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Enem 2021 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas


Questão 10 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Educação Física

Que tal transformar a internet em palco para a dança?

    

    O coreógrafo e bailarino Didier Mulleras se destaca como um dos criadores que descobriram a dança de outro ponto de vista. Mini@tures é uma experiência emblemática entre movimento, computador, internet e vídeo.  Com os recursos da computação gráfica, a dança das miniaturas pode caber na palma da mão. Pelo fato de usar a internet como palco, o  processo de criação das miniaturas de dança levou em consideração os limites de tempo de download  e o tamanho de arquivo, para que um número maior de "espectadores" pudesse assistir. A graça das miniaturas está justamente na contaminação entre mídías: corpo/dança/computação gráfica/internet. De fato, é a rede que faz a maior diferença nesse grupo. Mini@tures explora uma nova dimensão que descobre o espaço-tempo da web e conquista um novo território para a dança contemporânea. A qualquer hora, dança on-line.

SPANGHERO. M. A dança dos encéfalos acesos. São Paulo: ltaú Cultural. 2003 (adaptado)

Considerado o primeiro projeto de dança contemporânea concebido para a rede, esse trabalho é apresentado como inovador por



a)

adotar uma perspectiva conceitual como contraposição à tradição de grandes espetáculos.

b)

criar novas formas de financiamento ao utilizar a internet para divulgação das apresentações.

c)

privilegiar movimentos gerados por computação gráfica, com a substituição do palco pela tela.

d)

produzir uma arte multimodal, com o intuito de ampliar as possibilidades de expressão estética.

e)

redefinir a extensão e o propósito do espetáculo para adaptá-lo ao perfil de diferentes usuários.

Resolução

a) Incorreta. Não há nenhuma intenção da nova perspectiva conceitual de contrapor à tradição de grandes espetáculos, mas sim uma forma com que a dança chegue para uma maior número de pessoas, com limites de tempo de download e tamanho de arquivo, conquistando uma expansão da dança. 
b) Incorreta. Não há uma abordagem no texto sobre a intenção de financiamento da dança contemporânea na internet, mas uma forma de “contaminação entre as mídias”, interligando o corpo através da dança na internet pela computação gráfica.  
c) Incorreta. A intenção não é privilegiar o movimento gerado pela computação gráfica, mas valorizar o movimento corporal na dança - neste caso contemporânea - através da internet e suas ferramentas gráficas, fazendo da internet um novo tipo de palco, mas não sua substituição.     
d) Correta. A dança não deixa de ser uma arte e, consequentemente, neste caso, ela traz aspectos multimodais ao se relacionar com a internet e a computação gráfica, uma vez que coexistem diversas modalidades comunicativas (gestos, processamento de imagem, expressão, significados), havendo uma “contaminação entre as mídias”.
e) Incorreta. O trabalho apresentado não é inovador por redefinir a extensão e o propósito do espetáculo para adaptá-lo ao perfil de diferentes usuários, mas sim uma conquista de novos territórios para a dança contemporânea.  

Questão 11 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

intertexto

TEXTO I 

O mito da estiagem em São Paulo 

    Os estoques de água doce são inesgotáveis, na medida em que são alimentados principalmente pelos oceanos, infinitos via evaporação e precipitação, ou seja, pelo ciclo hidrológico, que depende de forças físicas as quais o homem nunca poderá interromper. Enquanto existirem, o ciclo funcionará e os estoques de água doce nos continentes serão repostos indefinidamente. 

    Obviamente que a água não se distribui equitativamente pelo planeta. Há regiões com muita água,  normalmente na zona tropical, na qual a evaporação é maior, e regiões áridas, onde, por razões específicas de dinâmica climática, as taxas de evaporação são maiores do que a precipitação, gerando déficit de reposição de estoques de água doce. 

Disponlvel em: www.cartanaescola.com.br. Acesso em: 17 jan. 2015 (adaptado)

 

 TEXTO II

    O processo de sedimentação no fundo do lago de um reservatório é um processo lento. Os sedimentos vão formando argila, que é uma rocha impermeável. Então, a água daquele lago não vai alimentar os aquíferos. Mesmo tendo muita quantidade de água superficial, ela não consegue penetrar no solo para alimentar os aquíferos. Se não for usada no consumo, ela vai simplesmente evaporar e vai cair em outro lugar, levada pelas correntes aéreas. Isso é outro motivo pelo qual os aquíferos não conseguem recuperar seu nível, porque não recebem água. 

