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Unesp 2021 - 1ª fase - dia 1


Questão 1 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Cartoons / Comics Figuras de Linguagem

Examine o cartum de Christopher Weyant, publicado em sua conta no Instagram em 16.08.2018.

“If I didn’t believe in a free press, would I be givingyou this interview?”

 

O recurso expressivo que contribui de maneira decisiva para a compreensão do cartum é

 



a)

a ironia.

b)

o eufemismo.

c)

a antítese.

d)

a hipérbole.

e)

o paradoxo.

Resolução

a) Correta. Ironia é a figura de linguagem que significa o contrário do que se diz. No caso da charge em questão, temos um interlocutor com roupa de rei - entrevistado - e outro interlocutor preso e algemado - entrevistador. A fala do entrevistado - Se eu não acreditasse em uma imprensa livre, estaria dando a você esta entrevista? - é irônica porque, na verdade, ele não acredita em uma imprensa livre, afinal, fez seu suposto entrevistador de refém. É interessante notar como a linguagem não verbal contribui para a interpretação da charge, afinal, as vestimentas do suposto entrevistado indicam que ele é, por exemplo, um governante favorável à censura da imprensa. 

b) Incorreta. Eufemismo é a figura de linguagem por meio da qual utilizamos uma palavra ou uma expressão que suaviza o efeito daquilo que pretendemos dizer. Por exemplo, quando preferimos dizer que alguém "não está mais entre nós" para não dizermos diretamente que a pessoa "morreu".

c) Incorreta. Antítese é a figura de linguagem que, em uma mesma frase, utilizamos palavras ou expressãoes que se opõem. Por exemplo: "o dia é claro e a noite é escura".

d) Incorreta. Hipérbole é a figura de linguagem que denota exagero. Quando, por exemplo, dizemos que choramos "um rio" de lágrimas, evidentemente, a quantidade de lágrimas saídas de nossos olhos não se compara ao volume de um rio, no entanto, por meio desse "exagero", queremos indicar que realmente choramos em demasia. 

e) Incorreta. Paradoxo é a figura de linguagem que indica contradição, ou seja, ao aproximar determinadas ideias, cria-se um sentido impossível ou contraditório. Por exemplo, "ouvir o som do silêncio" ou "alegria triste".

Questão 2 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Semântica Outros processos

Há o hipotrélico. O termo é novo, de impesquisada origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português. Para a prática, tome-se hipotrélico querendo dizer: antipodático, sengraçante imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivíduo pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a opinião alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e, como adiante se verá, embirrando o hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por se negar nominalmente a própria existência.
Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotrélicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde, confunde, quase ofende. Perspica-nos a inércia que soneja em cada canto do espírito, e que se refestela com os bons hábitos estadados. Se é que um não se assuste: saia todo-o-mundo a empinar vocábulos seus, e aonde é que se vai dar com a língua tida e herdada? Assenta-nos bem à modéstia achar que o novo não valerá o velho; ajusta-se à melhor prudência relegar o progresso no passado. [...]

Já outro, contudo, respeitável, é o caso — enfim — de “hipotrélico”, motivo e base desta fábula diversa, e que vem do bom português. O bom português, homem-de-bem e muitíssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades íntimas.

Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, tercei- ro, ausente:
— E ele é muito hiputrélico...
Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emitiu o veto:
— Olhe, meu amigo, essa palavra não existe.
Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo:
— Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer?
— É. Mas não existe.
Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório:
— O senhor também é hiputrélico...
E ficou havendo.

(Tutameia, 1979.)


De acordo com o narrador, o hipotrélico revela, em relação à prática do neologismo, uma postura



a)

indiferente.

b)

enigmática.

c)

conservadora.

d)

visionária.

e)

inovadora.

