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Unesp 2021 - 1ª fase - dia 2


Questão 51 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Urbanização

Examine o infográfico

(Claudio Jacinto. https://ipoema.org.br. Adaptado)

 

O infográfico apresenta orientações para a concepção de

 



a)

equipamentos urbanos, que ressignificam a dicotomia entre campo e cidade no século XXI.

b)

cidades inteligentes, que impõem técnicas ecológicas para a permanência de seus habitantes.

c)

construções sustentáveis, que visam reduzir a interferência humana no meio ambiente.

d)

bioconstruções, que apresentam como princípio a negação da ação antrópica no espaço natural.

e)

edificações ecoeficientes, que mantêm suas funções sem demandar recursos naturais.

Resolução

A questão traz um infográfico sobre 8 dicas de arquitetura, que versam principalmente sobre o uso racional de recursos naturais através de processos simples e sem uso de tecnologias de ponta ou equipamentos automatizados avançados. São elas:

1) Aproveitar a água da chuva para armazenamento (caixa na imagem) e posterior utilização.
2) Utilização de soluções de compostagem de esgoto doméstico, o que passa pela utilização de plantas, como as bananeiras (indicadas na imagem).
3) A energia solar é a mais abundante pode ser captada de diversas maneiras, com o uso de grandes placas (indicada na imagem), que podem transformar a energia térmica do sol, em aquecimento para água, ou se for um uso mais moderno, através de placas fotovoltaicas. 
4) Buscar melhor integração com do terreno com a paisagem, incorporando a flora do local ao terreno.
5) Aproveitar a iluminação natural com o uso de elementos como o vidro, permitindo menor consumo de eletricidade.
6) Aproveitamento da circulação natural dos ventos, produzindo ambientais com melhor conforto térmico e menor utilização de ar condicionado.
7) O conforto térmico pode ser obtido pela utilização de diversas técnicas, como o telhado verde (na imagem), utilizando a área do telhado para fazer jardins.
8) Por fim a reciclagem dos resíduos orgânicos no próprio terreno, através de composteiras.

Considerando tais práticas, discorre-se que:

a) Incorreta. A imagem apresenta um equipamento que pode ajudar na ressignificação da dicotomia rural/urbano, porém não seria viável plenamente nas grandes metrópoles, onde a taxa de verticalização impede o uso efetivo do terreno como apresentado, sobretudo no que diz respeito aos itens 4, 5 e 6.
b) Incorreta. As cidades inteligentes são projetos de integração entre os equipamentos urbanos e os cidadãos e usuários de serviços, através da internet e os celulares. Trata-se, portanto, de uma proposta distante da apresentada na imagem, que não incorpora alta tecnologia, por exemplo. 
c) Correta. A imagem mostra o ideal de uma construção sustentável, onde o uso dos recursos naturais seja direcionado para fontes renováveis. Pode-se apontar a questão da energia do Sol (5), tanto para a iluminação natural em busca de melhor conforto térmico, quanto para o aquecimento da água, e até para a proliferação de bactérias e seres decompositores e o uso racional da água, que pode ser limpa e utilizada no próprio jardim.
d) Incorreta. As bioconstruções não apresentam como princípio a negação da ação antrópica no meio natural, pois essas construções buscar uma maior integração possível no uso dos recursos naturais nas construções, buscando então a intervenção e transformações mínimas e sustentáveis a partir da interação entre meio ambiente e sociedade.
e) Incorreta. As edificações ecoeficientes buscam melhor utilização das fontes de energia renováveis, porém a opção afirma que essas edificações não demandam o uso de recursos naturais, um erro, já que essas construções buscam utilizar os recursos de forma sustentável.

Questão 52 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Fontes de energia

Oferta interna de energia, Brasil, 1940-2012

(Empresa de Pesquisa Energética (Brasil). Balanço energético nacional 2013, 2013. Adaptado.)

