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Fuvest 2020 - 1ª fase


Questão 41 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Pontuação

O Twitter é uma das redes sociais mais importantes no Brasil e no mundo. (...) Um estudo identificou que as fake news são 70% mais propensas a serem retweetadas do que fatos verdadeiros. (...) Outra conclusão importante do trabalho diz respeito aos famosos bots: ao contrário do que muitos pensam, esses robôs não são os grandes responsáveis por disseminar notícias falsas. Nem mesmo comparando com outros robozinhos: tanto os que espalham informações mentirosas quanto aqueles que divulgam dados verdadeiros alcançaram o mesmo número de pessoas.

 Super Interessante, “No Twitter, fake news se espalham 6 vezes mais rápido que notícias verdadeiras”. Maio/2019.


No período “Nem mesmo comparando com outros robozinhos: tanto os que espalham informações mentirosas quanto aqueles que divulgam dados verdadeiros alcançaram o mesmo número de pessoas.”, os dois‐pontos são utilizados para introduzir uma



a)

conclusão.

b)

concessão.

c)

explicação.

d)

contradição.

e)

condição.

Resolução

No trecho apresentado, os dois-pontos introduzem um comentário (“tanto os que espalham [...] número de pessoas”) que detalha a afirmação feita anteriormente (“Nem mesmo comparando a outros robozinhos”). O sentido expresso pelo sinal de pontuação, neste caso, então, é o de explicação, sendo invalidadas as interpretações que o avaliam como introduzindo uma conclusão, uma concessão, uma contradição ou uma condição.

Questão 42 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Sagarana

Agora, o Manuel Fulô, este, sim! Um sujeito pingadinho, quase menino – “pepino que encorujou desde pequeno” – cara de bobo de fazenda, do segundo tipo –; porque toda fazenda tem o seu bobo, que é, ou um velhote baixote, de barba rara no queixo, ou um eterno rapazola, meio surdo, gago, glabro* e alvar**. Mas gostava de fechar a cara e roncar voz, todo enfarruscado, para mostrar brabeza, e só por descuido sorria, um sorriso manhoso de dono de hotel. E, em suas feições de caburé*** insalubre, amigavam‐se as marcas do sangue aimoré e do gálico herdado: cabelo preto, corrido, que boi lambeu; dentes de fio em meia‐lua; malares pontudos; lobo da orelha aderente; testa curta, fugidia; olhinhos de viés e nariz peba, mongol.

 Guimarães Rosa, “Corpo fechado”, de Sagarana.

*sem pelos, sem barba **tolo ***mestiço


O retrato de Manuel Fulô, tal como aparece no fragmento, permite afirmar que



a)

há clara antipatia do narrador para com a personagem, que por isso é caracterizada como “bobo de fazenda”.

b)

estão presentes traços de diferentes etnias, de modo a refletir a mescla de culturas própria ao estilo do livro.

c)

a expressão “caburé insalubre” denota o determinismo biológico que norteia o livro.

d)

é irônico o trecho “para mostrar brabeza”, pois ao fim da narrativa Manuel Fulô sofre derrota na luta física.

e)

se apontam em sua fisionomia os “olhinhos de viés” para caracterizar a personagem como ingênua.

Resolução

a) Incorreta. O narrador de Corpo Fechado é um médico da cidade grande que se encontra num povoado perdido no sertão. Nesse lugar, ele trava amizade com o sertanejo Manuel Fulô, de quem virá a ser padrinho de casamento. Considerando, portanto, o contexto do conto, não é possível afirmar que haja clara antipatia desse narrador para o personagem. Partindo-se do excerto apresentado, pode-se observar que esse narrador faz uma representação de Manuel Fulô a partir de seu ponto de vista de homem culto da cidade. Assim, verifica-se que, nesse retrato do personagem, o narrador adota uma perspectiva um tanto afetiva, evidenciada pelo uso de diminutivos (pingadinho, olhinhos), entretanto, essa afetividade é permeada por um certo sentimento de superioridade resultante da percepção da diferença social que os separa. Assim, pode-se considerar que, no fragmento, verifica-se uma atitude benevolente e condescendente do narrador em relação a um personagem que, na sua visão, seria alguém mais simples e de condição social inferior.

b) Correta. Os traços de diferentes etnias aparecem na descrição de Manuel Fulô, apresentado como um mestiço (caburé), resultado da miscigenação entre o sangue indígena aimoré e o sangue gálico (francês). Essa miscigenação de etnias reflete, de fato, uma das características definidoras de Sagarana, obra caracterizada pela mescla de elementos regionais, representados aqui pela cultura indígena e elementos estrangeiros, referidos pela menção à presença europeia na constituição do povo brasileiro.

