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Unesp 2020 - 1ª fase


Questão 31 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Mundo Grego

    A Odisseia choca-se com a questão do passado. Para perscrutar o futuro e o passado, recorre-se geralmente ao adivinho. Inspirado pela musa, o adivinho vê o antes e o além: circula entre os deuses e entre os homens, não todos os homens, mas os heróis, preferencialmente mortos gloriosamente em combate. Ao celebrar aqueles que passaram, ele forja o passado, mas um passado sem duração, acabado.

(François Hartog. Regimes de historicidade: presentismo e experiências do tempo, 2015. Adaptado.)

O texto afirma que a obra de Homero



a)

questiona as ações heroicas dos povos fundadores da Grécia Antiga, pois se baseia na concepção filosófica de physis.
 

b)

valoriza os mitos em que os gregos acreditavam e que estão no fundamento das concepções modernas de tempo e história.
 

c)

é fundadora da ideia de história, pois concebe o passado como um tempo que prossegue no presente e ensina os homens a aprenderem com seus erros.
 

d)

identifica uma forma do pensamento mítico e uma visão de passado estranha à ideia de diálogo entre temporalidades, que caracteriza a história.

e)

desenvolve uma abordagem crítica do passado e uma reflexão de caráter racionalista, semelhantes à da filosofia pré-socrática.

Resolução

A Odisseia, obra citada no texto do enunciado,  é uma das principais fontes dos elogios feitos aos heróis antigos, ao contrário do que afirma a alternativa A. O texto fala  de como a concepção de tempo  que aparece em Homero é diferente da concepção moderna, já que nela o passado é acessível pelo adivinho como um fenômeno acabado, que não tem continuidade. Assim, dentro desta perspectiva não haveria como enxergar no presente repercussões e permanências deste passado, coisa que as noções modernas de história tendem a fazer. Por conta disso, são incorretas as alternativas B e C. A visão de passado apresentada no texto tem base nos mitos e nas capacidades místicas do adivinho, o que invalida a alternativa E, que fala que seria uma reflexão de caráter racionalista, e torna a alternativa D correta.

Questão 32 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Arte Medieval

Observe a imagem.

(www.culturagenial.com)

A Catedral de Notre-Dame, em Paris, parcialmente destruída por um incêndio em abril de 2019, é um exemplo da arquitetura



a)

gótica, expressa na verticalidade e no emprego de arcos e vitrais.

b)

românica, expressa no desenho do teto e da abóbada principal.

c)

clássica, expressa na composição simétrica e na presença de colunas dóricas.

d)

art nouveau, expressa na utilização de elementos geométricos decorativos.

e)

eclética, expressa no pastiche entre elementos barrocos e neoclássicos.
 

Resolução

a) Correta. Os arcos ogivais característicos do estilo gótico são destacados pelo ângulo da foto presente no enunciado.

b) Incorreta. Não são observáveis elementos do estilo românico no edíficio em questão. Além disso, o românico é característico do período medieval, anterior à construção de Notre Dame, de 1163 a 1345.

c) Incorreta. Não há colunas dóricas na catedral de Notre Dame.

Fonte: https://o-portico.blogspot.com/2016/03/pilar-ou-coluna-tem-diferenca.html

 

d) Incorreta. A Art nouveau marcou o final do século XIX, não tendo relação com a Catedral citada.

e) Incorreta. Tanto o barroco quanto o neoclássico, estilos característicos dos séculos XVII e XVIII, são bem posteriores ao período medieval, assim como o ecletismo, fenômeno da arquitetura de meados do século XIX.

 

Questão 33 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Arte Renascentista Filosofia Antiga Filosofia Moderna

[Leonardo da Vinci] viu que “a água corrente detém em si um número infinito de movimentos”.

Um “número infinito”? Para Leonardo, não se trata apenas de uma figura de linguagem. Ao falar da variedade infinita da natureza e sobretudo de fenômenos como as correntes de água, ele estava fazendo uma distinção baseada na preferência por sistemas analógicos sobre os digitais. Em um sistema analógico, há gradações infinitas, o que se aplica à maioria das coisas que fascinavam Leonardo: sombras de sfumato, cores, movimento, ondas, a passagem do tempo, a dinâmica dos fluidos.