Disponível em: www.jornalopcao.com.br. Acesso em: 17 jan. 2015

 

 Os textos I e II abordam a situação dos reservatórios de água doce do planeta. Entretanto, a divergência entre eles está na ideia de que é possível 



a)

manter os estoques de água doce. 

b)

utilizar a água superficial para o consumo.

c)

repor os estoques de água doce em regiões áridas. 

d)

reduzir as taxas de precipitação e evaporação da água.

e)

equalizar a distribuição de água doce nas diferentes regiões.

Resolução

A questão traz dois textos que abordam a situação dos reservatórios de água doce do planeta e o enunciado pede para que seja observado o que há de divergente entre eles. Desse modo, a alternativa correta precisa trazer um aspecto que aparece em ambos os textos com vieses diferentes, opostos.

a) Correta. Nos dois textos, é falado sobre a possibilidade de manutenção dos estoques de água doce, no entanto o texto I traz a ideia de que os estoques são inesgotáveis por depender de um fenômeno que ocorre naturalmente; já o texto II mostra que a água superficial dos lagos não consegue abastecer os aquíferos, o que pressupõe um esgotamento dos estoques de água doce.

b) Incorreta. O texto I sequer fala de água superficial e seu consumo.

c) Incorreta. O texto II não aborda, em nenhum momento, a questão dos estoques de água doce em regiões áridas.

d) Incorreta. O texto II não toca na questão da precipitação da água.

e) Incorreta. O texto II não fala sobre o estoque de água doce em diferentes regiões.

Questão 12 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos científicos e de divulgação científica Coesão e Coerência

    Os velhos papéis, quando não são consumidos pelo fogo, às vezes acordam de seu sono para contar notícias do passado.

    É assim que se descobre algo novo de um nome antigo, sobre o qual já se julgava saber tudo, como Machado de Assis.

    Por exemplo, você provavelmente não sabe que o autor carioca, morto em 1908, escreveu uma letra do hino nacional em 1867 - e não poderia saber mesmo, porque os versos seguiam inéditos. Até hoje.

    Essa letra acaba de ser descoberta, em um jornal antigo de Florianópolis, pelo pesquisador independente Felipe Rissato.

    "Das florestas em que habito/ Solto um canto varonil:/ Em honra e glória de Pedro/ O gigante do Brasil", diz o começo do hino, comporsto de sete estrofes em redondilhas maiores, ou seja, versos de sete sílabas poéticas. O trecho também é o refrão da música.

    O Pedro mencionado é o imperador Dom Pedro II. O bruxo do Cosme Velho compôs a letra para o aniversário de 42 anos do monarca, em 2 de dezembro daquele ano - o hino seria apresentado naquele dia no teatro da cidade de Desterro, antigo nome de Florianópolis.

Disponível em: www.revistaprosaversoearte.com. Acesso em: 4 dez. 2018 (adaptado)

Considerando-se as operações de retomada de informações na estruturação do texto, há interdependência entre as expressões



a)

"Os velhos papéis" e "É assim".

b)

"algo novo" e "sobre o qual".

c)

"um nome antigo" e "Por exemplo".

d)

"O gigante do Brasil" e "O Pedro mencionado".

e)

"o imperador Dom Pedro II" e "O bruxo do Cosme Velho".

Resolução

a) Incorreta. Não há interdependência entre as expressões “Os velhos papéis” e “É assim”, uma vez que esta retoma a ideia expressa em todo o primeiro parágrafo do texto (velhos papéis às vezes podem contar notícias do passado), e não apenas “Os velhos papéis”.

b) Incorreta. A expressão “sobre o qual” está relacionada a “nome antigo” e não a “algo novo”. Portanto, não é possível afirmar que haja interdependência entre as expressões apresentadas pela alternativa.

c) Incorreta. A expressão “Por exemplo” se vincula a toda a situação descrita no segundo parágrafo do texto (a descoberta de alguma novidade relacionada a um nome já muito conhecido), e não apenas à expressão “nome antigo”.

