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Fuvest 2020 - 1ª fase


Questão 31 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Adjective

Harlem

What happens to a dream deferred?

Does it dry up
like a raisin in the sun?
Or fester like a sore—
And then run?
Does it stink like rotten meat?
Or crust and sugar over—
like a syrupy sweet?

Maybe it just sags
like a heavy load.

Or does it explode?

Langston Hughes, Selected Poems of Langston Hughes (1990).
Disponível em http://www.poetryfoundation.org/.


As tentativas de resposta do poeta à pergunta “What happens to a dream deferred?” evocam imagens de



a)

animosidade e revolta.

b)

remorso e compaixão.

c)

deterioração e destruição.

d)

empatia e complacência.

e)

aprisionamento e passividade.

Resolução

Vamos ler o poema em tradução livre:

Harlem

o que acontece com um sonho adiado?

Seca
como uma passa ao sol?
Ou apodrecer como uma ferida -
E depois correr?
Fede como carne podre?
Ou crosta e açúcar por cima -
como um doce xarope?

Talvez apenas afunde
como uma carga pesada.

Ou ele explode?

Conforme se pode observar, as tentativas de resposta do poeta à pergunta "O que acontece com um sonho adiado?" evoca imagens de deterioração e destruição, quais sejam, secar, apodrecer, feder, afundar e explodir. Assim, a alternativa C é a correta.

Questão 32 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Claro Enigma

Cantiga de enganar

(...)
O mundo não tem sentido.
O mundo e suas canções
de timbre mais comovido
estão calados, e a fala
que de uma para outra sala
ouvimos em certo instante
é silêncio que faz eco
e que volta a ser silêncio
no negrume circundante.
Silêncio: que quer dizer?
Que diz a boca do mundo?
Meu bem, o mundo é fechado,
se não for antes vazio.
O mundo é talvez: e é só.

Talvez nem seja talvez.
O mundo não vale a pena,
mas a pena não existe.
Meu bem, façamos de conta.
De sofrer e de olvidar,
de lembrar e de fruir,
de escolher nossas lembranças
e revertê‐las, acaso
se lembrem demais em nós.
Façamos, meu bem, de conta
 – mas a conta não existe –
que é tudo como se fosse,
ou que, se fora, não era.
(...)

Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.


Em Claro Enigma, a ideia de engano surge sob a perspectiva do sujeito maduro, já afastado das ilusões, como se lê no verso‐síntese “Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.” (“Legado”). O excerto de “Cantiga de enganar” apresenta a relação do eu com o mundo mediada



a)

pela música, que ressoa em canções líricas.

b)

pela cor, brilhante na claridade solar.

c)

pela afirmação de valores sólidos.

d)

pela memória, que corre fluida no tempo.

e)

pelo despropósito de um faz‐de‐conta.

Resolução

a) Incorreta. Ainda que haja uma menção a “canções” no excerto, não é possível afirmar que a relação do eu com o mundo é mediada pela música, uma vez que esse paralelo não é o fio condutor do poema. Além disso, não há uma relação direta entre a forma de enxergar o mundo e as canções líricas.

b) Incorreta. Não há, no poema, uma relação entre a claridade solar e a forma de se relacionar com o mundo, uma vez que não há elementos que remetam a cores e luzes.

c) Incorreta. O poema trabalha, justamente, com o reconhecimento de que os valores não são sólidos (como se pode ver, por exemplo, nos versos O mundo não tem sentido; O mundo é talvez) e, por isso, é preciso olhar para eles de forma mais madura e concreta, pois o “faz-de-conta" não existe.

d) Incorreta. Não é possível afirmar que a relação do eu com o mundo aparece, no poema, mediada pela memória, uma vez que ela é apresentada apenas como uma das percepções que compõem a forma como o mundo deve ser enxergado. Além disso, a memória, no excerto, aparece como algo a ser manipulado, e, que portanto, não corre fluido no tempo.

e) Correta. O excerto revela um olhar maduro em relação ao mundo na medida em que aponta para elementos que não têm mais lugar nesse mundo – o mundo não tem sentido, está calado, é vazio, não vale a pena. Tendo isso em mente, traz como conselho “Meu bem, façamos de conta” de escolher lembranças e recontar um passado, para, logo em seguida, dizer que “a conta não existe”. Ou seja, o que se tem é o mundo como ele é – sem sentido – e isso deve ser encarado sem que se criem versões mais agradáveis da realidade.

