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Enem 2019 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas


Questão 70 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Agricultura orgânica Sistemas de produção agrícola

    O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) está investigando o extermínio de abelhas por intoxicação por agrotóxicos em colméias de São Paulo e Minas Gerais. Os estudos com inseticidas do tipo neonicotinoides devem estar concluídos no primeiro semestre de 2015. Trata-se de um problema de escala mundial, presente, inclusive, em países do chamado primeiro mundo, e que traz, como consequência, grave ameaça as seres vivos do planeta, inclusive ao homem.

IBAMA. Polinizadores em risco de extinção são ameaça à vida do ser humano. Disponível em: www.mma.gov.br. Acesso em: 10 mar. 2014.


Qual solução para o problema apresentado garante a produtividade da agricultura moderna?



a)

Preservação da áreas de mata ciliar.

b)

Adoção da prática de adubação química.

c)

Utilização da técnica de controle biológico.

d)

Ampliação do modelo de monocultura tropical.

e)

Intensificação da drenagem do solo de várzea.

Resolução

a) Incorreta. Preservar a vegetação em margens de cursos d'água não colabora para solucionar os problemas de uso de inseticidas e agrotóxicos, tampouco para aumento da produtividade da agricultura moderna, uma vez que esta infelizmente também tem colaborado para degradação de ambientes ciliares pela expansão das áreas de produção em margens de rios.

b) Incorreta. A adubação química promove aumento da fertilidade do solo e, consequentemente, colabora para o aumento da produtividade. Porém, tal método não resolve o problema da utilização de agrotóxicos para eliminar espécies de animais que afetam áreas de cultivo.

c) Correta. O controle biológico consiste na utilização de organismos vivos, normalmente predadores de determinada espécie animal, para diminuir a população de outros animais e/ou pragas em determinado local. Tal método possibilitaria o controle da quantidade de pragas sem a utilização de agrotóxicos ou inseticidas, garantindo a produtividade agrícola e evitando uma "grave ameaça aos seres vivos".

d) Incorreta. A expansão de monoculturas tropicais (como sojicultura, milhocultura, entre outras) está fortemente vinculada ao uso de agrotóxicos e inseticidas e não se apresenta como solução a esse problema.

e) Incorreta. Tal aspecto não reduz o uso de inseticidas para eliminar espécies de animais nocivas a áreas de cultivo, embora possa colaborar para aumento da produtividade da agricultura por meio do manejo do solo a fim de torná-lo favorável ao plantio em áreas de várzeas (sazonalmente alagadas pela cheia de rios).

Questão 71 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Religiosidades

    O cristianismo incorporou antigas práticas relativas ao fogo para criar uma festa sincrética. A igreja retomou a distância de seis meses entre os nascimentos de Jesus Cristo e João Batista e instituiu a data de comemoração a este último de tal maneira que as festas do solstício de verão europeu com suas tradicionais fogueiras se tornaram "fogueiras de São João". A festa do fogo e da luz no entanto não foi imediatamente associada a São João Batista. Na Baixa Idade Média, algumas práticas tradicionais da festa (como banhos, danças e cantos) foram perseguidas por monges e bispos. A partir do Concílio de Trento (1545-1563), a Igreja resolveu adotar celebrações em torno do fogo e associá-las à doutrina cristã.

CHIANCA, L. Devoção e diversão: expressões contemporâneas de festas e santos católicos. Revista Anthropológicas, n. 18, 2007 (adaptado).


Com objetivo de se fortalecer, a instituição mencionada no texto adotou as práticas descritas, que consistem em



a)

promoção de atos ecumênicos.

b)

fomento de orientações bíblicas.

c)

apropriação de cerimônias seculares.

d)

retomada de ensinamentos apostólicos.

e)

ressignificação de rituais fundamentalistas.