d) Correta. Nos versos “Em honra e glória de Pedro / O gigante do Brasil”, escritos por Machado de Assis, pode-se ver claramente que Pedro é caracterizado como “O gigante do Brasil”. Dessa forma, quando o parágrafo seguinte se inicia com “O Pedro mencionado”, é possível afirmar que o termo está se referindo ao Pedro dos versos aqui destacados e, por extensão, ao “gigante do Brasil”. Há, então, uma interdependência clara entre as expressões apresentadas pela alternativa.

e) Incorreta. A expressão “O bruxo do Cosme Velho” refere-se a Machado de Assis (que foi quem compôs a letra do hino para celebrar o aniversário de Dom Pedro II). Portanto, não é correto afirmar que ela tenha uma relação de interdependência com a expressão “o imperador Dom Pedro II”.

Questão 13 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Modernismo (FSH)

 

RODRIGUES, S. Acervo pessoal.


A revolução estética brasiliense empurrou os designers de móveis dos anos 1950 e Início dos1960 para o novo. Induzidos a abandonar o gosto rebuscado pelo colonial, a trocar Ouro Preto por Brasília, eles criaram um mobiliário contemporâneo que ainda hoje vemos nas lojas e nas salas de espera de consultórios e escritónos. Colada no uso de madeiras nobres, como o jacarandá e a peroba, e em materiais de revestimento como o couro e a palhinha, desenvolveu-se uma tendência feita de linhas retas e curvas suaves, nos moldes da capital no Cerrado.

CHAVES, D. Disponlvel em: www.veja.abril.com.br. Acesso em: 29 jul. 2010.

Na reportagem sobre os 50 anos de Brasília, de Débora Chaves, com a reprodução fotográfica de cadeiras e poltronas de Sérgio Rodrigues, verifica-se que os elementos da estética brasiliense



a)

aparecem definidos nas linhas retas dos objetos.

b)

expressam o desenho rebuscado por meio das linhas.

c)

mostram a expressão assimétrica das linhas curvas suaves.

d)

apontam a unidade de matéria-prima utilizada em sua  fabricação.

e)

surgem na simplificação das informações visuais de cada composição.

Resolução

a) Incorreto. Como mencionado no texto, “tendência feita de linhas retas e curvas suaves”, o trabalho de Sérgio Rodrigues não possui apenas linhas retas, mas também curvas.

b) Incorreto. O estilo rebuscado é uma característica do Barroco, que, como sugere o texto, “trocar Ouro Preto por Brasília”, significa trocar o estilo Barroco (de Ouro Preto) pelo estilo de Brasília (Moderno)

c) Incorreto. Dividindo as cadeiras ao meio, por exemplo, torna-se perceptível que são simétricas, contrariando a afirmativa.

d) Incorreto. Não há uma unidade na matéria prima das cadeiras, pois são compostas de couro, palhinha e madeiras nobres, portanto são cadeiras com materiais plurais.

e) Correto. Como mencionado na alternativa "B", Rodrigues apresentou uma superação do estilo Barroco  e criou um estilo moderno, que tem como finalidade estética a simplificação das formas, contrariando o movimento passado, mais rebuscado.

Questão 14 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos jornalísticos

Thumbs Up

    Ponto positivo para o Facebook, que vai dar uma ajeitada na casa para, quem sabe, não ser mais conhecido como o espaço da treta . Durante a F8, sua conferência anual, a empresa anunciou a maior mudança de design do serviço em 5 anos. Agora, o polêmico feed de notícias deixa de ser o protagonista, e o queridinho da rede social se torna o segmento de Grupos (é o Orkut fazendo escola?). Segundo Mark Zuckerberg, mais de 1 bilhão de usuários mensais entram nessa aba do aplicativo, e 400 mil deles já estão integrados em grupos de "assuntos significativos". O objetivo agora é aumentar o tráfego, oferecendo mais sugestões e ferramentas especiais para quem gerencia essas comunidades. Além disso, o Marketplace, que já tem mais de 800 milhões de usuários, vai ganhar mais atenção e integração. Com isso, parece que há um novo padrão se montando na rede social : sai o feed, entra a segmentação, que pode ser uma boa porta para monetização nos próximos anos. No mesmo evento, Zuckerberg também disse que o futuro do Facebook é a privacidade, mas não deu muitos detalhes de como vai proteger seus clientes daqui para frente . Evitar que vazamentos de dados dos usuários aconteçam é um bom começo.

