Enem 2020 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

A questão traz em seu enunciado o alto grau de ocupação de áreas próximas a vulcões de atividade recente. O texto do enunciado sugere estranheza pela intensa concentração humana que, em tese, estaria submetida a áreas de risco por atividades sísmicas e vulcanismo. Contudo, o estudo das áreas superficiais que estão no entorno de vulcões através da pedologia (ciência dos solos) indica  que, devido a antigas erupções vulcânicas, o solo ali formado é derivado de rochas basálticas vulcânicas, que apresentam elevado grau de fertilidade pela presença de sais minerais leves e da evolução natural de seus horizontes orgânicos. Muito produtivo em termos agrícolas, os solos vermelhos profundos evoluídos do basalto (rocha vulcânica), se estabelecem mundo afora como áreas de importante uso agrícola, daí a explicação lógica para a ocupação humana nos entornos das regiões vulcânicas que apresentem certa estabilidade e/ou dormência. Sendo assim, é possível afirmar:

a) Correta. De fato, a alta ocupação se dá pela ampla fertilidade apresentada pelos solos basálticos do entorno das áreas vulcânicas.

b) Incorreta. Encostas íngremes são áreas que dificultam ou inviabilizam ampla ocupação humana, bem como o exercício de atividade agrícola produtiva.

c) Incorreta. Não pode-se perceber uma relação direta entre áreas próximas a vulcões e características vegetais especificas que viabilizariam ampla ocupação humana.

d) Incorreta. Não há indicadores claros que os entornos dos vulcões no México e na Indonésia possuam áreas de drenagem hídrica eficiente, muito menos indícios de que isto levaria a ampla ocupação dos entornos vulcânicos.

e) Incorreta. Não há relação de determinação ampla entre áreas vulcânicas e o microclima local. Mesmo conseguindo aferir tal influência, não há correlação direta entre os climas mexicanos (tropical, semiárido e desértico) e filipinos (tropical e equatorial) entre si e tampouco com a ocupação das áreas vulcânicas citada.

O nascimento de Cristo ocorreu durante o reinado de Augusto, em Belém de Judá, na Palestina, em uma região dominada pelos romanos desde 40 a.C e conhecida como Galiléia. A pregação de Jesus era incômoda para o Império pois contrariava eixos centrais do Império romano: propunha o monoteísmo, acolhia fracos e oprimidos dando-lhes uma perspectiva de uma vida melhor após a morte, criticava a crença na divindade do imperador e se opunha à violência do expansionismo romano.  Dessa forma, o crescimento do cristianismo no Império foi acompanhado de intensas perseguições durante mais de séculos. 
a) Incorreta. O ambiente do Império romano nesse contexto contrapunha a religião politeísta tradicional dos romanos e o cristianismo, difundido pelos apóstolos e seguidores de Jesus Cristo após sua morte. Não há, portanto, nenhuma relação com uma regra judaica. 
b) Incorreta. A dificultação das reuniões abertas não estava relacionada ao moralismo, mas sim ao contexto de perseguições religiosas que os cristãos sofriam. 
c) Incorreta. O texto trata da questão religiosa, não apresentando relação com uma adesão dos patrícios (elite romana). Vale destacar que a pregação cristã acabava sendo muito popular entre as camadas mais baixas da população, já que acolhia os fracos e os oprimidos, dando-lhes a perspectiva de uma vida melhor depois da morte. 
d) Correta. O texto descreve um ambiente de acolhimento e segurança, uma pequena célula cristã, onde os religiosos recebiam "apoio emocional". Os primeiros séculos após a morte de Cristo foram caracterizados por intensas perseguições aos cristãos no Império romano, já que estes professavam valores opostos aos eixos centrais do império politeísta. Os imperadores, que não tinham sua divindade reconhecida pelos cristãos, ordenaram diversas perseguições aos cristãos, assim como governadores locais incitavam a própria violência anticristã. Foi somente em 313 que o imperador Constantino colocou fim à perseguição aos cristãos, concedendo-lhes liberdade religiosa, permitindo que construíssem igreja para seus cultos. 
e) Incorreta.  O texto não apresenta nenhuma indicação de violência senhorial, descrevendo somente um momento religioso de um grupo de crentes que conversavam, rezavam e liam cartas.

