O cristianismo incorporou antigas práticas relativas ao fogo para criar uma festa sincrética. A igreja retomou a distância de seis meses entre os nascimentos de Jesus Cristo e João Batista e instituiu a data de comemoração a este último de tal maneira que as festas do solstício de verão europeu com suas tradicionais fogueiras se tornaram "fogueiras de São João". A festa do fogo e da luz no entanto não foi imediatamente associada a São João Batista. Na Baixa Idade Média, algumas práticas tradicionais da festa (como banhos, danças e cantos) foram perseguidas por monges e bispos. A partir do Concílio de Trento (1545-1563), a Igreja resolveu adotar celebrações em torno do fogo e associá-las à doutrina cristã.
CHIANCA, L. Devoção e diversão: expressões contemporâneas de festas e santos católicos. Revista Anthropológicas, n. 18, 2007 (adaptado).
Com objetivo de se fortalecer, a instituição mencionada no texto adotou as práticas descritas, que consistem em
a) |
promoção de atos ecumênicos. |
b) |
fomento de orientações bíblicas. |
c) |
apropriação de cerimônias seculares. |
d) |
retomada de ensinamentos apostólicos. |
e) |
ressignificação de rituais fundamentalistas. |
O texto descreve um processo histórico de incorporação pela doutrina e pelo calendário cristão de uma tradição festiva que originalmente não estava vinculada ao catolicismo ou, de forma mais ampla, ao cristianismo. As festas do solstício de verão, dentro do contexto medieval, apresentavam um caráter secular - isto é, próprio do mundo material e desvinculado da Igreja - e estavam ligados ao início da temporada de colheita de cereais no início do verão. Originalmente vinculada às necessidades materiais e as tradições agrícolas da vida medieval na Europa, tais tradições foram gradativamente incorporadas e alteradas a partir de sua relação com a Igreja Católica, tendo parte de suas tradições e práticas abandonadas e perseguidas, enquanto outras foram ressignificadas, como a fogueira e a data, neste último caso. A única alternativa que sintetiza corretamente tal processo histórico é a de letra C, na qual apresenta que a Igreja se apropriou e incorporou cerimônias já existentes e até então desvinculadas da tradição católica para dentro do calendário religioso cristão.
Portanto, por tratar da relação de uma tradição não vinculada à Igreja para com a doutrina cristã, essa prática não pode ser corretamente considerada um ato ecumênico, conforme descrito na alternativa A, já que o ecumenismo é, em linhas gerais, o esforço de unificação entre diferentes Igrejas Cristãs. Também não há qualquer menção ao processo específico de incorporação desta festa a uma orientação bíblica ou a uma retomada dos ensinamentos apostólicos, sendo, mais corretamente, um exemplo de esforço de difusão e consolidação do cristianismo dentro da sociedade medieval, o que elimina as alternativas B e D. Finalmente, ainda que tal descrição revele um processo de ressignificação de rituais na construção de uma festa sincrética - isto é, um produto originado a partir de misturas de tradições diferentes -, ela não pode ser considerada em sua forma original como um ritual fundamentalista, isto é, relativo a uma adesão estrita e enfática a uma doutrina e/ou religião específica.