    #FicaaDica

Disponível em: https://thebrief.us16.1ist-manage.com. Acesso em: 3 maio 2019 (adaplado).

O texto relata que uma rede social virtual realizará  sua maior mudança de design dos últimos anos. Esse fato revela que as tecnologias de informação e comunicação



a)

buscam oferecer mais privacidade.

b)

assimilam os comportamentos dos usuários.

c)

promovem maior interação em ambientes virtuais.

d)

oferecem mais facilidades para obter cada vez mais lucro.

e)

evoluem para ficar mais parecidas umas com as outras.

Resolução

a) Incorreta. A preocupação com a privacidade é anunciada ao final do texto como uma promessa futura, no entanto ela não aparece como justificativa da mudança de design da rede social.

b) Correta. O texto destaca o fato de que um número muito grande de usuários (mais de 1 bilhão) acessa a aba referente aos grupos, que agora passa a ter mais destaque na apresentação do Facebook. Além disso, de acordo com o texto, 800 mil usuários fazem um uso de uma outra ferramenta, que também passa por uma reformulação para ganhar mais destaque. Nesse sentido, é correto afirmar que as tecnologias de informação e comunicação assimilam os comportamentos dos usuários, dado que as alterações se baseiam na observação das ações dos usuários.

c) Incorreta. Apesar de o conceito de interação aparecer ao longo do texto, ele não é colocado como o objetivo principal das alterações anunciadas pela plataforma.

d) Incorreta. Ainda que se fale da monetização da rede, que é consequência da segmentação, a obtenção de lucros não aparece como justificativa para a mudança de design da rede social.

e) Incorreta. As alterações anunciadas pelo Facebook são apresentadas como uma tentativa de acompanhar o comportamento do usuário e, em nenhum momento do texto, o autor cita o fato de que as mudanças ocorrem para que uma rede social acompanhe outra.

Questão 15 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos híbridos linguagem verbal e não verbal

D'SALETE , M. Cumbe. Sao Paulo Veneta. 2019. p 10- 11 (adaptado).

A sequência dos quadrinhos conjuga lirismo e violência ao



a)

sugerir a impossibilidade de manutenção dos afetos.

b)

revelar os corpos marcados pela brutalidade colonial.

c)

representar o abatimento diante da desumanidade vivida.

d)

acentuar a resistência identitária dos povos escravizados.

e)

expor os sujeitos alijados de sua ancestralidade pelo exílio.

Resolução

Para responder adequadamente ao que se pede, é importante interpretar corretamente os quadrinhos que acompanham a questão. Neles, são retratados personagens escravizados que elucubram a respeito de uma possível forma de sair daquele ambiente e deixar para trás as dores e sofrimentos ali vividos. Há ainda referências a divindades (Calunga, que também pode ser lido como referência a Kalunga, o maior quilombo brasileiro, de importância histórica imensurável) e a elementos culturais como a bebida nsanga, que daria a coragem necessária para que fugissem.

a) Incorreta. Os quadrinhos apontam justamente para a manutenção de um afeto entre as personagens, que, apesar das condições extremamente adversas – e talvez impulsionados por elas –, procuram se manter unidos e fazendo planos.

b) Incorreta. Os indícios de violência (simbolizada pelas marcas nas costas do personagem) presentes no último quadrinho de fato ajudam a compor a história, evidenciando o contexto de exploração ao qual as personagens estavam submetidas e do qual se imaginam escapando. No entanto, o cenário violento e o tom lírico permeiam toda a história, portanto, não é correto afirmar que lirismo e violência se resumam à revelação dos corpos marcados pela brutalidade.

c) Incorreta. Não há, nos quadrinhos, a imagem de abatimento, ao contrário, é evidenciada a intenção de superar o contexto árido em que as personagens se encontram.

d) Correta. Desde o primeiro quadrinho, encontramos referências à cultura africana, o que nos remete a uma construção identitária dos personagens. Eles, que estão submetidos a um contexto de violência e exploração, apoiam-se naquilo que os deixa mais próximos da liberdade: a fala do sacerdote Tata; a divindade Calunga, que os ajudaria; a bebida nsanga, que lhes daria coragem. A opção por recorrer a esses elementos ancestrais é caracterizada como forma de resistência, uma vez que a sabedoria vinda da formação identitária dos personagens seria responsável por livrá-los daquela situação desumana. O lirismo, então, se verifica justamente nessa confluência, em que a resistência à violência se dá apoiada na formação cultural dos personagens.

e) Incorreta. Não é possível afirmar que os personagens retratados estejam alijados (ou seja, separados, apartados) de sua ancestralidade, ao contrário, a construção identitária das personagens remete à sua ancestralidade. Além disso, a exposição das personagens ao longo da sequência dos quadrinhos não pode ser associada à violência.