c) Inocorreta. De fato, a expressão “caburé insalubre” denota um certo determinismo biológico, uma vez que recupera um pressuposto da teoria determinista do século XIX segundo a qual a mistura de raças geraria indivíduos mais fracos e debilitados. Não há como não relacionar a expressão presente nesse conto com a célebre frase presente em Os Sertões, de Euclides da Cunha: "O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral”. De acordo com essa sentença, o sertanejo seria forte, por ser uma “raça pura”, que não passou pelo processo de miscigenação, já o “mestiço do litoral” apresentaria uma constituição física frágil, adoentada, raquítica, neurastênica, por ser fruto da mistura de raças. A alternativa erra, contudo, ao considerar que o determinismo biológico norteia o livro, pois, embora esse aspecto apareça de modo secundário na caracterização do personagem, não é a partir dele que as ações do conto irão se desenvolver. A perspectiva adotada por Guimarães Rosa na elaboração da trama narrativa de Sagarana supera tais questões ao introduzir a realidade sertaneja a partir de uma perspectiva universal e transcendente.

d) Incorreta. Manuel Fulô é desafiado pelo valentão Targino que o havia intimado a ceder-lhe sua noiva na noite anterior ao casamento. Sendo mais fraco que o bandido, o personagem recorre ao feiticeiro Antonico das Pedras Águas que, num ritual mágico, fecha seu corpo tornando-o invulnerável a qualquer ataque. Acreditando estar protegido, Manuel desafia Targino para um duelo e o mata, eliminando, assim, o bandido que perturbava a paz daquela localidade. Logo, é incorreto afirmar que Manuel Fulô sofre derrota na luta física.

e) Incorreta. Não há nenhuma relação entre o traço da fisionomia “olhinhos de viés” com a característica psicológica da ingenuidade. Pode-se interpretar que esse modo de olhar, indireto, “torto”, expressaria um caráter dissimulado de quem procura ocultar ou ainda disfarçar suas intenções.

Questão 43 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos literários

O feminismo negro não é uma luta meramente identitária, até porque branquitude e masculinidade também são identidades. Pensar feminismos negros é pensar projetos democráticos. Hoje afirmo isso com muita tranquilidade, mas minha experiência de vida foi marcada pelo incômodo de uma incompreensão fundamental. Não que eu buscasse respostas para tudo. Na maior parte da minha infância e adolescência, não tinha consciência de mim. Não sabia por que sentia vergonha de levantar a mão quando a professora fazia uma pergunta já supondo que eu não saberia a resposta. Por que eu ficava isolada na hora do recreio. Por que os meninos diziam na minha cara que não queriam formar par com a “neguinha” na festa junina. Eu me sentia estranha e inadequada, e, na maioria das vezes, fazia as coisas no automático, me esforçando para não ser notada.

Djamila Ribeiro, Quem tem medo do feminismo negro?.


O trecho que melhor define a “incompreensão fundamental” referida pela autora é:



a)

“não que eu buscasse respostas para tudo”

b)

“não tinha consciência de mim”.

c)

“Por que eu ficava isolada na hora do recreio”

d)

“me esforçando para não ser notada”.

e)

“sentia vergonha de levantar a mão”.

Resolução

a) Incorreta. A autora justifica que seu incômodo não foi causado por uma busca incessante por respostas, mas, sim, pela falta de consciência sobre si mesma.

b) Correta. Segundo Djamila Ribeiro, sua experiência de vida foi marcada “pelo incômodo de uma incompreensão fundamental”. Tal incômodo fica explícito nos trechos em que a autora narra sua juventude. Segundo ela, “eu me sentia estranha e inadequada, e, na maioria das vezes, fazia as coisas no automático, me esforçando para não ser notada”. Esse desconforto era fruto de sua falta de consciência sobre si própria, o que marcou a maior parte de sua infância e adolescência.

c) Incorreta. “Por que eu ficava isolada na hora do recreio” é um exemplo que ilustra a falta de consciência da autora, uma vez que ela não sabia por que as situações relatadas aconteciam (sentir vergonha de fazer uma pergunta à professora, ficar sozinha no recreio...). Pela leitura do texto, é possível depreender que tais acontecimentos eram consequência do racismo institucionalizado no ambiente escolar.

d) Incorreta. Em seu relato, a autora deixa claro que, por se sentir estranha e inadequada, fazia as coisas no automático e se esforçada para não ser notada. Tal sentimento é fruto, justamente, de sua incompreensão fundamental, causada pela falta de consciência.

e) Incorreta. Assim como na alternativa “C”, o trecho trazido compõe um relato sobre a juventude de Djamila, que é construído para fundamentar a ideia de que “pensar feminismos negros é pensar projetos democráticos”.

Questão 44 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Quincas Borba

E Sofia? interroga impaciente a leitora, tal qual Orgon: Et Tartufe? Ai, amiga minha, a resposta é naturalmente a mesma, – também ela comia bem, dormia largo e fofo, – coisas que, aliás, não impedem que uma pessoa ame, quando quer amar. Se esta última reflexão é o motivo secreto da vossa pergunta, deixai que vos diga que sois muito indiscreta, e que eu não me quero senão com dissimulados.
Repito, comia bem, dormia largo e fofo. Chegara ao fim da comissão das Alagoas, com elogios da imprensa; a Atalaia chamou‐lhe “o anjo da consolação”. E não se pense que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse; ao contrário, resumindo em Sofia toda a ação da caridade, podia mortificar as novas amigas, e fazer‐lhe perder em um dia o trabalho de longos meses. Assim se explica o artigo que a mesma folha trouxe no número seguinte, nomeando, particularizando e glorificando as outras comissárias – “estrelas de primeira grandeza”.