Resolução

O texto descreve um processo histórico de incorporação pela doutrina e pelo calendário cristão de uma tradição festiva que originalmente não estava vinculada ao catolicismo ou, de forma mais ampla, ao cristianismo. As festas do solstício de verão, dentro do contexto medieval, apresentavam um caráter secular - isto é, próprio do mundo material e desvinculado da Igreja - e estavam ligados ao início da temporada de colheita de cereais no início do verão. Originalmente vinculada às necessidades materiais e as tradições agrícolas da vida medieval na Europa, tais tradições foram gradativamente incorporadas e alteradas a partir de sua relação com a Igreja Católica, tendo parte de suas tradições e práticas abandonadas e perseguidas, enquanto outras foram ressignificadas, como a fogueira e a data, neste último caso. A única alternativa que sintetiza corretamente tal processo histórico é a de letra C, na qual apresenta que a Igreja se apropriou e incorporou cerimônias já existentes e até então desvinculadas da tradição católica para dentro do calendário religioso cristão.

Portanto, por tratar da relação de uma tradição não vinculada à Igreja para com a doutrina cristã, essa prática não pode ser corretamente considerada um ato ecumênico, conforme descrito na alternativa A, já que o ecumenismo é, em linhas gerais, o esforço de unificação entre diferentes Igrejas Cristãs. Também não há qualquer menção ao processo específico de incorporação desta festa a uma orientação bíblica ou a uma retomada dos ensinamentos apostólicos, sendo, mais corretamente, um exemplo de esforço de difusão e consolidação do cristianismo dentro da sociedade medieval, o que elimina as alternativas B e D. Finalmente, ainda que tal descrição revele um processo de ressignificação de rituais na construção de uma festa sincrética - isto é, um produto originado a partir de misturas de tradições diferentes -, ela não pode ser considerada em sua forma original como um ritual fundamentalista, isto é, relativo a uma adesão estrita e enfática a uma doutrina e/ou religião específica.

Questão 72 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Foucault

    Penso que não há um sujeito soberano, fundador, uma forma universal de sujeito que poderíamos encontrar em todos os lugares. Penso, pelo contrário, que o sujeito se constitui através das práticas de sujeição ou, de maneira mais autônoma, através de práticas de liberação, de liberdade, como na Antiguidade - a partir, obviamente, de um certo número de regras, de estilos, que podemos encontrar no meio cultural.

FOUCAULT, M. Ditos e escritos V: ética, sexualidade, política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.


O texto aponta que a subjetivação se efetiva numa dimensão



a)

legal, pautada em preceitos jurídicos.

b)

racional, baseada em pressupostos lógicos.

c)

contingencial, processada em interações sociais.

d)

transcendental, efetivada em princípios religiosos.

e)

essencial, fundamentada em parâmetros substancialistas.

Resolução

A questão pedia a alternativa em que o aluno encontrasse a dimensão em que se efetua o processo de subjetivação, ou seja, de tornar-se sujeito, que é descrito no texto.

a) Incorreta. Embora Foucault afirme no texto que as práticas que levam à formação do sujeito se dão a partir de regras, ele afirma que elas estão presentes "no meio cultural". Não há referência, portanto, a uma formatação que se dê  principalmente a partir do Direito institucional.

b) Incorreta. Pelo texto podemos notar que não é a racionalidade ou a lógica que leva a construção do sujeito, mas suas práticas em sociedade, que podem se modificar de acordo com o meio cultural. 

c) Correta. A subjetivação de Foucault é um processo que  depende principalmente de circunstâncias sociais. O sujeito descrito por Foucault está sempre em devir, em modificação através do que ele denomina "práticas de liberação, de liberdade", a partir das "regras e estilos  que podemos encontrar no meio cultural."

d) Incorreta. A religião não aparece como dimensão importante no processo de constituição do sujeito descrito pelo texto.

e) Incorreta. A subjetivação não pode ocorrer numa dimensão essencial, porque isso implicaria haver uma essência humana e, portanto, algo que valeria para todos os seres humanos.  Foucault afirma explicitamente no texto de apoio que não há "uma forma universal de sujeito que poderíamos encontrar em todos os lugares"

Questão 73 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Bacon Filosofia da Ciência

Texto I

    Os segredos da natureza se revelam mais sob a tortura dos experimentos do que no seu curso natural.

