Unicamp 2022 - 1ª fase

Como o enunciado explica, a Linha Internacional de Data (LID) está posicionada diametralmente oposta a 0º e, portanto, em 180º de longitude. Por convenção estabelecida na "Conferência Internacional do Meridiano", ocorrida no ano de 1884 no Estados Unidos, tal linha estabelece a mudança oficial de data, sendo que localidades próximas a 180º no hemisfério Leste possuem as horas mais adiantadas do planeta, enquanto localidades próximas a 180º situadas no hemisfério Oeste terão as horas mais atrasadas. Dessa forma, ao cruzar a LID no sentido leste, atrasam-se 24 horas na hora oficial ou um dia no calendário e, ao cruzá-la para oeste, deve-se avançar o horário correspondente a um dia no calendário.

Diante do exposto, tem-se que:

a) Incorreta. Um navio que se direciona do Japão aos Estados Unidos deverá notificar o atraso de suas horas, ou seja, retornará sua data para o dia anterior.

b) Correta. Ao cruzar o meridiano de 180º em direção oeste, ou seja, do hemisfério Oeste para o Leste, o cruzeiro turístico mencionado poderá antecipar a comemoração do Reveillon, já que irá adiantar seu horário em 24h, ou seja, será dia 31 de dezembro e não mais 30 de dezembro.

c) Incorreta. Um navio que se direciona dos Estados Unidos ao Japão deverá notificar o adiantamento de suas horas, ou seja, avançará sua data para o dia seguinte.

d) Incorreta. Como já mencionado, ao cruzar a LID no sentido leste, o relógio deve ser atrasado em 24 horas e, portanto, seria dia 29 de dezembro, o que torna a alternativa incorreta.

Todas as alternativas apresentam alguma informação incorreta dessa forma não é possível  escolher uma alternativa, por isso  esse exercício não possui solução.

a) Incorreta. As áreas indicadas como Bioma 1 representam florestas tropicais latifoliadas com grande biodiversidade, grande densidade de vegetação e constituídas por espécies florísticas adaptadas a condições de clima quente e chuvoso o ano todo (equatorial ou tropical litorâneo).

b) Incorreta. O clima do Bioma 2 possui verões secos e invernos relativamente úmidos, ao contrário do que se afirma.

c) Incorreta. O Bioma 3 corresponde às áreas predominantemente semiáridas, sendo o Sahel a área situada na faixa latitudinal ao sul do Saara. Essa região não é desértica, como incorretamente indica a alternativa, pois seu clima é semiárido e suas condições climatobotânicas e fitofisionomias (aparência da vegetação) demarcam a transição entre o deserto do Saara e as savanas. A ação da corrente fria de Benguela está realmente associada à área demarcada no sudoeste do mapa do Bioma 3, sendo tal área denominada deserto do Kalahari. Outro equívoco dessa alternativa é não demarcar o deserto do Saara como uma área desértica do continente, pois ele é fortemente influenciado pelos sistemas anticiclônicos mencionados, que dificultam a ocorrência de chuvas.

d) Incorreta. Solos hidromórficos não são predominantes em todos os ambientes hachurados no Bioma 4, que corresponde acertadamente às savanas africanas. Nesse bioma, a sazonalidade das chuvas é marcante, pois a pluviosidade se concentra nas estações quentes, enquanto há períodos de estiagem durante as estações frias.

a) Incorreta. A vitivinicultura (produção de vinhos) é uma atividade importante no Chile, porém é realizada principalmente na região central, nas proximidades de cidades como Santiago e Valdívia e não na Patagônia, que está no sul do país. O Chile não é um grande produtor de bauxita. A segunda parte da alternativa está correta, pois o Chile se inseriu fortemente no mercado externo a partir dos anos 1980, por meio de uma política neoliberal e um grande número de privatizações em vários setores econômicos.

b) Incorreta. O cobre no Chile é extraído no Atacama e não na Patagônia. A salmonicultura (criação de salmões) ocorre na Patagônia e não no Atacama. Além disso, como mencionado, as privatizações atingiram toda a economia.

c) Incorreta. A carcinicultura (criação de camarões) não é uma atividade importante no Chile e está concentrada em regiões de clima mais quente e úmido e a Patagônia tem clima frio. A principal produção no Atacama é de cobre. As privatizações foram generalizadas com a política neoliberal adotada pelo país a partir da década de 1980.

d) Correta. O Chile é o maior produtor de cobre do mundo e a produção está concentrada no Atacama. A salmonicultura é uma atividade importante na Patagônia, sul do país. Houve intensa abertura econômica no Chile a partir da década de 1980 com privatizações em todos os setores da economia.

