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Enem 2019 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas


Questão 40 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos científicos e de divulgação científica

    A rede é, antes de tudo, um instrumento de comunicação entre pessoas, um laço virtual em que as comunidades auxiliam seus membros a aprender o que querem saber. Os dados não representam senão a matéria-prima de um processo intelectual e social vivo, altamente elaborado. Enfim, toda inteligência coletiva do mundo jamais dispensará a inteligência pessoal, o esforço individual e o tempo necessário para aprender, pesquisar, avaliar e integrar-se a diversas comunidades, sejam elas virtuais ou não. A rede jamais pensará em seu lugar, fique tranquilo.

LÉVY, P. A máquina universo: criação, cognição e cultura. informática. Porto Alegre: Artmed, 1998.


No contexto das novas tecnologias de informação e comunicação, a circulação de saberes depende da



a)

otimização do tempo.

b)

confiabilidade dos sites.

c)

contribuição dos usuários.

d)

quantidade de informação.

e)

colaboração de intelectuais.

Resolução

a) Incorreta. O texto não afirma que a circulação de saberes depende da otimização do tempo, e sim que a inteligência coletiva do mundo jamais dispensará alguns elementos, entre eles o tempo necessário para aprender, pesquisar, avaliar e integrar-se a diversas comunidades, virtuais ou não.

b) Incorreta. O texto não se pronuncia sobre a confiabilidade dos sites.

c) Correta. Segundo o texto, a circulação de saberes depende da contribuição dos usuários, haja vista que se afirma que "a rede é (...) um instrumento de comunicação entre pessoas, um laço virtual em que as comunidades auxiliam seus membros a aprender o que querem saber."

d) Incorreta. O texto não se pronuncia sobre quantidade de informação.

e) Incorreta. Segundo o texto, são os diferentes usuários, especialistas ou não, que constituem a rede como um instrumento de comunicação entre pessoas. Assim, não é correto afirmar que a circulação de saberes depende da colaboração de intelectuais.

Questão 41 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos científicos e de divulgação científica Intertextualidade e Interdiscursividade

TEXTO I

Estratos

    Na passagem de uma língua para outra, algo sempre permanece, mesmo que não haja ninguém para se lembrar desse algo. Pois um idioma retém em si mais memórias que seus falantes e, como uma chapa mineral marcada por camadas de uma história mais antiga do que aquela dos seres viventes, inevitavelmente carrega em si a impressão das eras pelas quais passou. Se as "línguas são arquivos da história", elas carecem de livros de registro e catálogos. Aquilo que contêm pode apenas ser consultado em parte, fornecendo ao pesquisador menos os elementos de uma biografia do que um estudo geológico de uma sedimentação realizada em um período sem começo ou sem fim definido.

HELLER-ROAZEN, D. Ecolalias: sobre o esquecimento das linguas.

Campinas: Unicamp, 2010.

TEXTO II

        Na refleção gramatical dos séculos XVI  e XVII, a influência árabe aparece pontualmente, e se reveste sobretudo de item bélico fundamental na atribuição de rudeza aos idiomas português e castelhano por seus respectivos detratores. Parecer com o árabe, assim, é uma acusação de dessemelhança com o latim.

SOUZA, M. P. Linguisticas histórica.

Campinas: Unicamp, 2006.


Relacionando-se as ideias dos textos a respeito da história e memória das línguas, quanto à formação da língua portuguesa, constata-se que



a)

a presença de elementos de outras línguas no português foi historicamente avaliada como índice de riqueza.

b)

o estudioso da língua pode identificar com precisão os elementos deixados por outras línguas na transformação da lingua portuguesa.

c)

o português é o resultado da influência de outras línguas no passado e carrega marcas delas em suas múltiplas camadas.

d)

o árabe e o latim estão na formação escolar e na memória dos falantes brasileiros.

e)

a influência de outras línguas no português ocorreu de maneira uniforme ao longo da história.