Machado de Assis, Quincas Borba.


No excerto, o autor recorre à intertextualidade, dialogando com a comédia de Molière, Tartufo (1664), cuja personagem central é um impostor da fé. Tal é a fama da peça que o nome próprio se incorporou ao vocabulário, inclusive em português, como substantivo comum, para designar o “indivíduo hipócrita” ou o “falso devoto”. No contexto maior do romance, sugere‐se que a tartufice



a)

se cola à imagem da leitora, indiscreta quanto aos amores alheios.

b)

é ação isolada de Sofia, arrivista social e benemérita fingida.

c)

diz respeito ao filósofo Quincas Borba, o que explica o título do livro.

d)

se produz na imprensa, apesar de esta se esquivar da eloquência vazia.

e)

se estende à sociedade, na qual o cinismo é o trunfo dos fortes.

Resolução

a) Incorreta. A leitora é considerada indiscreta pelo narrador, pois não consegue dissimular sua vontade de saber se Sofia amava. Nesse sentido, por não conseguir disfarçar suas intenções e também por não ser hipócrita, a leitora não pode ser associada à tartufice.

b) Incorreta. De fato, Sofia age de modo hipócrita e fingido ao usar da caridade da comissão das Alagoas (grupo de senhoras da alta sociedade que se dedicou a recolher donativos para os flagelados das Alagoas) como forma de obter maior prestígio social. Entretanto, a alternativa erra ao afirmar que a tartufice é uma ação isolada de Sofia, uma vez que ela também age de modo hipócrita na relação que estabelece com Rubião, fazendo-o acreditar que ela nutria algum interesse amoroso por ele para que, assim, o ingênuo herdeiro de Quincas Borba continuasse financiando os projetos de seu marido Cristiano Palha. Este, por sua vez, também procede com hipocrisia, dissimulando seus interesses financeiros sobre a Fortuna de Rubião sob as aparências de preocupação e amizade. As próprias amigas de Sofia não escapam do julgamento do autor, uma vez que o fato de não serem mencionadas pelo jornal como “anjos de caridade” poderia ferir seu orgulho, uma vez que elas também desejavam projetar-se socialmente através das obras de caridade. A partir desses exemplos, percebe-se que a tartufice não é, portanto, uma atitude exclusiva de Sofia, mas uma norma de conduta generalizada em toda a sociedade retrata pela obra.

c) Incorreta. A tartufice não pode ser atribuída ao filósofo Quincas Borba, uma vez que esse personagem, já atingido pela loucura, acreditava, de fato, no Humanitismo, teria filosófica criada por ele na tentativa de explicar e justificar a vitória dos mais fortes sobre os mais fracos. Para Quincas Borba, as guerras, a fome e as injustiças eram manifestações de um mesmo fenômeno vital, cujo único objetivo era a sua própria manutenção. O personagem poderia ser considerado hipócrita se houvesse elaborado essa teoria somente como uma forma de justificar sua consciência diante de uma suposta exploração dos mais fracos, da qual ele seria o agente.

d) Incorreta. Os termos “anjos da consolação” e “estrelas de primeira grandeza” exemplificam a eloquência vazia da imprensa.

e) Correta. O enunciado da questão chama a atenção para o contexto maior do romance, devendo o candidato atentar não apenas para a personagem Sofia, mas para o conjunto da obra. Dessa forma, é importante ter presente que o cinismo é a característica dominante da alta sociedade carioca da segunda metade do século XIX, retratada pelo romance. Para conseguirem alcançar seus objetivos de ascensão social e acumulação de riquezas, os personagens devem dissimular e agir de acordo com um código de condutas que lhes possibilitava mascarar suas intenções. Foi dessa forma, por exemplo, que o casal Sofia e Cristiano Palha conseguiu enganar o ingênuo Rubião e apossar-se de sua fortuna.

 

 

Questão 45 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Conjunções (valores semânticos)

E Sofia? interroga impaciente a leitora, tal qual Orgon: Et Tartufe? Ai, amiga minha, a resposta é naturalmente a mesma, – também ela comia bem, dormia largo e fofo, – coisas que, aliás, não impedem que uma pessoa ame, quando quer amar. Se esta última reflexão é o motivo secreto da vossa pergunta, deixai que vos diga que sois muito indiscreta, e que eu não me quero senão com dissimulados.
Repito, comia bem, dormia largo e fofo. Chegara ao fim da comissão das Alagoas, com elogios da imprensa; a Atalaia chamou‐lhe “o anjo da consolação”. E não se pense que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse; ao contrário, resumindo em Sofia toda a ação da caridade, podia mortificar as novas amigas, e fazer‐lhe perder em um dia o trabalho de longos meses. Assim se explica o artigo que a mesma folha trouxe no número seguinte, nomeando, particularizando e glorificando as outras comissárias – “estrelas de primeira grandeza”.

