Logo UNESP

Unesp 2021 - 1ª fase - dia 1


Questão 51 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Transportes Industrialização na Ásia Exploração e degradação da vegetação

Há cinco anos, na China, a febre do compartilhamento de bicicletas atraiu bilhões de dólares de investidores e de clientes, gastos pelas startups na compra de milhões de novas bicicletas, para conquistar participação de mercado. Quando o colapso inevitável chegou, a maioria das empresas faliu, deixando autoridades municipais com os custos de limpar a bagunça.

(https://6minutos.uol.com.br, 19.09.2020. Adaptado.) 

Nesse cenário, o problema a ser administrado pelas autoridades municipais é

 



a)

a reestruturação do sistema de transporte, constituído por ciclovias que foram inutilizadas com a falência das empresas

 

 

b)

o correto descarte das bicicletas, que podem contaminar o meio ambiente se o acúmulo for negligenciado.

 

 

c)

o monopólio das empresas sobreviventes, concentradoras das bicicletas disponibilizadas à população.

 

 

d)

a presença local de fábricas de bicicletas, poluidoras em seus processos de extração de matérias-primas.

 

 

e)

a devolução das bicicletas pelos usuários, que foram surpreendidos com o fechamento das empresas no país.

 

Resolução

É muito comum, na economia capitalista, a formação de bolhas econômicas provocadas pela excessiva especulação nos mercados financeiros. Nesse contexto, a ideia de bolha significa dizer que as ações ou outros ativos financeiros (títulos etc)  estão sobrevalorizados. 

Há também a formação de bolhas na "economia real" quando a capacidade instalada de um produto supera significativamente a demanda que há por esse objeto. Foi isso que aconteceu no setor de bicicletas na China, quando startups ampliaram muito a oferta de bikes, preparando-se para uma demanda futura que não se efetivou.

Considerando isso :

a) Incorreta. Porque a infraestrutura de ciclovias não precisou ser mudada, inclusive houve falta de infraestrutura adequada para dar conta da expansão acelerada do setor, o que desestimulou o uso das bicicletas. Pode- se citar os relatos sobre a falta de alterações na legislação para se adequar à realidade que emergia nesse setor econômico. Portanto as condições do país não estavam preparadas para a explosão  do número de bicicletas.

b) Correta. Excesso de consumo potencializa a produção de "lixo". Se  o tratamento desse lixo não for adequado, inúmeros problemas ambientais podem ser desencadeados, tais como poluição e contaminação de solos, águas superficiais e subterrâneas. Vale ressaltar que a China é um país bastante criticado em vários aspectos de sua política ambiental e, além disso, o texto faz uma alusão direta à questão do lixo quando menciona "os custos de limpar a bagunça".

c) Incorreta. Ainda não é um setor monopolizado, embora tenham ocorrido inúmeras falências

d) Incorreta. O problema não foi a poluição produzida pelas empresas, e sim a formação de toneladas de lixo  que se acumulam em vários pontos do país, lixo esse despejado por pessoas e empresas que abandonaram as bicicletas.

e) Incorreta. O texto não menciona a devolução de bicicletas pelos usuários, e sim  o investimento na compra de milhões de unidades que não tiveram demanda.

Questão 52 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Conferências internacionais sobre meio ambiente

A Conferência de Estocolmo, realizada em 1972, é um marco importante para a questão ambiental. Em diversos países, essa conferência estimulou

 



a)

o nascimento de órgãos de defesa do meio ambiente e a criação de leis de controle da poluição.

 

 

b)

a fundação de organizações não governamentais e a estatização de empresas poluidoras.

 

 

c)

a catalogação de áreas ricas em espécies nativas e a transferência de sua propriedade à ONU. 

 

 

d)

a implantação de áreas de preservação permanente e a cobrança de taxas para a sua visitação. 

 

 

e)

o movimento de valorização do campo e a elaboração de políticas de permanência de campesinos na terra.