 

Considerando as características da matriz energética brasileira, no gráfico,

 



a)

IV corresponde a lenha e carvão vegetal, que a partir de 1985 voltaram a ser empregados por famílias com baixo poder aquisitivo.

b)

I corresponde aos produtos da cana-de-açúcar, que em 1975 teve o crescimento de sua oferta incentivado com a instituição do Proálcool.

c)

V corresponde à hidráulica, que desde 1945 mantém crescimento acelerado pelos incentivos do Procel para a construção de usinas.

d)

III corresponde ao carvão mineral, que alcançou estabilidade no início dos anos 2000 com a proibição de novas termoelétricas.

e)

II corresponde a petróleo, gás e derivados, que a partir de 1980 tiveram uma queda gradual na participação, devido à escassez desses recursos.

Resolução

O Balanço Energético Nacional (BEN, 2012), estudo vinculado ao Ministério de Minas e Energia (MME) traz informações importantes sobre a produção e consumo de energia do Brasil. Através da compilação de uma série de informações, é possível analisar o gráfico utilizado na questão, que mostra a evolução da matriz energética nacional ao longo do século XX:
 

a) Incorreta. Indica que o item IV é lenha e carvão vegetal. Porém a lenha e o carvão vegetal eram predominantes no Brasil e na maior parte dos países subdesenvolvidos até meados do século XX. O item corresponde ao carvão, que apresenta participação menor que 10% da oferta final de energia oferecida.

b) Correta. Correspondente a cana-de-açúcar, um dos principais produtos agrícolas do Brasil, apresentou um enorme salto de utilização na década de 1970, contando com a promulgação do decreto n° 76.593 do Proálcool (Programa Nacional do Álcool), responsável pela criação de tecnologia para utilização do etanol, produto derivado da cana, nos motores de automóveis nacionais. No início do século XX, há novos incrementos tecnológicos, com a invenção dos motores híbridos (álcool e gasolina) em carros flex, o que manteve o uso da cana e de seus derivados próximos de 15% nos últimos anos do gráfico.

c) Incorreta. Indica que o item V corresponde hidráulica. O item corresponde a petróleo, gás e derivados, que começam a ser largamente utilizados em automóveis no Brasil a partir dos anos 1950 e têm crescimento acentuado até meados dos anos 1970, quando as crises dos choques do petróleo diminuem o consumo, momento em que há estabelecimento de projetos para o uso do etanol nesse momento, conforme explicado acima. O Procel, Programa Nacional de Conservação de Energia, foi instituído em 1985 e implementou ações que contribuem para o aumento da eficiência dos bens e serviços e para o desenvolvimento de hábitos de consumo eficiente da energia, não se relacionando com investimentos para construção de novas usinas no país.

d) Incorreta. Indica que o item III corresponde ao carvão mineral. O item corresponde a energia hidráulica, que apresenta grande aumento na participação da produção de energia ao longo dos anos 1970 e 1980, com grandes projetos de construção, como a Hidrelétrica de Itaipu (1984), Tucuruí (1975), entre outras.

e) Incorreta. Indica que o item II corresponde II a petróleo, gás e derivados. O item corresponde à lenha, predominantemente utilizada antes do processo de aceleração das industrialização na segunda metade do século XX, quando diminui sua participação, dando lugar ao petróleo e seus derivados.

Questão 53 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Desertificação

Fatores naturais, bem como a ação humana, podem atuar em processos de degradação ambiental. Em zonas áridas, semiáridas e subúmidas, um processo negativo característico dos solos e um de seus impactos esperados são:

 

 



a)

a salinização e a retração no nível dos lençóis freáticos.

b)

a compactação e o incremento de terras não agricultáveis.

c)

a laterização e o aumento dos fenômenos erosivos.

d)

a desertificação e a redução da biodiversidade.

e)

a arenização e a diminuição da fertilidade.

