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Fuvest 2021 - 1ª fase


Questão 61 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Lyrics / Songs

I ain't gonna work on Maggie's farm no more

I ain't gonna work on Maggie's farm no more

Well, I wake up in the morning

Fold my hands and pray for rain

I got a head full of ideas

That are drivin' me insane

lt's a shame the way she makes me scrub the floor

I ain't gonna work on Maggie's farm no more


I ain't gonna work for Maggie's brother no more

I ain't gonna work for Maggie's brother no more

Well, he hands you a nickel

He hands you a dime

He asks you with a grin

If you're havin' a good time

Then he fines you every time you slam the door

I ain't gonna work for Maggie's brother no more

 

I ain't gonna work for Maggie's pa no more

No, I ain't gonna work for Maggie's pa no more

Well, he puts his cigar out in your face just for kicks

His bedroom window it is made out of bricks

The National Guard stands around his door

Ah, I ain't gonna work for Maggie's pa no more, alright

Bob Dylan, "Maggie's Farm", do álbum Bringing it all back home, 1965.

Nestas estrofes, o conjunto de cenas descritas mostra que a principal dificuldade experimentada pela pessoa cuja história é contada na letra da música refere-se



a)

ao relacionamento difícil com familiares e amigos.

b)

à falta de criatividade diante das exigências do trabalho.

c)

às restrições impostas a sua liberdade e expressão pessoal.

d)

à competição por salários mais altos com colegas de trabalho.

e)

às dificuldades de viver fora de um grande centro urbano.

Resolução

Vamos traduzir a letra da música de Bob Dylan, "Maggie's Farm", do álbum Bringing it all back home, 1965.

Não vou mais trabalhar na fazenda da Maggie.

Não vou mais trabalhar na fazenda da Maggie.

Bem, eu acordo de manhã.

Cruzo minhas mãos e oro por chuva

Eu tenho uma cabeça cheia de ideias

Que estão me deixando insano

É uma pena o jeito que ela me faz esfregar o chão.

Não vou mais trabalhar na fazenda da Maggie.


Não vou mais trabalhar para o irmão da Maggie.

Não vou mais trabalhar para o irmão da Maggie.

Bem, ele te dá cinco centavos.

Ele te dá dez centavos.

Ele te pergunta com um sorriso.

Se você está se divertindo

Então ele te multa toda vez que você bate a porta

Não vou mais trabalhar para o irmão da Maggie.

 

Não vou mais trabalhar para o pai da Maggie.

Não, não vou mais trabalhar para o pai da Maggie.

Bem, ele coloca o charuto na sua cara só por diversão.

A janela do quarto dele é feita de tijolos.

A Guarda Nacional está em volta de sua porta

Ah, eu não vou trabalhar mais para o pai da Maggie, tudo bem.

 

a) Incorreta. Podemos perceber pela tradução da música que ela se refere a um relacionaento difícil com os patrões. A letra não menciona um relacionamento difícil com familiares e amigos.

b) Incorreta. A letra não trata da falta de criatividade diante das exigências do trabalho, ela trata do descontentamento do funcionário mediante às restrições impostas a ele e ao tratamento que recebia.

c) Correta. Pela tradução da letra da música, podemos perceber que a principal dificuldade experimentada pela pessoa cuja história é contada na letra da música é em relação às restrições impostas a sua liberdade e expressão pessoal por seus patrões. Podemos perceber também uma pessoa expressando uma insatisfação pela maneria que está sendo tratada em seu trabalho, e que, inclusive decidiu que não vai mais trabalhar na fazenda da Maggie, de seu irmão ou do seu pai.

d) Incorreta. Não há menção a competição por salários mais altos com colegas de trabalho.

e) Incorreta. As dificuldades de viver fora de um grande centro urbano não é mencionada na letra da música acima.

Questão 62 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Idioms

Leia os provérbios:

A alternativa que melhor expressa a ideia contida em cada um dos três provérbios, na ordem em que aparecem, é:



a)

Esperteza; desconfiança; foco.

b)

Precipitação; ingratidão; esperança.

c)

Observação; certeza; experiência.

d)

Exagero; harmonia; desaprovação.

e)

Orgulho; desprezo; teimosia.

 

Resolução

Idioms, também chamados de expressões idiomáticas ou provérbios, variam muito de acordo a língua estrangeira, muitas vezes refletindo cultura e costumes exclusivos do local de origem. Um outro ponto importante a ser observado é que nem sempre podemos traduzir um idiom literalmente, uma vez que são figuras de linguagem onde um termo ou a frase assume um significado diferente do que as palavras teriam isoladamente.

