações muito recorrentes em grandes centros urbanos do país. Diante do exposto e, considerando que o exercício exige que se aponte uma política capaz de minimizar tal problemática, é possível afirmar que:

a) Incorreta. Mudanças que flexibilizem, ou seja, tornem mais permissivo o Código Civil, não necessariamente impediriam a ocorrência dos mencionados crimes, mas poderiam até mesmo facilitar tal ação tornando-se um grande problema do ponto de vista social.

b) Correta. A maior inclusão social por meio de políticas educacionais, de moradia, de saúde e de alimentação eficientes poderia colaborar para o aumento da qualidade de vida, escolaridade e consequente inserção de jovens marginalizados no mercado de trabalho, o que iria ao encontro da possível diminuição de índices de criminalidade ligados a crimes patrimoniais.

c) Incorreta. A redução da maioridade penal não impactaria positivamente o cenário apresentado, pois tal ação tenderia a aumentar ainda mais o número de encarcerados no país.

d) Incorreta. Não há relação direta entre o crime de corrupção e os dados apresentados visto que tal crime é praticado principalmente por um perfil de criminoso que não se assemelha àquele exposto no texto (negros, com ensino fundamental incompleto, isto é, notadamente uma parcela da população marginalizada). Cabe, no entanto, salientar que a corrupção pode contribuir para o cenário apresentado, uma vez que desvia recursos que poderiam ser utilizados para a inclusão social.

e) Incorreta. A expansão do período de reclusão tenderia a aumentar a população carcerária brasileira, o que não minimizaria o problema exposto.

Questão 47 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Baixa Idade Média

     Nem guerras, nem revoltas. Os incêndios eram o mais frequente tormento da vida urbana no Regnum ltalicum. Entre 880 e 1080, as cidades estiveram constantemente entregues ao apetite das chamas. A certa altura, a documentação parece vencer pela insistência do vocabulário, levando até o leitor mais crítico a cogitar que os medievais tinham razão ao tratar aqueles acontecimentos como castigos que antecediam o julgamento final. Como um quinto cavaleiro apocalíptico, o incêndio agia ao feitio da peste ou da fome: vagando mundo afora, retornava de tempos em tempos e expurgava justos e pecadores num tormento derradeiro, como insistiam os textos do século X. O impacto acarretado sobre as relações sociais era imediato e prolongava-se para além da destruição material. As medidas proclamadas pelas autoridades faziam mais do que reparar os danos e reconstruir a paisagem: elas convertiam a devastação em uma ocasião para alterar e expandir não só a topografia urbana, mas as práticas sociais até então vigentes. 

RUST, L. O. Uma calamidade insaciável. Rev. Bras. Hist.

n. 72. maio-ago. 2016 (adaptado).

De acordo com o texto, a catástrofe descrita impactava as sociedades medievais por proporcionar a



a)

correção dos métodos preventivos e das regras sanitárias.

b)

revelação do descaso público e das degradações ambientais. 

c)

transformação do imaginário popular e das crenças religiosas. 

d)

remodelação dos sistemas políticos e das administrações locais.

e)

reconfiguração dos espaços ocupados e das dinâmicas comunitárias.

Resolução

a) Incorreta. O texto não apresenta nenhum tipo de correção dos métodos preventivos ou das regras sanitárias. Cita, somente, que as "medidas proclamadas pelas autoridades faziam mais do que reparar os danos e reconstruir a paisagem". Ou seja, o autor não sugere que os incêndios tenham causado alterações nos protocolos de prevenção seguidos pelas autoridades.

b) Incorreta. O texto menciona somente que os incêndios vagavam mundo afora e retornavam de "tempos em tempos", mas não cita as causas desse fenômeno. 

c) Incorreta. O texto não cita uma transformação das crenças religiosas, pelo contrário, afirma que os incêncios expurgava justos e pecadores "como insistiam os textos do século X" e que os medievais tratavam "aqueles acontecimentos como castigos que antecediam o julgamento final", ou seja, o fenômeno encontrava explicações nas crenças religiosas da época. 

d) Incorreta. Não há no texto nenhuma menção à remodelação de sistemas políticos e das administrações locais.

e) Correta. Conforme afirma o texto, além da reparação de danos, as autoridades utilizavam tal situação de devastação como uma oportunidade para "alterar e expandir não só a topografia urbana, mas as práticas sociais então vigentes". No contexto medieval, os incêndios ocasionaram profundas mudanças no tecido social, sendo utilizados, por exemplo, para legitimar a expansão da ordem pública. Dentre as alterações ocorridas nas dinâmicas comunitárias, podemos mencionar a ampliação do papel da Igreja Católica, que passou progressivamente, a lidar com a questão dos incêndios de maneira sacramental, resultando na expansão das prerrogativas atribuídas aos bispos, passando a ser eles que respondiam pelo dever de fortalecer a ordem pública abalada pela calamidade. Vale ressaltar que tal contexto insere-se no chamado Renascimento Comercial e Urbano, período caracterizado pelo fim das invasões bárbaras, desenvolvimento de novas técnicas agrícolas, retomada das atividades comerciais, surgimento de feiras e de cidades. Assim, é correto afirmar que os incêndios contribuíam efetivamente para a reconfiguração desses espaços ocupados e das dinâmicas comunitárias.

Questão 48 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Formação e diversidade cultural da população brasileira Globalização

     O protagonismo indígena vem optando por uma estratégia de "des-invisibilização", valendo-se da dinâmica das novas tecnologias. Em outubro de 2012, após receberem uma liminar lhes negando o direito a permanecer em suas terras, os Guarani de Pyelito Kue divulgaram uma carta na qual se dispunham a morrer, mas não a sair de suas terras. Esse fato foi amplamente divulgado, gerando uma grande mobilização na internet, que levou milhares de pessoas a escolherem seu lado, divulgando a hashtag "#somostodosGuarani-Kaiowá" ou acrescentando o sobrenome Guarani-Kaiowá a seus nomes nos perfis das principais redes sociais.