Resolução

a) Incorreta. O processo de salinização ocorre principalmente em áreas de clima árido e semiárido, sendo causada pela grande diferença do balanço hídrico, com maior evapotranspiração e retração do nível dos lençóis freáticos. No entanto, a retração dos lençóis freáticos (água subterrânea) não seria parte dos impactos da salinização, pois, na verdade, é um dos aspectos que a promove devido a menor disponibilidade de água para diluir os sais minerais no subsolo.
b) Incorreta. A compactação do solo é comum é áreas de grande utilização de máquinas agrícolas e criação de gado bovino, sendo os terrenos em áreas áridas e semiáridas pouco utilizados, nesse caso, por não serem favoráveis devido à falta de água. Além disso, a compactação é maior em áreas com solos de maior quantidade de argila, pouco comum em regiões áridas, a argila apresenta capacidade de expansão e retração de quase 7 vezes do tamanho inicial do grão, causando esse tipo de degradação.
c) Incorreta. A laterização é um fenômeno típico das áreas tropicais, sendo um processo natural de acúmulo de minerais como o ferro e alumínio nas camadas superiores do solo, produzindo amadas de solo enrijecidas (laterita ou canga) que, em certos casos, podem ser mineralmente exploradas, mas são pouco úteis para agricultura devido sua baixa fertilidade.
d) Correta. A desertificação é um processo complexo, com diversos fatores de controle e influência. Esse processo ocorre com a intensificação da diminuição da água nos solos, em geral de clima árido e semiárido, impossibilitando sua utilização para a agropecuária. As causas podem ser naturais ou antrópicas (ou ambas) e, em geral, estão conectadas à perda de vegetação e diminuição da biodiversidade, seja pelo desmatamento de áreas próximas ou pela mudança de chuvas. No Brasil, há o processo de desertificação em pelo menos quatro núcleos na região em que se localiza o domínio da Caatinga, sob influência do clima semiárido no Sertão nordestino.
e) Incorreta. A arenização é um processo que pode ocorrer em áreas de diversos climas, incluindo os tropicais e subtropicais, e resulta no aumento da fração de areia sobre os solos, não diminuindo a fertilidade geral, mas pode causar a dificuldade do uso e manejo agrícola e a fixação de plantas.

 

Questão 54 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Sistemas de localização geográfica

Examine a imagem.

(Paulo Roberto Fitz. Cartografia básica, 2008. Adaptado.)

As coordenadas geográficas do ponto X, no sistema sexagesimal, são, aproximadamente,



a)

45º48’W e 34º40’51”S.

b)

43º54’E e 35º18’N.

c)

45º48’W e 34º40’51”N.

d)

45º48’E e 34º40’51”S.

e)

43º54’W e 35º18’S.

Resolução

De acordo com a imagem, observamos que a orientação positiva da longitude (horizontal) está direcionada para a esquerda. Isso significa que o ponto X está a Oeste do Meridiano de Greenwich.

Além disso, como a orientação positiva da latitude (vertical) está direcionada para baixo, concluímos que o ponto X está ao Sul da Linha do Equador (com essas informações já seria possível eliminar as alternativas B, C e D).

Note então que a variação de 10° da longitude foi dividida em 50 partes iguais, de modo que cada parte representa um deslocamento de 10°50=600'50=12' (12 minutos).

Como o ponto X dista 29 dessas partes (a oeste) do ponto de longitude 40° W, a longitude do ponto X é

40°+29·12' =  40°+5°48' = 45°48' W

(com essa informação já é possível descartar a alternativa E, restando apenas a alternativa A, como possível alternativa correta)

Com respeito à latitude, a variação de 10° foi dividida em 48 partes iguais. Assim, cada uma dessas partes equivale a 10°48=600'48=12'30'' (12 minutos e 30 segundos).

Finalmente, como o ponto X dista, aproximadamente, 22,5 dessas partes (ao sul) do ponto de latitude 30° S, temos que a latitude do ponto X é

30°+22,5·12'30'' = 30°+4°41'15'' =34°41'15'' S

Portanto, as coordenadas geográficas do ponto X são, aproximadamente, aquelas apresentadas na alternativa (A)

45°48' W  e  34°40'51'' S

Questão 55 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Locke (FSH)

    Locke [...] admite, a título de direito natural, o direito de propriedade fundado sobre o trabalho e limitado, por consequência, à extensão de terra que um homem pode cultivar, e o poder paterno, sendo a família instituição natural e não política. [...] O pacto social não cria nenhum direito novo. É um acordo entre indivíduos que se reúnem para empregar a força coletiva no sentido de executar as leis naturais, renunciando a executá-las por sua própria força.