Assim, não basta saber o significado das palavras que formam a frase, é preciso olhar para todo o grupo de palavras que constitui a expressão para entender o seu significado. As Expressões Idiomáticas ou provérbios trazem conotações diferentes, que, na maioria das vezes, estão relacionadas às suas origens e cultura.

A expressão: Don´t count your chickens before they lay eggs, em português seria: Não conte suas galinhas antes que elas coloquem ovos, ou seja, não conte com algo antes de acontecer, não seja precipitado(a).

A expressão: Don´t bite the hand that feeds you, em português seria: Não morda a mão que te alimenta, não seja ingrato(a).

A expressão: Every cloud has a silver lining, em português seria: Toda nuvem tem um contorno prata, onde a nuvem seria algo ruim que está acontecendo e o contorno prata atrás da nuvem indicando que haveria um sol, ou seja uma esperança por trás de uma situação ruim. Seria como afirmar que tudo tem um lado positivo.

Sendo assim, a alternativa que melhor expressa a ideia contida nos provérbios é a B: Precipitação; ingratidão; esperança.

Questão 63 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Subordinação

      Uma última gargalhada estrondosa. E depois, o silêncio. O palhaço

      jazia imóvel no chão. Mas seu rosto continua sorrindo, para

     sempre. Porque a carreira original do Coringa era para durar

      apenas 30 páginas. O tempo de envenenar Gotham, sequestrar

5    Robin, enfiar um par de sopapos no Homem-Morcego e disparar

      o primeiro "vou te matar" da sua relação. Na briga final do

      Batman n² 1, o "horripilante bufão" sofria um final digno de sua

      desumana ironia: ao tropeçar, cravava sua própria adaga no

      peito.Assim decidiram e desenharam seus pais, os artistas Bill

10  Finger, Bob Kane e Jerry Robinson. Entretanto, o criminoso

      mostrou, já em sua primeira aventura, um enorme talento para

      se rebelar contra a ordem estabelecida. Seu carisma seduziu a

      editora DC Comics, que impôs o acréscimo de um quadrinho. Já

      dentro da ambulância, vinha à tona "um dado desconcertante".

15  E então um médico sentenciava: "Continua vivo. E vai sobreviver!".

 

Tommaso Koch. "O Coringa completa 80 anos e na Espanha ganha duas HQs, que inspiram debates filosóficos sobre a liberdade". EI País. Junho/2020.

 


No fragmento "ao tropeçar, cravava sua própria adaga no peito." (L. 8-9), a oração em negrito abrange, simultaneamente, as noções de



a)

proporção e explicação.

b)

causa e proporção.

c)

tempo e consequência.

d)

explicação e consequência.

e)

tempo e causa.

Resolução

O enunciado da questão requisitava uma análise sintática de orações subordinadas adverbiais reduzidas, abordando, pois, período composto. Para responder corretamente à questão, porém, era necessário apenas interpretar a relação de sentido que a oração subordinada (em negrito) estabelecia com a oração principal. Guardados os pressupostos mencionados, analisemos o trecho:

 

Na briga final do Batman nº1, o “horripilante bufão” sofria um final digno de sua desumana ironia: ao tropeçar, cravava sua própria adaga no peito.

 

O enunciado alerta que a oração reduzida em questão apresenta mais de uma noção simultaneamente. Seu primeiro sentido fornece o momento (tempo) em que o processo expresso na oração principal se deu. Para ilustrar, poder-se-ia desenvolver a oração para quando tropeçou ou enquanto tropeçava, sem prejuízos morfossintáticos ou semânticos. Além disso, também é possível constatar que “ao tropeçar” informa a causa do processo ocorrido na oração principal, pois o ato de cravar a própria adaga no peito se deu em função do tropeço, por causa dele. A título de ilustração, a oração também poderia ser desenvolvida para como tropeçou, deixando mais explícito o sentido de causa.

 

a) Incorreta. A oração não apresenta noção de proporção nem de explicação em relação à oração principal.

b) Incorreta. A oração apresenta noção de causa em relação à oração principal, porém não apresenta de proporção.

c) Incorreta. A oração apresenta a noção de tempo em relação à oração principal, porém não apresenta de consequência, mas causa.

d) Incorreta. A oração não apresenta noção de explicação nem de consequência em relação à oração principal.

e) Correta. A alternativa apresenta corretamente as duas relações de sentido providas pela oração subordinada adverbial (de tempo e causa) reduzida de infinitivo.