BACON, F. Novum Organum, 1620. In: HADOT, P. O véu de Ísis: ensaio sobre a história da ideia de natureza. São Paulo: Loyola, 2006,

Texto II

    O ser humano, totalmente desintegrado do todo, não percebe mais as relações de equilíbrio da natureza. Age de forma totalmente desarmônica sobre o ambiente, causando grandes desequilíbrios ambientais.

GUIMARÃES, M. A dimensão ambiental na educação. Campinas: Papirus, 1995.


Os textos indicam uma relação da sociedade diante da natureza caracterizada pela



a)

objetificação do espaço físico.

b)

retomada do modelo criacionista.

c)

recuperação do legado ancestral.

d)

infalibilidade do método científico.

e)

formação da cosmovisão holística.

Resolução

A questão apresenta dois textos que, de modo geral, indica uma relação entre a sociedade e a natureza que é pautada na "objetificação do espaço físico", conforme indica, corretamente, a alternativa A. É muito significativo, inclusive, o texto I apresentar um excerto do filósofo moderno Francis Bacon, conhecido pela frase "saber é poder". Boa parte da teoria desse autor é compreendida a partir da lógica do domínio da natureza, coisa que só é possível num contexto em que a natureza se torna objeto. São os objetos, ou as coisas/pessoas objetificadas, que são passíveis de dominação. Vários autores da história da filosofia, e até mesmo da história da sociologia, identificaram Francis Bacon como um "exemplo inicial", digamos assim, dessa visão de mundo reificante. Os frankfurtianos são um exemplo disso. Entenderam que, sobretudo a partir de Bacon, se estabelece, aos poucos, o desenvolvimento de uma "razão instrumental" (conceito da Escola de Frankfurt, que, em suma, indica justamente a tratativa da natureza como objeto, dominada através de uma "razão com relação a fins").

Do mais, as alternativas B, C, D e E estão incorretas. A alternativa B menciona uma "retomada do modelo criacionista", observação que não se sustenta e não se alinha aos pensamentos de Francis Bacon, autor notadamente empirista.  Por sua vez, a alternativa C menciona uma "recuperação do legado ancestral", como se os textos apontassem uma valorização da tradição. Tal fato contradiz o contexto histórico no qual se insere Francis Bacon, contexto de contestação da filosofia medieval, duramente criticada no começo da Modernidade. Já a letra D nos remete aos debates sobre critérios de cientificidade, mais especificamente o verificacionismo, corrente que, em linhas gerais, rotula as proposições científicas como proposições "infalíveis". Esse tipo de debate é muito posterior aos pensamentos de Bacon, o que deixa a alternativa anacrônica. E por fim, a alternativa E é incorreta, sobretudo, por se colocar contra a visão apresentada no texto II, que pontua o ser humano como "totalmente desintegrado do todo", e não em uma "cosmovisão holística", como aponta a referida alternativa.

Questão 74 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Hannah Arendt

A partir da análise da autora, no encontro das temporalidade históricas, evidencia-se uma crítica à naturalização do(a)



a)

ideário nacional, que legitima as desigualdades sociais.

b)

alienação ideológica, que justifica as ações individuais.

c)

cosmologia religiosa, que sustenta as tradições hierárquicas. 

d)

segregação humana, que fundamenta os projetos biopolíticos.

e)

enquadramento cultural, que favorece os comportamentos punitivos.