 

Resolução

A Conferência de Estocolmo, realizada em 1972, foi considerada um marco importante para a questão ambiental na medida em que foi o primeiro evento global de discussão ambiental. O ambientalismo entrou em pauta na política internacional na década de 1960, contrariando a lógica ideológica anterior que acreditava na inesgotabilidade dos recursos naturais. Durante esta conferência, a proposta de ‘desenvolvimento zero’ como resolução dos problemas ambientais em escala global foi defendida pelos países ricos que, com tal proposta, garantiriam a manutenção das desigualdades socio econômicas, mesmo propondo a proteção ambiental através do desenvolvimento nulo. Tal argumentação foi contradita pela proposta do ‘desenvolvimento a qualquer custo’ apresentada pelos países pobres do mundo, que questionavam a proposta anterior com argumentos justificados pela necessidade de produzir riquezas para combater a pobreza e o subdesenvolvimento em seus territórios. Tais propostas levaram a um impasse que só foi resolvido nos anos 80 com o ‘Relatório Brundtland’, que defendeu o desenvolvimento sustentável. O que permaneceu como conquista a partir de 1972 foi a criação do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e o fomento do desenvolvimento de entidades governamentais e de políticas regionais de defesa do meio ambiente. Por isso é correto dizer que, em diversos países, essa conferência estimulou o nascimento de órgãos de defesa do meio ambiente e a criação de leis de controle da poluição.

a) Correta. A alternativa está certa, pois, como vimos acima, o nascimento de órgãos de defesa do meio ambiente e a criação de leis de controle da poluição foram estimulados pela Conferência de Estocolmo..

b) Incorreta. A alternativa está errada, pois nunca houve propostas de estatização de empresas poluidoras.

c) Incorreta. A alternativa está errada, pois a ONU é um organismo internacional consultivo e deliberativo e não possui função de administração de territórios, sendo assim é equivocada a afirmação de que haveria a transferência de sua propriedade à ONU.

d) Incorreta. A alternativa está errada, pois não houve discussão ou deliberação de como cada nação deveria agir quanto à criação e/ou implantação de áreas de preservação permanente em seus territórios nacionais, e tampouco houve determinação de cobrança de taxas para visitação de áreas protegidas. A maneira como cada nação realiza suas políticas face aos seus próprios territórios é uma questão de soberania nacional e a ONU busca não interferir em questões nacionais diretamente.

e) Incorreta. A alternativa está errada, pois nunca houve a discussão sobre a questão da produção campesina bem como sobre o movimento de valorização do campo e a elaboração de políticas de permanência de campesinos na terra. Tal assunto seria mais bem discutido na Conferência de 1992 no Rio de Janeiro.

Questão 53 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Fontes renováveis e não-renováveis Recursos Energéticos

Nas atividades cotidianas de indústrias, de empresas ou de pessoas em suas residências, o empenho pelo aumento da eficiência energética pode contribuir para 

 



a)

reestruturar sistemas de produção e reduzir as possibilidades de as sociedades usufruírem de seus bens.

 

b)

ampliar a dependência global por petróleo e redesenhar as alianças políticas alinhadas ao seu consumo. 

 

c)

contornar o déficit global por energia e redistribuir os recursos entre os países de maneira igualitária.

d)

valorizar a oferta de fontes renováveis e extinguir gastos com subsídios públicos ao setor energético.

e)

otimizar os recursos energéticos e reduzir os impactos ambientais relacionados à sua produção.

 

Resolução

É sabido, desde que se iniciaram os debates sobre meio ambiente em escala global, que é ambientalmente fundamental buscar maior eficiência energética nas atividades cotidianas de indústrias, de empresas ou de pessoas em suas residências, pois isso certamente pode contribuir para minimizar os impactos ambientais humanos causados pela produção, consumo e desperdícios energéticos. Tal argumento é quase consensual nos debates políticos sobre o meio ambiente e isso nos leva a considerar como correto os argumentos presentes na alternativa E.

a) Incorreta. A alternativa está errada, pois o aumento da eficiência energética, por mais que demande uma mudança estrutural nos sistemas de produção, não implicaria em mudanças diretas nas possibilidades de as sociedades usufruírem de seus bens. Vale dizer ainda que o consumo consciente também é uma medida ecologicamente correta.

b) Incorreta. A alternativa está errada, pois o aumento da eficiência energética jamais iria ampliar a dependência global por petróleo, pelo contrário, iria levar à utilização de fontes alternativas menos poluentes, o que de fato teria potencial para redesenhar as alianças políticas alinhadas ao consumo do petróleo.