Questão 64 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Pontuação

      Uma última gargalhada estrondosa. E depois, o silêncio. O palhaço

      jazia imóvel no chão. Mas seu rosto continua sorrindo, para

     sempre. Porque a carreira original do Coringa era para durar

      apenas 30 páginas. O tempo de envenenar Gotham, sequestrar

5    Robin, enfiar um par de sopapos no Homem-Morcego e disparar

      o primeiro "vou te matar" da sua relação. Na briga final do

      Batman n² 1, o "horripilante bufão" sofria um final digno de sua

      desumana ironia: ao tropeçar, cravava sua própria adaga no

      peito.Assim decidiram e desenharam seus pais, os artistas Bill

10  Finger, Bob Kane e Jerry Robinson. Entretanto, o criminoso

      mostrou, já em sua primeira aventura, um enorme talento para

      se rebelar contra a ordem estabelecida. Seu carisma seduziu a

      editora DC Comics, que impôs o acréscimo de um quadrinho. Já

      dentro da ambulância, vinha à tona "um dado desconcertante".

15  E então um médico sentenciava: "Continua vivo. E vai sobreviver!".

 

Tommaso Koch. "O Coringa completa 80 anos e na Espanha ganha duas HQs, que inspiram debates filosóficos sobre a liberdade". EI País. Junho/2020.

 


As vírgulas em "E depois, o silêncio." (L. 1) e em "Mas seu rosto continua sorrindo, para sempre." (L. 2-3) são usadas, respectivamente, com a mesma finalidade que as vírgulas em



a)

"Após a queda, tomaram mais cuidado." e "Quanto mais espaço, mais liberdade.".

b)

 "Aos estrangeiros, ofereceram iguarias." e "Limpavam a casa, e preparávamos as refeições.".

c)

"Colheram trigo e nós, algodão." e "Eles se encontraram nas férias, mas não viajaram.".

d)

"Para meus amigos, o melhor." e "Organizava tudo, cautelosamente.".

e)

"Viu o espetáculo, considerado o maior fenômeno de bilheteria." e "'Conheço muito bem', afirmou o rapaz.".

 

Resolução

A questão destaca dois trechos:

 

E depois, o silêncio e Mas seu rosto continua sorrindo, para sempre

Dado o contexto, logo após a primeira frase do texto, é possível constatar que a vírgula presente no primeiro trecho é indicativa de uma omissão intencional, provavelmente de uma forma verbal como , ocorreu, fez-se ou de sentido semelhante. No segundo trecho, por sua vez, o termo para sempre constitui a função de adjunto adverbial. Seu posicionamento ao final da oração não demanda a sua separação com o uso de vírgulas, tratando-se, portanto, de uma escolha estilística, presumivelmente, com o objetivo de destacar o termo do restante da oração.

 

a) Incorreta. Na primeira frase, a vírgula é utilizada para marcar o deslocamento do adjunto adverbial. Embora os deslocamentos das posições sintáticas usuais, em língua portuguesa, geralmente peçam o isolamento com o uso de vírgulas, quando os adjuntos adverbiais são curtos (com, comumente, no máximo três vocábulos), a inserção da vírgula é considerada facultativa. Grande parte dos manuais de Redação e das Gramáticas, contudo, aponta para que a inclusão da vírgula deve ser feita por questões de estilo. Tal uso ocorre, por exemplo, quando buscamos enfatizar o termo deslocado. Na segunda frase, a vírgula é utilizada para separar a oração subordinada adverbial proporcional que ocorre antes da oração principal.

b) Incorreta. A vírgula é utilizada, na primeira frase, para indicar o deslocamento do complemento verbal (objeto indireto) aos estrangeiros. Já na segunda frase, a vírgula divide um período composto por coordenação e posiciona-se antes de uma oração coordenada sindética aditiva. Como o verbo dessa oração possui um sujeito distinto da oração anterior, a vírgula torna-se obrigatória (mesmo antes da conjunção “e”) e elemento indicativo de tal mudança.

c) Incorreta. A vírgula é utilizada para marcar a zeugma, ou seja, a omissão de um termo já presente na oração anterior, no caso, colheram. Trata-se da chamada vírgula vicária. No segundo enunciado, a vírgula marca da divisão do período composto coordenado, antes da inserção da oração coordenada sindética adversativa.

