Texto I
Os segredos da natureza se revelam mais sob a tortura dos experimentos do que no seu curso natural.
BACON, F. Novum Organum, 1620. In: HADOT, P. O véu de Ísis: ensaio sobre a história da ideia de natureza. São Paulo: Loyola, 2006,
Texto II
O ser humano, totalmente desintegrado do todo, não percebe mais as relações de equilíbrio da natureza. Age de forma totalmente desarmônica sobre o ambiente, causando grandes desequilíbrios ambientais.
GUIMARÃES, M. A dimensão ambiental na educação. Campinas: Papirus, 1995.
Os textos indicam uma relação da sociedade diante da natureza caracterizada pela
a) |
objetificação do espaço físico. |
b) |
retomada do modelo criacionista. |
c) |
recuperação do legado ancestral. |
d) |
infalibilidade do método científico. |
e) |
formação da cosmovisão holística. |
A questão apresenta dois textos que, de modo geral, indica uma relação entre a sociedade e a natureza que é pautada na "objetificação do espaço físico", conforme indica, corretamente, a alternativa A. É muito significativo, inclusive, o texto I apresentar um excerto do filósofo moderno Francis Bacon, conhecido pela frase "saber é poder". Boa parte da teoria desse autor é compreendida a partir da lógica do domínio da natureza, coisa que só é possível num contexto em que a natureza se torna objeto. São os objetos, ou as coisas/pessoas objetificadas, que são passíveis de dominação. Vários autores da história da filosofia, e até mesmo da história da sociologia, identificaram Francis Bacon como um "exemplo inicial", digamos assim, dessa visão de mundo reificante. Os frankfurtianos são um exemplo disso. Entenderam que, sobretudo a partir de Bacon, se estabelece, aos poucos, o desenvolvimento de uma "razão instrumental" (conceito da Escola de Frankfurt, que, em suma, indica justamente a tratativa da natureza como objeto, dominada através de uma "razão com relação a fins").
Do mais, as alternativas B, C, D e E estão incorretas. A alternativa B menciona uma "retomada do modelo criacionista", observação que não se sustenta e não se alinha aos pensamentos de Francis Bacon, autor notadamente empirista. Por sua vez, a alternativa C menciona uma "recuperação do legado ancestral", como se os textos apontassem uma valorização da tradição. Tal fato contradiz o contexto histórico no qual se insere Francis Bacon, contexto de contestação da filosofia medieval, duramente criticada no começo da Modernidade. Já a letra D nos remete aos debates sobre critérios de cientificidade, mais especificamente o verificacionismo, corrente que, em linhas gerais, rotula as proposições científicas como proposições "infalíveis". Esse tipo de debate é muito posterior aos pensamentos de Bacon, o que deixa a alternativa anacrônica. E por fim, a alternativa E é incorreta, sobretudo, por se colocar contra a visão apresentada no texto II, que pontua o ser humano como "totalmente desintegrado do todo", e não em uma "cosmovisão holística", como aponta a referida alternativa.