Resolução

a) Incorreta. Segundo o narrador, o hipotrélico assume uma postura de quem “falta com respeito para com a opinião alheia”, de quem “embirra” e não tolera neologismos. Esses posicionamentos são opostos a alguém indiferente, ou seja, que mantém um estado de tranquilidade e não se envolve com as situações, que não se posiciona.

b) Incorreta. O narrador consegue descrever claramente qual a postura do hipotrélico, nomeando-a como a de alguém “antipodático, sengraçante imprizido”, ou ainda “indivíduo pedante, importuno agudo”, além de várias outras descrições que são tecidas ao longo do texto. Desse modo, fica evidente que o hipotrélico não lhe apresenta qualquer enigma, mistério ou dificuldade de compreensão. Trata-se do oposto, pois o narrador consegue desenhar um perfil sobre ele.

c) Correta. O enunciado da questão requisitava que fosse observado o sentido do termo hipotrélico. Já no primeiro parágrafo, o narrador deixa evidente que se trata de um “termo novo”, significando “indivíduo pedante”, “importuno agudo” que se incomoda com “neologismos”, negando-lhes a existência. Por essa razão, pode-se afirmar que, na visão do narrador, o sujeito hipotrélico adota uma postura conservadora, ou seja, de quem procura preservar de alteração determinado elemento, no caso, os vocábulos da língua, reagindo negativamente e com postura “pedante” e implicante para com os novos termos, os neologismos.

d) Incorreta. Uma postura visionária é compreendida como a capacidade de alguém de ter ideias grandiosas, geralmente projetando-as de forma antecipada. O hipotrélico, segundo o narrador, quer ater-se justamente ao que já está sedimentado, posto, razão pela qual ele implica e se torna pedante.

e) Incorreta. Uma postura inovadora pressupõe alguém que almeja e busca criações e elementos novos, o que constitui exatamente o oposto do hipotrélico, o qual resiste às novas palavras e nega-lhes a existência.

Questão 3 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Formação de palavras Semântica

Há o hipotrélico. O termo é novo, de impesquisada origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português. Para a prática, tome-se hipotrélico querendo dizer: antipodático, sengraçante imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivíduo pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a opinião alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e, como adiante se verá, embirrando o hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por se negar nominalmente a própria existência.
Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotrélicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde, confunde, quase ofende. Perspica-nos a inércia que soneja em cada canto do espírito, e que se refestela com os bons hábitos estadados. Se é que um não se assuste: saia todo-o-mundo a empinar vocábulos seus, e aonde é que se vai dar com a língua tida e herdada? Assenta-nos bem à modéstia achar que o novo não valerá o velho; ajusta-se à melhor prudência relegar o progresso no passado. [...]

Já outro, contudo, respeitável, é o caso — enfim — de “hipotrélico”, motivo e base desta fábula diversa, e que vem do bom português. O bom português, homem-de-bem e muitíssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades íntimas.

Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, tercei- ro, ausente:
— E ele é muito hiputrélico...
Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emitiu o veto:
— Olhe, meu amigo, essa palavra não existe.
Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo:
— Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer?
— É. Mas não existe.
Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório:
— O senhor também é hiputrélico...
E ficou havendo.

(Tutameia, 1979.)


Considerando que “sonejar” constitui um neologismo formado pelo radical “sono” e pelo sufixo “-ejar”, que exprime aspecto frequentativo, “a inércia que soneja em cada canto do espírito” (2º parágrafo) contribui, segundo o narrador, para



a)

a degradação da norma-padrão.

b)

a invenção de novos vocábulos.

c)

a valorização da linguagem coloquial.

d)

a renovação radical da língua.

e)

a sobrevivência do idioma.

Resolução

O neologismo destacado no enunciado, conforme a explicação oferecida, tem o sentido de "frequentemente sonolento, adormecido". Nesse sentido, é importante levar em conta o contexto do trecho em questão: segundo o narrador, o neologismo provoca certa agitação que abala a linguagem e aquilo que há de estabilizado nela. 

a) Incorreta. O texto não trata da diferenciação entre a norma-padrão e as demais variedades do português.  

b) Incorreta. A invenção de novos vocábulos é justamente a responsável por abalar a língua como a conhecemos e, portanto, não pode ser apontado como aquilo que "soneja" e contribui para a manutenção da língua.

c) Incorreta. O texto não trata da diferenciação entre a norma-padrão e as demais variedades do português.

d) Incorreta. O narrador não aponta para uma renovação radical da língua, afirma apenas que neologismos a desestabilizam pontualmente.  

e) Correta. Ao afirmar que há uma inércia nos indivíduos em relação à língua e que essa inércia é mantida por hábitos há muito consagrados, o narrador permite a interpretação de que o idioma sobrevive graças a essa estabilidade, que é perturbada pelos neologismos.