(Émile Bréhier. História da filosofia, 1979.)

O excerto apresenta um aspecto da teoria política de Locke, que estabelece



a)

a garantia da defesa de bens individuais.

b)

a submissão das famílias à decisão coletiva.

c)

a regulação do Estado conforme a vontade divina.

d)

a ausência de um poder soberano.

e)

a autoridade do governo na divisão de propriedades.

Resolução

A filosofia política de John Locke,  pensador contratualista do século XVIII, é um dos temas mais abordados nos vestibulares, incluso aí a avaliação da Unesp, que já elaborou, em outras oportunidades, questões sobre o autor. 

Nesse caso, especificamente, o exercício levanta, através do excerto, o debate sobre os direitos que nós, enquanto humanos, temos desde sempre (desde o nosso nascimento), independentemente de acordos sociais ou da criação do Estado. Não por acaso, John Locke não é referência apenas na filosofia, mas também, por exemplo, no Direito, onde é estudado como um "Jusnaturalista", isto é, como pensador dos "direitos naturais". 

Nesse viés, cabe analisar quais seriam os direitos naturais dos humanos e assinalar a alternativa correta.

a) Correta. Esta alternativa se enquadra na filosofia de Locke. Segundo o autor, nossos bens individuais, comumente chamados de "propriedade privada", são bens inalienáveis e, como tais, devem ser sempre defendidos e jamais violados, mesmo que pelas forças do Estado. Aliás, vale ressaltar: esse último só é criado, através de um contrato social, para proteger tais bens, tais direitos. 

b) Incorreta. A alternativa fala em "submissão das famílias à decisão coletiva", o que fere a sacralidade do indivíduo, tão presente na filosofia política do autor e base para o desenvolvimento do liberalismo político e da concepção burguesa de pessoa.

c) Incorreta. A alternativa fala sobre a regulação do Estado de acordo com a vontade divina, como se John Locke não deixasse claro, em seus escritos, a importância da autonomia e liberdade do homem no que diz respeito à organização da vida social e produtiva.

d) Incorreta. A alternativa sugere que a "ausência de um poder soberano" estaria de acordo com o autor. Não está. Devemos nos lembrar de que a existência do Estado é a existência de um poder soberano e, nesse sentido, como já foi dito, a existência do Estado pode ser benéfica, quando sua finalidade for a proteção da propriedade privada.

e) Incorreta. A alternativa fala sobre a autoridade do governo na divisão das propriedades, um erro clássico, considerando essa abordagem. Como é sabido, o pensamento político de Locke não defende a intervenção de Estados ou governos nas propriedades privadas, já que, para o autor, isso seria uma grave violação à liberdade e aos bens todos que configuram nossos direitos naturais.

Questão 56 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Temas da Filosofia

E se esse tal futuro

for pior do que o presente

E se for melhor parar

do que caminhar pra frente

E se o amor for dor

E se todo sonhador

não passar de um pobre louco

E se eu desanimar,

Se eu parar de sonhar

queda a queda, pouco a pouco.

(Bráulio Bessa. “Se”. In: Poesia que transforma, 2018.)

 

No excerto do cordel, o eu lírico manifesta inquietação equivalente a uma preocupação central e recorrente na história da filosofia, desde suas origens, qual seja:



a)

a identificação de princípios reveladores da virtude.

b)

a fundamentação do conhecimento na experiência empírica.

c)

o desenvolvimento de critérios de organização da linguagem.

d)

o questionamento contínuo para a compreensão da realidade.

e)

a busca ininterrupta da verdade plena e absoluta.

Resolução

A dúvida, a inquietação, a angústia, o questionamento, a incerteza... tais características estão presentes na história da filosofia desde que a filosofia começou a ter história. Em outras palavras: essas características são constituintes da filosofia, seja qual for a definição de filosofia que escolhermos, de tal modo que, sem elas, a filosofia deixa de ser filosofia, e passa a ser alguma outra coisa. Os exemplos poderiam ser muitos, de Tales, pré-socrático do século VII a.C. e considerado o primeiro "filósofo", aos pensadores dos séculos XX e XXI, passando, nesse intervalo temporal gigante, por nomes como Sócrates ou Descartes, Agostinho ou Sartre. Tão diferentes entre si, e em tempos tão distantes, nenhum deles se furtou à dúvida, ao questionamento.

