Se for possível, manda-me dizer:
– É lua cheia. A casa está vazia –
Manda-me dizer, e o paraíso
Há de ficar mais perto, e mais recente
Me há de parecer teu rosto incerto.
Manda-me buscar se tens o dia
Tão longo como a noite. Se é verdade
Que sem mim só vês monotonia.
E se te lembras do brilho das marés
De alguns peixes rosados
Numas águas
E dos meus pés molhados, manda-me dizer:
– É lua nova – E revestida de luz te volto a ver.
HILST, H Júbilo, memória, noviciado da paixão .São Paulo. Cia. das Letras, 2018.
Falando ao outro, o eu lírico revela-se vocalizando um desejo que remete ao
a) |
ceticismo quanto à possibilidade do reencontro. |
b) |
tédio provocado pela distância física do ser amado. |
c) |
sonho de autorrealização desenhado pela memória. |
d) |
julgamento implícito das atitudes de quem se afasta. |
e) |
questionamento sobre o significado do amor ausente. |
a) Incorreta. O eu lírico não apresenta ceticismo em relação ao encontro, ao contrário disso, consegue visualizar esse momento, ao imaginar a interação com o ser amado.
b) Incorreta. Não é correto classificar como tédio o que o eu lírico demonstra sentir em relação à ausência do ser amado, uma vez que as cenas que imagina revelam a intenção de um reencontro motivada pelas lembranças boas e pela vontade de estar naquelas situações, ou seja, não é o tédio atual que motiva o eu lírico, mas a vontade de retornar a um momento já vivido.
c) Correta. Ao imaginar as interações que gostaria de ter com o ser amado e associá-las ao reencontro, como indica o verso final do poema (“E revestida de luz te volto a ver”), o eu lírico projeta, a partir das suas memórias, a intenção de atender aos seus anseios. O sonho de autorrealização, então, justifica-se na medida em que o reencontro se apresenta como uma intenção de reviver plenamente os momentos passados e, de certa forma, de expandir as possibilidades de interação com o ser amado. É a memória que conduz essa intenção do eu lírico, pois é na memória que se ancoram as possibilidades por ele vislumbradas. Vale ressaltar ainda que é recorrente, na obra de Hilda Hilst, a temática da autorrealização e do sujeito como ser potente e central das suas ações e aspirações.
d) Incorreta. Não há, ao longo do poema, nenhum trecho que indique julgamento do eu lírico em relação ao outro, justamente porque as suas intenções são centradas em si mesmo, e não voltadas às atitudes alheias.
e) Incorreta. Embora o tema do amor ausente possa ser facilmente reconhecido no poema, esse amor não aparece sendo questionado, mas exaltado e motivador das intenções do eu lírico.