Questão 4 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Ambiguidade e Polissemia

Há o hipotrélico. O termo é novo, de impesquisada origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português. Para a prática, tome-se hipotrélico querendo dizer: antipodático, sengraçante imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivíduo pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a opinião alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e, como adiante se verá, embirrando o hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por se negar nominalmente a própria existência.
Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotrélicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde, confunde, quase ofende. Perspica-nos a inércia que soneja em cada canto do espírito, e que se refestela com os bons hábitos estadados. Se é que um não se assuste: saia todo-o-mundo a empinar vocábulos seus, e aonde é que se vai dar com a língua tida e herdada? Assenta-nos bem à modéstia achar que o novo não valerá o velho; ajusta-se à melhor prudência relegar o progresso no passado. [...]

Já outro, contudo, respeitável, é o caso — enfim — de “hipotrélico”, motivo e base desta fábula diversa, e que vem do bom português. O bom português, homem-de-bem e muitíssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades íntimas.

Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, tercei- ro, ausente:
— E ele é muito hiputrélico...
Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emitiu o veto:
— Olhe, meu amigo, essa palavra não existe.
Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo:
— Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer?
— É. Mas não existe.
Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório:
— O senhor também é hiputrélico...
E ficou havendo.

(Tutameia, 1979.)


O efeito cômico do texto deriva, sobretudo, da ambiguidade da expressão



a)

“homem-de-bem”.

b)

“bom português”.

c)

“indesejável maçante”.

d)

“necessidades íntimas”.

e)

“indivíduo pedante”.

Resolução

a) Incorreta. A expressão “homem-de-bem” aparece apenas em uma ocorrência no texto, no terceiro parágrafo, intentando esclarecer o significado de “bom português”. Ela está relacionada a apenas um sentido: alguém bem-intencionado, correto em sua conduta.

b) Correta. A expressão “bom português” aparece no primeiro parágrafo (“Sabe-se, só, que vem do bom português”). Nesse primeiro momento, o substantivo português possui como referente a língua portuguesa, o idioma português, o que também ocorre na primeira ocorrência dessa expressão no terceiro parágrafo (“fábula diversa, e que vem do bom português”). Logo após essa segunda ocorrência, entretanto, o autor emprega a mesma expressão com um referente diverso, ou seja, “O bom português” passa a ter como significado (conforme esclarece o aposto) “homem-de-bem e muitíssimo inteligente”, de origem portuguesa. A partir desse momento, o narrador para a referenciar tal expressão sempre como esta pessoa. Em razão disso, a expressão “bom português” assume, nesse texto, um duplo sentido, utilizado pelo autor do texto justamente com o intuito de provocar um efeito cômico.  

c) Incorreta. A expressão “indesejável maçante” aparece apenas uma vez no texto, no sexto parágrafo, para fazer referência ao interlocutor do “bom português”, qualificando-o de forma negativa. Nessa ocorrência não apresenta sentidos duplos ou ambíguos, pois, de fato, significa alguém que aborrece e tem algo que não se deseja.

d) Incorreta. A expressão “necessidades íntimas” aparece apenas em uma ocorrência no texto, no terceiro parágrafo. Nesta, seu sentido é único, pois significa os anseios do “bom português”. Embora o adjetivo “íntimo” possa assumir polissemia, quando relacionado a contextos de afetividade, ou ainda a contextos de regiões genitais, essas possibilidades não foram exploradas pelo texto, nem constituíram efeito cômico.

e) Incorreta. A expressão “indivíduo pedante” aparece no texto apenas no primeiro parágrafo. Em tal circunstância, o narrador está descrevendo a figura do hipotrélico, e utiliza a expressão (junto a várias outras) exatamente para esclarecer o sentido do termo, tentando torná-lo mais claro. Desse modo, não assume sentidos duplos ou ambíguos, pois significa realmente alguém que ostenta conhecimentos e erudição de forma inoportuna.