Questão 16 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Machado de Assis

    Naquele tempo, ltaguaí, que, como as demais vilas, arraiais e povoações da colônia, não dispunha de imprensa, tinha dois modos de divulgar uma notícia; ou  por meio de cartazes manuscritos e pregados na porta da Câmara, e da matriz; - ou por meio de matraca.

    Eis em que consistia este segundo uso. Contratava-se um homem, por um ou mais dias, para andar as ruas do povoado, com uma matraca na mão. De quando em quando tocava a matraca, reunia-se gente, e ele anunciava o que lhe incumbiam, - um remédio para sezões, umas terras lavradias, um soneto, um donativo eclesiástico, a melhor tesoura da vila, o mais belo discurso do ano, etc. O sistema tinha inconvenientes para a paz pública; mas era conservado pela grande energia de divulgação que possuía. Por exemplo, um dos vereadores desfrutava a reputação de perfeito educador de cobras e macacos, e aliás nunca domesticara um só desses bichos; mas tinha o cuidado de fazer trabalhar a matraca todos os meses. E dizem as crônicas que algumas pessoas afirmavam ter visto cascavéis dançando no peito do vereador; afirmação perfeitamente falsa, mas só devida à absoluta confiança no sistema. Verdade, verdade, nem todas as instituições do antigo regímen mereciam o desprezo do nosso século.

ASSIS, M. O alienista. Disponível em: www.dominiopublco.gov.br.  Acesso em: 2 jun. 2019 (adaptado).

O fragmento faz uma referência irônica a formas de divulgação e circulação de informações em uma localidade sem imprensa. Ao destacar a confiança da população no sistema da matraca, o narrador associa esse recurso à disseminação de



a)

campanhas politícas.

b)

anúncios publicitários.

c)

notícias de apelo popular.

d)

informações não fidedignas.

e)

serviços de utilidade pública.

Resolução

a) Incorreta. Embora o texto apresente um vereador que costumava utilizar o sistema da matraca, não há menção a que esse uso fosse em prol de campanhas políticas, mas para divulgar uma suposta habilidade em domesticar cobras e macacos.

b) Incorreta. De fato, uma das utilidades da matraca era servir para anúncios publicitários, como a venda de remédios ou de terras; porém, o tratamento irônico da confiança popular nas informações propagadas por esse sistema não está relacionada a esses anúncios. 

c) Incorreta. Dentre os exemplos de notícias divulgadas pelo sistema da matraca, alguns podem ser considerados de apelo popular, como "um remédio para sezões (febres altas)", ou mesmo a pretensa capacidade do verador em educar animais. No entanto, ironia recai sobre a confiança na veracidade de tais notícias, e não no fato de serem chamativas para a população. 

d) Correta. Ao apresentar o caso do vereador que noticiava, por meio da matraca, sua suposta habilidade como domesticador de cobras e macacos, o narrador, ironicamente, afirma que o político "nunca domesticara um só desses bichos". Em seguida, relata casos de pessoas afirmando "ter visto cascavéis dançando no peito do vereador; afirmação perfeitamente falsa, mas só devida à absoluta confiança no sistema". Explicita-se, assim, como o sistema da matraca levava à disseminação de informações não fidedignas, amparando-se na crença inabalável da população nesse método de divulgação e circulação de informações.

e) Incorreta. Apenas algumas notícias divulgadas pela matraca podem ser consideradas como serviços de utilidade pública (anúncios publicitários, por exemplo). Mesmo assim, a ironia do narrador não recai sobre essa função do sistema em questão.