c)  Incorreta. A alternativa está errada, pois o aumento da eficiência energética não necessariamente pressupõe a redistribuição dos recursos entre os países de maneira igualitária.

d) Incorreta. A alternativa está errada, pois o aumento da eficiência energética não necessariamente levaria à extinção dos subsídios públicos ao setor energético, apesar de levar a um redirecionamento da política de investimentos em energia por parte dos governos nacionais.

e) Correta. A alternativa está certa, pois, como foi dito antes, uma maior eficiência energética nas atividades cotidianas de industriais, bem como a otimização dos recursos energéticos, levaria à redução dos impactos ambientais relacionados à produção e ao consumo energético.

Questão 54 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Estudo Analítico da Circunferência

O método matemático a seguir é utilizado no cálculo por trilateração.

P = (ux, uy):

(ux  x1)2 + (uy  y1)2 = r12, sendo M1 (x1, y1)

(ux  x2)2 + (uy y2)2 = r22, sendo M2 (x2, y2)

(ux  x3)2 + (ux  y3)2 = r32, sendo M3 (x3, y3)

Esse cálculo permite 

 



a)

obter a área do setor circular a partir de um ângulo central, princípio do sensoriamento remoto. 

 

 

b)

localizar um ponto a partir de referências conhecidas, princípio do sistema de posicionamento global. 

 

 

c)

determinar a altitude de um ponto a partir de pontos de intersecção, princípio da hipsometria. 

 

 

d)

representar uma superfície plana a partir de uma superficie esférica, princípio das projeções cartográficas. 

 

 

e)

criar linhas imaginárias de meridianos e de paralelos a partir da distância entre os raios, princípio das coordenadas geográficas.

 

Resolução

Nos estudos de Geometria Analítica temos que os pontos x, y que pertencem à circunferência centrada em O=xo, yo e de raio r são descritos pela equação

 x-xo2+y-yo2=r2.

Nesta situação, temos circurferências centradas em M1M2 e M3 e cujos raios medem r1r2 e r3, respectivamente. É possível observar que o ponto P=ux, uy satisfaz as equações das três circunferências apresentadas e, portanto, é resultado da intersecção entre elas, sendo a única intersecção possível.

Esse método é utilizado no sistema de posicionamento global, conhecido como GPS, do Inglês: Global Positioning System.

Questão 55 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Rousseau (FSH)

Aquele que ousa empreender a instituição de um povo deve sentir-se com capacidade para, por assim dizer, mudar a natureza humana, transformar cada indivíduo, que por si mesmo é um todo perfeito e solitário, em parte de um todo maior, do qual de certo modo esse indivíduo recebe sua vida e seu ser, alterar a constituição do homem para fortificá-la; substituir a existência física e independente, que todos nós recebemos da natureza, por uma existência parcial e moral. Em uma palavra, é preciso que destitua o homem de suas próprias forças para lhe dar outras [...] das quais não possa fazer uso sem socorro alheio.

(Jean-Jacques Rousseau. Do contrato social, 1978.) 

De acordo com a teoria contratualista de Rousseau, é necessário superar a natureza humana para

 



a)

assegurar a integridade do soberano. 

b)

conservar as desigualdades sociais. 

c)

evitar a guerra de todos contra todos.

d)

promover a efetivação da vontade geral. 

e)

garantir a preservação da vida.

Resolução

A natureza humana é um dos temas clássicos da filosofia, mais propriamente da Antropologia Filosófica, tópico da disciplina que, historicamente, se interligou com tantos outros temas, igualmente clássicos, da filosofia. No caso dessa questão encontramos uma discussão da Antropologia Filosófica com a Filosofia Política, já que o exercício se pauta nas reflexões contratualistas de Jean-Jacques Rousseau, genebrino do século XVIII.

De acordo com Rousseau - e seguindo as interpretações do Professor Maurice Cranston -, podemos considerar a natureza humana, em um primeiro momento, livre e feliz em seu estado de natureza (como "selvagem" e "boa") e, mais tarde, como "incompleta", quase que em busca de sua realização (coisa a ser alcançada na materialização do corpo político).