Machado de Assis, Quincas Borba.


Considerando o contexto, o trecho “E não se pense que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse” pode ser reescrito, sem prejuízo de sentido, da seguinte maneira: E não se pense que este nome a alegrou,



a)

apesar de lisonjeá‐la.

b)

antes a lisonjeou.

c)

porque a lisonjeava.

d)

a fim de lisonjeá‐la.

e)

tanto quanto a lisonjeava.

Resolução

Em “E não se pense que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse”, “posto que” poderia ser substituído, sem prejuízo de sentido, por “apesar de”. Isso pois, no excerto trazido pela questão, há uma ideia concessiva: apesar de lisonjeá-la, o nome não a alegrou. Assim, há a expressão de uma ideia contrária à principal, já que, por se sentir lisonjeada, há a expectativa de que a personagem se alegre ao ser chamada de “anjo da consolação”.

Em visto disso, a única alternativa que apresenta um conector com valor concessivo é a letra “A”.

Questão 46 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Minha vida de menina Claro Enigma

    Hoje  fizeram  o  enterro  de  Bela.  Todos  na  Chácara  se  convenceram  de  que  ela  estava  morta,  menos  eu.  Se  eu  pudesse não deixaria enterrá‐la ainda. Disse isso mesmo a  vovó, mas ela disse que não se pode fazer assim. Bela estava  igualzinha à que ela era no dia em que chegou da Formação,  só um pouquinho mais magra.

     Todos dizem que o sofrimento da morte é a luta da alma  para se largar do corpo. Eu perguntei a vovó: “Como é que a  alma dela saiu sem o menor sofrimento, sem ela fazer uma  caretinha que fosse?”. Vovó disse que tudo isso é mistério, que  nunca a gente pode saber essas coisas com certeza. Uns  sofrem muito quando a alma se despega do corpo, outros 

morrem de repente sem sofrer.

Helena Morley, Minha Vida de Menina.

Perguntas 

Numa incerta hora fria 

perguntei ao fantasma  

que força nos prendia,  

ele a mim, que presumo 

estar livre de tudo 

eu a ele, gasoso, 

(...) 

No voo que desfere 

silente e melancólico, 

rumo da eternidade, 

ele apenas responde 

(se acaso é responder  

a mistérios, somar‐lhes  

um mistério mais alto): 

Amar, depois de perder.

 
Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.

 


As perguntas da menina e do poeta versam sobre a morte. É  correto afirmar que 



a)

ambos guardam uma dimensão transcendente e católica, de origem mineira. 

b)

ambos ouvem respostas que lhes esclarecem em definitivo as dúvidas existenciais. 

c)

a menina mostra curiosidade acerca da morte como episódio e o poeta especula o sentido filosófico da morte. 

d)

 a menina está inquieta por conhecer o destino das almas,  enquanto o poeta critica o ceticismo. 

e)

as duas respostas reforçam os mistérios da vida ao acolherem crenças populares. 

Resolução

a) Incorreta. A obra de Helena Morley apresenta influência do catolicismo, fruto do contexto religioso de Diamantina (MG). Além disso, ao versar sobre a morte, é possível afirmar que há uma perspectiva transcendente. O último aspecto também está claramente presente na especulação de Drummond, no entanto, neste poema não há ótica religiosa, já que a reflexão é universal.

b) Incorreta. No primeiro texto, Helena recebe respostas de sua avó sobre os questionamentos feitos, mas elas não encerram as dúvidas existenciais da garota, uma vez que, segundo ela, “vovó disse que tudo isso é mistério, que a gente nunca pode saber essas coisas com certeza”. No poema, apesar de o fantasma ter respondido à pergunta do eu lírico, não é possível sustentar que suas dúvidas tenham sido definitivamente sanadas, pois o texto não apresenta elementos suficientes para comprovar essa afirmação.

c) Correta. No trecho de “Minha Vida de Menina”, Helena narra sua curiosidade acerca da morte de Bela. Nesse episódio, a garota não se convence de que de Bela morreu, pois ela “estava igualzinha à que ela era no dia em que chegou à Formação, só um pouquinho mais magra”. Além disso, questiona sua avó acerca da possibilidade de não enterrar o cadáver e reflete sobre o momento em que a alma se separa do corpo físico. Já em “Clara Enigma”, eu lírico indaga a um fantasma: “Numa incerta hora fria / perguntei ao fantasma / que força nos prendia / ele a mim, que presumo / estar livre de tudo / eu a ele, gasoso”. Tal questionamento é respondido no último verso do poema: [a força que nos prende é] Amar, depois de perder. Assim, é possível afirmar que, nesse diálogo, o poeta especula o sentido filosófico da morte.

d) Incorreta. A menina não conhece o destino das almas, o que a deixa inquieta e motiva os questionamentos dirigidos à avó. Outrossim, não é possível comprovar que o autor critica o ceticismo, pois não há elementos no poema que apontem para essa conclusão.

e) Incorreta. Na análise dos dois textos, o único trecho que sinaliza para uma crença popular é a afirmação “Todos dizem que o sofrimento da morte é a luta da alma para se largar do corpo”, presente no início do segundo parágrafo de “Minha Vida de Menina”.