 

Questão 5 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Sinonímia

Há o hipotrélico. O termo é novo, de impesquisada origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português. Para a prática, tome-se hipotrélico querendo dizer: antipodático, sengraçante imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivíduo pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a opinião alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e, como adiante se verá, embirrando o hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por se negar nominalmente a própria existência.
Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotrélicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde, confunde, quase ofende. Perspica-nos a inércia que soneja em cada canto do espírito, e que se refestela com os bons hábitos estadados. Se é que um não se assuste: saia todo-o-mundo a empinar vocábulos seus, e aonde é que se vai dar com a língua tida e herdada? Assenta-nos bem à modéstia achar que o novo não valerá o velho; ajusta-se à melhor prudência relegar o progresso no passado. [...]

Já outro, contudo, respeitável, é o caso — enfim — de “hipotrélico”, motivo e base desta fábula diversa, e que vem do bom português. O bom português, homem-de-bem e muitíssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades íntimas.

Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, tercei- ro, ausente:
— E ele é muito hiputrélico...
Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emitiu o veto:
— Olhe, meu amigo, essa palavra não existe.
Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo:
— Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer?
— É. Mas não existe.
Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório:
— O senhor também é hiputrélico...
E ficou havendo.

(Tutameia, 1979.)


“Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório:
— O senhor também é hiputrélico...” (11º e 12º parágrafos)
Considerando o contexto, o termo sublinhado pode ser substituído, sem prejuízo para o sentido do texto, por:



a)

debochado.

b)

contrariado.

c)

distraído.

d)

atrapalhado.

e)

admirado.

Resolução

De acordo com o contexto, podemos entender que o termo "enfigadado" assume o sentido de "contrariado", pois o português se recusa a aceitar que a palavra que havia acabado de usar não existe, o que ressalta o sentido do termo. Nesse sentido, nenhuma das palavras apresentadas pelas outras alternativas poderia ser usada para substituir o termo destacado com precisão. Portanto, a alternativa correta é a B.

Questão 6 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Morfologia - Classes de palavras Coesão e Coerência Pronomes pessoais

Há o hipotrélico. O termo é novo, de impesquisada origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português. Para a prática, tome-se hipotrélico querendo dizer: antipodático, sengraçante imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivíduo pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a opinião alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e, como adiante se verá, embirrando o hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por se negar nominalmente a própria existência.
Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotrélicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde, confunde, quase ofende. Perspica-nos a inércia que soneja em cada canto do espírito, e que se refestela com os bons hábitos estadados. Se é que um não se assuste: saia todo-o-mundo a empinar vocábulos seus, e aonde é que se vai dar com a língua tida e herdada? Assenta-nos bem à modéstia achar que o novo não valerá o velho; ajusta-se à melhor prudência relegar o progresso no passado. [...]

Já outro, contudo, respeitável, é o caso — enfim — de “hipotrélico”, motivo e base desta fábula diversa, e que vem do bom português. O bom português, homem-de-bem e muitíssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades íntimas.

Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, tercei- ro, ausente:
— E ele é muito hiputrélico...
Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emitiu o veto:
— Olhe, meu amigo, essa palavra não existe.
Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo:
— Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer?
— É. Mas não existe.
Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório:
— O senhor também é hiputrélico...
E ficou havendo.

(Tutameia, 1979.)