Essas duas visões sobre a natureza humana, presentes em um mesmo autor, são diferenciadas a partir de duas conhecidas obras: o Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens, de 1755, e o Do contrato social, de 1762. Embora as pessoas, de um modo geral, vinculem muito mais Rousseau à "teoria do bom selvagem", enfatizando a valorização do autor às condições de vida de um hipotético estado natural, é bem verdade que, a partir de sua obra de 1762, mencionada acima, Rousseau já não vê com tantos bons olhos, assim, o humano "individual" - como diz o texto -, existente antes de um contrato social.

É nesse sentido que o enunciado pode falar da "necessidade de superação da natureza humana". E, mais ainda, considerando tudo que já disse, é nesse sentido que chegamos à alternativa "D" como alternativa correta. É no corpo político, do pós contrato social, que a natureza humana se realizará, na medida em que deixará para trás a solidão e a incompletude de uma vida natural e conseguirá, com a ajuda de todos, alcançar a efetivação da vontade geral, mecanismo importante do contrato social para, entre outras coisas, evitar a perpetuação de desigualdades (o que nos faz excluir a alternativa "B").

Ademais, as outras alternativas ("A", "C" e "E"), na tentativa de confundir os candidatos, fazem menção a outro autor do debate contratualista moderno, a saber, Thomas Hobbes, e por isso mesmo não poderiam ser alternativas corretas para esse exercício.

 

Questão 56 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Democracia Ateniense Construção da democracia

The phenomenon E-democracy (electronic democracy] is well known and well used in Sweden. E-democracy is a solution that makes it easier for the population to vote or to participate in different questions, or just to make themselves heard. E-democracy is used a lot of municipalities as a simple way for the inhabitants to participate in the local debate. E-democracy is often argued as a tool that makes participation more available for everyone.

("E-democracy and digital gaps". www.svekom.se)

A ferramenta apresentada no excerto remete a uma característica da política ateniense no período clássico, que diz respeito 

 



a)

ao poder irrestrito de um único indivíduo. 

b)

ao peso da retórica nas tomadas de decisão na polis.

c)

à decisão soberana de um líder religioso. 

d)

ao dominio de um grupo financeiramente privilegiado.

e)

à igualdade de participação nas decisões políticas

Resolução

Democracia ateniense é uma temática recorrente nas provas e seu debate, inevitavelmente, deve passar pela ideia de cidadania. Aliás, todo o debate sobre democracia, que se preze, não pode abdicar dessa ideia. Afinal de contas, democracia e cidadania caminham de mãos dadas. 

Falando sobre a primeira: a democracia é um regime político pautado na coparticipação das relações de poder, preferencialmente organizadas em matrizes horizontais de decisão, no intuito de evitar, ou pelos menos diminuir, as incidências de abuso, censura, arbitrariedade e desmando. Assim, consegue garantir, mesmo que minimamente, nos limites das culturas e tempos históricos onde se aplicam, uma participação igualitária. Aqui, nesse ponto, falamos da cidadania.

A cidadania, como ideia política-jurídica, é mecanismo formal de garantia de igualdade, o que a torna, também, instrumento conceitual e histórico para a efetivação de direitos, alcançados em sociedade através das relações democráticas - e assim se complementam democracia e cidadania.

E tudo isso, entre outros motivos, para dizer que a alternativa correta, nesse exercício, é a alternativa "E". A igualdade de participação nas decisões políticas é, sim, uma característica da política ateniense no período clássico, mesmo com todas as limitações sócio-culturais-históricas que, como sabemos, se aplicam na Grécia Antiga. Dito de outro modo: mesmo que, no mundo ateniense clássico, nem todos fossem considerados cidadãos, aqueles que o eram, não há dúvidas, participavam igualmente das decisões políticas, porque tinham voz, em mesmo tom.

É justamente, inclusive, o ponto de reflexão que o texto traz, fazendo uma interessante relação entre o nascimento da democracia, na Antiguidade Clássica, e o mundo contemporâneo da internet e da prática democrática "virtual". Em ambos os casos temos, com todas as limitações de um regime político que nunca se disse ou se intitulou perfeito, a possibilidade de lançarmos a nossa voz, contra os abusos, as censuras, as arbitrariedades e os desmandos de regimes obscuros que, do alto do autoritarismo, desdenha da força da democracia e da cidadania, como parceiras inseparáveis de um mundo mais justo.