 O exercício nos apresenta o processo derivado da orogênese (movimento horizontal da crosta terrestre a partir das forças internas do planeta) levando à formação de subducções (encontro de placas tectônicas oceânicas e continentais) onde as placas oceânicas se rompem e mergulham parcialmente sob a placa continental. Esta, pela intensa pressão e calor gerados pela colisão, enruga-se e se molda em relevo moderno alpino (montanhas altas e pontiagudas) formando assim  cordilheiras ricas em rochas ígneas - graníticas e basálticas e não raramente rochas metamórficas. O esquema a seguir apresenta tal dinâmica:

Fonte: TEIXEIRA, W et al (Org). Decifrando a Terra. São Paulo. Oficina de textos. 2000, p. 101.

Diante do exposto, têm-se que:

a) Incorreta. Como apresentado no esquema acima, esse processo tectônico gera relevos modernos montanhosos no continente e não planícies abissais, sendo que estas são localizadas somente no fundo do oceano.

b) Incorreta. Como mencionado, o processo tectônico leva a formação de relevos modernos montanhosos no continente devido a presença de atividades tectônicas ativas. Em geral, planaltos cristalinos estão associados a áreas internas e mais estáveis em termos tectônicos e, por isso, não apresentam grandes cordilheiras como forma de relevo.

c) Incorreta. O processo tectônico em questão gera relevos modernos montanhosos no continente e não depressões absolutas, que são áreas continentais originalmente formadas por intensas erosões em planícies, mas que assumem na atualidade prevalência de sedimentação, mas mantém altimetria inferior ao nível de base do mar.

d) Incorreta. Como vemos no esquema explicado anteriormente, o processo tectônico gera relevos modernos montanhosos interiores ao continente e próximos as divisas tectônicas e não planícies continentais sedimentares, que estão localizadas em áreas geologicamente estáveis .

e) Correta. De fato, como observado no esquema explicado e mostrado acima, este processo tectônico gera relevos montanhosos no continente que são denominados dobramentos modernos, sendo exemplos a cordilheira dos Andes (América do Sul), as Montanhas Rochosas (América do Norte), os Alpes (Europa) e o Himalaia (Ásia).

A Revolução Pernambucana foi o maior movimento de contestação ao poder da Corte portuguesa no período em que ela permaneceu no Rio de Janeiro. A transferência da família real portuguesa para o Brasil causou um aumento expressivo nos impostos do país, visando bancar o luxuoso padrão de vida da nobreza, assim como as campanhas militares empreendidas por D. João VI. O problema fiscal impactava várias esferas da vida social pernambucana, suscitando tensões e problemas antigos, mas que foram agravados pelo endividamento dos colonos ao aparelho administrativo português. Como reação, Recife foi tomada em 1817, sendo organizado um governo republicano que garantia a tolerância religiosa e a igualdade de direitos para os proprietários. A República nordestina durou pouco mais de dois meses, pois embora tenha pedido apoio à países estrangeiros, foi dissolvida devido à profundas divergências entre os líderes do movimento e às dificuldades para enfrentar os combates (falta de armas e desorganização das tropas rebeldes). 
a) Incorreta. Os fragmentos das matérias citadas no texto não mencionam nenhuma questão envolvendo a escravidão. Além disso, vale destacar que a igualdade de direitos prevista pelo movimento era entre os proprietários. As lideranças não pretendiam acabar com a escravidão, mas como essa ideia passou a circular, e os proprietários rurais ameaçaram tirar seu apoio ao movimento, o governo provisório lançou um manifesto negando tal intenção.
b) Correta. Os jornais apresentam divergências quanto à concepção mais ampla e significado da Revolução Pernambucana. O fragmento do Correio Braziliense apresenta o movimento como resultado de um descontentamento geral, ou seja, algo mais profundo e que indica um quadro maior de insatisfação com a administração portuguesa. Já a Gazeta do Povo enfatiza que tratou-se de um movimento pontual, mas que não abalava o sentimento de respeito ao soberano. Ou seja, os jornais apresentam concepções opostas, pois enquanto o Correio sugere uma ruptura definitiva com Portugal, a Gazeta busca amenizar as tensões e reafirmar a força dos pactos que ligavam colônia e metrópole. 
c) Incorreta. Embora a Revolução Pernambucana tenha contado com uma grande participação de religiosos, não há nenhuma menção sobre um domínio eclesiástico, o que de fato não esteve presente no processo revolucionário. 
d) Incorreta. O movimento não teve o debate sobre a extensão do direito de voto e tal aspecto também não foi mencionado nas matérias jornalísticas apresentadas. 
e) Incorreta. As elites locais não estavam divergindo sobre a ordenação do monopólio fundiário, sendo a manutenção desse um consenso. 