Questão 33 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Angústia

Os textos literários são obras de discurso, a que falta a imediata referencialidade da linguagem corrente; poéticos, abolem, “destroem” o mundo circundante, cotidiano, graças à função irrealizante da imaginação que os constrói. E prendem‐nos na teia de sua linguagem, a que devem o poder de apelo estético que nos enleia; seduz‐nos o mundo outro, irreal, neles configurado (...). No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri‐lo, sentindo‐o e pensando‐o de maneira diferente e nova. A ilusão, a mentira, o fingimento da ficção, aclara o real ao desligar‐se dele, transfigurando‐o; e aclara‐o já pelo insight que em nós provocou.

Benedito Nunes, “Ética e leitura”, de Crivo de Papel.

O que eu precisava era ler um romance fantástico, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando‐se, traindo‐se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem.

Graciliano Ramos, Angústia.

Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma concessão ao gosto do público. Solilóquio doido, enervante.

Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, em nota a respeito de seu livro Angústia.


O argumento de Benedito Nunes, em torno da natureza artística da literatura, leva a considerar que a obra só assume função transformadora se



a)

estabelece um contraponto entre a fantasia e o mundo.

b)

utiliza a linguagem para informar sobre o mundo.

c)

instiga no leitor uma atitude reflexiva diante do mundo.

d)

oferece ao leitor uma compensação anestesiante do mundo.

e)

conduz o leitor a ignorar o mundo real.

Resolução

a) Incorreta. Para Benedito Nunes, não é o contraponto entre fantasia e mundo real que torna uma obra literária transformadora, uma vez que essa propriedade estaria associada à relação que cabe ao leitor estabelecer entre si mesmo, a obra e o mundo, e não necessariamente às características de fantasia que podem compor determinada obra.

b) Incorreta. A informatividade não é tratada, no texto, como uma característica que torna a literatura transformadora, uma vez que é necessário que haja um paralelo entre o que a obra literária trata e o olhar que o leitor oferece ao mundo.

c) Correta. De acordo com o texto, uma obra literária será transformadora se, a partir de sua leitura, o leitor conseguir reavaliar o mundo que o cerca (“redescobri-lo, sentindo-o e pensando-o de maneira diferente e nova”), com uma experiência “ampliada e renovada pela experiência da obra”. Nesse sentido, é correto afirmar que, se uma obra instigar no leitor uma atitude reflexiva diante do mundo, terá função transformadora.

d) Incorreta. Não é correto afirmar que, para Benedito Nunes, uma obra literária será transformadora se anestesiar o leitor, uma vez que este precisa, justamente, estar atento ao mundo e a novas interpretações dele, motivadas pela leitura de obras literárias.

e) Incorreta. Em nenhum momento, o texto afirma ser preciso ignorar o mundo real, ao contrário, é com o olhar voltado para este, e imbuído das reflexões propiciadas pela literatura, que se dá a transformação.

Questão 34 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Angústia

Os textos literários são obras de discurso, a que falta a imediata referencialidade da linguagem corrente; poéticos, abolem, “destroem” o mundo circundante, cotidiano, graças à função irrealizante da imaginação que os constrói. E prendem‐nos na teia de sua linguagem, a que devem o poder de apelo estético que nos enleia; seduz‐nos o mundo outro, irreal, neles configurado (...). No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri‐lo, sentindo‐o e pensando‐o de maneira diferente e nova. A ilusão, a mentira, o fingimento da ficção, aclara o real ao desligar‐se dele, transfigurando‐o; e aclara‐o já pelo insight que em nós provocou.

Benedito Nunes, “Ética e leitura”, de Crivo de Papel.

O que eu precisava era ler um romance fantástico, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando‐se, traindo‐se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem.

Graciliano Ramos, Angústia.

Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma concessão ao gosto do público. Solilóquio doido, enervante.

Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, em nota a respeito de seu livro Angústia.


Se o discurso literário “aclara o real ao desligar‐se dele, transfigurando‐o”, pode‐se dizer que Luís da Silva, o narrador-protagonista de Angústia, já não se comove com a leitura de “histórias fáceis, sem almas complicadas” porque



a)

rejeita, como jornalista, a escrita de ficção.

b)

prefere alienar‐se com narrativas épicas.

c)

é indiferente às histórias de fundo sentimental.

d)

está engajado na militância política.

e)

se afunda na negatividade própria do fracassado.

