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Questão 48 Enem 2019 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Questão 48

Descartes

Texto I

    Considero apropriado deter-me algum tempo na contemplação deste Deus todo perfeito, ponderar totalmente à vontade seus maravilhosos atributos, considerar admirar e adorar a incomparável beleza dessa imensa luz.

DESCARTES, R. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

Texto II

    Qual será a forma mais razoável de entender como é o mundo? Existirá alguma boa razão para acreditar que o mundo foi criado por uma divindade todo-poderosa? Não podemos dizer que a crença em Deus é "apenas" uma questão de fé.

RACHELS, J. Problemas da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.


Os textos abordam um questionamento de construção da modernidade que defende um modelo



a)

centrado na razão humana.

b)

baseado na explicação mitológica.

c)

fundamentado na ordenação imanentista.

d)

focado na legitimação contratualista.

e)

configurado na percepção etnocêntrica.

Resolução

O texto I apresenta um excerto do filósofo René Descartes, considerado pai do racionalismo moderno. Nele, Descartes aborda um dos temas clássicos da história da filosofia: Deus. Para o autor, Deus pode ser considerado uma verdade da razão, por se tratar de uma ideia inata. Afinal, segundo o filósofo, Deus tem de existir desde sempre na mente humana, já que, consigo, carrega as ideias de perfeição e infinitude, ideias essas que não poderíamos, por nós mesmos, pensar, visto que, como humanos, somos imperfeitos e finitos, logo, incapazes de gerar as ideias de perfeição e infinito. A conclusão do autor, então, é que só poderíamos ter tais ideias, e a ideia do próprio Deus, se ele mesmo, Deus, colocasse essas ideias em nós. Esse argumento é conhecido, na história da filosofia, como prova ontológica da existência de Deus e, de acordo com a tradição filosófica, teria surgido na Idade Média, com Santo Anselmo. Ademais, Deus também é a temática do texto II, que afirma: "não podemos dizer que a crença em Deus é 'apenas' uma questão de fé", sugerindo que, além de se tratar de uma questão de fé, Deus também pode ser abordado por um saber como o saber filosófico, isto é, um saber racional. Por tudo isso, a resposta correta é aquela que se encontra na alternativa A. A explicação mitológica, conforme indica a alternativa B, não cabe, já que aborda um tipo de saber não contemplado pelos autores - o saber mitológico - caracterizado por ser um tipo de conhecimento fantasioso e definitivo. A alternativa C fala em "ordenação imanentista", o que não corresponde ao debate proposto na tradição cartesiana, embora possa ser visto em outros filósofos, até mesmo da Modernidade. Deus imanente pressupõe um Deus que é, digamos assim, a própria natureza, isto é, não transcendente. No caso da prova ontológica de Deus, se faz necessário a transcendência, já que se faz necessário um "outro" (Deus), para colocar suas ideias em nossas mentes. As alternativas D e E, por sua vez, são incorretas porque remetem a debates diferentes do proposto no exercício, respectivamente, ao debate político (quando se fala em "contratualista") e ao debate cultural (quando se fala em "etnocêntrica").