Questão 57 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Ética

TEXTO 1 

Provavelmente o marco mais importante que lançou a semente científica da sensciência, nível mais simples de consciência animal, foi a obra A expressão da emoção no homem e nos animais, de Charles Darwin, que demonstra que os animais apresentam as mesmas expressões que os homens. O maior paradoxo é que, embora a ciência utilize os animais como modelo biológico na medicina desde a década de 1950, há negligência no que concerne à avaliação e ao tratamento da dor em animais, em especial os de laboratório.

(Caroline Marques Maia. "Quanta dor os animais sentem?". www.comciencia.br, 27.03.2020. Adaptado)
 

TEXTO 2

A capacidade de sentir prazer, dor e medo não é exclusiva dos seres humanos. Ela é, na verdade, vital para a sobrevivência de seres de várias espécies. [...]A biologia evolutiva e as ciências do comportamento e do cérebro têm demonstrado que o sistema nervoso dos humanos tem semelhanças impressionantes com o de alguns animais, especialmente de outros mamíferos.

(www.bbc.com, 04.03.2019.)

Os textos levantam questões que dizem respeito 



a)

ao futuro da evolução dos seres vivos. 

 

 

b)

aos investimentos em pesquisa sobre o comportamento animal. 

 

 

c)

à adoção de condutas éticas no trato com animais. 

 

 

d)

aos debates conceituais sobre fisiologia animal. 

 

 

e)

à preservação dos diversos ecossistemas.

 

Resolução

Os textos 1 e 2 levantam questões que dizem respeito à adoção de condutas éticas no trato com animais, o que faz da alternativa "C" a alternativa correta. Essa preocupação decorre das informações que os excertos trazem, tais como o fato de que os animais apresentam as mesmas expressões que os homens (texto 1) ou o fato de que a capacidade de sentir prazer, dor ou medo não é exclusiva dos seres humanas (texto 2). Dito de outra forma: se animais também sentem medo e dor e podem expressá-los como nós, humanos, e mais ainda, se pensamos eticamente sobre nós (em boa parte porque temos esse medo e essa dor), por que não pensar eticamente, também, quando o assunto é o trato com animais?

Do ponto de vista da classificação dessa questão, podemos avaliá-la como um exercício de bioética, área específica da ética filosófica e, podemos dizer, temática sempre presente nas provas da Unesp que, também assim, garante coerência nas suas avaliações. Em outros anos, por exemplo, a banca já discutiu Hans Jonas, marco nesse assunto e na história da filosofia, por agregar ao pensamento ético "clássico" as questões ecológicas e cosmológicas mais profundas e avaliadas em longo prazo.

Por fim, todas as outras alternativas mencionam fatos que não estão pautados nos textos (como o futuro da evolução dos seres vivos ou os investimentos em pesquisa sobre comportamento animal) e, por isso mesmo, são alternativas incorretas.

Questão 58 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Deleuze Filosofia Contemporânea

TEXTO 1 

O filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potência. Quer dizer que a filosofia não é uma simples arte de formar, de inventar ou de fabricar conceitos, pois os conceitos não são necessariamente formas, achados ou produtos. A filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que consiste em criar conceitos.

(Gilles Deleuze e Félix Guattari. O que é a filosofia?, 2007.)

TEXTO 2 

A língua é um "como se pensa, enquanto que a cultura é "o quê" a sociedade faz e pensa. A língua, como meio, molda o pensamento na medida em que pode variar livremente. A lingua é o molde dos pensamentos.

(Rodrigo Tadeu Gonçalves. Perpétua prisão órfica ou Enio tinha três corações, 2008. Adaptado)

Os textos levantam questões que permitem identificar uma característica importante da reflexão filosófica, qual seja, que 

 



a)

a mutabilidade da linguagem amplia o conhecimento do mundo. 

b)

a cultura é constituída a partir da especulação teórica.

c)

o conhecimento evolui a partir do desenvolvimento tecnológico 

d)

a filosofia estabelece as balizas e diretrizes do fazer científico 

e)

os conceitos são permanentes e derivados de verdades preestabelecidas.