O processo de reprimarização da economia brasileira foi acentuado após a crise econômica mundial de 2008. As principais alterações na balança comercial foram a redução da participação relativa dos produtos manufaturados e de maior intensidade tecnológica e o aumento da participação de produtos primários e de menor intensidade tecnológica (conhecidos como commodities).

As commodities são, portanto, produtos de baixo valor agregado (normalmente, bens primários, como produtos agropecuários e minérios) produzidos em larga escala e comercializados sob medidas padronizadas, com preço definido no mercado internacional nas grandes bolsas de valores.

a) Incorreta. Houve um aumento da incorporação de novas tecnologias no campo que viabilizaram o aumento da produtividade e das exportações de commodities agrícolas.

b) Incorreta. O declínio da participação das exportações de industrializados de maior valor agregado se deu por conta da redução da demanda por esses produtos brasileiros no mercado internacional e aumento da competitividade por parte de outros países nesse setor. 

c) Correta. O aumento da participação das commodities esteve ligado ao incremento das exportações nesse período para a China, que é uma grande compradora de produtos agrícolas e minerais do Brasil. Já o declínio das exportações de manufaturados se deve à diminuição da participação das vendas do Brasil para os Estados Unidos, Europa e Argentina, lugares que compram, predominantemente, produtos de maior valor agregado originados na China.

d) Incorreta. Além do crescimento das exportações de commodities minerais, houve também o aumento das exportações agrícolas. Em ambos os casos o aumento da demanda asiática - notadamente de países como China, Índia, Japão e Coreia do Sul - por esses produtos favoreceu tal incremento.

a) Correta. Como observado no segundo mapa, grande parte dos países da África Subsaariana possui de 61,01 a 96% da população urbana vivendo em habitações precárias e favelas. Essa porcentagem deve-se à inserção do continente na divisão internacional do trabalho (DIT) como exportador de matérias-primas agrícolas e minerais. Essa inserção trouxe como consequência uma grande desigualdade e exclusão social, fato que explica a grande porcentagem da população vivendo precariamente.

b) Incorreta. Na América Latina, vários países exibem porcentagens da população vivendo em habitações precárias maiores que 20%. A favelização de parte da população continua sendo um grande problema social e não necessariamente relacionado ao processo de industrialização da região, mas sim à desigualdade e a políticas públicas de moradia insuficientes e ineficientes para atender grandes contingentes de população em países latinos. 

c) Incorreta. China e Índia vem apresentando, nos últimos anos, uma aceleração do processo de urbanização, o que causa aumento da população vivendo em habitações precárias e favelas. Ambos possuem de 24,01 a 42% da população nessas condições. 

d) Incorreta. No Oriente Médio, há países como o Iêmen com mais de 60% da população vivendo em habitações precárias, o que coloca o fato como uma importante questão social. Os recursos obtidos com a exploração do petróleo ficam concentrados em favor de poucos agentes econômicos em alguns países dessa região, o que causa uma grande desigualdade social e consequente favelização.

Comunidades quilombolas são definidas como uma forma coletiva de exploração da terra e objetivam garantir a reprodução econômica, social e cultural dos povos afrodescendentes que nela habitam. Juridicamente, o Estado Brasileiro só reconheceu o direito à propriedade dessas terras para as populações quilombolas a partir da Constituição de 1988. Conforme o artigo 68 da Constituição “Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos”.

a) Incorreta. A Lei de Terras, em 1850, regulamentou o acesso à terra estabelecendo direitos e deveres para os proprietários rurais. Definiu que o acesso às terras devolutas (pertencentes ao Estado) só seria realizado por meio de compra, salvo em alguns casos em que terra poderia ser doada. Dessa forma, a Lei de Terras transformou a terra em mercadoria e populações marginalizadas socialmente tiveram dificuldades econômicas para ter acesso às terras. Portanto, as populações afrodescendentes foram alvo de exclusão por parte da Lei de Terras inclusive com a criação de barreiras adicionais para tiveram um caráter excludente para as populações afrodescendentes.

b) Correta. A Constituição de 1988 reconheceu o direito a propriedade da terra pelos quilombolas, estabelecendo a obrigação para o Estado brasileiro de formular políticas públicas para fazer a delimitação, demarcação e titulação das terras. Todavia, as comunidades quilombolas enfrentam inúmeros problemas para efetivar seus direitos pois muitos quilombolas ainda estão em fase de demarcação e poucos receberam o título propriedade além disso populações quilombolas de várias partes do território nacional são alvos de assassinatos, por parte de pessoas que visam tomar suas terras.

c) Incorreta. A Lei de Terras (1850), como escrito anteriormente, foi excludente para a população negra, sendo que somente no final do século XX é que os direitos dos quilombolas foram reconhecidos pelo Estado brasileiro como forma de reparação histórica os direitos dessa população. Os homens e mulheres negras sem trabalho nas cidades vieram a constituir a massa de excluídos urbanos.

