Futurismo. O Manifesto Futurista, de autoria do poeta italiano Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944), foi publicado em Paris em 1909. Nesse manifesto, Marinetti declara a raiz italiana da nova estética: “queremos libertar esse país (a Itália) de sua fétida gangrena de professores, arqueólogos, cicerones e antiquários”. Falando da Itália para o mundo, o Futurismo coloca-se contra o “passadismo” burguês e o tradicionalismo cultural. A exaltação da máquina e da “beleza da velocidade”, associada ao elogio da técnica e da ciência, torna-se emblemática da nova atitude estética e política.
(https://enciclopedia.itaucultural.org.br. Adaptado.)
Verifica-se a influência dessa vanguarda artística nos seguintes versos do poeta português Fernando Pessoa:
a) |
Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante! |
b) |
O sonho é ver as formas invisíveis Movimentos da esprança e Buscar na linha fria do horizonte A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte — Os beijos merecidos da Verdade. |
c) |
O teu silêncio é uma nau com todas as velas Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, E o teu sorriso no teu silêncio é as Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraíso... |
d) |
Não me compreendo nem no que, compreendendo, faço. Não atinjo o fim ao que faço pensando num fim. É diferente do que é o prazer ou a dor que abraço. Passo, mas comigo não passa um eu que há em mim. |
e) |
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam Nem invejas que dão movimento demais aos olhos, Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre E sempre iria ter ao mar. |
a) Correta. Os versos transcritos foram extraídos do poema “Ode Triunfal”, de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa bastante influenciado pelo Futurismo. Verifica-se tal influência, no excerto apresentado, pela caracterização do ambiente urbano e seus meios de transporte - ônibus, comboios e navios. Revela-se, assim, a presença da máquina, da técnica e da ciência no cotidiano moderno e a consequente sensação de velocidade (“a obsessão movimentada dos ônibus”) e simultaneidade (“estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios / De todas as partes do mundo, / De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios”) que atinge o eu lírico de modo agressivo, com fúria e “raiva mecânica constante”.
b) Incorreta. Esse excerto faz parte da obra “Mensagem”, que explora o passado de Portugal, suas figuras históricas e mitológicas. Revisitando a época das Grandes Navegações, os versos apresentados abordam a ânsia dos navegantes (“o sonho”, “a esperança” e “a vontade”) na busca por novas terras (simbolizadas pelos elementos naturais: árvore, praia, flor, ave, fonte), que, numa “distância imprecisa”, surgem “na linha fria do horizonte”. Trata-se, portanto, de uma temática completamente avessa aos ideais do Futurismo e sua negação do “passadismo burguês” e do “tradicionalismo cultural”.
c) Incorreta. Trata-se da estrofe inicial do poema “Hora absurda”; nesses versos, o eu lírico explora, por meio de metáforas, as sensações provocadas pelo silêncio e pelo sorriso de seu interlocutor, num jogo de imagens (“uma nau com todas as velas pandas...” / “Brandas, as brisas brincam nas flâmulas,” / “as escadas e as andas / Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraíso...”) que se aproxima da estética simbolista.
d) Incorreta. Os versos apresentados são reflexões intimistas, estão centrados na relação do eu lírico consigo mesmo e exploram a multiplicidade do “eu” e suas contradições: “Não me compreendo nem no que, compreendendo, faço.” / “Passo, mas comigo não passa um eu que há em mim.” Essa temática é recorrente na obra de Pessoa, e não tem uma filiação com o movimento futurista de exaltação da ciência, da técnica e da velocidade modernas.
e) Incorreta. O excerto faz parte de um poema de Ricardo Reis, heterônimo de Pessoa influenciado pelo Neoclassicismo. Nota-se claramente a exploração da natureza como forma de tecer reflexões sobre a brevidade da vida (“Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.”), e a busca por uma vida tranquila, equilibrada (“Mais vale saber passar silenciosamente / E sem desassossegos grandes.”).