Questão 47 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Gregório de Matos

A certa personagem desvanecida 


Um soneto começo em vosso gabo*: 

Contemos esta regra por primeira, 

Já lá vão duas, e esta é a terceira, 

Já este quartetinho está no cabo. 

 

Na quinta torce agora a porca o rabo; 

A sexta vá também desta maneira: 

Na sétima entro já com grã** canseira, 

E saio dos quartetos muito brabo. 

 

Agora nos tercetos que direi? 

Direi que vós, Senhor, a mim me honrais 

Gabando‐vos a vós, e eu fico um rei. 

 

Nesta vida um soneto já ditei; 

Se desta agora escapo, nunca mais: 

Louvado seja Deus, que o acabei. 

Gregório de Matos 

 

*louvor **grande   

 

Tipo zero 


Você é um tipo que não tem tipo 

Com todo tipo você se parece 

E sendo um tipo que assimila tanto tipo 

Passou a ser um tipo que ninguém esquece 

 

Quando você penetra num salão 

E se mistura com a multidão 

Você se torna um tipo destacado 

Desconfiado todo mundo fica 

Que o seu tipo não se classifica 

Você passa a ser um tipo desclassificado 

 

Eu até hoje nunca vi nenhum 

Tipo vulgar tão fora do comum 

Que fosse um tipo tão observado 

Você ficou agora convencido 

Que o seu tipo já está batido 

Mas o seu tipo é o tipo do tipo esgotado 

Noel Rosa 
 


O soneto de Gregório de Matos e o samba de Noel Rosa, embora distantes na forma e no tempo, aproximam‐se por ironizarem 



a)

o processo de composição do texto.

b)

 a própria inferioridade ante o retratado. 

c)

a singularidade de um caráter nulo. 

d)

o sublime que se oculta na vulgaridade. 

e)

a intolerância para com os gênios. 

Resolução

a) Incorreta. Ainda que o soneto de Gregório de Matos esteja, claramente, ironizando o processo de composição do texto (com um trabalho de metalinguagem, o autor trata da dificuldade de criar um soneto em homenagem à “personagem desvanecida”), o mesmo não é verificado no samba de Noel Rosa, que não trabalha no nível metalinguístico.

b) Incorreta. Em nenhum dos textos se verifica uma postura de inferioridade em relação aos fatos retratados. Há, inclusive, certo tom de desvalorização dos sujeitos centrais de cada texto – o que poderia ser lido como uma postura de superioridade de ambos os eus líricos em questão.

c) Correta. No soneto de Gregório de Matos, fica evidenciada a dificuldade que o eu lírico encontra para fazer elogios à figura que deve ser louvada: o título do soneto (“A certa personagem desvanecida”) aponta para o fato de que a pessoa a ser homenageada no soneto tem uma vaidade e um orgulho grandes, a despeito disso, o eu lírico passa por todos os versos sem conseguir fazer um elogio sequer a esta personagem. De forma semelhante, no samba de Noel Rosa, tem-se a pretensa valorização de uma figura que em nada se destaca das demais: nos versos “Você é um tipo que não tem tipo / Com todo tipo você se parece” fica clara a noção de que a pessoa homenageada é um “tipo” (uma figura) bastante regular, que não apresenta nada que possa ser singularizado. Nesse sentido, ambos os textos tratam da singularidade de um caráter nulo, pois em ambos há a tentativa de exaltar pessoas que não necessariamente têm algo a ser exaltado, ou seja, são como figuras nulas, banais.

d) Incorreta. Não é correto afirmar que os textos exaltam o sublime oculto na vulgaridade, uma vez que ambos os textos partem da vulgaridade para expressar a nulidade – e não o sublime – dos personagens enaltecidos.

e) Incorreta. Não há, em nenhum dos textos, trechos que possam ser lidos como ironias à intolerância sofrida pelos gênios, pois o soneto e o samba em questão se debruçam sobre as características banais das personagens homenageadas, que não têm, justamente, genialidade alguma.

Questão 48 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Reprodução (Bactérias) Evidências da evolução

    Óbitos por cepas de bactérias resistentes a antibióticos vêm crescendo. Um estudo do governo britânico estima que, em escala global, os óbitos por cepas resistentes já cheguem a 700 mil por ano. E as coisas têm piorado. Além das bactérias, já estão surgindo fungos resistentes, como a Candida auris.

    Qualquer solução passa por um esforço multinacional de ações coordenadas. O crescente número de governos isolacionistas e até antidarwinistas não dá razões para otimismo. Há urgência. O estudo britânico calcula que, se nada for feito, em 2050, as mortes por infecções resistentes chegarão a 10 milhões ao ano. 

Hélio Schwartsman, “Mortes anunciadas”. Folha de São Paulo, Abril/2019. Adaptado.