Resolução

a) Incorreta. Dos textos, entende-se que a presença de elementos de outras línguas no português é uma realidade comum a várias línguas, e a tal fenômeno histórico não se atribui juízos de valor como a riqueza de que trata a alternativa.

b) Incorreta. Especificamente no Texto I, fica claro que não é possível identificar com precisão os elementos deixados por outras línguas na língua portuguesa: "Na passagem de uma língua para outra, algo sempre permanece, mesmo que não haja ninguém para se lembrar desse algo. (...) Aquilo que contêm pode apenas ser consultado em parte, fornecendo ao pesquisador menos os elementos de uma biografia do que um estudo geológico de uma sedimentação realizada em um período sem começo ou sem fim definido."

c) Correta. O português, assim como várias outras línguas, aliás, é o resultado da influência de outras línguas no passado e carrega marcas delas em suas múltiplas camadas, conforme se verifica nos trechos: "Na passagem de uma língua para outra, algo sempre permanece (...) Pois um idioma (...) inevitavelmente carrega em si a impressão das eras pelas quais passou." e "Na reflexão gramatical dos séculos XVI e XVII, a influência árabe aparece pontualmente (...)".

d) Incorreta. Segundo o texto I, "um idioma retém em si mais memórias que os seus falantes", assim, é incorreto afirmar que o árabe e o latim, línguas cujos elementos estão presentes na língua portuguesa, estão na memória dos falantes brasileiros. Ademais, não é um fato que árabe e latim estejam na formação escolar dos falantes brasileiros, pois não existem tais disciplinas como obrigatórias nos currículos escolares do Brasil.

e) Incorreta. Nenhum dos textos permite afirmar que a influência de outras línguas no português ocorreu de maneira uniforme ao longo da história: o texto I apenas afirma que, na passagem de uma língua para outra, algo sempre permanece, e o texto II estabelece que a influência árabe no português (e no castelhano) apareceu pontualmente, diferentemente da ampla influência do latim.

Questão 42 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos literários

Uma ouriça

Se o de longe esboça lhe chegar perto,

se fecha (convexo integral de esfera),

se eriça (bélica e multiespinhenta):

e, esfera e espinho, se ouriça à espera.

Mas não passiva (como ouriço na loca);

nem só defensiva (como se ouriça o gato);

sim agressiva (como jamais o ouriço),

do agressivo capaz de bote, de salto

(não do salro para trás, como o gato):

daquele capaz de salto para o assalto.

 

Se o de longe lhe chega em (de longe),

de esfera aos espinhos, ela se desouriça.

Reconverte: o metal hermético e armado

na carne de antes (côncava e propícia),

e as molas felinas (para o assalto),

nas molas em espiral (para o abraço).

MELO NETO, J. C. A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.


Com apuro formal, o poema tece um conjunto semântico que metaforiza a atitude feminina de



a)

tenacidade transformada em brandura.

b)

obstinação traduzida em solamento.

c)

inércia provocada pelo desejo platônico.

d)

irreverência cultivada de forma cautelosa.

e)

desconfiança consumada pela intolerância.

Resolução

O poema descreve o comportamento de um animal – uma ouriça – que assume uma atitude defensiva e, ao mesmo tempo, agressiva, quando se vê ameaçada por algum elemento externo: Se o de longe esboça lhe chegar perto,/ se fecha (convexo integral de esfera),/ se eriça (bélica e multiespinhenta). Além de se defender, ela ataca, avançando violentamente sobre o agressor.