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi um dos primeiros e mais importantes documentos da Revolução Francesa. Aprovada em agosto de 1789, a Declaração colocava fim, no plano jurídico, ao Antigo Regime, estabelecendo a igualdade civil, jurídica e política, fixando o princípio iluminista de que a soberania polítia reside no povo. As diferenças sociais passaram a ser justificativas pela propriedade e não mais pelo nascimento. O texto apresenta a forte influência do iluminismo ao afirmar que fundamentava-se em "princípios simples e inquestionáveis".  De acordo com o artigo primeiro da Declaração, "os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos." enquanto o artigo segundo enfatiza que os direitos naturais e imprescrítiveis do homem são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. 
a) Incorreta. A Declaração reafirmava o direito à propriedade privada, contrapondo-se, dessa forma, ao princípio de manutenção de terras comunais. 
b) Incorreta. O documento não buscava suprimir o poder constituinte, pelo contrário, visava ter seus aspectos contemplados e assegurados pela Constituição. 
c) Incorreta. Não é possível afirmar que a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão representem a falência da sociedade burguesa, pelo contrário, é considerada a consolidação desta. Vale destacar que o documento afirmava que as distinções sociais só poderiam ser fundamentadas na utilidade comum, de modo que não buscava abolir as diferenças sociais, mas sim justificá-las pela propriedade e não pelo nascimento. 
d) Correta. Conforme mencionado, esse documento estabelece a paridade do tratamento jurídico ao afirmar em seu artigo primeiro que todos os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos. Nesse sentido, podemos afirmar que o documento reflete uma profunda mudança social na medida em que rompe com o secular Antigo Regime francês, caracterizado por sociedade estamental, dividida em estamentos (Primeiro Estado - clero, Segundo Estado - nobreza e Terceiro Estado - demais grupos), grupos fixos definidos pelo nascimento que asseguravam  determinados direitos e privilégios. 
e) Incorreta. Os partidos não foram abolidos pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que, inclusive, assegura o direito às associações políticas que busquem conservar os direitos naturais do homem. 