(Walter Isaacson. Leonardo da Vinci, 2017.)

A partir da explicação do texto sobre Leonardo da Vinci, pode-se afirmar que



a)

o princípio cristão da vida eterna orientou o pensamento renascentista.

b)

o materialismo pré-socrático foi a principal sustentação teórica do Renascimento.

c)

os experimentos da Antiguidade oriental basearam a ciência renascentista.

d)

as concepções artísticas medievais fundamentaram a arte renascentista.

e)

a observação da pluralidade da natureza foi um dos fundamentos do Renascimento.

Resolução

a) Incorreta. Embora o  Renascimento seja um período de forte importância do cristianismo, não é a relação com a religião que é ressaltada no texto, mas a novidade da relação empírica com o mundo natural.

b) Incorreta. Se pensarmos nas matrizes do pensamento antigo que têm grande repercussão no Renascimento, destaca-se a importância das academias neplatônicas e do aristotelismo das universidades, que seria inclusive colocado em xeque pela produção de homens como Leonardo, Galileu e Francis Bacon. Embora até pudesse ser aproximado do pensamento científico nascente por sustentar a primazia da matéria sobre o espírito, o materialismo pré-socrático (dos quais seriam exemplos Tales de Mileto, Anaximandro ou mesmo Demócrito) está muito distante das preocupações renascentistas com a formulação de explicações através da experimentação.

c) Incorreta. A maior referência do mundo antigo para os renascentistas eram os gregos e romanos.

d) Incorreta. O período renascentista apresenta importantes rupturas com as concepções artísticas medievais. São exemplos dessas ruprturas a valorização do corpo e da paisagem, o surgimento do retrato como gênero artístico, a invenção da técnica da perspectiva, a preocupação volumétrica, entre outros.

e) Correta. O texto apresenta um aspecto fundamental do pensamento de Leonardo Da Vinci, a importância da observação da natureza, como fica claro quando cita  "a maioria das coisas que fascinavam leonardo" e enumera "sombras de sfumato, cores, movimento, ondas, a passagem do tempo, a dinâmica dos fluidos".

 

Questão 34 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Escravidão

Leia o texto e observe o mapa para responder às questões 34 e 35.


    Nem existia Brasil no começo dessa história. Existiam o Peru e o México, no contexto pré-colombiano, mas Argentina, Brasil, Chile, Estados Unidos, Canadá, não. No que seria o Brasil, havia gente no Norte, no Rio, depois no Sul, mas toda essa gente tinha pouca relação entre si até meados do século XVIII. E há aí a questão da navegação marítima, torna-se importante aprender bem história marítima, que é ligada à geografia. [...] Essa compreensão me deu muita liberdade para ver as relações que Rio, Pernambuco e Bahia tinham com Luanda. Depois a Bahia tem muito mais relação com o antigo Daomé, hoje Benin, na Costa da Mina. Isso formava um todo, muito mais do que o Brasil ou a América portuguesa. [...]

    Nunca os missionários entraram na briga para saber se o africano havia sido ilegalmente escravizado ou não, mas a escravidão indígena foi embargada pelos missionários desde o começo, e isso também é um pouco interesse dos negreiros, ou seja, que a escravidão africana predomine. [...] A escravização tem dois processos: o primeiro é a despersonalização, e o segundo é a dessocialização.

(Luiz Felipe de Alencastro. Entrevista a Mariluce Moura. “O observador do Brasil no Atlântico Sul”. In: Revista Pesquisa Fapesp, no 188, outubro de 2011.)

O texto estabelece a formação do Brasil a partir da navegação marítima, o que implica reconhecer a importância



a)

da imposição de uma lógica global de comércio e da dissolução das fronteiras entre os territórios colonizados na América.

b)

do domínio colonial de Portugal sobre o litoral africano e da intermediação espanhola no tráfico escravagista.

c)

do controle das rotas marítimas por navegadores italianos e da conformação do conceito geográfico de Ocidente.

d)

da constituição do espaço geográfico do Atlântico Sul e da relação estabelecida entre os continentes americano e africano.

e)

do surgimento do tráfico de africanos escravizados e das relações comerciais do Brasil com a América espanhola.