Questão 17 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos jornalísticos

    No ano em que o maior clarinetista que o Brasil conheceu, Abel Ferreira, faria 100 anos, o choro dá mostras de vivacidade. É quase um paradoxo que essa riquíssima manifestação da genuína alma brasileira seja forte o suficiente para driblar a falta de incentivos oficiais, a insensibilidade dos meios de comunicação e a amnésia generalizada. "Ele trazia a alma brasileira derramada em sua sonoridade ímpar. Artur da Távola, seguramente seu maior admirador, foi quem melhor o definiu, 'alma sertaneja, toque mozarteano"'. O acervo do músico, autodidata nascido na mineira Coromandel, autor de 50 músicas, entre as quais Chorando baixinho (1942), que o consagrou, amigo e parceiro de Pixinguinha, com quem gravou Ingênuo (1958), permanece com os herdeiros à espera de compilação adequada. O Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro tem a guarda do sax e do clarinete, doados em 1995.

    Na avaliação de Leonor Bianchi, editora da Revista do Choro, "a música instrumental fica apartada do que é popular porque não vai à sala de concerto. O público em geral tem interesse em samba, pagode e axé". Ela atribui essa situação à falta de conhecimento e à pouca divulgação do gênero nas escolas.

FERRAZ. A. Disponível em www.cartacapital.com.br. Acesso em: 22 abr. 2015 (adaptado).

Considerando-se o contexto, o gênero e o público-alvo, os argumentos trazidos pela autora do texto buscam

 



a)

atribuir o desconhecimento da obra de Abel Ferreira ao ensino de música nas escolas.

b)

reivindicar mais investimentos estatais para a preservação do acervo musical nacional.

c)

destacar a relevância histórica e a riqueza estética do choro no cenário musical brasileiro.

d)

apresentar ao leitor dados biográficos pouco conhecidos sobre a trajetória de Abel Ferreira.

e)

constatar a impopularidade do choro diante da preferência do público por músicas populares.

Resolução

a) Incorreta. Ainda que seja mencionada no texto a pouca divulgação do gênero choro, não é possível afirmar que o desconhecimento da obra de Abel Ferreira seja atribuído à forma como se ensina música nas escolas.

b) Incorreta. O texto aponta para a importância do choro como manifestação artística brasileira e para a forma como ele ainda não é valorizado como deveria. No entanto, não há uma reivindicação clara de investimentos estatais para que essa valorização aconteça.

c) Correta. Os argumentos trazidos pela autora do texto, seja na contextualização inicial, nos dados relacionados à obra de Abel Ferreira, ou na criação de hipóteses a respeito da pouca valorização do choro, evidenciam a riqueza e a importância desse gênero musical, nas palavras da autora, dessa “riquíssima manifestação da genuína alma brasileira”. Nesse sentido, percebe-se que o trabalho de estruturação do texto se volta a destacar a relevância do choro no cenário musical brasileiro.  

d) Incorreta. Ainda que haja a apresentação de dados biográficos do clarinetista Abel Ferreira, esses dados não são construídos como centrais na elaboração da argumentação do texto.

e) Incorreta. Ainda que haja referências à preferência do público por músicas populares em oposição às mais eruditas, não é possível afirmar que o texto tenha sido construído de forma a constatar a impopularidade do choro. Essa visão é reforçada se considerarmos que, logo no início do texto, a autora menciona as “mostras de vivacidade” do choro atualmente, a despeito da aparente falta de valorização do gênero.

Questão 18 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos jornalísticos Pressupostos e Subentendidos

    Um asteroide de cerca de um mil metros de diâmetro, viajando a 288 mil quilômetros por hora, passou a uma distância insignificante - em termos cósmicos - da Terra, pouco mais do dobro da distância que nos separa da Lua. Segundo os cálculos matemáticos, o asteroide cruzou a órbita da Terra e somente não colidiu porque ela não estava naquele ponto de interseção. Se ele tivesse sido capturado pelo campo gravitacional do nosso planeta e colidido, o impacto equivaleria a 40 bilhões de toneladas de TNT, ou o equivalente à explosão de 40 mil bombas de hidrogênio, conforme calcularam os computadores operados pelos astrônomos do programa de Exploração do Sistema Solar da Nasa; se caísse no continente, abriria uma cratera de cinco quilômetros, no mínimo, e destruiria tudo o que houvesse num raio de milhares de outros; se desabasse no oceano, provocaria maremotos que devastariam imensas regiões costeiras. Enfim, uma visão do Apocalipse.