Resolução

O enunciado afirma que a análise de Hannah Arendt no texto de apoio revela uma crítica a naturalização de algo. O aluno deve marcar a alternativa que contém que naturalização seria essa.

a) Incorreta. Não há referências ao nacionalismo na análise de Hannah Arendt.

b) Incorreta. O texto não fala de alienação, nem de ações individuais, mas trata de um processo mais geral que permite que um expressivo número de pessoas convivam com grandes atrocidades.

c) Incorreta. Hannah Arendt não relaciona as atrocidades que cita no texto com as visões de mundo propagadas por religões especificamente.

d) Correta. Em seu texto,  Hannah Arendt enfatiza como "todas as formas de campos de concentração" são possíveis graças ao processo radical de separação das pessoas que se encontram nelas das demais: os "detentos" se tornam  irreais para aqueles que se encontram fora dos campos. Para a autora, essa situação permite enorme crueldade dentro dos campos, e em ultimo termo, a aceitação do extermínio dessas pessoas pelas que não estão detidas. 

e) Incorreta. Hannah Arendt não associa a normalização do extermínio a processos de padronização cultural, como sugere a alternativa.

Questão 75 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Movimentos das placas tectônicas

A divisão política do mundo como apresentada na imagem seria possível caso o planeta fosse marcado pela estabilidadede do(a)



a)

ciclo hidrológico.

b)

processo erosivo.

c)

estrutura geológica.

d)

índice pluviométrico.

e)

pressão atmosférica.

Resolução

a) Incorreta. O ciclo hidrológico influencia a alteração superficial da paisagem e não a estrutura das terras emersas.

b) Incorreta. O processo erosivo influencia a alteração superficial da paisagem e não a estrutura das terras emersas.

c) Correta. A estrutura geológica da Terra nos apresenta as principais dinâmicas da crosta ao longo dos milhões de anos de formação. A imagem apresenta uma divisão política atual no mapa de uma possível Pangeia que existiu entre 500 e 240 milhões de anos atrás.

d) Incorreta. O índice pluviométrico influencia a alteração superficial da paisagem e não a estrutura das terras emersas.

e) Incorreta. A pressão atmosférica influencia a alteração superficial da paisagem e não a estrutura das terras emersas.

 

Questão 76 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Alta Idade Média

A cidade medieval é, antes de mais nada, uma sociedade da abundância, concentrada num pequeno espaço em meio a vastas regiões pouco povoadas. Em seguida, é um lugar de produção e de trocas, onde se articula o artesanato e o comércio, sutentados por uma economia monetária. É também o centro de um sistema de valores particular, do qual emerge a prática laboriosa e criativa do trabalho, o gosto pelo negócio e pelo dinheiro, a inclinação para o luxo, o senso da beleza. É ainda um sistema de organização de um espaço fechado com muralhas, onde se penetra por portas e se caminha por ruas e praças e que é guarnecido por torres.

LE GOFF, J.; SCHMITT, J-C. Dicionário temático do Ocidente Medieval. Bauru: Edusc, 2006.


No texto, o espaço descrito se caracteriza pela associação entre a ampliação das atividades urbanas e a 



a)

emancipação do poder hegemônico da realeza.

b)

aceitação das práticas usurárias dos religiosos.

c)

independência da produção alimentar dos campos.

d)

superação do ordenamento corporativo dos ofícios.

e)

permanência dos elementos arquitetônicos de proteção.

Resolução

a) Incorreta. Não é possível afirmar que a Idade Média foi caracterizada como um espaço de poder hegemônico da realeza. O período medieval está atrelado ao conceito de feudalismo, no qual o poder político é descentralizado e difuso entre os membros das classes senhoriais. Ainda que os reis existissem nesse período, seu poder dependia das relações de suserania e vassalagem estabelecidos com membros da nobreza, estes últimos detentores de fato do poder político difuso medieval. Um exemplo que ilustra essa relação de dependência do poder real para com a nobreza são as próprias relações militares, tendo em vista que não existiam exércitos nacionais e o uso da força militar pelo rei dependendia diretamente da adesão e da participação de nobres e seus exércitos no conflito.