Na segunda estrofe, entretanto, o poema menciona que “Se o de longe lhe chega em (de longe)”, ou seja, se algum animal ou pessoa se aproximar da ouriça de modo mais cuidadoso (de longe), ela “se desouriça” e se “reconverte”, ou seja, se desarma e, ao invés de atacar, se movimenta em direção ao abraço. Isto posto, considera-se:

a) Correta. Pode-se considerar o poema como uma metáfora para a atitude feminina de tenacidade (resistência) convertida em brandura. Há no texto um conjunto semântico que metaforiza cada uma dessas atitudes, sendo que a tenacidade é evidenciada por vocábulos como “se eriça (bélica e multiespinhenta), enquanto a brandura é metaforizada por “carne de antes (côncava e propícia).

b) Incorreta. A atitude de isolamento retratada na primeira estrofe se converte, na segunda, em atitude de abertura e proximidade.

c) Incorreta. Não é possível descrever as atitudes da ouriça como resultado da inércia, antes disso, elas são uma reação ao modo como o “de longe” se aproxima dela.

d) Incorreta. Não há no texto nenhuma referência verbal que expresse a atitude de irreverência, uma vez que os sentidos se constroem em torno dos gestos de agressão e acolhimento.

e) Incorreta. A atitude feminina de defesa, ataque ou abertura é resultado de uma ação direta, que pode ser violenta ou delicada; nesse sentido não é a desconfiança ou a intolerância que provocam essa atitude, mas o modo como a aproximação ocorre.

Questão 43 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos publicitários linguagem verbal e não verbal


disponível em: www.acnur.org. acesso em: 11 dez. 2018.


Nesse cartaz, o uso da imagem do calçado aliada ao texto verbal tem o objetivo de



a)

criticar as difíceis condições de vida dos refugiados.

b)

revelar a longa trajetória percorrida pelos refugiados.

c)

incentivar a campanha de doação para os refugiados.

d)

denunciar a situação de carência vivida pelos refugiados.

e)

simbolizar a necessidade de adesão à causa dos refugiados.

Resolução

Segundo o provérbio, "Se alguém julgar o seu caminho, dê a ele os seus sapatos", o que quer dizer que apenas ao nos colocarmos no lugar do outro é que teremos reais condições de fazer qualquer análise ou julgamento de sua situação. O cartaz traz um par de sapatos, cuja propriedade deve ser atribuída a um refugiado, e a sugestão de calçarmos os sapatos dos refugiados para darmos o primeiro passo para entender sua situação - um belíssimo jogo de palavras em alusão ao provérbio supracitado. Assim, a imagem e o texto têm o objetivo de simbolizar a necessidade de adesão à causa dos refugiados (alternativa E), adesão que somente é possível pela empatia, pelo "colocar-se no lugar do outro", a fim de verdadeiramente entendermos a situação pela qual passam. Dessa forma, a campanha não se restringe ao que as outras alternativas indicam, pois não critica explicitamente as difíceis condições de vida dos refugiados (alternativa A); não se propõe a revelar a longa trajetória percorrida pelos refugiados (alternativa B); não quer incentivar a campanha de doações para os refugiados (alternativa C); e não denuncia explicitamente a situação de carência vivida pelos refugiados (alternativa D).

Questão 44 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos literários

Blues da Piedade

    Vamos pedir piedade

    Senhor, piedade

    Pra essa gente careta e covarde

    Vamos pedir piedade

    Senhor, piedade

    Lhes dê grandeza e um pouco de coragem

CAZUZA. Cazuza: o poeta não morreu. Rio de Janeiro: Universal Music, 2000 (fragmento).


Todo gênero apresenta elementos constitutivos que condicionam seu uso em sociedade. A letra de canção identifica-se com o gênero ladainha, essencialmente pela utilização da sequencia textual



a)

expositica, por discorrer sobre um dado tema.

b)

narrativa, por apresentar uma cadeia de ações.

c)

injuntiva, por chamar o interlocutor à participação.

d)

descritiva, por enumerar características de um personagem.

e)

argumentativa, por incitar o leitor a uma tomada de atitude.

