Texto I
Considero apropriado deter-me algum tempo na contemplação deste Deus todo perfeito, ponderar totalmente à vontade seus maravilhosos atributos, considerar admirar e adorar a incomparável beleza dessa imensa luz.
DESCARTES, R. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
Texto II
Qual será a forma mais razoável de entender como é o mundo? Existirá alguma boa razão para acreditar que o mundo foi criado por uma divindade todo-poderosa? Não podemos dizer que a crença em Deus é "apenas" uma questão de fé.
RACHELS, J. Problemas da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.
Os textos abordam um questionamento de construção da modernidade que defende um modelo
a) |
centrado na razão humana. |
b) |
baseado na explicação mitológica. |
c) |
fundamentado na ordenação imanentista. |
d) |
focado na legitimação contratualista. |
e) |
configurado na percepção etnocêntrica. |
O texto I apresenta um excerto do filósofo René Descartes, considerado pai do racionalismo moderno. Nele, Descartes aborda um dos temas clássicos da história da filosofia: Deus. Para o autor, Deus pode ser considerado uma verdade da razão, por se tratar de uma ideia inata. Afinal, segundo o filósofo, Deus tem de existir desde sempre na mente humana, já que, consigo, carrega as ideias de perfeição e infinitude, ideias essas que não poderíamos, por nós mesmos, pensar, visto que, como humanos, somos imperfeitos e finitos, logo, incapazes de gerar as ideias de perfeição e infinito. A conclusão do autor, então, é que só poderíamos ter tais ideias, e a ideia do próprio Deus, se ele mesmo, Deus, colocasse essas ideias em nós. Esse argumento é conhecido, na história da filosofia, como prova ontológica da existência de Deus e, de acordo com a tradição filosófica, teria surgido na Idade Média, com Santo Anselmo. Ademais, Deus também é a temática do texto II, que afirma: "não podemos dizer que a crença em Deus é 'apenas' uma questão de fé", sugerindo que, além de se tratar de uma questão de fé, Deus também pode ser abordado por um saber como o saber filosófico, isto é, um saber racional. Por tudo isso, a resposta correta é aquela que se encontra na alternativa A. A explicação mitológica, conforme indica a alternativa B, não cabe, já que aborda um tipo de saber não contemplado pelos autores - o saber mitológico - caracterizado por ser um tipo de conhecimento fantasioso e definitivo. A alternativa C fala em "ordenação imanentista", o que não corresponde ao debate proposto na tradição cartesiana, embora possa ser visto em outros filósofos, até mesmo da Modernidade. Deus imanente pressupõe um Deus que é, digamos assim, a própria natureza, isto é, não transcendente. No caso da prova ontológica de Deus, se faz necessário a transcendência, já que se faz necessário um "outro" (Deus), para colocar suas ideias em nossas mentes. As alternativas D e E, por sua vez, são incorretas porque remetem a debates diferentes do proposto no exercício, respectivamente, ao debate político (quando se fala em "contratualista") e ao debate cultural (quando se fala em "etnocêntrica").