Resolução

Deleuze e Guattari são autores de diálogo com várias áreas do saber, para além da filosofia. Conversam com a psicologia, com a psicanálise, com a pedagogia, com a linguística. Nem sempre para ratificá-las; às vezes para negá-las; às vezes para reinterpretar seus conceitos. De um modo ou de outro, são justamente os conceitos que mais lhes interessam.

No campo do ensino da filosofia, por exemplo, em contraposição a perspectivas outras da história da filosofia (como a perspectiva histórico-social), Deleuze e Guattari defendem o que o texto 1 deixa claro: a filosofia cria conceitos. Mas, qual o motivo disso?

A filosofia cria conceitos para solucionar problemas, aqueles presentes no dia a dia. Filosofar, nesse sentido, é, então, criar conceitos para ressignificar nossa existência, que flui frente aos acontecimentos (às problematizações) e rumo ao futuro - porque o conceito chama o mundo à existência. O conceito cria.

Soma-se, ao que foi dito, a língua, que, como menciona o segundo texto, é o "molde dos pensamentos" (nesse contexto, o molde dos conceitos, se fôssemos, aqui, relacionar os textos, porque o conceito está no campo do pensamento, embora não se feche, exclusivamente, nele). 

O resultado só pode ser um: a mutabilidade da linguagem (e poderíamos dizer - da língua, do pensamento, do conceito) amplia o conhecimento do mundo. Assim, mesmo que o exercício, no seu todo, não tenha tomado o cuidado de distinguir língua e linguagem, por exemplo, ele em nada nos dá margem para assinalar outra alternativa que não a alternativa "A". As outras alternativas só nos trazem informações incorretas (caso das alternativas "B", "C" e "E") ou controversas (caso da alternativa "D"): a cultura não se faz a partir de especulação teórica; o conhecimento não evolui a partir da tecnologia; nem todos defendem que a filosofia estabelece as diretrizes da ciência; os conceitos não são permanentes.

Questão 59 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Descartes

TEXTO 1

Nos últimos tempos, reservou-se (e, com isso, popularizou-se) o termo fake news para designar os relatos pretensamente factuais que inventam ou alteram os fatos que narram e que são disseminados, em larga escala, nas mídias sociais, por pessoas interessadas nos efeitos que eles poderiam produzir.

(Wilson S. Gomes e Tatiana Dourado. "Fake news, um fenômeno de comunicação política entre jornalismo, política e democracia". Estudos em Jornalismo e Midia, no 2, vol. 16, 2019.)

 

TEXTO 2

As vacinas foram os principais alvos de fake news entre todas as publicações monitoradas pelo Ministério da Saúde em 2018. Cerca de 90% dos focos de mentiras identificados pelo órgão tinham como alvo a vacinação. Reconhecido internacionalmente, o programa de imunização brasileiro viu doenças como sarampo e poliomielite voltarem a ameaçar o país em 2018 após os índices de cobertura vacinal caírem em 2017.

(Fabiana Cambricoli. "Ministério da Saúde identifica 185 focos de fake news e reforça campanhas". https://saude.estadao.com.br, 20.09.2018. Adaptado.)

 

Os textos tratam de uma prática que é contrária ao princípio da fundamentação racional sustentado por Descartes, que propôs a



a)

busca por um conhecimento seguro proveniente do ato de duvidar.

b)

construção da compreensão a partir da lógica dialética.

c)

eliminação da subjetividade na produção do conhecimento

d)

fundamentação das certezas a partir da experiência sensível.

e)

percepção da realidade por meio da associação entre fé e razão.