Resolução

Ladainha trata-se de uma prece litúrgica formada por curtas invocações alternadas com respostas repetitivas.

a) Incorreta. O texto não é expositivo, pois não apresenta informações, descrições ou enumeração de características de determinado tema.

b) Incorreta. O texto não é narrativo, pois não apresenta encadeamento ou sequência de ações.

c) Correta. A injunção que chama o interlocutor à participação é marcada pela locução verbal (vamos pedir), pelo vocativo (Senhor) e pelo verbo no imperativo (dê).

d) Incorreta. O texto não é descritivo, pois não apresenta descrição ou enumeração de características de um personagem.

e) Incorreta. O texto não é argumentativo, pois não tem argumentos para convencer alguém de determinada tese ou para incitar ao leitor uma tomada de posição.

Questão 45 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos jornalísticos

    Com o enredo que homenageou o centenário do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, a Unidos da Tijuca foi coroada no Carnaval 2012.

    A penúltima escola a entrar na Sapucaí, na segunda noite de desfiles, mergulhou no universo do cantor e compositor brasileiro e trouxe a cultura nordestina com criatividade para a Avenida, com o enredo O dia em que toda a realeza desembarcou na Avenida para coroar o Rei Luiz do Sertão.

Disponível em: www.cultura.rj.gov.br.

Acesso em: 15 maio 2012 (adaptado).


A notícia relata um evento cultural que marca a



a)

primazia do samba sobre a música nordestina.

b)

inter-relação entre dois gêneros musicais brasileiros.

c)

valorização das origens oligárquicas da cultura nordestina.

d)

proposta de resgate de antigos gêneros musicais brasileiros.

e)

criatividade em compor um samba-enredo em homenagem a uma pessoa.

Resolução

a) Incorreta. O Carnaval carioca de 2012 trouxe para a Avenida um samba-enredo sobre O Rei do Baião, Luiz Gonzaga, em uma homenagem à cultura nordestina, e não um símbolo da supremacia do samba sobre a música nordestina.

b) Correta. O Carnaval carioca de 2012 trouxe para a Avenida, pela escola de samba Unidos da Tijuca, um samba-enredo em homenagem ao Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Assim, a notícia marca a inter-relação entre os dois gêneros musicais brasileiros: o samba-enredo e o baião.

c) Incorreta. A notícia nada diz sobre "origens oligárquicas da cultura nordestina", apenas esclarece o título do samba-enredo, sem maiores detalhes: "O dia em que toda a realeza desembarcou na Avenida para coroar o Rei Luiz do Sertão".

d) Incorreta. A notícia descreve que a escola campeã do Carnaval carioca de 2012 trouxe um samba-enredo em homenagem ao Rei do baião e nada diz sobre resgatar antigos gêneros musicais brasileiros.

e) Incorreta. Segundo a notícia, a Unidos da Tijuca "trouxe a cultura nordestina com criatividade para a Avenida", mas não relaciona textualmente a criatividade à composição de um samba-enredo em homenagem a uma pessoa (que seria Luiz Gonzaga).

Questão 46 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Maquiavel (Filosofia)

Para Maquiavel, quando um homem decide dizer a verdade pondo em risco a própria integridade física, tal resolução diz respeito apenas a sua pessoa. Mas se esse mesmo homem é um chefe de Estado, os critérios pessoais não são mais adequados para decidir sobre ações cujas consequências se tornam tão amplas, já que o prejuízo não será apenas individual, mas coletivo. Nesse caso, conforme as circunstâncias e os afins a serem atingidos, pode-se decidir que o melhor para o bem comum seja mentir.

ARANHA, M. L. Maquiavel: a lógica da força. São Paulo: Moderna, 2006 (adaptado).


O texto aponta uma inovação na teoria política na época moderna expressa na distinção entre



a)

idealidade e efetividade da moral.

b)

nulidade e preservabilidade da liberdade.

c)

ilegalidade e legitimidade do governante.

d)

verificabilidade e possibilidade da verdade.

e)

objetividade e subjetividade do conhecimento.