d) Incorreta. Embora a demarcação e titulação de quilombolas tenha iniciado com a Constituição de 1988, o processo não foi finalizado até os dias atuais, seja em áreas urbanas ou seja em áreas rurais.

a) Incorreta. Embora sejam observadas áreas falhadas nas estruturas que constituem a Serra do Mar, sua composição geológica predominante não está vinculada ao basalto. Áreas de formação basáltica situam-se mais a oeste no território brasileiro, mais precisamente na unidade geomorfológica denominada Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná, que não está representada nos perfis topográficos do enunciado. A origem do embasamento rochoso da Serra do Mar precede os eventos de ruptura e abertura do oceano Atlântico mencionados e datam de, aproximadamente, 2 bilhões de anos atrás, por meio da consolidação predominante de rochas ígneas graníticas.

b) Incorreta. A estrutura geológica da Serra do Mar é predominantemente cristalina e não sedimentar, como apontado. Nas feições observadas nessa unidade, realmente ocorrem deslocamentos de massa (deslizamentos de terra) devido à existência de vertentes muito inclinadas submetidas a chuvas intensas, típicas do clima tropical litorâneo.

c) Correta. Com embasamento geológico datado do éon Proterozoico (2,5 bilhões de anos a 540 milhões de anos atrás), as unidades representadas no enunciado apresentam falhas normais verticalizadas criadas pelos esforços de separação das placas Sulamericana e Africana durante o início da era Mesozoica (há aproximadamente 230 milhões de anos). Essas falhas permitiram o deslocamento vertical de porções geológicas para cima, os denominados horsts, e para baixo, sendo estas últimas denominadas grábens, unidades rebaixadas que foram encobertas por águas oceânicas e constituem bacias próximas ao litoral.

d) Incorreta. O processo de orogênese (movimento horizontal das placas) que originou a Serra do Mar é de divergência, ou seja, de afastamento com esforços distensivos que geraram falhas verticais e abatimento de blocos rochosos em relação às áreas de maior altitude. Na Cordilheira dos Andes, o movimento de convergência (choque das placas) foi entre a placa Sul-Americana e a placa de Nazca.

Diversos autores da sociologia política trataram da temática da governança e soberania, desde Max Weber e suas considerações sobre legalidade, legitimidade, poder, autoridade, técnica e vocação, até Pierre Dardot e Christian Laval, professores europeus universitários, importantes estudiosos das relações entre sociologia e economia e autores do livro que o exercício usa como referência. Aliás, é na esteira dos referidos pensadores que vamos diferenciar "governança" e "soberania". No primeiro caso temos a ideia de que sociedades e nações devem ser geridas de forma essencialmente técnica e pragmática, considerando uma lógica econômica global e perversa, que vê países como "empresas menores" quando comparados com organismos internacionais que representam gigantescos interesses financeiros. No segundo caso, por sua vez, temos a ideia, cada vez menos defendida e cada vez mais criminalizada, de que países devem ser soberanos, ou seja, autônomos e independentes, na lógica de uma política de Estado que seja conduzida por "estadistas", não "administradores", estadistas preocupados com seu povo e seu território, ao invés de se preocupar com os interesses neoliberais. Nesse contexto, temos:

a) Incorreta. Governança e soberania não são sinônimos. O primeiro conceito é exemplo de como o debate econômico, sobretudo o debate neoliberal, tem "engolido" a política, afastando-se dela. Na visão dos autores do texto, inclusive, isso não contribui para o fortalecimento da democracia, como sugere a alternativa.

b) Incorreta. A alternativa afirma que as legislações que beneficiam "determinados interesses" em detrimento do interesse público são "declinantes", quando, na verdade, trata-se exatamente do contrário. Cada vez mais os Estados, sobretudo os dito "emergentes", flexibilizam suas legislações para conseguirem acoplar, tanto quanto puderem, os interesses privados, deixando os interesses coletivos em segundo plano. Isso, diga-se de passagem, aumenta o fluxo de privatizações, ao contrário do que diz a assertiva.

c) Correta. Os dois termos mencionados são contraditórios. Como escrito no texto introdutório, a governança atende exigências de uma economia global. A ideia de soberania se aproxima dos interesses públicos nacionais. 

d) Incorreta. Ao contrário do que se afirma da alternativa, governança e soberania não se complementam para uma parceria do tipo "público-privado", nem possibilitam dispositivos favoráveis à soberania. Segundo o excerto do exercício, a governança prejudica a soberania dos países, tornando-os "escravos" da economia global, do tipo neoliberal.

