O pavão vermelho
Ora, a alegria, este pavão vermelho,
está morando em meu quintal agora.
Vem pousar como um sol em meu joelho
quando é estridente em meu quintal a aurora.
Clarim de lacre, este pavão vermelho
sobrepuja os pavões que estão lá fora.
É uma festa de púrpura. E o assemelho
a uma chama do lábaro da aurora.
É o próprio doge a se mirar no espelho.
E a cor vermelha chega a ser sonora
neste pavão pomposo e de chavelho.
Pavões lilases possuí outrora.
Depois que amei este pavão vermelho,
os meus outros pavões foram-se embora.
COSTA, S, Poesia completa: Sosígenes Costa. Salvador. Conselho Estadual de Cultura, 2001.
Na construção do soneto, as cores representam urn recurso poético que configura uma imagem com a qual o eu lírico
a) |
revela a intenção de isolar-se em seu espaço. |
b) |
simboliza a beleza e o esplendor da natureza. |
c) |
experimenta a fusão de percepções sensoriais. |
d) |
metaforiza a conquista de sua plena realização. |
e) |
expressa uma visão de mundo mística e espiritualizada. |
a) Incorreta. O eu lírico descreve as suas sensações e, embora haja menções (que não devem ser lidas como literais) ao quintal e aos “pavões que estão lá fora”, esses comentários não apontam para um isolamento, apenas para a constatação de um sentimento agradável experimentado pelo eu lírico.
b) Incorreta. A referência aos elementos da natureza que aparecem no poema, como o pavão e a aurora, são metafóricas. Não há no soneto, portanto, a simbolização da beleza e esplendor da natureza.
c) Incorreta. O recurso poético associado às cores não caracteriza uma fusão de percepções sensoriais, uma vez que a referência às cores e ao próprio pavão deve ser lida como metafórica, não literal.
d) Correta. O primeiro verso do soneto (“Ora, a alegria, este pavão vermelho”) evidencia a metáfora construída pelo eu lírico: a alegria parece, a ele, um pavão vermelho. As considerações seguintes reforçam o estado de espírito do eu lírico por meio da metáfora que se expande, apontando como a alegria (o pavão vermelho) se destaca de todos os outros momentos vivenciados pelo eu lírico. Nesse sentido, essa alegria pode ser lida como a plena realização do eu lírico, que se manifesta metaforizada pelas menções ao pavão vermelho. O papel das cores, nesse caso, é o de marcar a força dessa alegria em relação a outras, os “pavões lilases”, por exemplo.
e) Incorreta. Não há no soneto elementos textuais suficientes para que atribuamos a ele uma visão de mundo mística e espiritualizada.