Resolução

O tráfico transatlântico de escravos foi uma atividade presente na Colônia e no Império brasileiro, entre os séculos XVI e XIX. A substituição da mão de obra indígena pela africana teve como principal motivação a alta lucratividade que o comércio de africanos representava para Portugal. A partir do século XV, áreas da África Ocidental se tornaram entrepostos do tráfico, como a região da Costa da Mina, Guiné, Angola, São Tomé e Príncípe. O tráfico foi intensamente combatido pela Inglaterra desde meados do século XIX, um dos fatores que resultou na sua proibição de forma definitiva no ano de 1850, com a lei Eusébio de Queirós. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

a) Incorreta. É impreciso considerar que o tráfico representou uma "imposição de uma lógica global", considerando que envolvia somente os continentes africano e americano, sendo portanto uma lógica atlântica.  Além disso, embora o texto mencione que a ocupação brasileira no período era distinta ("No que seria o Brasil, havia gente no Norte, no Rio, depois no Sul, mas toda essa gente tinha pouca relação entre si até meados do século XVIII"), é incorreto afirmar que as fronteiras entre os territórios colonizados na América estavam dissolvidas. Vale lembrar que Portugal e Espanha eram concorrentes na expansão marítima e  colonial, sendo a delimitação das fronteiras na América alvo de disputas e tratados entre os reinos ibéricos, visando delimitar as áreas de exploração de cada país.

b) Incorreta.  Não é possível afirmar que Portugal tinha um domínio colonial sobre todo o território litorâneo da África. Além disso, a Espanha não intermediou o tráfico escravista retratado na imagem. Embora outros países tenham participado do tráfico (Holanda, Inglaterra e França), Portugal destacou-se na atividade por adentrar o continente africano, pilhando e expandindo suas redes de tráfico.

c) Incorreta. As rotas apresentadas na imagem não foram controladas por mercadores italianos, estes possuíam ampla presença na região do Mediterrâneo durante o final da Baixa Idade Média. Além disso, a mencionada rota de tráfico não apresentou relação com a conformação do conceito de Ocidente. 

d) Correta. O tráfico transatlântico de escravos foi responsável pela intensa relação estabelecida entre os continentes americano e africano. A atividade de finalidade econômica contribuiu para um intenso intercâmbio cultural entre os dois continentes, com destaque para as diversas influências africanas na cultura brasileira. 

e) Incorreta. O tráfico transatlântico de escravos não contribuiu para o aumento das relações comerciais do Brasil com a América espanhola. Tratava-se da chegada de escravos africanos para o comércio nos portos da colônia portuguesa, enquanto na América espanhola, a mão de obra predominante foi a indígena. 

Questão 35 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Escravidão Tráfico negreiro

Leia o texto e observe o mapa para responder às questões 34 e 35.


Nem existia Brasil no começo dessa história. Existiam o Peru e o México, no contexto pré-colombiano, mas Argentina, Brasil, Chile, Estados Unidos, Canadá, não. No que seria o Brasil, havia gente no Norte, no Rio, depois no Sul, mas toda essa gente tinha pouca relação entre si até meados do século XVIII. E há aí a questão da navegação marítima, torna-se importante aprender bem história marítima, que é ligada à geografia. [...] Essa compreensão me deu muita liberdade para ver as relações que Rio, Pernambuco e Bahia tinham com Luanda. Depois a Bahia tem muito mais relação com o antigo Daomé, hoje Benin, na Costa da Mina. Isso formava um todo, muito mais do que o Brasil ou a América portuguesa. [...]

Nunca os missionários entraram na briga para saber se o africano havia sido ilegalmente escravizado ou não, mas a escravidão indígena foi embargada pelos missionários desde o começo, e isso também é um pouco interesse dos negreiros, ou seja, que a escravidão africana predomine. [...] A escravização tem dois processos: o primeiro é a despersonalização, e o segundo é a dessocialização.

(Luiz Felipe de Alencastro. Entrevista a Mariluce Moura. “O observador do Brasil no Atlântico Sul”. In: Revista Pesquisa Fapesp, no 188, outubro de 2011.)