d) Correta. A vírgula é utilizada para marcar uma elipse, ou seja, a omissão de um termo. No caso, provavelmente algum verbo que expresse sentido semelhante a desejo, quero, procuro, busco, intento etc. No segundo enunciado, a vírgula marca separação de um adjunto adverbial de modo. Trata-se de um uso facultativo da vírgula, uma vez que esse elemento sintático não esteja deslocado de seu posicionamento usual. Em casos como esse (de uso facultativo), a escolha do redator pela inserção da vírgula é feita por um princípio de estilo, geralmente enfático, com o intuito de destacar o elemento ao leitor. Os dois casos apresentados constituem, pois, os mesmos usos de vírgula presentes no enunciado da questão.

e) Incorreta. A vírgula é utilizada para isolar a oração subordinada adjetiva reduzida de particípio e para marcar a separação do trecho que contém a fala de personagens (entre aspas) e o discurso do narrador.

Questão 65 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Funções sintáticas (pronome relativo)

      Uma última gargalhada estrondosa. E depois, o silêncio. O palhaço

      jazia imóvel no chão. Mas seu rosto continua sorrindo, para

     sempre. Porque a carreira original do Coringa era para durar

      apenas 30 páginas. O tempo de envenenar Gotham, sequestrar

5    Robin, enfiar um par de sopapos no Homem-Morcego e disparar

      o primeiro "vou te matar" da sua relação. Na briga final do

      Batman n² 1, o "horripilante bufão" sofria um final digno de sua

      desumana ironia: ao tropeçar, cravava sua própria adaga no

      peito.Assim decidiram e desenharam seus pais, os artistas Bill

10  Finger, Bob Kane e Jerry Robinson. Entretanto, o criminoso

      mostrou, já em sua primeira aventura, um enorme talento para

      se rebelar contra a ordem estabelecida. Seu carisma seduziu a

      editora DC Comics, que impôs o acréscimo de um quadrinho. Já

      dentro da ambulância, vinha à tona "um dado desconcertante".

15  E então um médico sentenciava: "Continua vivo. E vai sobreviver!".

 

Tommaso Koch. "O Coringa completa 80 anos e na Espanha ganha duas HQs, que inspiram debates filosóficos sobre a liberdade". EI País. Junho/2020.

 


Em "Seu carisma seduziu a editora DC Comics, que impôs o acréscimo de um quadrinho." (L. 12-13), o vocábulo "que" possui a mesma função sintática desempenhada no texto por



a)

"imóvel" (L. 2).

b)

"Robin" (L. 5).

c)

"seus pais" (L. 9).

d)

"se" (L. 12).

e)

"vivo" (L. 15).

 

Resolução

No trecho “Seu carisma seduziu a editora DC Comics, que impôs o acréscimo de um quadrinho”, o pronome relativo que exerce a função sintática de sujeito da forma verbal impôs e tem como antecedente o termo “a editora DC Comics”. Para tornar mais evidente, podemos construir novamente a frase, substituindo o pronome pelo antecedente, e obtemos: A editora DC Comics impôs o acréscimo de um quadrinho.

 

a) Incorreta. O termo imóvel exerce função de predicativo do sujeito de O palhaço.

b) Incorreta. O termo Robin exerce a função de complemento verbal (objeto direto) de sequestrar.

c) Correta. O termo seus pais exerce a função de sujeito das formas verbais decidiram e desenharam (embora ocultos em relação a uma delas). Como a oração se encontrava na ordem indireta, sem o posicionamento comum dos termos da oração, era necessário reconhecer o sujeito em sua posição posposta. A título de ilustração, a frase transcrita na ordem direta ficaria como segue: Seus pais, os artistas Bill Finger, Bob Kane, Jerry Robinson, decidiram assim.

d) Incorreta. O termo se, em razão de rebelar (na acepção presente no texto) ser pronominal, é partícula integrante do verbo.

e) Incorreta. O termo vivo é predicativo do sujeito oculto da forma verbal continua.