Retoma um termo mencionado anteriormente no texto a palavra sublinhada em:



a)

“Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emitiu o veto:” (6º parágrafo)

b)

“— O senhor também é hiputrélico...” (12º parágrafo)

c)

“Para a prática, tome-se hipotrélico querendo dizer:” (1º parágrafo)

d)

“— Como?!...  Ora...  Pois  se  eu  a  estou  a  dizer?”  (9º parágrafo)

e)

“Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo:” (8º parágrafo)

Resolução

a) Incorreta. Em “Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emitiu o veto:”, o termo sublinhado exerce a função de artigo definido do substantivo veto, determinando-o, especificando-o.

b) Incorreta. Em “— O senhor também é hiputrélico...”, o termo sublinhado exerce a função de artigo definido do substantivo senhor, expressão a qual, em conjunto, constitui pronome de tratamento nominal usado em circunstâncias formais.

c) Incorreta. Em “Para a prática, tome-se hipotrélico querendo dizer:”, o termo sublinhado exerce a função de artigo definido do substantivo prática, determinando-o, especificando-o.

d) Correta. Em “— Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer?”, o termo sublinhado exerce a função de pronome pessoal do caso oblíquo e retoma a expressão “essa palavra” dita na fala anterior, substituindo-a e referenciando-a.

e) Incorreta. Em “Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo:”, o termo sublinhado exerce a função de preposição.

Questão 7 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Futurismo Fernando Pessoa

Futurismo. O Manifesto Futurista, de autoria do poeta italiano Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944), foi publicado em Paris em 1909. Nesse manifesto, Marinetti declara a raiz italiana da nova estética: “queremos libertar esse país (a Itália) de sua fétida gangrena de professores, arqueólogos, cicerones e antiquários”. Falando da Itália para o mundo, o Futurismo coloca-se contra o “passadismo” burguês e o tradicionalismo cultural. A exaltação da máquina e da “beleza da velocidade”, associada ao elogio da técnica e da ciência, torna-se emblemática da nova atitude estética e política.

(https://enciclopedia.itaucultural.org.br. Adaptado.)

Verifica-se a influência dessa vanguarda artística nos seguintes versos do poeta português Fernando Pessoa:



a)

Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!
Outra vez a obsessão movimentada dos ônibus.
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo
    [dentro de todos os comboios De todas as partes do mundo,
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,
Que a estas horas estão levantando ferro ou
    [afastando-se das docas.

b)

O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis

Movimentos da esprança e
da vontade,

Buscar na linha fria do horizonte

A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte —

Os beijos merecidos da Verdade.

c)

O teu silêncio é uma nau com todas as velas
pandas...

Brandas, as brisas brincam nas flâmulas,
teu sorriso...

E o teu sorriso no teu silêncio é as
escadas e as andas

Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraíso...

d)

Não me compreendo nem no que, compreendendo, faço.

Não atinjo o fim ao que faço pensando num fim.

É diferente do que é o prazer ou a dor que abraço.

Passo, mas comigo não passa um eu que há em mim.

e)

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena
    [cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como
    [o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam
    [a voz,

Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,

Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre
    [correria,

E sempre iria ter ao mar.

Resolução

a) Correta. Os versos transcritos foram extraídos do poema “Ode Triunfal”, de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa bastante influenciado pelo Futurismo. Verifica-se tal influência, no excerto apresentado, pela caracterização do ambiente urbano e seus meios de transporte - ônibus, comboios e navios. Revela-se, assim, a presença da máquina, da técnica e da ciência no cotidiano moderno e a consequente sensação de velocidade (“a obsessão movimentada dos ônibus”) e simultaneidade (“estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios / De todas as partes do mundo, / De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios”) que atinge o eu lírico de modo agressivo, com fúria e “raiva mecânica constante”.

b) Incorreta. Esse excerto faz parte da obra “Mensagem”, que explora o passado de Portugal, suas figuras históricas e mitológicas. Revisitando a época das Grandes Navegações, os versos apresentados abordam a ânsia dos navegantes (“o sonho”, “a esperança” e “a vontade”) na busca por novas terras (simbolizadas pelos elementos naturais: árvore, praia, flor, ave, fonte), que, numa “distância imprecisa”, surgem “na linha fria do horizonte”. Trata-se, portanto, de uma temática completamente avessa aos ideais do Futurismo e sua negação do “passadismo burguês” e do “tradicionalismo cultural”.