O excerto que serve de base à questão destaca uma experiência política específica do mundo grego antigo, que é a democracia ateniense vivenciada nos séculos IV e V a.C. Mesmo sendo uma forma direta de democracia - ou seja, o cidadão representava a si mesmo nas assembleias - , ela consistia numa democracia exclusiva, já que diversas camadas sociais componentes da sociedade ateniense não possuíam direito à cidadania, ficando impossibilitadas de participar da vivência democrática. Os considerados cidadãos eram os indivíduos adultos do sexo masculino livres e nascidos em Atenas, o que excluía mulheres, escravos e estrangeiros, por exemplo.
a) Incorreta. Como se tratava de uma democracia direta, não havia a participação de representantes, os cidadãos representavam-se a si mesmos. Dessa forma, a competição para a escolha de representantes que a alternativa evoca não se sustenta.
b) Incorreta. Atenas passou pela experiência de governos oligárquicos, no qual um grupo de aristocratas detinha o poder, desde o século VIII a.C. Após a experiência de governo dos chamados tiranos, indivíduos que concentravam poder e se sobrepunham aos oligarcas. Alguns desses governates promoveram reformas em Atenas, como Drácon, Sólon e Clístenes. Principalmente as reformas de Sólon e de Clístenes abrem caminho para a democracia, que se configura como uma superação do governo aristocrático e não como uma campanha para a revitalização oligárquica.
c) Incorreta. Em uma democracia direta, não pode-se falar necessariamente de mandatos temporários, pois trata-se de uma característica das democracias indiretas e de seus representantes. Porém, havia a escolha de alguns cidadãos para exerceram a função de magistrados. Isso poderia ocorrer por meio de sorteio ou de eleição, principalmente no caso de magistrados militares como os estrategos, que exerciam o cargo por um ano.
d) Incorreta. A emergência do sistema democrático ateniense corresponde ao surgimento de uma nova forma de organização política na cidade-Estado, e não se relaciona com o declínio da sociedade civil organizada, já que consiste em uma nova forma de configuração dessa sociedade.
e) Correta. Mesmo com as restrições ao direito de cidadania que marcaram a democracia em Atenas, o texto destaca ser inegável a possibilidade de classificarmos essa forma democrática como direta, ou seja, que contava com o cidadão representando a si mesmo nas assembleias e atuando diretamente para o exercício do poder. Dessa forma, podemos notar que a parcela da população que era considerada cidadã experimentou uma ampliação nas suas possibilidades de escolha e de participação política no contexto da Atenas antiga.

A Divisão Internacional do Trabalho (DIT) indica especialização produtiva de um país, ou seja, qual ou quais produtos são produzidos em cada nação. Essa especialização reflete as limitações e características econômicas, sociais, naturais e tecnológicas dos países. A primeira DIT, durante a fase do Capitalismo Comercial, mostrava um mundo que estava dividido em dois grupos: fornecedores de matéria-prima e fornecedores de produtos manufaturados. A Revolução Industrial consolidou essa divisão, pois naquele momento havia países industrializados e países provedores de produtos primários no cenário internacional. Após 1945, as inovações tecnológicas e a descentralização de parte da produção industrial em direção aos países em desenvolvimento permitiram a emergência de uma nova DIT, na qual alguns países da periferia do sistema passaram a exportar produtos industriais, embora tais produtos fossem de menor valor e intensidade tecnológica quando comparados aos produtos industriais dos países desenvolvidos.

Dito isso, pode-se considerar que:

a) Incorreta. Sobre a produção de inovações tecnológicas, a América Latina ocupa um papel de pouca relevância no cenário mundial. Historicamente, a sub-região é marcada pela dependência tecnológica em relação aos centros mais dinâmicos do sistema que são os países desenvolvidos.

b) Incorreta. Seja na antiga ou na nova Divisão Internacional do Trabalho, a América Latina se destaca como grande fornecedora de produtos primários. A produção industrial é significativa no Brasil, México e Argentina, mas mesmo nesses países a exportação de produtos agropecuários ou minerais é muito relevante.

c) Correta. Desde o período colonial, os países da América Latina se especializaram  na produção de produtos de menor valor agregado quando comparados aos países de maior desenvolvimento econômico. Tal característica representou uma importante desvantagem nas trocas comerciais internacionais e era uma estratégia de se apropriar das riquezas naturais latino-americanas  garantindo o fornecimento de matérias-primas a baixo custo para as nações industrializadas.

d) Incorreta. Muitas vezes, foram introduzidos nas áreas de produção latinas produtos agrícolas estranhos às necessidades das populações tradicionais com o interesse de atender predominantemente as demandas externas. A escolha do produto a ser cultivado numa área era feito a partir de um vetor externo atrelando a área de produção à venda do produto no mercado internacional.

e) Incorreta. O texto faz alusão às desvantagens econômicas derivadas de uma inserção mais precária na DIT.  A produção de alimentos para o mercado interno não é dependente em larga escala do mercado  externo, embora haja alguns produtos que podem sofrer alguma escassez, pois a produção alimentar voltada para  o mercado interno costuma ter um papel secundário nas políticas públicas de vários países da  região. 