Questão 66 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Angústia

- Posso furar os olhos do povo? Esta frase besta foi repetida muitas vezes e, em falta de coisa melhor, aceitei-a. Sem dúvida. As mulheres hoje não vivem como antigamente, escondidas, evitando os homens. Tudo é descoberto, cara a cara. Uma pessoa topa outra. Se gostou, gostou; se não gostou, até logo. E eu de fato não tinha visto nada. As aparências mentem. A terra não é redonda? Esta prova da inocência de Marina me pareceu considerável. Tantos indivíduos condenados injustamente neste mundo ruim! O retirante que fora encontrado violando afilha de quatro anos - estava ai um exemplo. As vizinhas tinham visto o homem afastando as pernas da menina, todo o mundo pensava que ele era um monstro. Engano. Quem pode lá jurar que isto é assim ou assado? Procurei mesmo capacitar-me de que Julião Tavares não existia. Julião Tavares era uma sensação. Uma sensação desagradável, que eu pretendia afastar de minha casa quando me juntasse àquela sensação agradável que ali estava a choramingar.


Graciliano Ramos, Angústia.

Em termos críticos, esse fragmento permite observar que, no plano maior do romance Angústia, o ponto de vista



a)

se acomoda nos limites da vulgaridade.

b)

tenta imitar a retórica dos dominantes.

c)

reproduz a lógica do determinismo social.

d)

atinge a neutralidade do espírito maduro.

e)

revira os lados contrários da opinião.

Resolução

a) Incorreta. Inicialmente, parece que Luís da Silva se acomoda, pois afirma ter aceitado uma “frase besta” que “foi repetida inúmeras vezes”. No entanto, considerando o excerto como um todo, o narrador-personagem se contrapõe a um ponto de vista que poderia ser considerado “vulgar” (tomando-se o sentido de algo “banal”, “comum”). Afirma, por exemplo, que “As aparências mentem”; mais adiante, indaga: “Quem pode lá jurar que isto é assim ou assado?”.

b) Incorreta. No fragmento, Luís da Silva claramente se opõe à retórica dos dominantes ao exclamar: “Tantos indivíduos condenados injustamente neste  mundo ruim!”. Em seguida, justifica sua afirmação, relembrando o caso do retirante acusado de violar a filha, considerado um monstro por ter sido visto “afastando as pernas da menina”. Entretanto, segundo Luís, tratava-se de um engano. Nota-se, portanto, que o narrador-personagem identifica-se com aqueles que julga injustiçados, afastando-se, assim, dos discursos dominantes na sociedade.

c) Incorreta. Não há indícios na fala de Luís da Silva que corroborem o determinismo social (segundo o qual os indivíduos estão submetidos a um conjunto de condições sociais que determinam suas ações). Ao refletir sobre as mulheres, por exemplo, afirma que “hoje (elas) não vivem como antigamente, escondidas, evitando os homens”. Em relação a Marina, aceita sua inocência, uma vez que “de fato não tinha visto nada”. Assim, refuta a ideia segundo a qual comportamento feminino seria ditado por regras imutáveis - no primeiro caso, tal comportamento varia no tempo e, no segundo, a noção de culpa é relativizada.

d) Incorreta. Não há neutralidade no discurso de Luís da Silva, mas a exposição de seu ponto de vista em várias passagens do fragmento (“As aparências mentem”; “Tantos indivíduos condenados injustamente neste  mundo ruim!”). Além disso, refere-se a Julião Tavares como uma “sensação desagradável” que pretende afastar de sua casa, expressando claramente seu incômodo em relação a ele.

e) Correta. No fragmento apresentado, Luís da Silva explora as oposições entre opiniões, questiona o certo e o errado, a aparência e a verdade. Tal movimento é verificado quando questiona a visão de monstro atribuída por “todo o mundo” ao retirante que teria violado a própria filha. O confronto entre lados contrários da opinião também é explicitado nas seguintes passagens: “As aparências mentem”, “Quem pode lá jurar que isto é assim ou assado?” e “Tantos indivíduos condenados injustamente neste  mundo ruim!”.

Questão 67 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Formação de palavras

Terça é dia de Veneza revelar as atrações de seu festival anual, cuja 77ª edição começa no dia 2 de setembro, com a dramédia "Lacei", do romano Daniele Luchetti, seguindo até 12/9, com 50 produções internacionais e uma expectativa (extraoficial) de colocar "West Side Story", de Steven Spielberg, na ribalta.

Rodrigo Fonseca. "À espera dos rugidos de Veneza". O Estado de S. Paulo.
Julho/2020. Adaptado.