O autor expressa preocupação com o fato de que as soluções para o problema apontado passam por um esforço multinacional, em face ao crescente número de governos isolacionistas, porque



a)

áreas de menor índice de desenvolvimento socioeconômico são as únicas atingidas devido à falta de recursos empregados em saúde e educação.

b)

as cepas resistentes surgem exclusivamente nos países que se negam a aderir a acordos sanitários comuns, constituindo ameaças globais.

c)

desafios atuais em meio ambiente e saúde são globais e soluções dependem da adesão de cada país aos protocolos internacionais.

d)

o comércio internacional é o principal responsável por espalhar doenças nesses países,´tornando‐os vulneráveis, apesar de os programas de vacinação terem alcance mundial.

e)

a pesquisa nesta área é de âmbito nacional e, portanto, novas drogas não terão alcance mundial, mas apenas regional.

Resolução

a) Incorreta. Áreas de menor índice de desenvolvimento socioeconômico têm maior vulnerabilidade em relação ao controle e combate de doenças infectocontagiosas. Porém, essas áreas não são as únicas atingidas pelo problema de resistência a antibióticos, uma vez que mesmo países onde há um investimento alto em saúde e educação estão suscetíveis ao surgimento de cepas resistentes. Além disso, a propagação de doenças transmitidas por bactérias apresenta caráter multinacional, de modo que uma variedade resistente pode surgir em uma nação com baixo índice de desenvolvimento socioeconômico e rapidamente atingir uma nação de maior índice.

b) Incorreta. As cepas resistentes surgem por meio de mutações gênicas, que são eventos aleatórios e não estão relacionados a regiões geográficas específicas. As mutações gênicas consistem em alterações nas sequências de bases nitrogenadas do DNA e podem levar ao surgimento de novas características, como por exemplo a resistência a um determinado tipo de antibiótico.

c) Correta. Embora as ações para a resolução de problemas ambientais e de saúde pública estejam sendo coordenadas localmente, o reflexo delas somadas têm impactos globais. Muitas dessas ações decorrem de tratados e protocolos internacionais firmados em reuniões coletivas de países do mundo inteiro. Nesse mundo em crescente globalização o fluxo de pessoas entre as nações é cada vez maior, aumentando ainda mais a chance de disseminação multinacional de doenças infectocontagiosas. Portanto, as ações no âmbito da saúde dependem da adesão do maior número possível de países e precisam ser planejadas  em conjunto. Somente esse esforço combinado poderá controlar a disseminação de cepas resistentes de bactérias, bem como combater de forma eficaz aquelas que já existem.

d) Incorreta. O texto fornecido não foca na forma como as doenças são transmitidas, mas sim na preocupação quanto ao surgimento de formas patogênicas resistentes a alguns antibióticos. Além disso, os programas de vacinação protegem especificamente contra alguns microrganismos. Mutações que ocorrem no genoma destes microrganismos alteram a sequência de bases nitrogenadas que o constituem, o que faz com que as células de memória previamente formadas pela vacinação não reconheçam o patógeno e a doença se instale no organismo. Assim, a vacinação protege contra as formas já existentes e não é capaz de proteger contra as formas mutantes que surgem após a fabricação da vacina e a aplicação da mesma nas populações humanas.

e) Incorreta. Pesquisas sobre desenvolvimento de vacinas e outros tratamentos para doenças são, geralmente, feitos em universidades em parcerias com outras instituições e centros de pesquisas em outros países. Além disso, descobertas são divulgadas em periódicos, revistas científicas e congressos de âmbito internacional, favorecendo a disseminação do conhecimento. Muitas pesquisas são feitas em parceria com a indústria farmacêutica, que viabiliza a produção e distribuição de um antibiótico em larga escala, permitindo que novas drogas tenham alcance mundial.

Questão 49 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Reprodução (Fungos)

TEXTO PARA AS QUESTÕES 48 E 49 

       Óbitos por cepas de bactérias resistentes a antibióticos vêm crescendo. Um estudo do governo britânico estima que, em escala global, os óbitos por cepas resistentes já cheguem a 700 mil por ano. E as coisas têm piorado. Além das bactérias, já estão surgindo fungos resistentes, como a Candida auris.
    Qualquer solução passa por um esforço multinacional de ações coordenadas. O crescente número de governos isolacionistas e até antidarwinistas não dá razões para otimismo. Há urgência. O estudo britânico calcula que, se nada for feito, em 2050, as mortes por infecções resistentes chegarão a 10 milhões ao ano.

   Hélio Schwartsman, “Mortes anunciadas”. Folha de São Paulo, Abril/2019.
Adaptado.


Várias espécies do gênero Candida, que pertence ao grupo de fungos unicelulares, reproduzem‐se por brotamento (gemulação), espalhando‐se rapidamente. No grupo dos fungos pluricelulares, a rápida colonização de novos ambientes deve‐se, em grande parte, ao fato de que esse grupo possui



a)

esporos haploides que germinam e colonizam o ambiente. 

b)

reprodução assexuada, produzindo descendentes que são  genotipicamente diferentes. 

c)

zigotos haploides que crescem aceleradamente com mitoses sucessivas.  

d)

cistos de resistência que encapsulam adultos diploides. 

e)

fases autotróficas, podendo viver sem disponibilidade de  alimento externo. 