A questão aborda o Código de Hamurabi, série de leis atribuída ao rei sumério Hamurabi, que governou o Império Babilônico entre os séculos XVIII e XVII a.C. Essa série de leis regula os direitos e deveres dos súditos do império, controlando diversos grupos sociais. O código é famoso também por ser o mais antigo conjunto de leis escritas conhecido e por se basear na Lei da Talião, princípio que defende que uma falta deve ser punida na mesma proporção do dano que causou.
a) Incorreta. A noção de garantias individuais estabelecidas pela lei é uma característica do direito moderno, não sendo observável na sociedade mesopotâmia da época. Além disso, a ideia de garantias individuais pressupõe o estabelecimento de uma igualdade jurídica entre os cidadãos, o que não estava presente no Império Babilônico de Hamurabi, marcado por diferenciações socias extremas, observáveis inclusive nesse código de leis, que estabelece penas distintas de acordo com a posição social do faltoso.
b) Correta. O Código de Hamurabi lista, de maneira específica, as diferentes formas de punição para o que era considerado crime naquela sociedade, descrevendo também as ações classifcadas como faltas e, portanto, dignas de punição. Ou seja, havia a tipificação do crime e o estabelecimento de penas no texto do código. 
c) Incorreta. O foco do Código de Hamurabi não eram indultos ou benefícios, mas sim a questão das punições e do estabelecimento de regras para o funcionamento da sociedade babilônica e para o comportamento de seus súditos.
d) Incorreta. Não havia a previsão de distribuição de terras para desempregados urbanos no Código de Hamurabi. As terras, inclusive, eram propriedade do Estado, e essa ideia de distribuição de terras passa pela noção de propriedade privada, razoavelmente anacrônica nesse contexto.
e) Incorreta. Não se identifica, no Código de Hamirabi, qualquer referência a prerrogativas ou benefícios de alguma espécie concedidos a descendentes de estrangeiros.

a) Incorreta. Essa mudança de mentalidade em relação ao trabalho, que é o centro do texto citado pela questão, não se relaciona a algum tipo de reforma higienista  visando melhoria nas condições de trabalho. Quando falamos em reformas higienistas, normalmente nos referimos a projetos de reforma urbana executados nos séculos XIX e XX, que viam determinados setores da sociedade - como operários pobres ou pessoas marginalizadas - como elementos indesejáveis à paisagem urbana que se desejava formar.
b) Correta. A partir do século XVI, a Reforma Protestante, principalmente a vertente relacionada à doutrina de Calvino, trouxe uma nova lógica de se encarar o trabalho, que impactou a Europa moderna e desembocou em uma forte modificação ideológica no entendimento das atividades laborais. Diferente da condenação do lucro que se manifesta em pontos da doutrina católica ao longo da Idade Média, o calvinismo enxerga o trabalho como atividade pavimentadora do caminho para o sucesso financeiro, que não é visto como falta e sim como sinal da predestinação e da salvação. Além disso, há um reforço da ideia de austeridade e um estímulo para a vida simples e focada no trabalho. Essas características de alguns protestantes fizeram com que o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), em seu estudo clássico A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1905) identificasse as raízes do capitalismo moderno, dos costumes burgueses presentes na Europa e na América e da valorização do trabalho com a doutrina protestante. 
c) Incorreta. O movimento sindical só será uma realidade a partir da Revolução Industrial, que se inicia na segunda metade do século XVIII, e ganhará mais força ao longo do século XIX. Portanto, trata-se de um contexto diferente ao da modernidade destacado pela questão, que seria o momento de surgimento de uma nova lógica em relação ao trabalho. Durante o período de atuação dos sindicalistas, essa nova lógica já funcionava a todo vapor. A alternativa também liga diretamente o sindicalismo ao anarquismo, o que não pode ser feito. Alguns sindicatos são ligados ao anarquismo e ao anarcossindicalismo, mas não é possível atribuir o surgimento do movimento sindical totalmente a essa doutrina social.
d) Incorreta. Essa mudança de perspectiva sobre o trabalho não está relacionada à luta pelo direito das mulheres ao trabalho ou sua participação em movimentos sociais. A luta pelos direitos das mulheres, seja algo relacionado ao trabalho ou a questões sociais mais amplas, ocorreu em um momento em que a lógica do trabalho moderna já atuava em sua plenitude.
e) Incorreta. A Igreja Católica medieval não defendeu, ao longo da Idade Média, a dignidade do lucro, chegando a condená-lo. A essa interpretação doutrinária da função do trabalho - que para alguns pensadores e autoridades católicas não deveria ser realizado como algo voltado para a prosperidade pessoal - se opuseram ideias como as de Calvino.