A “despersonalização” e a “dessocialização” dos escravizados podem ser associadas, respectivamente,
 



a)

ao fato de que os escravos eram identificados por números marcados a ferro e à interdição do contato entre os cativos e seus senhores.
 

b)

à noção do escravo como mercadoria e ao fato de que os africanos eram extraídos de sua comunidade de origem.
 

c)

à noção do escravo como tolerante ao trabalho compulsório e ao fato de que ele era proibido de fazer amizades ou constituir família.
 

d)

ao fato de que os escravos eram etnologicamente indistintos e à proibição de realização de festas e cultos.

e)

à noção do escravo como desconhecedor do território colonial e ao fato de que ele não era reconhecido como brasileiro.
 

Resolução

As noções de "despersonalização" e "dessocialização" foram desenvolvidas pelo antropólogo econômico Claude Meilassoux na obra Antropologia da escravidão. De acordo com o autor, a escravização opera esses dois processos no indivíduo. Ao ser escravizado,  a pessoa passa por uma dessocialização na medida em que é extraída de sua comunidade originária e levada a outro lugar, abandonando aspectos de sua cultura, língua e religião. Nesse sentido, o escravo passa a ser permanentemente um estrangeiro inserido forçosamente em outro ambiente. A partir de então, o escravizado  é despersonalizado, ou seja, passa a ser entendido como uma mercadoria. Vale destacar aqui que a "noção do escravo como mercadoria" deve ser associada exclusivamente ao seu estatuto jurídico, considerando que necessitavam, por exemplo, de um curador - representante, pois os cativos não eram considerados sujeitos jurídicos -  e eram impedidos de acumular pecúlio. Ou seja, é importante destacar que considerar o escravo como "coisa" não deve significar a retirada de sua humanidade e/ou negar a possibilidade de atuação e reação dentro do sistema escravista. 

Nota: Até meados da década de 1970, foi persistente na produção historiográfica a ideia de “anomia” relativa aos cativos, que consiste na ausência de normas ou nexos sociais que possibilitassem a mobilização e resistência desses contra seus opressores e o sistema escravista. Tratava-se de uma visão que entendia os escravos como coisas, destituindo-os de agência diante do sistema escravista. A historiografia recente tem produzido diversos trabalhos que contrariam essa tese, enfatizando os diversos espaços de resistência e criação forjados dentro do sistema escravista, sejam eles por meio de ações como rebeliões e fugas ou resistência no dia a dia, como a preservação de suas culturas e o estabelecimento de laços entre os próprios cativos. Nesse período da nova produção historiográfica, destacamos a obra Na senzala, uma flor (1999), de Robert Slenes. Esse importante trabalho trata da constituição de laços afetivos entre os cativos, representando uma contraposição à suposta anomia dos escravos.

Questão 36 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Iluminismo Contrato social

    Cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo o seu poder sob a direção suprema da vontade geral, e recebemos, enquanto corpo, cada membro como parte indivisível do todo. [...] um corpo moral e coletivo, composto de tantos membros quantos são os votos da assembleia [...]. Essa pessoa pública, que se forma, desse modo, pela união de todas as outras, tomava antigamente o nome de cidade e, hoje, o de república ou de corpo político, o qual é chamado por seus membros de Estado [...].

(Jean-Jacques Rousseau. Os pensadores, 1983.)


O texto, produzido no âmbito do Iluminismo francês, apresenta a doutrina política do



a)

coletivismo, manifesto na rejeição da propriedade privada e na defesa dos programas socialistas de estatização.

b)

humanismo, presente no projeto liberal de valorizar o indivíduo e sua realização no trabalho.

c)

socialismo, presente na crítica ao absolutismo monárquico e na defesa da completa igualdade socioeconômica.

d)

corporativismo, presente na proposta fascista de unir o povo em torno da identidade e da vontade nacional.

e)

contratualismo, manifesto na reação ao Antigo Regime e na defesa dos direitos de cidadania.