Resolução

Os fungos apresentam dois modos de reprodução: assexuada, na qual os indivíduos formados são geneticamente idênticos; e sexuada, na qual os indivíduos formados são geneticamente diferentes. A reprodução assexuada pode ocorrer de três diferentes formas: por meio de fissão binária e brotamento (no caso de espécies unicelulares) e por meio da produção de esporos (no caso de espécies multicelulares). Já a reprodução sexuada ocorre somente por meio da produção de esporos.

Em fungos unicelulares, conhecidos como leveduras (por exemplo, Candida sp. e Saccharomyces cerevisiae), tanto a fissão binária quanto o brotamento envolvem processos de mitose. No caso do brotamento, uma célula-mãe forma um ‘broto’: uma célula-filha que mantém conexão citoplasmática com a célula-mãe e que cresce ao longo do tempo. A célula-filha em crescimento recebe um núcleo originado a partir da mitose sofrida pelo núcleo da célula-mãe e se separa desta, o que forma duas novas células (Figura 1).

Figura 1: reprodução assexuada por brotamento. Fonte: Solomon et al. (2014) Biology. Brooks Cole, 10th Edition.

 

Em fungos multicelulares, o corpo do fungo é constituído pelo micélio, uma estrutura constituída pela aglomeração de filamentos tubulares ramificados chamados de hifas. Em várias espécies de fungos, as hifas podem desenvolver estruturas chamadas de esporângios em suas extremidades, locais onde irá ocorrer a formação de esporos, unidades constituídas por uma única célula haploide (n) e que têm a capacidade de germinar, originando um novo indivíduo (Figura 2). Os esporângios podem se formar sem que ocorra a mistura de material genético (reprodução assexuada) ou eles podem se formar apenas após a cariogamia (fusão de núcleos haploides), sendo este um processo característico da reprodução sexuada. A reprodução assexuada nos fungos multicelulares envolve a produção de esporos por mitose, de modo que estes são geneticamente iguais ao fungo parental. Esporos produzidos mitoticamente são chamados de mitosporos e, no caso do grupo dos ascomicetos, conídios ou conidiósporos.

Figura 2: reprodução assexuada por meio da produção de esporos. Fonte: Solomon et al. (2014) Biology. Brooks Cole, 10th Edition.

Os esporos são adaptados para a sobrevivência e a dispersão, sendo capazes de suportar condições ambientais adversas por períodos prolongados. Em muitas espécies, a dispersão dos esporos é potencializada por mecanismos morfológicos ou fisiológicos que induzem a liberação forçada dessas estruturas a partir dos esporângios, facilitando o seu transporte pelo vento. Este fato, aliado à leveza e abundância dos esporos formados (chegando aos trilhões de unidades em algumas espécies), torna a reprodução por meio da produção de esporos um mecanismo extremamente eficiente para a propagação dos fungos e para a colonização de novos ambientes.

a) Correta. Conforme explicado acima.

b) Incorreta. Na reprodução assexuada, os descendentes formados são geneticamente iguais, seja o processo realizado por fissão binária, brotamento ou produção de esporos.

c) Incorreta. Os zigotos são formados pela fusão de núcleos haploides durante a reprodução sexuada, sendo, portanto, células diploides (2n).

d) Incorreta. Os fungos não formam cistos, estruturas de resistência produzidas por várias espécies de animais e protozoários.

e) Incorreta. Os fungos são seres vivos heterótrofos, dependendo da absorção de nutrientes orgânicos do ambiente.

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Ciclo da Água (Ecologia) Desmatamento

Boa parte da floresta amazônica brasileira cresce sobre solos pobres. Sua exuberância, portanto, deve‐se ao fato de que uma grande proporção dos nutrientes advindos da própria floresta retorna à vegetação. Quando se derruba a floresta de uma área de dezenas de quilômetros quadrados e, em seguida, ateia‐se fogo no local como preparo para o plantio, esse ciclo é interrompido, o que causa uma série de efeitos. Identifique corretamente a relação dos efeitos mencionados em I, II e III com a derrubada e a queima da floresta.



a)

I ‐ Diminuição de curto prazo da fertilidade do solo pela queima da vegetação. 

II ‐ Perda de biodiversidade pelo efeito direto do fogo sobre os animais silvestres. 

III ‐ Diminuição da evaporação da água da chuva que atinge o solo exposto. 

b)

I ‐ Aumento de curto prazo da fertilidade do solo pelo efeito direto do calor do fogo sobre o solo superficial. 

II ‐ Diminuição da diversidade de animais silvestres devido à remoção da vegetação. 

III ‐ Diminuição da temperatura do solo exposto como efeito direto da remoção da vegetação. 

c)

I ‐ Aumento de curto prazo da fertilidade do solo pela deposição de cinzas. 

II ‐ Perda de biodiversidade devido à remoção da vegetação. 