Na condição de questão interdisciplinar, esse exercício traz todas essas características da filosofia através de um poema, gênero literário que, nesse caso, se traveste em cordel, expressão clássica da cultura nordestina, brasileira. Nos versos, entre outras coisas, podemos ler: " E se esse tal futuro / for pior que o presente / E se for melhor parar / do que caminhar para frente", ou seja, podemos ler a continuidade dos questionamentos, como meio de compreender a realidade que cerca o eu lírico.

Por tudo isso, temos:

a) Incorreta. O debate sobre a virtude, no campo da filosofia, não é necessário e, ainda mais, não aparece no poema.

b) Incorreta. O conhecimento que se baseia em experiências configura-se como teoria que nem sempre existiu na história da filosofia, além de não ser abordado no cordel, que não faz nenhum observação de ordem epistemológica.

c) Incorreta. As discussões sobre os critérios da linguagem dizem respeito a campo bem específico da filosofia e, por isso mesmo, não se constitui debate essencial e universal a todo o ato de filosofar.

d) Correta. Todas as outras alternativas trazem características contingenciais da filosofia, ou seja, características que não são necessárias para o saber filosófico e, por isso mesmo, nem sempre estiveram presentes entre as teorias, os temas, os autores e as épocas, diferentemente do questionamento, como apontamos acima.

e) Incorreta. A busca pela verdade absoluta, longe de ser uma característica da filosofia, constitui sua negação, já que o filósofo, por definição e tradição, jamais pode se ver como detentor de uma verdade que não se coloca sob suspeita.

Questão 57 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Sócrates

A crítica de Sócrates aos sofistas consiste em mostrar que o ensinamento sofístico limita-se a uma mera técnica ou habilidade argumentativa que visa a convencer o oponente daquilo que se diz, mas não leva ao verdadeiro conhecimento. A consequência disso era que, devido à influência dos sofistas, as decisões políticas na Assembleia estavam sendo tomadas não com base em um saber, ou na posição dos mais sábios, mas na dos mais hábeis em retórica, que poderiam não ser os mais sábios ou virtuosos.

(Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2010.)

De acordo com o texto, a crítica socrática aos sofistas dizia respeito



a)

ao entendimento de que o verdadeiro conhecimento baseava-se no exercício da retórica.

b)

à desvalorização da pluralidade de opiniões e de posicionamentos político-ideológicos.

c)

ao prevalecimento das técnicas discursivas nas decisões da Assembleia acerca dos rumos das cidades-Estado.

d)

ao predomínio de líderes pouco sábios e com poucas virtudes na composição da Assembleia.

e)

à defesa de formas tirânicas de exercício do poder desenvolvida pela retórica convincente.

Resolução

Tema comum entre os estudiosos de Filosofia Antiga é a retórica. Não poderia ser diferente, já que Sócrates, Platão e Aristóteles discutiram amplamente o assunto, em todas as suas considerações filosóficas, éticas e políticas. Aristóteles, inclusive, tem uma obra intitulada "Retórica". Mas, por qual motivo a temática era tão viva entre os clássicos da filosofia grega? Entre as respostas, não podemos deixar de mencionar uma: a Grécia pariu a política e a democracia, filhas que sempre se encantaram com as artes da retórica e deixaram-se, em algumas oportunidades, por ela se levar. E o exercício trata justamente disso. E, mais ainda, de como Sócrates se incomodava com o predomínio da técnica sobre o conhecimento. Os sofistas, na visão socrática, falavam para convencer, independentemente da verdade. Não é preciso dizer muito mais para concluirmos que, nesse sentido, a alternativa correta seria a alternativa "C". Contudo, por que não as outras alternativas? Uma por uma:

a) Incorreta. A alternativa não trata de um entendimento comum entre os sofistas, ao dizer que o verdadeiro conhecimento se baseava na retórica. Alguns sofistas, de fato, pensavam assim; outros, no entanto, nem acreditavam em uma "verdade". Costumamos tratar os sofistas como um grupo uniforme e homogêneo, mas, a bem da verdade, eles tinham, por vezes, posições filosóficas diferentes entre si. Fato é que, explicado isso, podemos inferir, com tranquilidade, que não faria sentido dizer que Sócrates critica os sofistas por algo que, como já dito, não era entendimento comum entre eles.