Os anos de 1990 foram marcados por mudanças estruturais na economia brasileira. Nessa década, foram implementadas políticas neoliberais, caracterizadas pela redução do intervencionismo estatal na economia. Tais medidas foram introduzidas pelo Governo Collor, porém como seu governo foi abreviado pelo processo de impeachment (1992), foi no governo do Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) que o projeto neoliberal atingiu seu maior desenvolvimento no país. Devemos lembrar que essa politica econômica também se expandiu pela América Latina na mesma época, excetuando o Chile que desde o governo do general Pinochet (anos 70) já tinha introduzido o neoliberalismo. Considerando esse contexto econômico:

a) Incorreta. Durante a década de 1990, houve redução dos investimentos realizados em empresas públicas, inclusive porque muitas delas foram privatizadas.

b) Incorreta. Na década de 1990, o Estado adotou políticas de restrição fiscal que implicaram na redução de investimentos públicos incluídos os setores sociais, como por exemplo, o setor de habitação popular. Esses corte de gastos se deviam ao fato de que as medidas econômicas visavam combater a crise que abateu o país nos anos 1980, momento chamado de "a década perdida". A crise dos anos 80 foi marcada por enorme déficit público (Governo Federal gastava mais do que arrecadava), hiperinflação e dificuldades para saldar o pagamento da dívida externa.

c) Incorreta. Um dos grandes problemas que afetava a economia brasileira nos anos 1990  e que perdura até hoje, é a elevada carga tributária sobre a produção.  Esse problema afeta a competitiviade econômica do país e, por isso, a reforma tributária  é uma antiga demanda dos setores produtivos brasileiros. Embora defendida por vários governos, a reforma tributária nunca conseguiu ser realizada e apenas ocorreram algumas pequenas mudanças pontuais que não resolveram o problema. Vale salientar que outro problema presente no sistema tributário brasileiro é que ele é injusto, pois recai de forma mais exigente sobre pequenas empresas e contribui para reproduzir as grandes desigualdades sociais existentes no Brasil.

d) Incorreta. O sistema de acesso  ao ensino superior não foi modificado e continuou sendo por meio de vestibulares. Em 1998, foi criado o Enem, porém nessa época a prova servia para avaliar o domínio de habilidades e competências adquiridas pelos alunos durante o Ensino Médio e não vagas de acesso direto à universidade como atualmente.

e) Correta. A introdução de políticas neoliberais rompeu com modelos mais intervencionistas vigentes no país desde a década de 1930. A adoção do neoliberalismo representou medidas tais como: abertura da economia, privatizações de empresas estatais, concessões no setor de transportes, desregulamentação econômica e facilitação da entrada e saída de capitais estrangeiros e fim de vários monopólios estatais. Teoricamente, tais medidas tinham por finalidade a modernização e estabilização econômica do país. O lançamento do Plano Real (1994) foi um pacote de medidas para debelar o problema inflacionário, que teve êxito em seu objetivo. Todavia, os críticos ao projeto neoliberal reforçam que essas medidas não foram suficientes para resolver a grande dívida social que o país possui, ou seja, não foi efetivo no combate à pobreza.