Resolução

A inovação na teoria política na Época Moderna, proposta por Maquiavel, se traduz por aquilo que costumamos chamar de "Realismo Político". De modo geral, o Realismo Político se coloca, no campo das reflexões filosóficas, a partir de duas teses centrais: o pensamento político ganha autonomia em relação ao pensamento ético e a política passa a ser pensada a partir das suas situações reais, não ideais. Tais teses se diferenciam da tradição política, exemplificada pelos gregos e pelos medievais, que costumavam escrever seus tratados políticos colocando a ética como parte fundamental da política, o que tornava suas ideias idealistas. Por isso tudo, a resposta correta é aquela que está presente na alternativa A. As demais alternativas não contemplam essas diferenças, essenciais para responder ao exercício. Não se trata de "anular ou preservar" a liberdade, como coloca a alteranativa B; não se trata de discussão acerca da ilegalidade ou legitimidade do governante, como coloca a alternativa C; não se trata de um debate epistemológico (um debate sobre as possiblidades da verdade e do conhecimento), como colocam as alternativas D e E.

Questão 47 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Cidadania (Sociologia) Cidadania e vida pública

A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) como uma política para todos constitui-se uma das mais importantes conquistas da sociedade brasileira no século XX. O SUS deve ser valorizado e defendido como um marco para a cidadania e o avanço civilizatório. A democracia envolve um modelo de Estado no qual políticas protegem os cidadãos e reduzem as desigualdades. O SUS é uma diretriz que fortalece a cidadania e contribui para assegurar o exercício de direitos, o pluralismo político e o bem-estar como valores de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, conforme prevê a Constituição Federal de 1988.

RIZZOTO, M. L. F. et al. Justiça social, democracia com direitos socias e saúde: a luta do Cebes. Revista Saúde em Debate. n. 116, jan.-mar. 2018 (adaptado).


Segundo o texto, duas características da concepção da política pública analisada são:



a)

Paternalismo e filantropia.

b)

Liberalismo e meritocracia.

c)

Universalismo e igualitarismo.

d)

Nacionalismo e individualismo.

e)

Revolucionarismo e coparticipação.

Resolução

O texto, embora trate do Sistema Único de Saúde, deixa claro que esse mesmo sistema se insere em um debate maior: o debate sobre cidadania. É por isso que, entre outras coisas, ele destaca a importância do SUS para o exercício dos direitos - impossível tratar de cidadania sem considerar o debate sobre os direitos. O enunciado, então, ao solicitar duas características da política pública apresentadas no texto, pede duas característiacas fundamentais para o exercício da cidadania. Nesse contexto, a resposta correta é a C, "universalismo e igualitarismo". Na literatura sociológica, inclusive, universalismo e igualitarismo diferenciam direitos de "privilégios". Ademais, considerando que paternalismo, filantropia, liberalismo, meritocracia, nacionalismo, individualismo e revolucionarismo (características presentes nas outras alternativas) não podem ser consideradas características formais da cidadania, as demais respostas estão incorretas.

Questão 48 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Descartes

Texto I

    Considero apropriado deter-me algum tempo na contemplação deste Deus todo perfeito, ponderar totalmente à vontade seus maravilhosos atributos, considerar admirar e adorar a incomparável beleza dessa imensa luz.

DESCARTES, R. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

Texto II

    Qual será a forma mais razoável de entender como é o mundo? Existirá alguma boa razão para acreditar que o mundo foi criado por uma divindade todo-poderosa? Não podemos dizer que a crença em Deus é "apenas" uma questão de fé.

RACHELS, J. Problemas da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.


Os textos abordam um questionamento de construção da modernidade que defende um modelo



a)

centrado na razão humana.

b)

baseado na explicação mitológica.

c)

fundamentado na ordenação imanentista.

d)

focado na legitimação contratualista.

e)

configurado na percepção etnocêntrica.