Um processo de formação de palavras em língua portuguesa é o cruzamento vocabular, em que são misturadas pelo menos duas palavras na formação de uma terceira. A força expressiva dessa nova palavra resulta da síntese de significados e do inesperado da combinação, como é o caso de "dramédia" no texto. Ocorre esse mesmo tipo de formação em



a)

"deleitura" e "namorido".

b)

"passatempo" e "microvestido".

c)

"hidrelétrica" e "sabiamente".

d)

"arenista" e "girassol".

e)

"planalto" e "multicor".

Resolução

a) Correta. A combinação das palavras “drama” e “comédia” caracteriza um cruzamento vocabular, do qual resulta a nova palavra “dramédia”. O mesmo ocorre com o vocábulo “deleitura”, criado a partir de “deleite” (sensação ou sentimento aprazível; satisfação) e “leitura”. Cabe pontuar que, em razão de “deleite” estar isolado de um contexto, não é possível afirmar categoricamente que sua formação provém de “deleite”. Da mesma maneira, “namorido” é um cruzamento vocabular proveniente da combinação entre “namorado” e “marido”.

b) Incorreta. “Passatempo” é formado pela justaposição de “passa” + “tempo”. “Microvestido” é formado por prefixação, pois ocorre a junção do prefixo “micro” ao substantivo “vestido”.

c) Incorreta. “Hidrelétrica” é formado pela aglutinação de “hidro” + “elétrica”, processo no qual, ao aglutinarem-se, os componentes subordinam-se a um só acento tônico, o do último componente. Em “sabiamente” ocorre sufixação, pois o sufixo “mente”, formador de advérbios de modo, foi adicionado ao adjetivo “sábia”.

d) Incorreta. De acordo com o dicionário Michaelis, “arenista” é definido como “Que ou aquele que era partidário ou simpatizante da Arena (Aliança Renovadora Nacional), agremiação política que existiu no Brasil de 1965 a 1979. O vocábulo foi formado a partir da adição do sufixo “ista” – que exprime a noção de adepto de uma doutrina; princípio (comunista, budista, entre outros) –, à palavra “Arena”. Assim, ocorre sufixação. Já “girassol” é formado pela justaposição de “gira” + “sol”.

e) Incorreta. “Planalto” é formado pela aglutinação de “plano” + “alto”, processo no qual ocorre perda fonética (no caso, há perda do “o”). “Multicor” é formado por prefixação, pois há o acréscimo do prefixo “multi” à palavra “cor”.

Questão 68 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Modos, tempos, pessoas

Romance LIII ou Das Palavras Aéreas

Ai, palavras, ai, palavras,

que estranha potência, a vossa!

Ai, palavras, ai, palavras,

sois de vento, ides no vento,

no vento que não retorna,

e, em tão rápida existência,

tudo se forma e transforma!

 

Sois de vento, ides no vento

e quedais, com sorte nova! (...)

 

Ai, palavras, ai, palavras,

que estranha potência, a vossa!

Perdão podíeis ter sido!

- sois madeira que se corta,

- sois vinte degraus de escada,

- sois um pedaço de corda...

- sois povo pelas janelas,

cortejo, bandeiras, tropa...

 

Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa!

Éreis um sopro na aragem...

- sois um homem que se enforca!

 

Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência.


Ao substituir a pessoa verbal utilizada para se referir ao substantivo "palavras" pela 3a pessoa do plural, os verbos dos versos "sois de vento, ides no vento," (v. 4) / "Perdão podíeis ter sido!" (v. 12) / "Éreis um sopro na aragem..." (v. 20) seriam conjugados conforme apresentado na alternativa:



a)

são, vão, podiam, eram.

b)

seriam, iriam, podiam, serão.

c)

eram, foram, poderiam, seriam.

d)

são, vão, poderiam, eram.

e)

eram, iriam, podiam, seriam.

Resolução

Na questão, é solicitado que o candidato conjugue os verbos destacados na 3ª pessoa do plural, respeitando os tempos e modos verbais.

Em “sois de vento, ides no vento,” (v. 4), os verbos destacados estão conjugados na 2ª pessoa do plural do Presente do Indicativo. Mantendo-se o modo e tempo, mas alterando-se a pessoa verbal, temos: “são de vento, vão no vento”.

Em “Perdão podíeis ter sido!” (v. 12) e “Éreis um sopro na aragem...” (v. 20), os verbos destacados estão conjugados na 2ª pessoa do plural do Pretérito Imperfeito do Indicativo. Mantendo-se o modo e tempo, mas alterando-se a pessoa verbal, temos: “Perdão podiam ter sido!” e “Eram um sopro na aragem...”.