b) Incorreta. Este item  sugere que a crítica de Sócrates dizia respeito à "desvalorização da pluralidade de opiniões", quando bem sabemos que o próprio Sócrates não tinha por costume desdenhar das muitas opiniões que ouvia, procurando sempre investigá-las com rigor para proceder rumo ao conhecimento verdadeiro.

c) Correta. Sócrates condena o uso das técnicas retóricas como fim em si mesmo, como se elas fossem absolutas e, assim, pudesem prevalecer sobre tudo, inclusive sobre a verdade.

d) Incorreta. Traz um posicionamento político que não era sustentado pelos sofistas. Sócrates criticava os sofistas por outras coisas, mas não pela defesa de líderes igorantes, como se eles fossem um ideal a ser alcançado.

e) Incorreta. Traz um posicionamento político que não era sustentado pelos sofistas. Sócrates criticava os sofistas por outras coisas, mas não pela defesa de líderes autoritários, como se fosse isso uma plataforma política.

Questão 58 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Temas da Filosofia Filosofia Contemporânea

É relativamente consensual que uma era biotecnológica se aproxima. Em um futuro cenário de desenvolvimento biotecnológico, que será instaurado com o progresso tecnológico no século XXI, alterar-se-á um dos mais tradicionais dilemas da moralidade. Em vez de enfrentarmos a questão de que atitudes e deveres morais temos para com os seres compreendidos atualmente como animais não humanos (por exemplo, gato, cachorro, cavalo etc.), a questão será que obrigações teremos com outro tipo de não humano, isto é, os chamados pós-humanos. A pós-humanidade seria alcançada por meio da aplicação de técnicas de manipulação, instrumentalização e artificialização da vida, do patrimônio biológico do humano. O humano, por iniciativa própria e com vistas ao melhoramento da sua natureza, deixaria de ser humano.

(Murilo Mariano Vilaça e Maria Clara Marques Dias. “Transumanismo e o futuro (pós-)humano”. Physis – Revista de Saúde Coletiva, 2014. Adaptado.)

Ao tratar de aspectos da bioética, o texto propõe uma reflexão sobre



a)

os conflitos atuais entre os humanos e os seres pós-humanos.

b)

a procedência de recursos empregados nas pesquisas tecnológicas.

c)

os limites técnicos das pesquisas em biotecnologia.

d)

a amoralidade do esforço de imaginar e prever o futuro humano.

e)

a necessidade futura de redefinição do conceito de humanidade.

Resolução

Mantendo a tradição, a Unesp formulou, mais uma vez, uma questão sobre bioética, área da filosofia que, com o avanço das ciências e tecnologias, nas últimas décadas, cada vez tem ganho mais destaque, como um dos tópicos da Ética e da Filosofia Moral.

Entre alguns temas da bioética, podemos mencionar: a relação do homem com a natureza, a relação do homem com suas próximas gerações, a responsabilidade para com as condições de vida do futuro, as implicações dos avanços técnicos e científicos e a redefinição do conceito de humano e de humanidade. E, aqui, vejamos, justamente nesse ponto, encontramos nossa resposta. A alternativa "E", menciona exatamente um dos objetos de estudo da bioética: "a necessidade futura de redefinição do conceito de humanidade". Assim, um conceito mais geral e amplo sobre o tema em questão, atrelada à leitura do texto, leva-nos à resposta correta.

