Entre os combatentes estava a mais famosa heroína da Independência. Nascida em Feira de Santana, filha de lavradores pobres, Maria Quitéria de Jesus tinha trinta anos quando a Bahia começou a pegar em armas contra os portugueses. Apesar da proibição de mulheres nos batalhões de voluntários, decidiu se alistar às escondidas. Cortou os cabelos, amarrou os seios, vestiu-se de homem e incorporou-se às fileiras brasileiras com o nome de Soldado Medeiros.
GOMES, L. 1822. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.
No processo de Independência do Brasil, o caso mencionado é emblemático porque evidencia a
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rigidez hierárquica da estrutura social. |
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inserção feminina nos ofícios militares. |
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adesão pública dos imigrantes portugueses. |
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flexibilidade administrativa do governo imperial. |
e) |
receptividade metropolitana aos ideais emancipatórios. |
a) Correta. O caso de Maria Quitéria é emblemático por mostrar um episódio de uma mulher que, a despeito das estruturas sociais patriarcais vigentes no século XIX, rompeu com os papéis estabelecidos de gênero para a construção de sua própria carreira militar. Neste contexto, era legado às mulheres fundamentalmente o desempenho de funções domésticas e de atuação em espaços privados, e, ao romper com essa rígida estrutura e construir sua atuação militar, o caso de Maria Quitéria tornou-se historicamente emblemático.
b) Incorreta. Não é possível afirmar que há uma inserção feminina nos ofícios militares neste contexto histórico. Ainda que o exemplo de Maria Quitéria ilustre um caso de uma mulher que atuou dentro da corporação militar, esta definitivamente não era a regra para o século XIX brasileiro. Portanto, Maria Quitéria e sua história não se tornaram emblemáticos por evidenciarem tal inserção, mas sim por ilustrar um episódio atípico de uma mulher que conseguiu uma carreira militar feminina, a despeito de toda a rigidez existentes entre os papéis de gênero.
c) Incorreta. O caso de Maria Quitéria não ilustra uma adesão pública dos imigrantes portugueses aos conflitos de independência. Não é possível afirmar que os portugueses aderirem de forma clara e pública ao processo de independência, tendo em vista que muitos mantinham relações comerciais, políticas e militares com a metrópole. O caso de Maria Quitéria ter destaque histórico se dá pelo fato de uma mulher ter construído uma carreira militar ao longo das batalhas de independência, fenômeno socialmente atípico para aquele contexto.
d) Incorreta. A história de Maria Quitéria não releva uma flexibilidade administrativa imperial. Conforme o próprio texto afirma, era expressa "a proibição de mulheres nos batalhões de voluntários". O destaque a história de Maria Quitéria não favorece uma leitura de uma possível flexibilidade administrativa, tendo em vista que exemplos de participação feminina são muito raros neste contexto. É exatamente o fato de romper tais imposições administrativas rígidas que tornou o caso de Maria Quitéria emblemático.
e) Incorreta. Não é possível afirmar que houve uma receptividade metropolitana aos ideais emancipatórios brasileiros. O processo de independência brasileiro foi marcado por conflito entre portugueses e brasileiros em diversas regiões, especialmente na Bahia, local de participação de Maria Quitéria. Portanto, a resistência militar portuguesa evidencia a rejeição aos ideais de independência aqui propagado, e não contrário, conforme exposto na alternativa.