 

a) Correta. Os verbos estão conjugados em 3ª pessoa, mantendo os tempos e modos verbais referentes aos dois trechos do poema: são (Presente do Indicativo), vão (Presente do Indicativo), podiam (Pretérito Imperfeito do Indicativo) e eram (Pretérito Imperfeito do Indicativo).

b) Incorreta. Os tempos verbais correspondentes aos trechos não foram mantidos, com exceção da forma verbal podiam. Seriam (Futuro do Pretérito do Indicativo), iriam (Futuro do Pretérito do Indicativo), podiam (Pretérito Imperfeito do Indicativo), serão (Futuro do Presente do Indicativo).

c) Incorreta. Os verbos não mantêm o tempo verbal do poema: Eram (Pretérito Imperfeito do Indicativo), foram (Pretérito Perfeito do Indicativo), poderiam (Futuro do Pretérito do Indicativo) e seriam (Futuro do Pretérito do Indicativo).

d) Incorreta. As formas verbais são (Presente do Indicativo), vão (Presente do Indicativo) e eram (Pretérito Imperfeito do Indicativo) estão de acordo com o tempo verbal do poema, porém, o mesmo não ocorre com poderiam (Futuro do Pretérito do Indicativo)

e) Incorreta. Os tempos verbais correspondentes aos trechos não foram mantidos, com exceção da forma verbal podiam. Eram (Pretérito Imperfeito do Indicativo), iriam (Futuro do Pretérito do Indicativo), podiam (Pretérito Imperfeito do Indicativo) e seriam (Futuro do Pretérito do Indicativo).

Questão 69 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Romanceiro da Inconfidência

Romance LIII ou Das Palavras Aéreas

Ai, palavras, ai, palavras,

que estranha potência, a vossa!

Ai, palavras, ai, palavras,

sois de vento, ides no vento,

no vento que não retorna,

e, em tão rápida existência,

tudo se forma e transforma!

 

Sois de vento, ides no vento

e quedais, com sorte nova! (...)

 

Ai, palavras, ai, palavras,

que estranha potência, a vossa!

Perdão podíeis ter sido!

- sois madeira que se corta,

- sois vinte degraus de escada,

- sois um pedaço de corda...

- sois povo pelas janelas,

cortejo, bandeiras, tropa...

 

Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa!

Éreis um sopro na aragem...

- sois um homem que se enforca!

 

Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência.


A "estranha potência" que a voz lírica ressalta nas palavras decorre de uma combinação entre



a)

fluidez nos ventos do presente e conteúdo fixo no passado.

b)

forma abstrata no espaço e presença concreta na história.

c)

leveza impalpável na arte e vigor nos documentos antigos.

d)

sonoridade ruidosa nos ares e significado estável no papel.

e)

lirismo irrefletido da poesia e peso justo dos acontecimentos.

Resolução

a) Incorreta. No verso “sois de vento, ides no vento”, o tempo verbal conjugado no presente do indicativo expressa uma espécie de sentença ou verdade universal ou imutável. Nesse sentido, seria da natureza das palavras “ser de vento” e “ir no vento” em qualquer época e não necessariamente no presente da enunciação. A noção de fixidez apresentada pela resposta destoa da proposta de Cecília Meireles que, através do Romanceiro, pretende recriar a história da Inconfidência e dar vida a seus personagens através da poesia, de modo que o passado ganhe novos sentidos no presente.

b) Correta. A estranha potência das palavras é formada pela ambivalência entre sua forma abstrata no espaço e sua presença concreta na história. A forma abstrata no espaço refere-se à fluidez e à imaterialidade da linguagem, expressas pelos versos “sois de vento, ides no vento” e ainda “éreis um sopro na aragem”. Entretanto, embora as palavras aparentem ser efêmeras como o vento, a ponto de não deixarem rastros ou marcas, elas possuem uma força capaz de se corporificar em atos concretos que perfazem a história. O poema em questão aborda o fato de as palavras expressas nos discursos, cartas, reuniões, delações, confissões, processos, julgamentos e sentenças relativos à Inconfidência Mineira terem provocado a condenação e morte de Tiradentes. Metaforicamente, as palavras, antes abstratas, se materializaram em madeira, escada, corda, povo nas janelas, cortejos, bandeiras, tropas e, por fim, no enforcamento de um homem.