a) Incorreta. Não é válido afirmar que a Peste Negra promoveu à época “reflexões sobre o potencial das ciências modernas”. A abordagem científica e empírica dos meios de curar se consolidou posteriormente na Europa Ocidental, em especial após o século XVII. No contexto medieval, o desconhecimento sobre as causas e os tratamentos da doença resultou numa difusa incompreensão dos eventos em curso, o que permitiu a ascensão de meios não-científicos para combater a peste, como os recursos religiosos, a fuga das cidades, o emprego terapêutico de sangue de animais nas feridas, entre outros.

b) Incorreta. Conforme o texto base sugere, a “estética do macabro” é “anterior ao período medieval”, ganhando maior ênfase e difusão no contexto da Peste Negra. Também é incorreto aferir que a tal estética buscava a “negação dos contextos sanitários” vinculados à Peste, pois ela se caracterizava sobretudo pela ênfase na representação da morte e na decomposição do corpo.

c) Incorreta. A estética do macabro elevou sua presença na literatura e nas artes visuais do contexto da Peste Negra, contrariando o suposto declínio sugerido pela alternativa. Tal ênfase decorre do próprio contato direto e frequente com as vítimas da Peste, impactando as leituras e representações culturais sobre a morte e a doença no período.

d) Correta. A Peste Negra impactou consideravelmente os rituais ligados à morte e suas representações nas artes e na literatura, conforme evidenciado pelo excerto da questão. No lugar da ideia de morte vinculada a uma passagem “segura e tranquila”, observa-se a ascensão da “estética do macabro”, que enaltecia a representação da decomposição do corpo, a atuação dos vermes sobre os cadáveres e a interação entre mortos e vivos. Tal ressignificação da representação visual da morte é compreendida como uma forma de reelaborar pela arte o caos instalado a partir da difusão da Peste, com imagens que aliavam, ao mesmo tempo, cenas curiosamente festivas e sinistras. Por exemplo, é comum na "estética do macabro" a representação de danças entre mortos e vivos, ou mesmo a ilustração de cenas nas quais cadáveres e caveiras aprecem portando instrumentos musicais ou objetos do cotidiano humano, conforme qual a própria pintura "O Triunfo da Morte" exemplifica.

a) Correta. Conforme o texto menciona, embora exista um público que considere a modernidade científica como algo exclusivo ao século XVII, uma "nova mentalidade empírica com implicações tecnológica" já podia ser observada no contexto das navegações (século XV). Em outras palavras, a expansão marítima portuguesa apresentou características posteriormente afirmadas pela ciência moderna. Nesse sentido, podemos destacar o notório desenvolvimento técnico de Portugal nas navegações, já que, ao longo do século XV, o reino aperfeiçoou os saberes disponíveis para a navegação oceânica de longo curso, combinando conhecimentos teóricos e técnicos provenientes de sua experiência marítima. A interpretação errônea e enviesada dos Descobrimentos portugueses para defender a teoria terraplanista, feita pelos autores dos séculos XIX e XX mencionados no texto, demonstra as disputas acerca do conhecimento histórico, uma vez que serve como legitimador de visões de mundo, concepções teóricas e ideologias

b) Incorreta. A Revolução Científica ocorreu sobretudo no século XVII, período em que a ciência tendeu a se separar da filosofia e tornar-se um campo de conhecimento independente. Tratou-se de um período de efervescência cultural e científica, com destaques, por exemplo, à teoria heliocêntrica de Copérnico e à teoria da gravitação universal de Newton. Não podemos afirmar que os Descobrimentos portugueses subordinam-se a tal noção, pois trata-se de um processo cronologicamente anterior, desenvolvido a partir de meados do século XV. Assim, subordinar as navegações portuguesas à noção de Revolução Científica seria um anacronismo, ou seja, uma incoerência cronológica, já que busca submeter um processo do século XV a um conceito posterior, do século XVII.

c) Incorreta. O texto constrói sua argumentação a partir da ideia de que os Descobrimentos portugueses foram impulsionados por uma nova mentalidade empírica, que, de certa forma, antecipava características posteriormente afirmadas pela ciência moderna. A partir de sua experiência, as navegações comprovaram a falsidade da concepção da terra plana, a despeito da tentativa de pensadores do século XIX e XX de reforçarem esse mito.

d) Incorreta. Não podemos afirmar que os conhecimentos provenientes dos Descobrimentos portugueses atingiram resultados de pouco significado histórico. O desenvolvimento da mentalidade empírica mencionada no texto relaciona-se diretamente com o Renascimento Cultural e Científico, sendo a base de novos paradigmas da ciência moderna. Além disso, o contato entre a Europa e o "Novo mundo" resultou em um intenso processo de rupturas e transformações culturais, processo de notório impacto e significado histórico.