E se esse tal futuro
for pior do que o presente
E se for melhor parar
do que caminhar pra frente
E se o amor for dor
E se todo sonhador
não passar de um pobre louco
E se eu desanimar,
Se eu parar de sonhar
queda a queda, pouco a pouco.
(Bráulio Bessa. “Se”. In: Poesia que transforma, 2018.)
No excerto do cordel, o eu lírico manifesta inquietação equivalente a uma preocupação central e recorrente na história da filosofia, desde suas origens, qual seja:
a) |
a identificação de princípios reveladores da virtude. |
b) |
a fundamentação do conhecimento na experiência empírica. |
c) |
o desenvolvimento de critérios de organização da linguagem. |
d) |
o questionamento contínuo para a compreensão da realidade. |
e) |
a busca ininterrupta da verdade plena e absoluta. |
A dúvida, a inquietação, a angústia, o questionamento, a incerteza... tais características estão presentes na história da filosofia desde que a filosofia começou a ter história. Em outras palavras: essas características são constituintes da filosofia, seja qual for a definição de filosofia que escolhermos, de tal modo que, sem elas, a filosofia deixa de ser filosofia, e passa a ser alguma outra coisa. Os exemplos poderiam ser muitos, de Tales, pré-socrático do século VII a.C. e considerado o primeiro "filósofo", aos pensadores dos séculos XX e XXI, passando, nesse intervalo temporal gigante, por nomes como Sócrates ou Descartes, Agostinho ou Sartre. Tão diferentes entre si, e em tempos tão distantes, nenhum deles se furtou à dúvida, ao questionamento.
Na condição de questão interdisciplinar, esse exercício traz todas essas características da filosofia através de um poema, gênero literário que, nesse caso, se traveste em cordel, expressão clássica da cultura nordestina, brasileira. Nos versos, entre outras coisas, podemos ler: " E se esse tal futuro / for pior que o presente / E se for melhor parar / do que caminhar para frente", ou seja, podemos ler a continuidade dos questionamentos, como meio de compreender a realidade que cerca o eu lírico.
Por tudo isso, temos:
a) Incorreta. O debate sobre a virtude, no campo da filosofia, não é necessário e, ainda mais, não aparece no poema.
b) Incorreta. O conhecimento que se baseia em experiências configura-se como teoria que nem sempre existiu na história da filosofia, além de não ser abordado no cordel, que não faz nenhum observação de ordem epistemológica.
c) Incorreta. As discussões sobre os critérios da linguagem dizem respeito a campo bem específico da filosofia e, por isso mesmo, não se constitui debate essencial e universal a todo o ato de filosofar.
d) Correta. Todas as outras alternativas trazem características contingenciais da filosofia, ou seja, características que não são necessárias para o saber filosófico e, por isso mesmo, nem sempre estiveram presentes entre as teorias, os temas, os autores e as épocas, diferentemente do questionamento, como apontamos acima.
e) Incorreta. A busca pela verdade absoluta, longe de ser uma característica da filosofia, constitui sua negação, já que o filósofo, por definição e tradição, jamais pode se ver como detentor de uma verdade que não se coloca sob suspeita.