c) Incorreta. Trata-se da estrofe inicial do poema “Hora absurda”; nesses versos, o eu lírico explora, por meio de metáforas, as sensações provocadas pelo silêncio e pelo sorriso de seu interlocutor, num jogo de imagens (“uma nau com todas as velas pandas...” / “Brandas, as brisas brincam nas flâmulas,” / “as escadas e as andas / Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraíso...”) que se aproxima da estética simbolista.

d) Incorreta. Os versos apresentados são reflexões intimistas, estão centrados na relação do eu lírico consigo mesmo e exploram a multiplicidade do “eu” e suas contradições: “Não me compreendo nem no que, compreendendo, faço.” / “Passo, mas comigo não passa um eu que há em mim.” Essa temática é recorrente na obra de Pessoa, e não tem uma filiação com o movimento futurista de exaltação da ciência, da técnica e da velocidade modernas.

e) Incorreta. O excerto faz parte de um poema de Ricardo Reis, heterônimo de Pessoa influenciado pelo Neoclassicismo. Nota-se claramente a exploração da natureza como forma de tecer reflexões sobre a brevidade da vida (“Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.”), e a busca por uma vida tranquila, equilibrada (“Mais vale saber passar silenciosamente / E sem desassossegos grandes.”).

Questão 8 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Pontuação

Examine o meme publicado pela comunidade “The Language Nerds” em sua conta no Instagram em 28.02.2020.

Para se evitar o qualificativo de “psicopata”, seria aconselhável seguir a recomendação do meme e inserir uma vírgula logo após

 



a)

“I”.

b)

“and”.

c)

“like”.

d)

“family”.

e)

“cooking”.

Resolução

O meme transcrito no enunciado da questão, traduzido, diz o seguinte:

Eu gosto de cozinhar minha família e meus animais de estimação.

Use vírgulas. Não seja um psicopata.

O meme indica que o autor da frase I like cooking my family and my pets seria um "psicopata" porque, sem a vírgula, "my family and my pets" [minha família e meus animais de estimação] são complementos do verbo "cooking" [cozinhar], ou seja, o sujeito "I" [Eu] gosta de cozinhar sua família e seus animais de estimação. Certamente, o que se quer dizer é que cozinhar está entre os gostos do sujeito "eu", assim como a família e os animais de estimação. Dessa forma, é necessário colocar uma vírgula depois do verbo "cooking", de modo que "cooking", "my family" e "my pets" sejam complementos do verbo "like". Assim:

I like cooking, my family and my pets, cuja tradução seria Eu gosto de cozinhar, da minha família e dos meus animais de estimação, ou seja, entende-se que o verbo "gostar" tem três complementos: Eu gosto de cozinhar, [gosto de] minha família e [gosto de] meus animais de estimação.

Portanto, a alternativa correta é a letra E.

Questão 9 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Os sertões Variação Linguística

Para responder às questões de 09 a 15, leia o texto extraído da primeira parte, intitulada “A terra”, da obra Os sertões, de Euclides da Cunha. A obra resultou da cobertura jornalística da Guerra de Canudos, realizada por Euclides da Cunha para o jornal O Estado de S.Paulo de agosto a outubro de 1897, e foi publicada apenas em 1902.