 

Resolução

a) Incorreta. Apesar do texto abordar a questão da coletividade e da união de indivíduos componentes da sociedade, os princípios Iluministas e liberais não se coadunam com as teorias coletivistas e com a estatização, já que defendem o direito à propriedade privada.

b) Incorreta. Além do humanismo ter se manifestado anteriormente no contexto de circulação de ideias no continente europeu, o trecho citado destaca a construção política do Estado e não a relação entre indivíduo e trabalho.

c) Incorreta. O socialismo circula mais intensamente em um período posterior ao iluminismo, mais especificamente no século XIX e, por mais que possamos identificar no pensamento iluminista uma crítica ao absolutismo monárquico, não há essa defesa de uma completa igualdade socioeconômica.

d) Incorreta. Os movimentos fascistas são próprios do século XX, e não do iluminismo do XVIII, e a doutrina corporativista de unir o povo em torno de uma identidade nacional ou de um líder não se assemelha ao princípio iluminista de construção do Estado como expressão da vontade geral, já que esse princípio prevê, como ressalta o texto, uma Assembleia com direito a voto.

e) Correta. A alternativa aborda, corretamente, os fundamentos da ideia de contrato social (conceito popularizado pelo pensador genebrino Jean-Jacques Rousseau, autor do texto presente na questão, em seu livro de 1762, Do Contrato Social), destacando como os diversos indivíduos compõem um corpo político coletivo, o Estado, e passam a ter direitos e deveres estabelecidos após o estabelecimento desse contrato. A reação ao Antigo Regime é expressa fortemente nos preceitos contratualistas, já que o absolutismo monárquico apresenta uma arbitrariedade do poder real que contraria a ideia dos direitos de um cidadão e da importância dos indivíduos no estabelecimento do Estado.

Questão 37 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Santa Aliança Independência da América Espanhola Doutrina Monroe

    Na Europa, as forças reacionárias que compunham a Santa Aliança não viam com bons olhos a emancipação política das colônias ibéricas na América. […] Todavia, o novo Império do Brasil podia contar com a aliança da poderosa Inglaterra, representada por George Canning, primeiro-ministro do rei Jorge IV. […] Canning acabaria por convencer o governo português a aceitar a soberania do Brasil, em 1825. Uma atitude coerente com o apoio que o governo britânico dera aos EUA, no ano anterior, por ocasião do lançamento da Doutrina Monroe, que afirmava o princípio da não intervenção europeia na América.

(Ilmar Rohloff de Mattos e Luis Affonso Seigneur de Albuquerque. Independência ou morte: a emancipação política do Brasil, 1991.)

O texto relaciona



a)

a restauração das monarquias absolutistas no continente europeu, a industrialização dos Estados Unidos e a constituição da Federação dos Estados Independentes da América Latina.

b)

a influência da Igreja católica nos assuntos políticos europeus, o controle britânico dos mares depois do Ato de Navegação e o avanço imperialista dos Estados Unidos sobre o Brasil.

c)

a disposição europeia de recolonização da América, o Bloqueio Continental determinado pela França e os acordos de livre-comércio do Brasil com os países hispano-americanos. 

d)

a penetração dos industrializados britânicos nos mercados europeus, a tolerância portuguesa em relação ao emancipacionismo brasileiro e a independência política dos Estados Unidos.

e)

a reorganização da Europa continental depois do período de domínio napoleônico, os processos de independência na América e a ampliação do controle comercial mundial pela Inglaterra.

Resolução

O contexto abordado pela questão é o da Europa após o período napoleônico - que durou de 1799 a 1815 - e o da América durante o processo de independência dos países de colonização ibérica. Após a era napoleônica, os representantes de soberanos europeus se reuniram no Congresso de Viena, entre 1814 e 1815, para redefinir a situação geográfica e política do continente após os anos da expansão conduzida por Napoleão Bonaparte. No mesmo período, os países americanos de colonização ibérica estavam se emancipando de seus colonizadores, como foi o caso do México (que iniciou seu processo independentista em 1810) e do Brasil (cuja declaração de independência ocorreu em 1822).

a) Incorreta. A menção feita à Santa Aliança remete à restauração das monarquias absolutistas após o período napoleônico, porém o texto não aborda a industrialização dos Estados Unidos e comenta sobre a independência das colônias ibéricas na América, e não sobre qualquer ideia de uma federação contendo esses países emancipados.