 CAPIBERIBE, A ; BONILLA, O. A ocupação do Congresso: contra o que lutam os índios? Estudos Avançados. n.83. 2015 (adaptado). 

A estratégia comunicativa adotada pelos indígenas, no contexto em pauta, teve por efeito



a)

enfraquecer as formas de militância política.  

b)

abalar a identidade de povos tradicionais. 

c)

inserir as comunidades no mercado global.

d)

distanciar os grupos de culturas locais.

e)

angariar o apoio de segmentos étnicos externos.

Resolução

O texto destaca o contexto recente da luta dos Guarani-Kaiowá, etnia nativa que se situa predominantemente em regiões do Mato Grosso do Sul e reivindica o reconhecimento de seus direitos e territórios pelo Estado brasileiro há décadas, tendo enfrentado conflitos devido aos interesses de agentes com interesse em expandir o agronegócio sobre suas terras. Tal movimento ganhou força nos últimos anos, como bem aponta o excerto, pela inserção de representantes desse povo em meios de comunicação modernos, como as redes sociais, que geraram "grande mobilização na internet" e tornaram cada vez mais visível as reivindicações dos Guarani-Kaiowá perante a sociedade. Diante do exposto, tem-se que:

a) Incorreta. Os manifestos políticos via internet com o uso da "#somostodosGuarani-Kaiowá" cria uma nova forma de militância, via redes sociais, o que amplia a influência e o apoio em relação ao movimento mencionado.

b) Incorreta. A estratégia adotada não "abala a identidade" dos Guarani-Kaiowá, mas antes, amplia o conhecimento sobre tal povo, seus costumes e lutas, revelando uma nova face de manifestação social dos interesses dessa comunidade no contexto das disputas por seus territórios.

c) Incorreta. A hashtag destacada não visa atuação no mercado global, mas sim visibilizar a causa da etnia em questão perante um número maior de pessoas, buscando maior apoio da sociedade civil via redes sociais.

d) Incorreta. Não há intenção em distanciar-se dos costumes tradicionais e das suas raízes locais, mas, ao contrário, de projetar a cultura e as lutas políticas dos Guarani-Kaiowá também pela internet.

e) Correta. A nova forma de atuação política da etnia, por meio "da dinâmica das novas tecnologias", expressa uma estratégia assertiva de conquistar visibilidade em novos segmentos étnicos da sociedade. Dessa forma, a luta dos Guarani-Kaiowá foi algo "amplamente divulgado" e eles têm conquistado apoio de uma parte da sociedade que, como o texto aponta, está "acrescentando o sobrenome Guarani-Kaiowá a seus nomes nos perfis das principais redes sociais".

Questão 49 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Vargas

     O governo Vargas, principalmente durante o Estado Novo (1937-1945), pretendeu construir um Estado capaz de criar uma nova sociedade. Uma dimensão-chave desse projeto tinha no território seu foco principal. Não por acaso, foram criadas então instituições encarregadas de fornecer dados confiáveis para a ação do governo, como o Conselho Nacional de Geografia, o Conselho Nacional de Cartografia, o Conselho Nacional de Estatística e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), este de 1938. 

LIPPI. L. A conquista do Oeste. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br. Acesso em: 7 nov. 2014 (adaptado)  

A criação dessas instituições pelo governo Vargas representava uma estratégia política de



a)

levantar informações para a preservação da paisagem dos sertões.

b)

controlar o crescimento exponencial da população brasileira. 

c)

obter conhecimento científico das diversidades regionais.

d)

conter o fluxo migratório do campo para a cidade. 

e)

propor a criação de novas unidades da federação. 

Resolução

a) Incorreta. Embora os órgãos criados tenham o interesse de levantar informações, seu intuito não era de preservação da paisagem dos sertões em específico, mas o de levantamento de informações confiáveis sobre o território nacional como um todo.

b) Incorreta. Não havia um interesse governamental no controle do crescimento da população brasileira à época, e, tampouco, os institutos criados estavam especificamente voltados para tal finalidade.

c) Correta. Durante a década de 1930, vários órgãos públicos foram criados com o intuito de fornecer análises e estatísticas confiáveis sobre o território, a economia e a população brasileira, subsídios considerados fundamentais para a formação de políticas públicas. Assim, em 1931, foi fundado o Conselho Nacional de Geografia, que tinha o intuito de prover o melhor conhecimento sobre a terra e o território brasileiro. De forma complementar, teve início em 1936 o Conselho Nacional de Estatística, seguido pouco depois pelo Conselho Nacional de Geografia, em 1938. No mesmo ano, através do Decreto-Lei nº 218, ambos os institutos foram associados ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, uma autarquia diretamente subordinada à Presidência da República - o que desnuda a importância de suas pesquisas para a adoção de políticas governamentais. O caráter analítico desses institutos serve de exemplo do ímpeto modernizante do governo na Era Vargas, que buscava acelerar o desenvolvimento nacional pautado em bases científicas, além da considerável influência exercida pelos intelectuais ao projeto de Estado naquele período.

d) Incorreta. Apesar de as cidades apresentarem um crescimento importante nas décadas de 1930 e 1940, os institutos mencionados não foram fundados com o interesse específico de conter o êxodo rural, mas sim o de produzir informações confiáveis para a tomada de decisões do governo.

e) Incorreta. A alternativa oferece uma justificativa muito pontual sobre a criação desses institutos, ignorando os interesses mais amplos envolvidos na ação.