c) Incorreta. Para a poeta, a potência das palavras produz efeitos na vida e na história e não somente na arte. O contraponto “leveza na arte” e “vigor nos documentos antigos” não está posto no poema.

d) Incorreta. A caracterização das palavras como “sois de vento, ides no vento” e “éreis um sopro na aragem” refere-se a sua aparente efemeridade e não a sua suposta sonoridade ruidosa. Além disso, essa metáfora alude ao aspecto dinâmico das palavras que, ora são frágeis e ora tudo transformam, ou ainda, podem se converter em perdão ou condenação. Nesse sentido, tanto na oralidade como na escrita, os significados das palavras são sempre instáveis, não havendo sentidos fixos ou imutáveis.

e) Incorreta. De acordo com o poema, as palavras permeiam as atividades e as relações humanas e instauram a História, determinando a ocorrência das ações e acontecimentos. Tendo isso em vista, não é possível afirmar que o texto proponha uma contraposição entre “lirismo irrefletido da poesia” e “peso justo dos acontecimentos”.

Questão 70 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Romanceiro da Inconfidência Inconfidência Mineira Cultura na Ditadura Militar

Alferes, Ouro Preto em sombras

Espera pelo batizado,

Ainda que tarde sobre a morte do sonhador

Ainda que tarde sobre as bocas do traidor.

Raios de sol brilharão nos sinos:

Dez vias dar.

Ai Marilia, as liras e o amor

Não posso mais sufocar

E a minha voz irá

Pra muito além do desterro e do sal,

Maior que a voz do rei.


Aldir Blanc e João Bosco, trecho da canção "Alferes", de 1973.


A imagem deTiradentes – a quem Cecília Meireles qualificou "o Alferes imortal, radiosa expressão dos mais altos sonhos desta cidade, do Brasil e do próprio mundo", em palestra feita em Ouro Preto – torna a aparecer como símbolo da luta pela liberdade em vários momentos da cultura nacional. Os versos do letrista Aldir Blanc evocam, em novo contexto, o mártir sonhador para resistir ao discurso



a)

da doutrina revolucionária de ligas politicamente engajadas.

b)

da historiografia, que minimizou a importância de Tiradentes.

c)

de autoritarismo e opressão, próprio da ditadura militar.

d)

dos poetas árcades, que se dedicavam às suas liras amorosas.

e)

da tirania portuguesa sobre os mineradores no ciclo do ouro.

Resolução

a) Incorreta. As ligas politicamente engajadas seriam os movimentos que se opunham à Ditadura, combatendo o autoritarismo vigente. À vista disso, não faria sentido o autor da letra empregar a figura histórica de alguém que combateu a opressão para se contrapor a movimentos que, naquele contexto, defendiam a ação revolucionária contra o regime.

b) Incorreta. O público-alvo da canção não são os historiadores. Além disso, ao longo do século XX, a historiografia reforçou a importância de Tiradentes como um herói cívico que deu sua vida em nome da liberdade do Brasil, imagem esta que foi construída e reforçada desde a Proclamação da República.

c) Correta. O enunciado afirma que a imagem de Tiradentes aparece em vários momentos da história nacional como um símbolo de luta pela liberdade e que a letra de Aldir Blanc evoca, em um novo contexto, a figura do “mártir sonhador”. Em vista disso, é importante atentar para as referências autorais, em especial para a data em que a canção foi produzida, 1973, ano em que, sob o governo Médici, o país sofria o auge da repressão contra dissidentes, com a instauração de perseguição e tortura contra aqueles que se opunham ao regime. Nesse sentido, a figura de Tiradentes torna-se um símbolo de resistência contra a opressão vigente naquele período.

d) Incorreta. Muitos poetas árcades, tais como Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa também foram inconfidentes e partilharam os mesmos ideais de Tiradentes, logo, seria incoerente evocar a figura do herói para se contrapor a esses poetas.

e) Incorreta. Não obstante, o movimento da Inconfidência e Tiradentes terem se insurgido contra a Coroa portuguesa e a dominação que ela exercia sobre os mineradores, o enunciado deixa claro que a figura do mártir é evocada, em outros contextos históricos, como símbolo de liberdade e luta contra a opressão. Assim, é importante observar que o autor da letra, escrita em 1973, no auge da Ditadura, evoca a figura de Tiradentes para se opor à Ditadura.