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Questão 41 Enem 2019 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Questão 41

textos científicos e de divulgação científica Intertextualidade e Interdiscursividade

TEXTO I

Estratos

    Na passagem de uma língua para outra, algo sempre permanece, mesmo que não haja ninguém para se lembrar desse algo. Pois um idioma retém em si mais memórias que seus falantes e, como uma chapa mineral marcada por camadas de uma história mais antiga do que aquela dos seres viventes, inevitavelmente carrega em si a impressão das eras pelas quais passou. Se as "línguas são arquivos da história", elas carecem de livros de registro e catálogos. Aquilo que contêm pode apenas ser consultado em parte, fornecendo ao pesquisador menos os elementos de uma biografia do que um estudo geológico de uma sedimentação realizada em um período sem começo ou sem fim definido.

HELLER-ROAZEN, D. Ecolalias: sobre o esquecimento das linguas.

Campinas: Unicamp, 2010.

TEXTO II

        Na refleção gramatical dos séculos XVI  e XVII, a influência árabe aparece pontualmente, e se reveste sobretudo de item bélico fundamental na atribuição de rudeza aos idiomas português e castelhano por seus respectivos detratores. Parecer com o árabe, assim, é uma acusação de dessemelhança com o latim.

SOUZA, M. P. Linguisticas histórica.

Campinas: Unicamp, 2006.


Relacionando-se as ideias dos textos a respeito da história e memória das línguas, quanto à formação da língua portuguesa, constata-se que



a)

a presença de elementos de outras línguas no português foi historicamente avaliada como índice de riqueza.

b)

o estudioso da língua pode identificar com precisão os elementos deixados por outras línguas na transformação da lingua portuguesa.

c)

o português é o resultado da influência de outras línguas no passado e carrega marcas delas em suas múltiplas camadas.

d)

o árabe e o latim estão na formação escolar e na memória dos falantes brasileiros.

e)

a influência de outras línguas no português ocorreu de maneira uniforme ao longo da história.

Resolução

a) Incorreta. Dos textos, entende-se que a presença de elementos de outras línguas no português é uma realidade comum a várias línguas, e a tal fenômeno histórico não se atribui juízos de valor como a riqueza de que trata a alternativa.

b) Incorreta. Especificamente no Texto I, fica claro que não é possível identificar com precisão os elementos deixados por outras línguas na língua portuguesa: "Na passagem de uma língua para outra, algo sempre permanece, mesmo que não haja ninguém para se lembrar desse algo. (...) Aquilo que contêm pode apenas ser consultado em parte, fornecendo ao pesquisador menos os elementos de uma biografia do que um estudo geológico de uma sedimentação realizada em um período sem começo ou sem fim definido."

c) Correta. O português, assim como várias outras línguas, aliás, é o resultado da influência de outras línguas no passado e carrega marcas delas em suas múltiplas camadas, conforme se verifica nos trechos: "Na passagem de uma língua para outra, algo sempre permanece (...) Pois um idioma (...) inevitavelmente carrega em si a impressão das eras pelas quais passou." e "Na reflexão gramatical dos séculos XVI e XVII, a influência árabe aparece pontualmente (...)".

d) Incorreta. Segundo o texto I, "um idioma retém em si mais memórias que os seus falantes", assim, é incorreto afirmar que o árabe e o latim, línguas cujos elementos estão presentes na língua portuguesa, estão na memória dos falantes brasileiros. Ademais, não é um fato que árabe e latim estejam na formação escolar dos falantes brasileiros, pois não existem tais disciplinas como obrigatórias nos currículos escolares do Brasil.

e) Incorreta. Nenhum dos textos permite afirmar que a influência de outras línguas no português ocorreu de maneira uniforme ao longo da história: o texto I apenas afirma que, na passagem de uma língua para outra, algo sempre permanece, e o texto II estabelece que a influência árabe no português (e no castelhano) apareceu pontualmente, diferentemente da ampla influência do latim.