Percorrendo  certa  vez,  nos  fins  de  setembro  [de 1897],  as cercanias de Canudos, fugindo à monotonia de um canhoneio¹ frouxo de tiros espaçados e soturnos, encontramos, no descer de uma encosta, anfiteatro irregular, onde as colinas se dispunham circulando um vale único. Pequenos arbustos, icozeiros² virentes viçando em tufos intermeados de palmatórias³ de flores rutilantes, davam ao lugar a aparência exata de algum velho jardim em abandono. Ao lado uma árvore única, uma quixabeira alta, sobranceando a vegetação franzina.
O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão e protegido por ela — braços largamente abertos, face volvida para os céus — um soldado descansava.
Descansava... havia três meses.
Morrera no assalto de 18 de julho [de 1897]. A coronha da Mannlicher4 estrondada, o cinturão e o boné jogados a uma banda, e a farda em tiras, diziam que sucumbira em luta corpo a corpo com adversário possante. Caíra, certo, derreando-se  à  violenta pancada  que  lhe  sulcara  a  fronte,  manchada  de  uma  escara preta.  E  ao enterrarem-se, dias  depois, os mortos, não fora percebido. Não compartira, por isto, a  vala comum de menos de um côvado de fundo em que eram jogados, formando pela última vez juntos, os companheiros abatidos na batalha. O destino que o removera do lar desprotegido fizera-lhe  afinal  uma concessão: livrara-o  da promiscuidade  lúgubre de um fosso repugnante; e deixara-o ali há três meses – braços largamente abertos, rosto voltado para os céus, para os sóis ardentes, para os luares claros, para as estrelas fulgurantes...
E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara conservando os traços  fisionômicos, de  modo a incutir a ilusão exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranquilo sono, à sombra daquela árvore  benfazeja. Nem um verme — o mais vulgar dos trágicos analistas da matéria — lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilhão da vida sem decomposição repugnante, numa exaustão imperceptível. Era um aparelho revelando de modo absoluto, mas sugestivo, a secura extrema dos ares.

(Os sertões, 2016.)

¹canhoneio: descarga de canhões.
²icozeiro: arbusto de folhas coriáceas, flores de tom verde-pálido e frutos bacáceos.
³palmatória:  planta  da  família  das  cactáceas,  de  flores  amarelo-esverdeadas, com a parte inferior vermelha, ou róseas, e bagas vermelhas.
4Mannlicher: rifle projetado por Ferdinand Ritter von Mannliche


A linguagem do texto pode ser caracterizada como

 



a)

erudita e lacônica.

b)

rebuscada e técnica.

c)

coloquial e prolixa.

d)

subjetiva e informal.

e)

hermética e impessoal.

Resolução

a) Incorreta. Euclides da Cunha explora um vocabulário e construções sintáticas que conferem erudição à linguagem do texto; no entanto, a descrição minuciosa das cenas apresentadas afasta-se de um estilo lacônico, ou seja, conciso, breve.

b) Correta. De fato, a linguagem do texto pode ser considerada rebuscada, uma vez que há uso de construções sintáticas e escolhas vocabulares que fogem à coloquialidade e dão ao texto certa elegância e rebuscamento. Além disso, é correto também afirmar que o texto apresenta linguagem técnica (com descrições objetivas e bastante detalhadas), o que pode ser visto como um reflexo do fato de Euclides da Cunha ser também um jornalista e ter feito a cobertura da guerra de Canudos nesta função. 

c) Incorreta. Não é correto afirmar que a linguagem do texto seja coloquial, uma vez que o autor explora a linguagem em sua variedade padrão, bastante formal. Não é possível também afirmar que a linguagem seja prolixa, pois, apesar de haver descrições detalhadas, elas não são repetitivas ou tornam o texto menos atrativo, ao contrário, contribuem para a sua fluidez e seu caráter literário.

d) Incorreta. Por se tratar de um texto resultante de uma cobertura jornalística, a linguagem nele utilizada é predominantemente objetiva, ainda que com contornos literários que o tornam único. Além disso, não há informalidade no texto, mas um uso bastante habilidoso da linguagem formal. 

e) Incorreta. Não é correto afirmar que o texto apresenta uma linguagem hermética, uma vez que, apesar de apresentar uma escrita rebuscada, o texto não é difícil de ser compreendido. Já quanto à impessoalidade, é correto dizer que o texto faz uso dela, uma vez que o relato tem tons de texto jornalístico.  

Questão 10 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Umidade (Clima) Climas brasileiros

Para responder às questões de 09 a 15, leia o texto extraído da primeira parte, intitulada “A terra”, da obra Os sertões, de Euclides da Cunha. A obra resultou da cobertura jornalística da Guerra de Canudos, realizada por Euclides da Cunha para o jornal O Estado de S.Paulo de agosto a outubro de 1897, e foi publicada apenas em 1902.

