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Questão 36 Fuvest 2020 - 1ª fase

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Questão 36

Sujeito e predicado

Leia o trecho extraído de uma notícia veiculada na internet:

“O carro furou o pneu e bateu no meio fio, então eles foram obrigados a parar. O refém conseguiu acionar a população, que depois pegou dois dos três indivíduos e tentaram linchar eles. O outro conseguiu fugir, mas foi preso momentos depois por uma viatura do 5º BPM”, afirmou o major.

Disponível em https://www.gp1.com.br/.


No português do Brasil, a função sintática do sujeito não possui, necessariamente, uma natureza de agente, ainda que o verbo esteja na voz ativa, tal como encontrado em:



a)

“O carro furou o pneu”.

b)

“e bateu no meio fio”.

c)

“O refém conseguiu acionar a população”.

d)

“tentaram linchar eles”.

e)

“afirmou o major”.

Resolução

A tradição gramatical e, consequentemente, as gramáticas escolares costumam tratar a função “sujeito” de forma simplista. Muitos manuais se resumem a definir sujeito como “aquele que pratica ação”. Numa sentença como “O menino quebrou o vaso”, essa definição nos levaria a atribuir essa função a “O menino”. No entanto, em “O vaso foi quebrado pelo menino”, teríamos que assumir que o sujeito também deve/pode ser “o termo que sofre a ação”. A observação das vozes verbais poderia lançar luz nesses exemplos: no primeiro caso há um verbo na voz ativa e, portanto, um sujeito agente; já no segundo, trata-se de um sujeito paciente. Veja-se que ambas as definições só se aplicariam a sujeitos de verbos que designam ações (“A pedra existe” ou “João está alegre” causariam problemas a quem quisesse identificar os sujeitos a partir da “ação”). Além dessas inconsistências iniciais, os gramáticos costumam deixar de fora análises de enunciados como “A porta bateu” ou “o espelho quebrou”. Nesses exemplos, os verbos estão aparentemente na voz ativa (em oposição às passivas “foi batida” e “foi quebrado”), embora seus sujeitos não sejam agentes da ação expressa por eles. Essa propriedade, longamente estudada por linguistas, recebe o nome de ergatividade, uma construção típica do português falado no Brasil. Assim, os sujeitos “A porta” e “O espelho” são pacientes, apesar de os verbos não estarem na voz passiva. A questão provoca o candidato a perceber (sem citar a referida propriedade) que uma entre as alternativas é representante desse fenômeno.

a) Correta. O sujeito não é agente, embora o verbo aparentemente esteja na voz ativa. Uma paráfrase seria “O pneu do carro foi furado”.

b) Incorreta. Nesse caso, o sujeito oculto se refere a “O carro”, que é agente de “bater”.

c) Incorreta. “O refém” é agente de “conseguiu acionar”, uma vez que desempenha essa atividade.

d) Incorreta. Há uma silepse (concordância inusitada, imprevista) entre “população”, que encerra uma ideia plural, e “tentaram linchar”. O sujeito é responsável pela ação.

e) Incorreta.  Nesse caso, há uma inversão sintática: “o major afirmou”. Dessa forma, também é um sujeito agente.