Disponível em: http://bdjur.slj.jus.br. Acesso em: 23 abr. 2010.

Qual estratégia caracteriza o texto como uma notícia alarmante?



a)

A descrição da velocidade do asteroide.

b)

A recorrência de formulações hipotéticas.

c)

A referência à opinião dos astrônomos.

d)

A utilização da locução adverbial "no mínimo".

e)

A comparação com a distância da Lua à Terra.

Resolução

a) Incorreta. A informação a respeito da velocidade do asteroide foi apresentada de forma objetiva e pontual, não houve, portanto, um trabalho elaborado com essa informação que a pudesse transformar em estratégia textual.

b) Correta. A partir do terceiro período do texto, são formuladas hipóteses relacionadas a uma possível colisão entre o planeta Terra e o asteroide. Essas hipóteses apontam para cenários muito alarmantes, com consequências graves para os habitantes e para o planeta. Conforme avançam as descrições dessas formulações hipotéticas, mais assustadora fica a notícia, que é finalizada com uma menção a “uma visão do Apocalipse”, reforçando o tom alarmista assumido até então.

c) Incorreta. A opinião dos astrônomos é usada como forma de validar a hipótese apresentada, e não se configura como uma estratégia para criar o tom alarmista do texto, apenas como forma de corroborar o que está sendo apresentado como uma formulação hipotética.

d) Incorreta. A expressão “no mínimo” é inserida em uma das formulações hipotéticas apresentadas pelo texto, mas não é correto afirmar que ela seja, sozinha, responsável por caracterizar o texto como uma notícia alarmante.

e) Incorreta. A comparação feita entre a distância a que o asteroide passou da Terra com a distância entre a Terra e a Lua é usada como forma de tornar a informação mais acessível ao leitor, para que ele consiga visualizar com mais clareza o cenário descrito pelo texto.

Questão 19 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Variação Linguística Pressupostos e Subentendidos

A draga

A gente não sabia se aquela draga tinha nascido ali, no Porto, como um pé de árvore ou uma duna.

— E que fosse uma casa de peixes?

Meia dúzia de loucos e bêbados moravam dentro dela, enraizados em suas ferragens.

Dos viventes da draga era um o meu amigo Mário-pega-sapo.

[ ... ]

Quando Mário morreu, um literato oficial, em necrológio caprichado, chamou-o de Mário-Captura-Sapo! Ai que dor.

Ao literato cujo fazia-lhe nojo a forma coloquial.

Queria captura em vez de pega para não macular (sic) a língua nacional lá dele ...

[ ... ]

Da velha draga

Abrigo de vagabundos e de bêbados, restaram as expressões: estar na draga, viver na draga por estar sem dinheiro, viver na miséria

Que ora ofereço ao filólogo Aurélio Buarque de Hollanda

Para que as registre em seus léxicos

Pois que o povo já as registrou.

BARROS. M. Gramática expositiva do chão: poesia quase toda. Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira. 1990 (fragmento).

Ao criticar o preciosismo linguístico do literato e ao sugerir a dicionarização de expressões locais, o poeta expressa uma concepção de língua que



a)

contrapõe características da escrita e da fala.

b)

ironiza a comunicação fora da norma-padrão.

c)

substitui regionalismos por registros formais.

d)

valoriza o uso de variedades populares.

e)

defende novas regras gramaticais.

Resolução

a) Incorreta. A sugestão do poeta, de dicionarizar expressões locais, não se refere à comparação ou à oposição entre fala e escrita, mas à inclusão de termos e expressões populares entre os falantes.

b) Incorreta. Ao pedir a inclusão, no dicionário, de expressões comuns no contexto de fala, o poeta reconhece a importância da comunicação fora da norma-padrão e não a ironiza.  

c) Incorreta. O poeta sugere ao literato a incorporação de expressões locais, e não a substituição por “registros formais”.

d) Correta. O registro em dicionário representa a relevância de termos e expressões, pois é um instrumento de consulta, uma obra de referência. Ao pedir que expressões locais sejam dicionarizadas, o poeta valoriza variedades populares.

e) Incorreta. O poeta não menciona “novas regras gramaticais”, apenas pede a inserção de novos termos e expressões no dicionário.