Notemos que, nesse caso, então, apenas um conhecimento do assunto não nos levaria à assinalar a alternativa "E", necessariamente. Era preciso, também, uma leitura refinada do excerto, já que, não podemos deixar de dizer, as alternativas "B" e "C" trazem considerações que, embora se enquadrem, talvez, melhor no campo da Filosofia da Ciência, também podem se constituir como objeto da Filosofia Moral. Porém, repetimos: a leitura refinada do texto não nos levaria a tais itens, uma vez que Murilo Mariano Vilaça e Maria Clara Marques Dias não propõem (pelo menos não no trecho selecionado) uma reflexão sobre "a procedência de recursos empregados nas pesquisas tecnológicas" ou sobre "os limites técnicos das pesquisas em biotecnologia".

Do mais, o item "A" é incorreto porque se refere aos conflitos "atuais", quando o texto se direciona às problemáticas do futuro, ou seja, daquelas que ainda estão por vir. Igualmente incorreto é a alternativa "D", que sugere uma reflexão sobre a "amoralidade", assunto totalmente fora de questão (não há menção alguma acerca disso), no contexto desse exercício.

Questão 59 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Nietzsche

Pode acontecer que, para a educação do verdadeiro filósofo, seja preciso que ele percorra todas as gradações nas quais os “trabalhadores da filosofia” estão instalados e devem permanecer firmes: ele deve ter sido crítico, cético, dogmático e histórico e, ademais, poeta, viajante, moralista e vidente e “espírito livre”, tudo enfim para poder percorrer o círculo dos valores humanos, dos sentimentos de valor, e poder lançar um olhar de múltiplos olhos e múltiplas consciências, da mais sublime altitude aos abismos, dos baixios para o alto. Mas tudo isso é apenas uma condição preliminar da sua incumbência. Seu destino exige outra coisa: a criação de valores.

(Friedrich Nietzsche. Além do bem e do mal, 2001. Adaptado)

 

No texto, Nietzsche propõe que a formação do filósofo deve



a)

assegurar e manter os poderes políticos do governante.

b)

conhecer e extrapolar as práticas de vida, os sentimentos e os valores presentes na sociedade.

c)

privilegiar e fortalecer o papel da religião nas atitudes críticas perante a vida e os humanos.

d)

restringir-se ao terreno da reflexão na busca por uma verdade absoluta.

e)

retomar a origem una e indivisível dos humanos, na busca de sua liberdade de natureza.

Resolução

a) Incorreta. A lógica de manutenção do poder do governante não se aplica à filosofia de Nietzche, considerando que tal ideia remete à lógica da manutenção do status quo, bastante divergente do pensamento do autor. Ele não apresenta no texto nenhuma relação entre a formação do filósofo o aspecto político mencionado na alternativa. 
b) Correta. Nietzsche propõe que a formação do filósofo deve, como coloca, corretamente, a alternativa "B", "conhecer e extrapolar as práticas de vida, os sentimentos e os valores presentes na sociedade". Muitos são os conceitos, de sua filosofia, que nos poderiam lembrar dessa exortação. Por exemplo, os conceitos de super-homem ou de transvaloração dos valores, interligados, aliás, entre si. Seja no primeiro ou no segundo caso, há de se proceder rumo às rupturas, capazes de fornecer sopros de vida ao ser humano que, colhido na regularidade dos costumes, se despedaça, inquieto, em sua jaula.  São essas as metáforas do filósofo alemão: o despedaçar-se; o prender-se, como animal, em uma cela. Pelo menos são essas as metáforas do homem que se prende à tradição e não extrapola a moral vigente em seu grupo, em sua época. Por óbvio, esse não pode ser o filósofo. Em Além do bem e do mal, obra que serve de base para o exercício, Nietzsche deixa claro, como podemos ver: há de criar valores - o que implica em transvalorizar os vigentes - o que implica em questioná-los, sempre. O mesmo recado Nietzsche dá em A genealogia da moral e em tantas outras obras.
c) Incorreta. A concepção de fortalecimento  do papel da religião e de suas  verdades distancia-se da lógica do autor, que ficou conhecido como o  "filósofo do martelo", pronto para "destruir".
d) Incorreta. A busca por verdades absolutas é incompatível com o texto apresentado, segundo o qual, o filósofo deve poder "lançar um olhar de múltiplos olhos e múltiplas consciências." A valorização dessa multiplicidade é oposta à concepção de verdade absoluta. 
e) Incorreta. A busca e retomada por uma natureza una e indivisível dos seres humanos é contrária aos aspectos enfatizados por Nietzsche como importantes na formação do filósofo. Segundo o autor, a  experiência do filósofo deve "percorrer o círculo dos valores humanos, dos sentimentos de valor, e poder lançar um olhar de múltiplos olhos e múltiplas consciências" para finalmente chegar na etapa da criação de valores, exigida por seu destino. 
 