Resolução

O que Descartes propôs? Em última instância, é isso que o exercício nos pergunta. Cabe analisar as possíveis respostas, então.
a) Correta. O filósofo renascentista René Descartes busca um conhecimento seguro, firme e sólido para a filosofia e para as ciências, conhecimento esse que ele encontra através do seu pensamento, que, quando acionado, garante sua existência pensante. O conhecido "penso, logo existo", do autor, porém, é resultado de um longo e rigoroso processo de dúvida, ferramenta cartesiana que (para "brincar" com o texto) funciona como "vacina" contra a ignorância, as falsas informações, os pseudoconhecimentos.
b) Incorreta. Descartes não buscou sua compreensão a partir da lógica dialética. Sua metodologia foi orientada por outros pilares. Digamos assim, por uma outra "lógica". Considerando os grandes nomes da história da filosofia, e a depender do contexto, caberia, ao se tratar de "lógica dialética", falar de Platão, Hegel ou Marx, três autores que, embora muito diferentes entre si, usaram a "mesma" expressão.
c) Incorreta. É um erro afirmar que Descartes eliminou a subjetividade na produção do conhecimento. Descartes é um autor subjetivista, uma vez que, como escreveu Franklin Leopoldo e Silva, em Descartes "o sujeito é polo irradiador de conhecimento".
d) Incorreta.  Como autor racionalista, nas considerações epistêmicas, Descartes jamais considerou que nosso conhecimento provém da experiência. Ao contrário, negou a sensibilidade como fonte da certeza, vinculando-a à ilusão, motivos pelas quais essa alternativa é incorreta.
e) Incorreta. Considerando o contexto filosófico renascentista, Descartes, assim como muitos pensadores de sua época, negavam os ensinamentos medievais, organizados através da lógica escolástica e ainda difundidos no começo do mundo Moderno. Por isso é um equívoco a alternativa "E" falar em "associação entre fé e razão".
Por fim, vale mencionar que os textos utilizados como base para o exercício, ao abordarem os temas das fake news - em especial as fake news sobre vacina -, e relacionados à filosofia de René Descartes tinham por intuito criar a seguinte relação (que condiz perfeitamente com a alternativa correta da questão): não podemos acreditar em tudo; há de se duvidar; há de se suspeitar; há de investigar; assim chegamos ao conhecimento, à verdade.

Questão 60 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Temas da Filosofia

A filosofia não é mais um porto seguro, mas não é, tampouco, um continente de ideias esquecidas que merece ser visitado apenas por curiosidade. Muitas pessoas supõem que a ciência e a tecnologia, especialmente a física e a neurociência, engolirão a filosofia nas próximas décadas, sem saberem que, ao defender esse ponto de vista, estão implicitamente apoiando uma posição filosófica discutível. Certamente, muitas questões da filosofia contemporânea passaram a ser discutidas pelas ciências. Mas há outras, no campo da ética, da política e da religião, cuja discussão ainda engatinha e para as quais a ciência não tem, até agora, fornecido nenhuma solução.

(João de Fernandes Teixeira. Por que estudar filosofia?, 2016.)

De acordo com o texto, a filosofia 

 



a)

mostra-se incapaz de lidar com os dilemas das ciências. 

b)

contribui para os questionamentos e debates científicos. 

c)

impede o progresso científico e tecnológico. 

d)

evita desenvolver pesquisas e estudos em parceria com cientistas.

e)

pretende oferecer respostas absolutas aos problemas da ciência.

Resolução

De acordo com o texto, como pede o enunciado, mas também de acordo com as teorias ou interpretações filosóficas, a filosofia contribui para os questionamentos e debates científicos, na medida em que carrega, no seu bojo, características relacionadas à problematização e discussão de todas as coisas, inclusive as questões da ciência. Nesse viés, somente a alternativa "B" pode ser correta. As demais são incorretas pelos motivos que se seguem:

A alternativa "A" afirma que a filosofia é incapaz de lidar com os dilemas das ciências, na contramão do que diz o texto: "há outras [questões], no campo da ética, da política e da religião, cuja discussão ainda engatinha e para as quais a ciência não tem, até agora, fornecido nenhuma solução".

O item "C" sugere que a filosofia impede o progresso científico e tecnológico, sugestão incongruente com a própria história, que sempre se desenrolou com esses aspectos paralelamente: a filosofia e o progresso. 

Por sua vez, a alternativa "D" nos diz que, segundo o texto, a filosofia evita o desenvolvimento de pesquisas com parcerias de cientistas. Mas, verdade seja dita, como isso seria possível se, no transcorrer dos séculos, a maioria dos filósofos eram cientistas? 

Por fim, a alternativa "E" afirma que a filosofia "pretende oferecer respostas absolutas aos problemas da ciência", como se esquecesse que, desde o seu nascimento, a filosofia luta contra respostas absolutas. E isso continua até os dias de hoje. Respostas absolutas estão no campo da religião, não no campo filosófico.