Resolução

a) Incorreta. Luís da Silva não rejeita a escrita de ficção. A própria narrativa de Angústia é empreendida por esse narrador para recompor literariamente os acontecimentos de sua vida que o levaram a cometer o assassinato de Julião Tavares. Embora seja um livro de memórias, o narrador encontra-se de tal forma abalado que, em sua história, tende a misturar a realidade à ficção, de modo a não ser possível separar esses dois campos da experiência.

b) Incorreta. O narrador chega a evocar as histórias épicas do cangaceiro José Bahia que conhecera em sua infância, entretanto, tais histórias não provocam sua alienação, pelo contrário, despertam-lhe a consciência do fracasso de vida.

c) Incorreta. Considerando que Luís da Silva afirma que “precisava ler um romance fantástico” e de confessar que “infelizmente, essas leituras já não me comovem”, não é possível sustentar que ele era indiferente às histórias de fundo sentimental. Pelo contrário, ao dizer que essas histórias não o comoviam, ele parece lamentar o fato de não conseguir fugir de sua realidade opressora apelando para esse tipo de leitura.

d) Incorreta. Luís da Silva não se engaja na luta política por apresentar um certo ceticismo quanto a um possível processo revolucionário. Além disso, a própria ideia de revolução o incomodava, pois ele temia que, num processo revolucionário, um intelectual como ele não teria mais lugar. Pode-se mencionar o episódio em que ele lê a frase do Manifesto Comunista – “Proletários do mundo, uni-vos” – escrita num muro de um bairro operário sem a vírgula e sem o hífen: nessa situação, ele se incomodou mais com as inadequações gramaticais do que com o caráter político da mensagem.

e) Correta. Luís da Silva é um funcionário público frustrado que, devido à precariedade de sua condição financeira, vê-se obrigado a escrever textos – poemas ou artigos políticos - sob encomenda para que outros os assinem. Vivendo em condições degradantes, numa casa pobre, cheia de ratos, ele remói suas frustrações de cidadão anônimo na cidade contrastando seu presente pobre com o passado de riqueza e poder de seus antepassados de origem rural. Traído por sua noiva Marina que o trocou por um sujeito “pulha” como Julião Tavares, o narrador mergulha num mundo sombrio de ressentimento e negatividade, no qual vê a si mesmo como um sujeito fracassado. Dessa forma, ele passar a nutrir um sentimento de ódio e abjeção direcionado a si próprio e a tudo o que está a sua volta. Considerando essa trajetória do personagem, entende-se por qual motivo ele não se comove com a leitura de “histórias fáceis, sem almas complicadas”.

Questão 35 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Angústia

Os textos literários são obras de discurso, a que falta a imediata referencialidade da linguagem corrente; poéticos, abolem, “destroem” o mundo circundante, cotidiano, graças à função irrealizante da imaginação que os constrói. E prendem‐nos na teia de sua linguagem, a que devem o poder de apelo estético que nos enleia; seduz‐nos o mundo outro, irreal, neles configurado (...). No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri‐lo, sentindo‐o e pensando‐o de maneira diferente e nova. A ilusão, a mentira, o fingimento da ficção, aclara o real ao desligar‐se dele, transfigurando‐o; e aclara‐o já pelo insight que em nós provocou.

Benedito Nunes, “Ética e leitura”, de Crivo de Papel.

O que eu precisava era ler um romance fantástico, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando‐se, traindo‐se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem.

Graciliano Ramos, Angústia.

Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma concessão ao gosto do público. Solilóquio doido, enervante.

Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, em nota a respeito de seu livro Angústia.


Para Graciliano Ramos, Angústia não faz concessão ao gosto do público na medida em que compõe uma atmosfera



a)

dramática, ao representar as tensões de seu tempo.

b)

grotesca, ao eliminar a expressão individual.

c)

satírica, ao reduzir os eventos ao plano do riso.

d)

ingênua, ao simular o equilíbrio entre sujeito e mundo.

e)

alegórica, ao exaltar as imagens de sujeira.