 

 

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Descartes

    Mas eu me persuadi de que nada existia no mundo, que não havia nenhum céu, nenhuma terra, espíritos alguns, nem corpos alguns; me persuadi também, portanto, de que eu não existia? Certamente não, eu existia, sem dúvida, se é que eu me persuadi ou, apenas, pensei alguma coisa. Mas há algum, não sei qual, enganador mui poderoso e mui ardiloso que emprega toda a sua indústria em enganar-me sempre. Não há pois dúvida alguma de que sou, se ele me engana; e, por mais que me engane, não poderá jamais fazer com que eu nada seja, enquanto eu pensar ser alguma coisa. De sorte que, após ter pensado bastante nisto e de ter examinado cuidadosamente todas as coisas, cumpre enfim concluir e ter por constante que esta proposição, penso, logo sou, é necessariamente verdadeira, todas as vezes que a enuncio [...]

(René Descartes. Meditações, 1973.)

Segundo o texto, um dos pontos iniciais do método de Descartes que o levou ao cogito (“penso, logo sou”) foi

 



a)

a análise das partes.

b)

a síntese das partes analisadas.

c)

o prevalecimento da alma sobre o raciocínio.

d)

o reconhecimento de um Deus enganador.

e)

a arte da persuasão grega.

Resolução

René Descartes, filósofo renascentista, no percurso das suas Meditações Metafísicas, encontrou no cogito sua primeira verdade, a verdade indubitável, à prova de suspeitas. No que consistiria, exatamente, essa verdade? No fato de que, todas as vezes que pensamos, independentemente do que pensamos, estamos a garantir a nossa existência enquanto ser pensante (embora, só por isso, não sejamos capazes de garantir nossa existência material). Daí, então, a frase tão conhecida: "cogito, ergo sun", "penso, logo sou", logo existo, pelo menos, enquanto res cogitans, coisa que pensa.

Mas quem estudou as meditações cartesianas, escritas à beira de uma lareira, sabe que Descartes não chegou por acaso à verdade do cogito. Também não chegou com facilidades. Teve de empreender uma metodologia radical, que tinha como ponto de partida a dúvida, chamada também de dúvida metódica e, em alguns ocasiões, de dúvida hiperbólica - assim chamada justamente pela radicalidade já mencionada.

A dúvida hiperbólica, particularmente, nos interessa aqui. Isso porque a alternativa correta desse exercício menciona uma das considerações mais radicais de Descartes: a possibilidade da existência de um gênio maligno, que me engana sobre todas as coisas. Assim, temos:

a) Incorreta. A análise das partes é mencionada pelo autor como parte de seu método, mas não ajuda o filósofo a chegar ao cogito, sendo importante em outras situações.

b) Incorreta. O item em questão faz o mesmo que o item anterior: cita um procedimento que é mencionado no conjunto da filosofia cartesiana, mas não ajuda o filósofo a chegar ao cogito, sendo importante em outras situações.

c) Incorreta. O prevalecimento da alma sobre o raciocínio é uma consideração que, no contexto da filosofia racionalista cartesiana, não faz sentido. Inclusive, alma, aqui, a depender das traduções, por exemplo, pode ser sinônimo de espírito, razão ou intelecto.

d) Correta. O reconhecimento de um Deus enganador faz com que Descartes possa considerar duvidar de todas as coisas, fato que o faz pensar que, enquanto ele duvida, existe como ser pensante.

e) Incorreta. A arte da persuasão grega não aparece no texto, ou mesmo na obra de Descartes, como passo para o conhecimento indubitável do cogito.