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Questão 59 Unesp 2021 - 1ª fase - dia 1

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Questão 59

Descartes

TEXTO 1

Nos últimos tempos, reservou-se (e, com isso, popularizou-se) o termo fake news para designar os relatos pretensamente factuais que inventam ou alteram os fatos que narram e que são disseminados, em larga escala, nas mídias sociais, por pessoas interessadas nos efeitos que eles poderiam produzir.

(Wilson S. Gomes e Tatiana Dourado. "Fake news, um fenômeno de comunicação política entre jornalismo, política e democracia". Estudos em Jornalismo e Midia, no 2, vol. 16, 2019.)

 

TEXTO 2

As vacinas foram os principais alvos de fake news entre todas as publicações monitoradas pelo Ministério da Saúde em 2018. Cerca de 90% dos focos de mentiras identificados pelo órgão tinham como alvo a vacinação. Reconhecido internacionalmente, o programa de imunização brasileiro viu doenças como sarampo e poliomielite voltarem a ameaçar o país em 2018 após os índices de cobertura vacinal caírem em 2017.

(Fabiana Cambricoli. "Ministério da Saúde identifica 185 focos de fake news e reforça campanhas". https://saude.estadao.com.br, 20.09.2018. Adaptado.)

 

Os textos tratam de uma prática que é contrária ao princípio da fundamentação racional sustentado por Descartes, que propôs a



a)

busca por um conhecimento seguro proveniente do ato de duvidar.

b)

construção da compreensão a partir da lógica dialética.

c)

eliminação da subjetividade na produção do conhecimento

d)

fundamentação das certezas a partir da experiência sensível.

e)

percepção da realidade por meio da associação entre fé e razão.

Resolução

O que Descartes propôs? Em última instância, é isso que o exercício nos pergunta. Cabe analisar as possíveis respostas, então.
a) Correta. O filósofo renascentista René Descartes busca um conhecimento seguro, firme e sólido para a filosofia e para as ciências, conhecimento esse que ele encontra através do seu pensamento, que, quando acionado, garante sua existência pensante. O conhecido "penso, logo existo", do autor, porém, é resultado de um longo e rigoroso processo de dúvida, ferramenta cartesiana que (para "brincar" com o texto) funciona como "vacina" contra a ignorância, as falsas informações, os pseudoconhecimentos.
b) Incorreta. Descartes não buscou sua compreensão a partir da lógica dialética. Sua metodologia foi orientada por outros pilares. Digamos assim, por uma outra "lógica". Considerando os grandes nomes da história da filosofia, e a depender do contexto, caberia, ao se tratar de "lógica dialética", falar de Platão, Hegel ou Marx, três autores que, embora muito diferentes entre si, usaram a "mesma" expressão.
c) Incorreta. É um erro afirmar que Descartes eliminou a subjetividade na produção do conhecimento. Descartes é um autor subjetivista, uma vez que, como escreveu Franklin Leopoldo e Silva, em Descartes "o sujeito é polo irradiador de conhecimento".
d) Incorreta.  Como autor racionalista, nas considerações epistêmicas, Descartes jamais considerou que nosso conhecimento provém da experiência. Ao contrário, negou a sensibilidade como fonte da certeza, vinculando-a à ilusão, motivos pelas quais essa alternativa é incorreta.
e) Incorreta. Considerando o contexto filosófico renascentista, Descartes, assim como muitos pensadores de sua época, negavam os ensinamentos medievais, organizados através da lógica escolástica e ainda difundidos no começo do mundo Moderno. Por isso é um equívoco a alternativa "E" falar em "associação entre fé e razão".
Por fim, vale mencionar que os textos utilizados como base para o exercício, ao abordarem os temas das fake news - em especial as fake news sobre vacina -, e relacionados à filosofia de René Descartes tinham por intuito criar a seguinte relação (que condiz perfeitamente com a alternativa correta da questão): não podemos acreditar em tudo; há de se duvidar; há de se suspeitar; há de investigar; assim chegamos ao conhecimento, à verdade.