Resolução

a) Correta. O romance Angústia foi publicado em 1936, período em que o romance social de caráter regionalista, em voga no contexto literário nacional, lograva de grande aceitação por parte do público leitor. A expectativa dos leitores era encontrar nos livros a crítica da realidade nacional e o espírito de engajamento que caracterizou os autores de 30. Essa obra, no entanto, vai além das expectativas do leitor e aborda temas relacionados ao romance moderno: o drama do indivíduo em crise consigo mesmo bem como o questionamento da autoridade do narrador como detentor da verdade. Dessa forma, o objeto central dessa narrativa centra-se na especulação psicológica acerca do sujeito moderno e na crise do próprio romance, temas que refletem as tensões que preocupam a literatura no século XX.

b) Incorreta. A narrativa de Angústia centra-se na expressão individual de Luís da Silva, narrador-personagem atormentado por seus conflitos interiores.

c) Incorreta. Não se verifica a ocorrência da sátira em Angústia, uma vez que o narrador não recorre ao riso para fazer a crítica dos costumes sociais.

d) Incorreta. Grande parte do drama vivido por Luís da Silva é decorrente de seu conflito com o mundo externo, logo, é equivocado afirmar que haja equilíbrio entre ele e a realidade que o cerca.

e) Incorreta. De acordo com o depoimento de Graciliano Ramos em Memórias do Cárcere, o romance Angústia é desagradável pois apresenta um “ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de podridões, de lixo”. Essa sujeira pode ser observada no ambiente no qual o narrador Luís da Silva vive: sua casa é velha, suja e povoada de ratos, enquanto seu quintal é transformado num depósito de lixo. Esse ambiente degradado pode ser interpretado tanto numa chave naturalista como numa perspectiva alegórica, uma vez que acaba por representar os aspectos mais deteriorados da personalidade e da psicologia de Luís da Silva. O sentimento de abjeção que ele sente por si mesmo estende-se para os espaços em que ele vive e termina por contaminar também todos os outros personagens. Assim, a sujeira torna-se um símbolo negativo da degradação moral do narrador, não cabendo, portanto, afirmar que na obra ocorra a exaltação das imagens relacionadas a ela.

Questão 36 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Sujeito e predicado

Leia o trecho extraído de uma notícia veiculada na internet:

“O carro furou o pneu e bateu no meio fio, então eles foram obrigados a parar. O refém conseguiu acionar a população, que depois pegou dois dos três indivíduos e tentaram linchar eles. O outro conseguiu fugir, mas foi preso momentos depois por uma viatura do 5º BPM”, afirmou o major.

Disponível em https://www.gp1.com.br/.


No português do Brasil, a função sintática do sujeito não possui, necessariamente, uma natureza de agente, ainda que o verbo esteja na voz ativa, tal como encontrado em:



a)

“O carro furou o pneu”.

b)

“e bateu no meio fio”.

c)

“O refém conseguiu acionar a população”.

d)

“tentaram linchar eles”.

e)

“afirmou o major”.

Resolução

A tradição gramatical e, consequentemente, as gramáticas escolares costumam tratar a função “sujeito” de forma simplista. Muitos manuais se resumem a definir sujeito como “aquele que pratica ação”. Numa sentença como “O menino quebrou o vaso”, essa definição nos levaria a atribuir essa função a “O menino”. No entanto, em “O vaso foi quebrado pelo menino”, teríamos que assumir que o sujeito também deve/pode ser “o termo que sofre a ação”. A observação das vozes verbais poderia lançar luz nesses exemplos: no primeiro caso há um verbo na voz ativa e, portanto, um sujeito agente; já no segundo, trata-se de um sujeito paciente. Veja-se que ambas as definições só se aplicariam a sujeitos de verbos que designam ações (“A pedra existe” ou “João está alegre” causariam problemas a quem quisesse identificar os sujeitos a partir da “ação”). Além dessas inconsistências iniciais, os gramáticos costumam deixar de fora análises de enunciados como “A porta bateu” ou “o espelho quebrou”. Nesses exemplos, os verbos estão aparentemente na voz ativa (em oposição às passivas “foi batida” e “foi quebrado”), embora seus sujeitos não sejam agentes da ação expressa por eles. Essa propriedade, longamente estudada por linguistas, recebe o nome de ergatividade, uma construção típica do português falado no Brasil. Assim, os sujeitos “A porta” e “O espelho” são pacientes, apesar de os verbos não estarem na voz passiva. A questão provoca o candidato a perceber (sem citar a referida propriedade) que uma entre as alternativas é representante desse fenômeno.

a) Correta. O sujeito não é agente, embora o verbo aparentemente esteja na voz ativa. Uma paráfrase seria “O pneu do carro foi furado”.

b) Incorreta. Nesse caso, o sujeito oculto se refere a “O carro”, que é agente de “bater”.

c) Incorreta. “O refém” é agente de “conseguiu acionar”, uma vez que desempenha essa atividade.

d) Incorreta. Há uma silepse (concordância inusitada, imprevista) entre “população”, que encerra uma ideia plural, e “tentaram linchar”. O sujeito é responsável pela ação.

e) Incorreta.  Nesse caso, há uma inversão sintática: “o major afirmou”. Dessa forma, também é um sujeito agente.