b) Incorreta. É incorreto afirmar que a Igreja Católica aceitava as práticas usurárias neste contexto histórico. A usura, isto é, o ato de emprestar dinheiro com a cobrança de juros era condenada e classificada como pecado dentro de uma sociedade profundamente cristianizada como a medieval. É possível encontrar evidências que condenam a prática da usura dentro da cristandade desde a Antiguidade, ainda que a perseguição e coibição de tal prática tenha ganhado força especialmente a partir do século XI, contexto de crescimento do processo de renascimento urbano e comercial. Em linhas gerais, a usura era considerada um pecado por ser entendida como a venda de algo que não lhe pertence, isto é, o tempo entre o momento do emprétismo até o pagamento completo com juros. Portanto, por vender algo que não é de sua propriedade, a usura era associada ao roubo e ao pecado e condenado pela igreja.

c) Incorreta. A cidade medieval tinha profunda relações com as áreas rurais contíguas, fundamentais para o abastecimento de gêneros básicos e de materias para seu funcionamento. O próprio processo de Renascimento Urbano está intimamente atrelado ao excedente alimentar na produção agrícola, proporcionado por inovações técnicas surgidas ao longo dos séculos X e XI. Desta forma, como as áreas rurais eram responsáveis pela produção primária que abastecia os espaços urbanos, é incorreto afirmar que havia uma independência entre cidade e campo, ainda que o texto fornecido pela questão estabeleça um contraste entre a vida citadina e rural. 

d) Incorreto. Ao contrário de uma suposta superação das corporações de ofício sugerida pela alternativa, tais instituições apresentam grande importância nas cidades medievais, sendo responsáveis pelo controle de diversos aspectos nos diferentes orfícios medievais. Estas corporações, por exemplo, eram responsáveis pelo recebimento e formação de aprendizes em determinadas profissões, além do controle contra a falsificação e mau desempenho de sua atividade. Também buscavam combater o acúmulo de atividades e serviços em um determinado mestre, desempenhando, portanto, uma forte influência e ordenação dentro das cidades medievais.

e) Correta. As cidades medievias apresentavam uma coexistência espacial de grandes estruturas de proteção - como muralhas e torres - e uma intensa vida citadina interna, conforme descrito pelo texto. Tais espaços urbanos eram importantes centros de poder, comércio e religião, abrigando desde sedes episcopais até espaços voltados para as transações comerciais. As estruturas de proteção eram fundamentais em um contexto de guerras e saques constantes, facilitando e permitindo assim o desenvolvimento econômico e sociais em suas áreas internas. Tal coexistência singular destas estruturas e da intensa vida citadina medieval é uma das principais características da urbe medieval.

 

Questão 77 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Cercamentos

    Dificilmente passa-se uma noite sem que algum sitiante tenha seu celeiro ou sua pilha de cereais destruídas pelo fogo. Vários trabalhadores não diretamente envolvidos nos ataques pareciam apoiá-los, como se vê neste depoimento ao The Times: "deixa queimar, pena que não foi a casa"; "podemos nos aquecer agora"; "nós só queríamos algumas batatas, há um fogo ótimo para cozinhá-las".

        HOBSBAWM, E.; RUDÉ, G. Capitão Swing. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982 (adaptado).


A revolta descrita no texto, ocorrida na Inglaterra no século XIX, foi uma reação ao seguinte processo socioespacial:



a)

Restrição da propriedade privada.

b)

Expropriação das terras comunais.

c)

Imposição da estatização fundiária.

d)

Redução da produção monocultora.

e)

Proibição das atividades artesanais.