Resolução

O texto I apresenta um excerto do filósofo René Descartes, considerado pai do racionalismo moderno. Nele, Descartes aborda um dos temas clássicos da história da filosofia: Deus. Para o autor, Deus pode ser considerado uma verdade da razão, por se tratar de uma ideia inata. Afinal, segundo o filósofo, Deus tem de existir desde sempre na mente humana, já que, consigo, carrega as ideias de perfeição e infinitude, ideias essas que não poderíamos, por nós mesmos, pensar, visto que, como humanos, somos imperfeitos e finitos, logo, incapazes de gerar as ideias de perfeição e infinito. A conclusão do autor, então, é que só poderíamos ter tais ideias, e a ideia do próprio Deus, se ele mesmo, Deus, colocasse essas ideias em nós. Esse argumento é conhecido, na história da filosofia, como prova ontológica da existência de Deus e, de acordo com a tradição filosófica, teria surgido na Idade Média, com Santo Anselmo. Ademais, Deus também é a temática do texto II, que afirma: "não podemos dizer que a crença em Deus é 'apenas' uma questão de fé", sugerindo que, além de se tratar de uma questão de fé, Deus também pode ser abordado por um saber como o saber filosófico, isto é, um saber racional. Por tudo isso, a resposta correta é aquela que se encontra na alternativa A. A explicação mitológica, conforme indica a alternativa B, não cabe, já que aborda um tipo de saber não contemplado pelos autores - o saber mitológico - caracterizado por ser um tipo de conhecimento fantasioso e definitivo. A alternativa C fala em "ordenação imanentista", o que não corresponde ao debate proposto na tradição cartesiana, embora possa ser visto em outros filósofos, até mesmo da Modernidade. Deus imanente pressupõe um Deus que é, digamos assim, a própria natureza, isto é, não transcendente. No caso da prova ontológica de Deus, se faz necessário a transcendência, já que se faz necessário um "outro" (Deus), para colocar suas ideias em nossas mentes. As alternativas D e E, por sua vez, são incorretas porque remetem a debates diferentes do proposto no exercício, respectivamente, ao debate político (quando se fala em "contratualista") e ao debate cultural (quando se fala em "etnocêntrica"). 

Questão 49 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Formação e diversidade cultural da população brasileira

A comunidade de Mumbuca, em Minas Gerais, tem uma organização coletiva de tal forma expressiva que coopera para o abastecimento de mantimentos da cidade do Jequitinhonha, o que pode ser atestado pela feira aos sábados. Em Campinho da Independência, no Rio de Janeiro, o artesanato local encanta os frequentadores do litoral sul do estado, além do restaurante quilombola que atende aos turistas.

ALMEIDA, A. W B. (Org.). Cadernos de debates nova cartografia social: Territórios quilombolas e conflitos. Manaus: Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia; UEA Edições, 2010 (adaptado).


No texto, as estratégias territoriais dos grupos de remanescentes de quilombo visam garantir:



a)

Perdão de dívidas fiscais.

b)

Reserva de mercado local.

c)

Inserção econômica regional.

d)

Protecionismo comercial tarifário.

e)

Benefícios assistenciais públicos.

Resolução

Os quilombolas representam uma importante estratégia de valorização e manutenção da cultura  da população afrodescendente. Tradições culinárias, música e outros elementos culturais são preservados nesses espaços. O direito à posse desses territórios pela população afrodescendente foi garantido pela Constituição de 1988.

A geração de renda é fundamental para a continuidade da existência desses espaços. O texto nos mostra estratégias econômicas adotadas pela comunidade de Mumbuca, em MG, e no Rio de Janeiro para se inserirem no mercado regional e, assim, viabilizarem a subsistência  dos seus territórios.

a) Incorreta, pois o texto não faz nenhuma menção ao pagamento de dívidas fiscais.

b) Incorreta, pois políticas de reserva de mercado envolvem a criação de restrições para determinados produtos, o que não não está definido no texto.

d) Incorreta, pois  não há nenhuma ação do Estado erguendo barreiras protecionistas para proteger os produtos e serviços oferecidos pelos quilombolas.

a) Incorreta, pois a ação dos grupos quilombolas visa gerar renda para a subsistência desses grupos, não são evidenciados benefícios assistenciais públicos.