b) Incorreta. A presença, no trecho citado, da Santa Aliança - organização relacionada com o catolicismo - e das forças reacionárias que a compunham pode ser relacionada à questão da influência da Igreja católica nos assuntos políticos europeus, porém, o Ato de Navegação foi uma medida do governo de Oliver Cromwell, assinada em 1651 em solo britânico, um período bastante anterior ao início do século XIX abordado pela questão. Já o imperialismo dos Estados Unidos, sobre o Brasil ou outros países da América ibérica, não é destaque no texto, além de ser um movimento político que ganha corpo mais tarde no século XIX, principalmente a partir da interferência estadunidense em eventos como a Guerra Hispano-Americana, travada em 1898.

c) Incorreta. Embora não exista uma menção explícita à disposição europeia para recolonização, o contexto da Europa pós-Napoleão apresenta um desagrado de setores tradicionalistas em relação ao processo de independência das colônias ibéricas; o Bloqueio Continental foi uma medida napoleônica de 1806, estando portanto em contexto anterior; já acordos de livre-comércio entre o Brasil e os países hispano-americanos não são abordados pelo texto.

d) Incorreta. O trecho citado não aborda apenas a penetração de produtos ingleses no comércio europeu, mas sim no comércio mundial; o que o texto ressalta não é uma tolerância portuguesa em relação à independência do Brasil, firmada em 1822, mas sim uma resistência a ela, que teria sido quebrada em 1825 pela interferência do primeiro-ministro inglês George Canning; já a independência dos Estados Unidos, declarada em 1776 e consolidada com a promulgação da Constituição, em 1781, não é o destaque do excerto no que se relaciona ao país norte-americano, mas sim a Doutrina Monroe, difundida a partir de 1823 e que defende a não-interferência europeia em assuntos americanos.

e) Correta. A alternativa está correta, pois conjuga três pontos abordados pelo texto que orienta a questão: a reorganização da Europa após o período napoleônico, que englobou restaurações monárquicas, redefinição de mapas e formação de novas organizações, como a Santa Aliança; os processos de independência na América e a reação europeia a eles; e a expansão do comércio inglês, atingindo proporções globais e relacionando-se com a interferência política britânica em assuntos europeus e americanos, como a auxílio no reconhecimento da independência brasileira por parte da coroa portuguesa e o apoio dado aos princípios da Doutrina Monroe.

Questão 38 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Urbanização Século XIX Fases do crescimento populacional

    Era esta uma das artérias principais da cidade e regurgitara de gente durante o dia todo. Mas, ao aproximar-se o anoitecer, a multidão engrossou e, quando as lâmpadas se acenderam, duas densas e contínuas ondas de passantes desfilavam [...].

    Muitos dos passantes tinham um aspecto prazerosamente comercial e pareciam pensar apenas em abrir caminho através da turba. Traziam as sobrancelhas vincadas e seus olhos moviam-se rapidamente; quando davam algum encontrão em outro passante, não mostravam sinais de impaciência; recompunham-se e continuavam, apressados, seu caminho.

(Contos de Edgar Allan Poe, 1986.)

O conto, originalmente publicado em 1840, apresenta um perfil das metrópoles do século XIX, destacando



a)

a solidariedade entre os habitantes, o desenvolvimento da cidadania e a força da indústria.
 

b)

o declínio das atividades comerciais, os ruídos incessantes das ruas e a solidão dos habitantes.
 

c)

a conformação de uma nova sensibilidade, o arcaísmo tecnológico e a imobilidade dos habitantes.

d)

o ordenamento do espaço urbano, o controle policial da circulação e o crescimento do desemprego.

e)

o crescimento populacional, a dinâmica da circulação urbana e a impessoalidade nas relações.
 

Resolução
O texto presente nessa questão é um excerto do conto "O Homem na Multidão" ("The Man of the Crowd"), escrito pelo autor estadunidense Edgar Allan Poe (1809-1849), conhecido pelo seu pioneirismo no gênero do horror e das narrativas policiais. O conto abordado na prova acompanha um narrador não nomeado por uma Londres marcada por multidões, levantando questões como a despersonalização do indivíduo diante das grandes cidades e seus fluxos cotidianos. Marcado pelo estilo sombrio de Poe, é interessante notar que a obra é ambientada em uma cidade inglesa, na época referência quando se discute industrialização e mudanças no espaço urbano.
 