Resolução

a) Incorreta. O longo do processo de cercamentos não representou uma restrição à propriedade privada em si, seja como um direito ou conceito, mas sim a imposição de um modelo de propriedade privada que se concretizou excludente para um campesinato vinculado a outra lógica de propriedade fundiária. Em outras palavras, o que ocorre é a imposição de um modelo de propriedade privada desigual em detrimento das tradicionais propriedades comunais existentes na Inglaterra, mas não uma restrição a ideia de propriedade privada em si - inclusive esta já estava consolidada nas mãos dos grandes proprietários. As terras comuns que gradativamente desapareceram, diferentemente da lógica da propriedade fundiária privada, eram caracterizadas pelo uso coletivo para caça, pesca e extração de outros materias, mesmo que os camponeses não fossem os proprietários desta terra.

b) Correta. Os cercamentos foram o processo de imposição da propriedade privada fundiária nas antigas propriedades comunais da Inglaterra, estas últimas historicamente fundamentais para o sustento das populações campesinas. Em suma, esse processo determinou a separação dos camponeses de seus meios de produção, concentrando as terras nas mãos de uma elite latifundiária vinculada fundamentalmente à produção lanífera. Estudos estimam que quase um terço do território inglês foi cercado entre 1600 e 1760, enquanto outros 6 milhões de acres tiveram o mesmo destino entre 1760 e 1830. Como resultado desse processo, destaca-se um gradativo processo de êxodo rural, transformando antigos camponeses em um exército de reserva disponível nas cidades. Essa massa de trabalhadores desempregados e sujeitos às péssimas condições de trabalho e salário foi um dos elementos que fundamentaram o pioneirismo inglês para a Revolução Industrial iniciado no século XVIII.

c) Incorreta. Não é correto que, ao longo da Idade Moderna, a Inglaterra passou por um processo de estatização fundiária, isto é, que o Estado tenha se tornado o proprietário efetivo das terras. O processo histórico que resulta na situação apresentada da revolta está ligado à consolidação da propriedade privada no campo e da concentração de terras nas mãos de uma elite fundiária, resultantes do processo de cercamento.

d) Incorreta. O processo de cercamentos das antigas propriedades comunais na Inglaterra está especialmente vinculado à produção lanifera na Inglaterra. Portanto, o processo histórico não está vinculado a uma redução da produção monocultora, mas sim à crescente necessidade de produção de lã e da profunda concentração fundiária nas mãos de uma elite latifundiária agrícola em detrimento do campesinato. 

e) Incorreta. Não se destaca na Inglaterra da Idade Moderna uma restrição ou proibição oficial às atividades artesanais, e caracterizaria uma transformação socioespacial na Inglaterra daquele contexto. A revolta e o apoio dos camponeses descritos no texto está vinculado às dificuldades materiais dos camponeses resultantes do processo de cercamentos, que impôs uma lógica de propriedade privada ao campo em detrimento de uma posse e uso comum.

Questão 78 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Processo de Independência do Brasil

    Entre os combatentes estava a mais famosa heroína da Independência. Nascida em Feira de Santana, filha de lavradores pobres, Maria Quitéria de Jesus tinha trinta anos quando a Bahia começou a pegar em armas contra os portugueses. Apesar da proibição de mulheres nos batalhões de voluntários, decidiu se alistar às escondidas. Cortou os cabelos, amarrou os seios, vestiu-se de homem e incorporou-se às fileiras brasileiras com o nome de Soldado Medeiros.

GOMES, L. 1822. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.


No processo de Independência do Brasil, o caso mencionado é emblemático porque evidencia a



a)

rigidez hierárquica da estrutura social.

b)

inserção feminina nos ofícios militares.

c)

adesão pública dos imigrantes portugueses.

d)

flexibilidade administrativa do governo imperial.

e)

receptividade metropolitana aos ideais emancipatórios.

Resolução

a) Correta. O caso de Maria Quitéria é emblemático por mostrar um episódio de uma mulher que, a despeito das estruturas sociais patriarcais vigentes no século XIX, rompeu com os papéis estabelecidos de gênero para a construção de sua própria carreira militar. Neste contexto, era legado às mulheres fundamentalmente o desempenho de funções domésticas e de atuação em espaços privados, e, ao romper com essa rígida estrutura e construir sua atuação militar, o caso de Maria Quitéria tornou-se historicamente emblemático. 