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aliteração

amora

a palavra amora
seria talvez menos doce
e um pouco menos vermelha
se não trouxesse em seu corpo
(como um velado esplendor)
a memória da palavra amor

a palavra amargo
seria talvez mais doce
e um pouco menos acerba
se não trouxesse em seu corpo
(como uma sombra a espreitar)
a memória da palavra amar

Marco Catalão, Sob a face neutra.


É correto afirmar que o poema



a)

aborda o tema da memória, considerada uma faculdade que torna o ser humano menos amargo e sombrio.

b)

enfoca a hesitação do eu lírico diante das palavras, o que vem expresso pela repetição da palavra “talvez”.

c)

apresenta natureza romântica, sendo as palavras “amora” e “amargo” metáforas do sentimento amoroso.

d)

possui reiterações sonoras que resultam em uma tensão inusitada entre os termos “amor” e “amar”.

e)

ressalta os significados das palavras tal como se verificam no seu uso mais corrente.

Resolução

a) Incorreta. O termo “memória” no poema remete à imagem sonora, à semelhança fônica entre as palavras amor/amora e amar/amargo.

b) Incorreta. O advérbio “talvez”, na posição em que se encontra (“seria talvez menos doce” e “seria talvez mais doce”) incide sobre “mais” e “menos”, atenuando-os. Assim, não marca hesitação. Compare-se com: “talvez fosse menos doce”.

c) Incorreta. O artifício empregado pelo sujeito lírico desconstrói as palavras “amora” e “amargo”. Assim, as palavras passam a ressignificar, a partir das associações propostas. Ou seja, não há metáforas, porque as palavras não importam tanto pelo que significam, mas pelo que soam.

d) Correta. O poeta decompõe os significantes “AMORa” e “AMARgo” para buscar neles segmentos que passam a referir aos seus significados de maneira contrastante, tensionando a arbitrariedade dos signos. Amor atribuiria a amora a docura e a vermelhidão (1ª estrofe), ao passo que amar conferiria a amargo seu amargor (2ª estrofe). Dessa forma, o substantivo se opõe ao verbo, numa relação de euforia e disforia. O poema parece sugerir que o amor, enquanto ideia, seja agradável, e sua realização, acerba.

e) Incorreta. Como se justificou acima, houve uma ressignificação das palavras “amora” e “amargo”, pela sua sugestão sonora. Por isso, o significado não é o de seu uso mais corrente, como afirma a alternativa.

Questão 38 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Substantivo Adjetivo

amora

a palavra amora
seria talvez menos doce
e um pouco menos vermelha
se não trouxesse em seu corpo
(como um velado esplendor)
a memória da palavra amor

a palavra amargo
seria talvez mais doce
e um pouco menos acerba
se não trouxesse em seu corpo
(como uma sombra a espreitar)
a memória da palavra amar

Marco Catalão, Sob a face neutra.


Tal como se lê no poema, (



a)

a palavra “amora” é substantivo, e “amargo”, adjetivo.

b)

o verbo “amar” ameniza o amargor da palavra “amargo”.

c)

o substantivo “corpo” apresenta sentido denotativo.

d)

o substantivo “amor” intensifica o dulçor da palavra “amora”.

e)

o verbo “amar” e o substantivo “amor” são intercambiáveis.

Resolução

a) Incorreta. Embora “amora” seja substantivo, “amargo” não é empregado como adjetivo, mas como substantivo, que se apõe a “palavra”.

b) Incorreta. Ao contrário do que se afirma, “amar” não abranda, mas torna mais penoso o substantivo “amargo”.

c) Incorreta. “Corpo”, nos versos em que aparece, tem sentido metafórico. Assim, sugere-se a materialidade da palavra, falada ou escrita.

d) Correta. Na primeira estrofe (“a palavra amora/ seria talvez menos doce/ e um pouco menos vermelha/ se não trouxesse em seu corpo/(como um velado esplendor)/ a memória da palavra amor”), observa-se que o eu lírico atribui à amora parcela de sua doçura e de sua cor, graças à presença de “amor” em seu interior (em seu corpo).

e) Incorreta. Essas palavras são colocadas pelo eu lírico numa chave de oposição: amor é doce; amar, amargo. Esse contraste inviabiliza a permutação deles.

Questão 39 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos literários

Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que a pisa.

Mas mais frágil fica a bota.

Gonçalo M. Tavares, 1: poemas.