a) Incorreta. O trecho do conto não aborda aspectos positivos como a solidariedade entre os habitantes de uma metrópole ou o desenvolvimento da cidadania, embora possa tangenciar a potência da industrialização ao longo do século XIX e sua influência na mudança do modo de vida urbano.

b) Incorreta. Não há menção ao declínio de atividades comerciais, mas sim ao seu desenvolvimento; o excerto não menciona especificamente os sons produzidos pelas multidões metropolitanas nem a solidão dos habitantes, embora possamos deduzir que existam ruídos incessantes e a presença de um sentimento de solidão do indivíduo diante da multidão de seus semelhantes.

c) Incorreta. Existe, no texto de Edgar Allan Poe, a abordagem da introdução de uma sensibilidade e de um novo modo de vida metropolitano, porém não se menciona arcaísmo tecnológico - o que seria inclusive contraditório pensando-se no tema e no período abordado, um momento de franco desenvolvimento tecnológico - , e destaca-se a mobilidade dos habitantes, ao invés de sua imobilidade.

d) Incorreta. O trecho destacado narra alguns elementos urbanos e sua disposição no espaço, mas não fala exatamente de ordenamento ou de alguma atitude de gestão pública concernente a ordenamento urbano; não aparecem também elementos de controle policial da circulação, ela é mostrada de forma mais espontânea e dona de dinâmicas próprias; já em relação ao desemprego, embora possamos deduzir que uma metrópole em crescimento possua um alto número de desempregados, o texto destaca uma crescente classe comercial, e não a questão do desemprego.

e) Correta. O conto de Edgar Allan Poe traz imagens de intenso crescimento populacional, expressa com termos como "regurgitara de gente" e "a multidão engrossou", e se preocupa em descrever o ritmo e as características da circulação desses grandes grupos populacionais abordados, narrando como a existência de uma "turba" de pessoas pode trazer uma dissolução do indivíduo perante a multidão e ao estabelecimento de uma impessoalidade nas relações sociais e de um entorpecimento de sensações e sentimentos.

Questão 39 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

México no Século XX

Observe a gravura.

(José Guadalupe Posada. “Caveira revolucionária”. In: J.G. Posada: Mexican Popular Prints, 1993.)

Produzida no início da década de 1910, a gravura representa a Revolução Mexicana como marcada
 



a)

pela participação feminina e pela recuperação de elementos da tradição pré-colombiana.
 

b)

pela vitória dos projetos revolucionários populares e pela construção de uma nova ordem social.

c)

pela negociação político-diplomática e pelos altos índices de assassinatos de mulheres.
 

d)

pela interferência de países estrangeiros e pela perda da autonomia do país.
 

e)

pela repressão governamental e pela imposição de castigos físicos aos revolucionários.

Resolução

A Revolução Mexicana foi um movimento iniciado em 1910, contrário ao governo autoritário de Porfírio Diaz. O movimento teve como um de seus principais aspectos a questão da terra, sendo suas principais lideranças  Emiliano Zapata ao Sul e Pancho Vila ao norte, contrários à concetração fundiária e ao governo ditatorial. 
O encerramento da Revolução foi encaminhado em 1917 com a promulgação de uma nova Constituição, que atendeu parcialmente as reivindicações dos revolucionários. 

As mulheres participaram intensamente da Revolução, atuando tanto nos campos de batalhas quanto em intervenções diretas na vida política. Elas acompanharam e compuseram os exércitos revolucionários, sendo conhecidas como soldaderas, e foram amplamente  retratadas na cultura popular. Essas mulheres foram fundamentais no conflito, tendo algumas inclusive ascendido ao posto de capitãs, como foi o caso de Petra Herrera.

A gravura de José Guadalupe Posada apresenta em primeiro plano um esqueleto vestido com trajes femininos típicos do México, com arma na cintura e  montando um cavalo. Ao fundo, observamos uma paisagem montanhosa e outros esqueletos que parecem movimentar-se de forma entusiasmada com a cena. O protagonismo de uma figura revolucionária de saias destaca a representação da participação feminina na Revolução. Já o uso dos esqueletos/caveiras na gravura fazem alusão a representações bastante típicas da cultura mexicana, alusivas ao Dia dos Mortos.  Vale lembrar que essa festividade era celebrada pelos povos pré-colombianos - maias, astecas, purépechas e totonacas – anteriormente à conquista espanhola. No calendário asteca, por exemplo, existiam diversas festejos dedicados aos mortos, sendo uma prática comum a conservação de crânios para usá-los em rituais que simbolizavam a morte e o renascimento. Ou seja, podemos afirmar que a representação dos revolucionários como esqueletos faz alusão a essa antiga tradição pré-colombiana.