III ‐ Aumento temporário da evaporação da água da chuva que atinge o solo exposto. 

d)

I ‐ Aumento de curto prazo da fertilidade do solo pelo efeito direto do calor do fogo sobre o solo superficial. 

II ‐ Perda de biodiversidade pelo efeito direto do fogo sobre a vegetação. 

III ‐ Diminuição temporária de absorção da água da chuva pelo solo exposto. 

e)

I ‐ Aumento de longo prazo da fertilidade do solo pela deposição de cinzas. 

II ‐ Aumento da diversidade de animais silvestres devido à remoção da vegetação. 

III ‐ Aumento da erosão do solo exposto devido à remoção da vegetação. 

Resolução

A Floresta Amazônica é um bioma extremamente biodiverso, rivalizando apenas com os recifes de coral em número de espécies. Apesar de toda essa riqueza de espécies, o solo onde as plantas amazônicas crescem não consegue reter nutrientes minerais por períodos prolongados, como acontece nas florestas temperadas. O clima equatorial característico da Amazônia, quente e úmido o ano inteiro, leva à decomposição muito rápida da matéria orgânica e lixiviação dos nutrientes liberados, tornando o solo pobre. Portanto, a disponibilidade de nutrientes para o crescimento das plantas depende da própria floresta, pois o aporte constante de matéria orgânica morta e a intensa atividade de decomposição realizada por bactérias e fungos permitem a reciclagem dos elementos essenciais ao desenvolvimento vegetal.

Quando a floresta é derrubada e queimada, uma série de consequências podem ser verificadas no local desmatado, listadas nos parágrafos abaixo.

(I) A queima da vegetação leva à produção de cinzas, as quais contêm nutrientes que anteriormente estavam estocados nos corpos das plantas. Devido à grande biomassa da vegetação amazônica, a quantidade de nutrientes liberados durante a combustão é muito elevada, sendo capaz de enriquecer o solo. No entanto, o aumento de fertilidade é apenas temporário, uma vez que o ciclo de produção de matéria orgânica morta, decomposição, absorção dos nutrientes pelas raízes das plantas e crescimento vegetal é interrompido. Embora o local desmatado possa ser utilizado para o plantio de cultivos agrícolas, estes não produzem uma grande quantidade de matéria orgânica morta e não são capazes de absorver os nutrientes minerais de forma eficiente. Assim sendo, grande parte dos nutrientes presentes nas cinzas oriundas da vegetação queimada tende a ser perdida pelo solo pelo processo de lixiviação.

(II) A consequência mais direta do desmatamento é a diminuição drástica de biodiversidade local, uma vez que as plantas são removidas. A retirada da vegetação leva não somente à perda de espécies vegetais (que somam cerca de 40 mil segundo algumas estimativas), mas à perda de espécies de animais, fungos e de diversos grupos de microrganismos. Como as plantas são os produtores dos ecossistemas terrestres, delas dependem todos os demais seres vivos do ecossistema. Sem as plantas, as teias tróficas entram em colapso e a maioria das espécies de consumidores e decompositores é extinta localmente.

(III) A derrubada e queima da floresta levam à exposição do solo, que antes era coberto pela vegetação e pela serapilheira (camada de matéria orgânica morta de origem vegetal, constituída por folhas, cascas, caules, ramos etc.). Tanto a vegetação quanto a serapilheira sombreavam e protegiam o solo, retardando a evaporação da água da chuva. Um solo exposto estará mais suscetível à ação da radiação solar e aos ventos, o que terá como consequência um aumento da taxa de evaporação da água. Além disso, as folhas, ramos e outros restos vegetais, bem como o húmus, contribuem para a reduzir o escoamento superficial, facilitando a infiltração da água da chuva, o que também reduz a taxa de evaporação superficial.

 

a) Incorreta. A derrubada e queima da vegetação levam ao aumento temporário da fertilidade do solo devido à deposição das cinzas, porém causam uma diminuição da quantidade de nutrientes em longo prazo. Além disso, a taxa de evaporação tende a aumentar, pois o solo deixa de ser protegido pela vegetação e pela serapilheira.

b) Incorreta. O aumento temporário da fertilidade do solo não é uma consequência do calor decorrente da queima da vegetação, mas sim da liberação dos nutrientes durante o processo de combustão da mata, que leva à formação das cinzas. Além disso, a temperatura do solo exposto tende a ser maior do que a temperatura do solo no qual a vegetação não foi removida, uma vez que as plantas e a serapilheira limitam a absorção da radiação solar.

c) Correta.

d) Incorreta. O aumento temporário da fertilidade do solo não é uma consequência do calor decorrente da queima da vegetação, mas sim da liberação dos nutrientes durante o processo de combustão da mata, que leva à formação das cinzas.

e) Incorreta. O aumento de fertilidade do solo devido à queima da vegetação terá um efeito apenas em curto prazo (e não em longo prazo), uma vez que, sem a floresta nativa, o processo de lixiviação será mais intenso, levando à perda de nutrientes do solo. Além disso, o desmatamento leva à perda de espécies, tanto vegetais quanto animais, e não ao aumento da biodiversidade.