Logo ENEM

Questão 16 Enem 2021 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

Carregar prova completa Compartilhe essa resolução

Questão 16

Machado de Assis

    Naquele tempo, ltaguaí, que, como as demais vilas, arraiais e povoações da colônia, não dispunha de imprensa, tinha dois modos de divulgar uma notícia; ou  por meio de cartazes manuscritos e pregados na porta da Câmara, e da matriz; - ou por meio de matraca.

    Eis em que consistia este segundo uso. Contratava-se um homem, por um ou mais dias, para andar as ruas do povoado, com uma matraca na mão. De quando em quando tocava a matraca, reunia-se gente, e ele anunciava o que lhe incumbiam, - um remédio para sezões, umas terras lavradias, um soneto, um donativo eclesiástico, a melhor tesoura da vila, o mais belo discurso do ano, etc. O sistema tinha inconvenientes para a paz pública; mas era conservado pela grande energia de divulgação que possuía. Por exemplo, um dos vereadores desfrutava a reputação de perfeito educador de cobras e macacos, e aliás nunca domesticara um só desses bichos; mas tinha o cuidado de fazer trabalhar a matraca todos os meses. E dizem as crônicas que algumas pessoas afirmavam ter visto cascavéis dançando no peito do vereador; afirmação perfeitamente falsa, mas só devida à absoluta confiança no sistema. Verdade, verdade, nem todas as instituições do antigo regímen mereciam o desprezo do nosso século.

ASSIS, M. O alienista. Disponível em: www.dominiopublco.gov.br.  Acesso em: 2 jun. 2019 (adaptado).

O fragmento faz uma referência irônica a formas de divulgação e circulação de informações em uma localidade sem imprensa. Ao destacar a confiança da população no sistema da matraca, o narrador associa esse recurso à disseminação de



a)

campanhas politícas.

b)

anúncios publicitários.

c)

notícias de apelo popular.

d)

informações não fidedignas.

e)

serviços de utilidade pública.

Resolução

a) Incorreta. Embora o texto apresente um vereador que costumava utilizar o sistema da matraca, não há menção a que esse uso fosse em prol de campanhas políticas, mas para divulgar uma suposta habilidade em domesticar cobras e macacos.

b) Incorreta. De fato, uma das utilidades da matraca era servir para anúncios publicitários, como a venda de remédios ou de terras; porém, o tratamento irônico da confiança popular nas informações propagadas por esse sistema não está relacionada a esses anúncios. 

c) Incorreta. Dentre os exemplos de notícias divulgadas pelo sistema da matraca, alguns podem ser considerados de apelo popular, como "um remédio para sezões (febres altas)", ou mesmo a pretensa capacidade do verador em educar animais. No entanto, ironia recai sobre a confiança na veracidade de tais notícias, e não no fato de serem chamativas para a população. 

d) Correta. Ao apresentar o caso do vereador que noticiava, por meio da matraca, sua suposta habilidade como domesticador de cobras e macacos, o narrador, ironicamente, afirma que o político "nunca domesticara um só desses bichos". Em seguida, relata casos de pessoas afirmando "ter visto cascavéis dançando no peito do vereador; afirmação perfeitamente falsa, mas só devida à absoluta confiança no sistema". Explicita-se, assim, como o sistema da matraca levava à disseminação de informações não fidedignas, amparando-se na crença inabalável da população nesse método de divulgação e circulação de informações.

e) Incorreta. Apenas algumas notícias divulgadas pela matraca podem ser consideradas como serviços de utilidade pública (anúncios publicitários, por exemplo). Mesmo assim, a ironia do narrador não recai sobre essa função do sistema em questão.