 

 

Questão 40 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Juscelino Kubitschek

    A construção de Brasília pode ser considerada a principal meta do Plano de Metas [...]. Para alguns analistas, a nova capital seria o elemento propulsor de um projeto de identidade nacional comprometido com a modernidade, cuja face mais visível seria a arquitetura modernista de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Ao mesmo tempo, no entanto, a interiorização da capital faria parte de um antigo projeto de organização espacial do território brasileiro, que visava ampliar as fronteiras econômicas rumo ao Oeste e alavancar a expansão capitalista nacional.

(Marly Motta. “Um presidente bossa-nova”. In: Luciano Figueiredo (org.). História do Brasil para ocupados, 2013.)

O texto expõe dois significados da construção de Brasília durante o governo de Juscelino Kubitschek. Esses dois significados relacionam-se, pois



a)

denotam o esforço de construção de um espaço geográfico brasileiro com o intuito de assegurar o equilíbrio econômico e político entre as várias regiões do país.

b)

demonstram o nacionalismo xenófobo do governo Kubitschek e sua disposição de isolar o Brasil dos demais países do continente americano.

c)

revelam a importância da redefinição do espaço territorial para a implantação de um projeto de restrições à entrada de capitais e investimentos estrangeiros.

d)

explicitam a postura antiliberal do governo Kubitschek e sua intenção de implantar um regime de igualdade social no país.

e)

indicam o surgimento de uma expressão arquitetônica original e baseada no modelo de edificação predominante entre os primeiros habitantes do atual Brasil.
 

Resolução

Brasília foi inaugurada no dia 21 de abril de 1960, sendo um dos projetos mais importantes no Plano de Metas do governo de Juscelino Kubistchek (1956-1961). O Plano de Metas, programa de governo de JK, estabelecia objetivos a serem cumpridos para encaminhar o Brasil na direção de um crescimento econômico acelerado. O projeto ficou conhecido pelo lema "Cinquenta anos em cinco".

a) Correta. A alternativa demonstra exatamente os aspectos que reúnem os dois significados para a construção de Brasília, tanto o projeto de uma identidade nacional ligada à modernização quanto a ideia de interiorização da capital e de reorganização do espaço territorial brasileiro. Esses aspectos são a tentativa de construção de um espaço geográfico que possa integrar as diferentes regiões de um país muito extenso, trazendo maior equilíbrio e uma inserção do Brasil nas tendências contemporâneas (referindo-se aqui aos anos 1950) de modernização, relação da população com seu espaço urbano e papel do Estado no traçado de um projeto nacional.

b) Incorreta. Juscelino Kubitschek não demonstrou uma aversão a estrangeiros, ou seja, um nacionalismo xenófobo, além de ter trabalhado para um projeto de maior integração nacional e internacional, criando parcerias entre o Brasil e outros países, americanos ou não.

c) Incorreta. A redefinição do espaço territorial não teve como objetivo nenhuma restrição à entrada do capital estrangeiro, já que a abertura para investimentos foi um dos elementos centrais da política econômica de Kubitschek, como expresso no incentivo à indústria automobilística.

d) Incorreta. O governo Kubitschek não era antiliberal, já que a atitude de abertura do Brasil para investimentos estrangeiros demonstra exatamente o oposto, uma diretriz econômica liberal. Juscelino, portanto, defendeu uma integração estratégica de ações do Estado com o capital privado, brasileiro ou estrangeiro. Esse tipo de direcionamento político e econômico pode resultar em um aumento de oportunidades e também de competição, mas não no que pode ser considerado um regime de igualdade social.

e) Incorreta. A expressão arquitetônica representada por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer em seu projeto para a capital do Brasil pode ser considerada original e inovadora, não apenas no cenário brasileiro como mundial, porém, não podemos afirmar que o modelo para suas obras sejam as edificações dos nativo-americanos.