Percorrendo  certa  vez,  nos  fins  de  setembro  [de 1897],  as cercanias de Canudos, fugindo à monotonia de um canhoneio¹ frouxo de tiros espaçados e soturnos, encontramos, no descer de uma encosta, anfiteatro irregular, onde as colinas se dispunham circulando um vale único. Pequenos arbustos, icozeiros² virentes viçando em tufos intermeados de palmatórias³ de flores rutilantes, davam ao lugar a aparência exata de algum velho jardim em abandono. Ao lado uma árvore única, uma quixabeira alta, sobranceando a vegetação franzina.
O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão e protegido por ela — braços largamente abertos, face volvida para os céus — um soldado descansava.
Descansava... havia três meses.
Morrera no assalto de 18 de julho [de 1897]. A coronha da Mannlicher4 estrondada, o cinturão e o boné jogados a uma banda, e a farda em tiras, diziam que sucumbira em luta corpo a corpo com adversário possante. Caíra, certo, derreando-se  à  violenta pancada  que  lhe  sulcara  a  fronte,  manchada  de  uma  escara preta.  E  ao enterrarem-se, dias  depois, os mortos, não fora percebido. Não compartira, por isto, a  vala comum de menos de um côvado de fundo em que eram jogados, formando pela última vez juntos, os companheiros abatidos na batalha. O destino que o removera do lar desprotegido fizera-lhe  afinal  uma concessão: livrara-o  da promiscuidade  lúgubre de um fosso repugnante; e deixara-o ali há três meses – braços largamente abertos, rosto voltado para os céus, para os sóis ardentes, para os luares claros, para as estrelas fulgurantes...
E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara conservando os traços  fisionômicos, de  modo a incutir a ilusão exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranquilo sono, à sombra daquela árvore  benfazeja. Nem um verme — o mais vulgar dos trágicos analistas da matéria — lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilhão da vida sem decomposição repugnante, numa exaustão imperceptível. Era um aparelho revelando de modo absoluto, mas sugestivo, a secura extrema dos ares.

(Os sertões, 2016.)

¹canhoneio: descarga de canhões.
²icozeiro: arbusto de folhas coriáceas, flores de tom verde-pálido e frutos bacáceos.
³palmatória:  planta  da  família  das  cactáceas,  de  flores  amarelo-esverdeadas, com a parte inferior vermelha, ou róseas, e bagas vermelhas.
4Mannlicher: rifle projetado por Ferdinand Ritter von Mannliche


Anteriormente ao  texto  transcrito,  Euclides da Cunha  menciona  a  existência de “higrômetros  inesperados e bizarros”  na paisagem. Constitui exemplo de higrômetro inesperado e bizarro no texto transcrito:



a)

a disposição geográfica das colinas.

b)

a ação dos vermes a decompor o cadáver.

c)

o corpo abandonado do soldado.

d)

a quixabeira solitária, cercada por vegetação franzina.

e)

a secura extrema dos ares.

Resolução

Higrômetros são medidores de umidade do ar, havendo atualmente inclusive higrômetros digitais. Sendo assim, podemos analisar as alternativas.

a) Incorreta. As colinas não são elementos de identificação direta da umidade do ar.

b) Incorreta. Os vermes não macularam os tecidos do soldado referido no texto.

c) Correta. O texto de Euclides da Cunha apresenta como principal elemento de medição da umidade do ar a descrição do corpo morto e abandonado do soldado, praticamente mumificado pelos efeitos do clima extremamente seco da região de clima semiárido, funcionando este como um higrômetro tanto inesperado quanto bizarro.

d) Incorreta. A quixabeira é um elemento indicativo para a umidade do ar, não sendo, no entanto, "inesperado" nem "bizarro no contexto da obra.

e) Incorreta. A secura dos ares precisa ser medida de alguma maneira, ela em si não é um "higrômetro".