*sesta: repouso após o almoço.


Considerando que se trata de um texto literário, uma interpretação que seja capaz de captar a sua complexidade abordará o poema como



a)

uma defesa da natureza.

b)

um ataque às forças armadas.

c)

uma defesa dos direitos humanos.

d)

uma defesa da resistência civil.

e)

um ataque à passividade.

Resolução

Ao poema de Tavares (“Uma planta é perturbada na sua sesta pelo exército que a pisa./ Mas mais frágil fica a bota.”) pode-se atribuir uma leitura conotativa. Nesse sentido, um percurso figurativo poderia associar o exército e sua bota à força, à violência que marcha impiedosamente sobre tudo aquilo que se põe à sua frente, que lhe oferece mais ou menos resistência ao avanço. A planta, incomodada em seu sono, é pisada pela tropa. Pela prosopopeia (“perturbada na sua sesta”), seria possível ler a planta como humana, num sentido mais amplo. Assim, haveria duas classes de homens, os que agridem (exército) e os que são agredidos (planta). De maneira contraintuitiva, no entanto, os agressores sofrem uma resposta a seu ataque, “Mas mais frágil fica a bota”. Atente-se para o advérbio “mais”: a bota [já] seria frágil e se torna mais frágil ao atacar a planta. Por isso, numa leitura do poema para além do literal, homens que não fazem parte do braço armado do Estado podem resistir a ele, pacificamente. Esse movimento parece inequivocamente estar associado a episódios de resistência civil como os de Gandhi ou Luther King. Essa resistência civil contunde sem atacar, como nos exemplos históricos, e derrota o ofensor sem entrar no jogo da violência. As greves, boicotes, protestos pacíficos desestabilizam os sistemas de opressão sem o emprego da reação violenta, como a planta que fragiliza ainda mais a bota. Por tudo o que se afirmou acima, é condizente com a leitura figurada do poema a alternativa D.

Questão 40 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos literários

Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que a pisa.

Mas mais frágil fica a bota.

Gonçalo M. Tavares, 1: poemas.

*sesta: repouso após o almoço.


O ditado popular que se relaciona melhor com o poema é:



a)

Para bom entendedor, meia palavra basta.

b)

Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. 

c)

Quem com ferro fere, com ferro será ferido.

d)

Um dia é da caça, o outro é do caçador.

e)

Uma andorinha só não faz verão.

Resolução

a) Incorreta. O ditado popular “Para bom entendedor, meia palavra basta” faz referência a uma situação em que um subentendido pode ser recuperado pelos interlocutores, que mantêm algum tipo de conhecimento compartilhado. Não é possível identificar como essa condição se aplica ao poema, uma vez que a dinâmica nele retratada remete a relações de poder, e não de troca.

b) Incorreta. O ditado popular “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura” aponta para uma situação de persistência, em que o mais fraco, por meio de uma luta ininterrupta, consegue vencer o mais forte. Entretanto, no poema, vê-se a situação inversa: o mais forte (a bota) exercendo sua força sobre o mais fraco (a planta).

c) Incorreta. O ditado popular “Quem com ferro fere, com ferro será ferido” remete à ideia de que uma agressão será respondida com outra na mesma proporção. No poema, isso não ocorre, já que a força aplicada pelo exército sobre a planta é superior à força que a planta exerce sobre a bota.

d) Correta. O ditado popular “Um dia é da caça, o outro é do caçador” aponta para uma alternância que pode ser verificada no poema: no momento inicial (“Uma planta é perturbada na sua sesta pelo exército que a pisa”), a planta pode ser interpretada como o lado mais fraco da disputa, ou seja, a caça. Já num segundo momento (“Mas mais frágil fica a bota”), após ser agredida, a planta é capaz de causar dano à parte mais forte, ou seja, o caçador. Logo, existe uma diminuição do desequilíbrio de forças entre os dois sujeitos, assim como ocorre no ditado. Numa interpretação mais ampla, a caça pode ser associada à população civil, constantemente reprimida por forças militares, sendo estas representativas da figura do caçador. Assim, no momento em que as forças militares são fragilizadas, a população civil ganha poder por meio da resistência.

e) Incorreta. O ditado popular “Uma andorinha só não faz verão” relaciona-se à noção de que a união é necessária para que mudanças significativas aconteçam. Esse ditado não se articula diretamente ao poema, uma vez que, nele, um único indivíduo (a planta) foi capaz de provocar alguma mudança nas estruturas que o rodeiam (a bota fica mais frágil).