b) Incorreta. Não é possível afirmar que há uma inserção feminina nos ofícios militares neste contexto histórico. Ainda que o exemplo de Maria Quitéria ilustre um caso de uma mulher que atuou dentro da corporação militar, esta definitivamente não era a regra para o século XIX brasileiro. Portanto, Maria Quitéria e sua história não se tornaram emblemáticos por evidenciarem tal inserção, mas sim por ilustrar um episódio atípico de uma mulher que conseguiu uma carreira militar feminina, a despeito de toda a rigidez existentes entre os papéis de gênero.

c) Incorreta. O caso de Maria Quitéria não ilustra uma adesão pública dos imigrantes portugueses aos conflitos de independência. Não é possível afirmar que os portugueses aderirem de forma clara e pública ao processo de independência, tendo em vista que muitos mantinham relações comerciais, políticas e militares com a metrópole. O caso de Maria Quitéria ter destaque histórico se dá pelo fato de uma mulher ter construído uma carreira militar ao longo das batalhas de independência, fenômeno socialmente atípico para aquele contexto.

d) Incorreta. A história de Maria Quitéria não releva uma flexibilidade administrativa imperial. Conforme o próprio texto afirma, era expressa "a proibição de mulheres nos batalhões de voluntários". O destaque a história de Maria Quitéria não favorece uma leitura de uma possível flexibilidade administrativa, tendo em vista que exemplos de participação feminina são muito raros neste contexto. É exatamente o fato de romper tais imposições administrativas rígidas que tornou o caso de Maria Quitéria emblemático.

e) Incorreta. Não é possível afirmar que houve uma receptividade metropolitana aos ideais emancipatórios brasileiros. O processo de independência brasileiro foi marcado por conflito entre portugueses e brasileiros em diversas regiões, especialmente na Bahia, local de participação de Maria Quitéria. Portanto, a resistência militar portuguesa evidencia a rejeição aos ideais de independência aqui propagado, e não contrário, conforme exposto na alternativa.

Questão 79 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Sistemas de produção industrial

    A reestruturação global da indústria, condicionada pelas estratégias de gestão global da cadeia de valor dos grandes grupos transnacionais, promoveu um forte deslocamento do processo produtivo, até mesmo de plantas indústriais inteiras, e redirecionou os fluxos de produção e de investimento. Entretanto, o aumento da participação dos países em desenvolvimento no produto global deu-se de forma bastante assimétrica quando se compara o dinamismo dos países do leste asiático com o dos demais países, sobretudo os latino-americanos, no período 1980-2000.

SARTI, F.; HIRATUKA, C. Indústria mundial: mudanças e tendências recentes. Campinas: Unicamp, n. 186, dez. 2010.


A dinâmica de transformação da geografia das indústrias descrita expõe a complementaridade entre dispersão espacial e



a)

autonomia tecnológica.

b)

crises de abastecimento.

c)

descentralização política.

d)

concentração econômica.

e)

compartilhamento de lucros.

Resolução

a) Incorreta. A autonomia tecnológica relaciona-se com investimentos de longo prazo que não estão relacionados diretamento ao tema da dispersão espacial.

b) Incorreta. As crises de abastecimento estão ligadas a fatores sócio-econômicos, e a temática central é ligado a questão política.

c) Incorreta. A descentralização política é uma característica do processo de dispersão espacial coordenada pelos grandes grupos transnacionais, porém esse processo é muito mais ligado a questões econômicas da produção do que a questões políticas. 

d) Correta. A concentração econômica é um tema importante para entendimento da lógica global da produção industrial, pois a dinâmica atual apresenta complementação entre a dispersão espacial pelo mundo e a concentração econômica em certas regiões do globo, como o leste asiático. A dispersão industrial se dá no nível da produção, todavia em termos de tomadas de decisões a concentração econômica prevalece. Além disso, no período citado no texto (1980), há uma forte crise econômica latino-americana. 

e) Incorreta. O compartilhamento de lucros é uma atividade corriqueira do sistema econômico que é necessária para a descentralização política, mas sozinha não é um complemento direto para a questão da dispersão espacial.