Logo UNESP

Unesp 2020 - 1ª fase


Questão 11 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Arcadismo mineiro

Leia o soneto “VII”, de Cláudio Manuel da Costa, para responder às questões de 09 a 13.


    Onde estou? Este sítio desconheço:
    Quem fez tão diferente aquele prado?
    Tudo outra natureza tem tomado,
    E em contemplá-lo, tímido, esmoreço.


    Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
    De estar a ela um dia reclinado;
    Ali em vale um monte está mudado:
    Quanto pode dos anos o progresso!


    Árvores aqui vi tão florescentes,
    Que faziam perpétua a primavera:
    Nem troncos vejo agora decadentes.


    Eu me engano: a região esta não era;
    Mas que venho a estranhar, se estão presentes
    Meus males, com que tudo degenera!

(Cláudio Manuel da Costa. Obras, 2002.)

Considerando o contexto histórico-geográfico de produção
do soneto, as transformações na paisagem assinaladas pelo
eu lírico relacionam-se à seguinte atividade econômica:



a)

indústria.

b)

extrativismo vegetal.

c)

agricultura.

d)

extrativismo mineral.

e)

pecuária.

Resolução

O poeta Cláudio Manuel da Costa foi uma das figuras mais proeminentes da capitania das Minas Gerais no século XVIII e os sonetos expressam as alterações ocorridas nessa região.

Com a descoberta de ouro pelos bandeirantes paulistas em Sabará no final do século XVII, a região passou por intensas transformações em sua paisagem, as quais foram motivadas especialmente pelo intenso fluxo migratório e pelo avanço da exploração aurífera.

A região das Minas Gerais recebeu milhares de pessoas que ,atraídas pela expectativa de enriquecimento fácil, se deslocaram para a região e provocaram o avanço de um processo de urbanização inédito no Brasil colônia. Diversas vilas e povoados surgem nesse momento, dentre eles Vila Rica (atual Ouro Preto). Além disso, muitas outras atividades se desenvolveram na região, com destaque para a expansão da pecuária, visando ao abastecimento da região mineradora. Foi nesse período e devido à mineração também que a ocupação do interior da colônia foi consolidada. 

Desse modo, a alternativa que expressa a atividade relacionada às transformações na paisagem é a D. 

Questão 12 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Figuras de Linguagem

Leia o soneto “VII”, de Cláudio Manuel da Costa, para responder às questões de 09 a 13.


    Onde estou? Este sítio desconheço:
    Quem fez tão diferente aquele prado?
    Tudo outra natureza tem tomado,
    E em contemplá-lo, tímido, esmoreço.


    Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
    De estar a ela um dia reclinado;
    Ali em vale um monte está mudado:
    Quanto pode dos anos o progresso!


    Árvores aqui vi tão florescentes,
    Que faziam perpétua a primavera:
    Nem troncos vejo agora decadentes.


    Eu me engano: a região esta não era;
    Mas que venho a estranhar, se estão presentes
    Meus males, com que tudo degenera!

    (Cláudio Manuel da Costa. Obras, 2002.)

O eu lírico recorre ao recurso expressivo conhecido como hipérbole no verso:



a)

“Quem fez tão diferente aquele prado?” (1a estrofe)

b)

“E em contemplá-lo, tímido, esmoreço.” (1a estrofe)

c)

“Quanto pode dos anos o progresso!” (2a estrofe)

d)

“Que faziam perpétua a primavera:” (3a estrofe)

e)

“Árvores aqui vi tão florescentes,” (3a estrofe)

Resolução

A questão solicita que o candidato identifique o verso que contém uma hipérbole. Nesta figura de linguagem, há a utilização proposital de palavras e expressões que exageram a realidade, com o intuito de enfatizar uma ideia.

a) Incorreta. O verso reproduzido faz um questionamento, sem lançar mão de figuras de linguagem.

b) Incorreta. O trecho trazido, presente na 1ª estrofe, apresenta um desabafo do eu lírico, que se sente esmorecido com a devastação da natureza, não apresentando hipérboles.

c) Incorreta. Ao declarar “Quanto pode dos anos o progresso!”, o poeta conclui que a destruição do sítio foi motivada pela busca do progresso. Neste caso, faz-se referência à mineração. Não há, nesse trecho, uma hipérbole.

d) Correta. Na terceira estrofe, há os seguintes versos: “Árvores aqui vi tão florescentes / Que faziam perpétua a primavera”. Ao mencionar que a primavera era perpétua, o autor utiliza de uma hipérbole para intensificar a ideia de que, antes da destruição, a natureza ali presente era repleta de árvores florescendo; de natureza se renovando, característica típica da primavera, que tem duração de 3 meses a cada ano.

e) Incorreta. O verso reproduzido nesta alternativa, presente na 3ª estrofe do soneto, apresenta um memória do poeta, que se recorda de como eram as árvores, sem o uso da figura de linguagem solicitada no enunciado da questão.

Questão 13 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Ordem direta e inversa

Leia o soneto “VII”, de Cláudio Manuel da Costa, para responder às questões de 09 a 13.


    Onde estou? Este sítio desconheço:
    Quem fez tão diferente aquele prado?
    Tudo outra natureza tem tomado,
    E em contemplá-lo, tímido, esmoreço.


    Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
    De estar a ela um dia reclinado;
    Ali em vale um monte está mudado:
    Quanto pode dos anos o progresso!


    Árvores aqui vi tão florescentes,
    Que faziam perpétua a primavera:
    Nem troncos vejo agora decadentes.


    Eu me engano: a região esta não era;
    Mas que venho a estranhar, se estão presentes
    Meus males, com que tudo degenera!


(Cláudio Manuel da Costa. Obras, 2002.)

Está reescrito em ordem direta, sem prejuízo de seu sentido original, o seguinte verso:



a)

“Quem fez tão diferente aquele prado?” (1a estrofe) → Quem aquele prado fez tão diferente?

b)

“Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço” (2a estrofe) → Uma fonte houve aqui; eu não me esqueço.

c)

“Ali em vale um monte está mudado:” (2a estrofe) → Ali está mudado um monte em vale.

d)

“Tudo outra natureza tem tomado,” (1a estrofe) → Tudo tem tomado outra natureza.

e)

“Nem troncos vejo agora decadentes.” (3a estrofe) → Nem troncos decadentes vejo agora.

Resolução

A questão pede para que seja identificada a reescrita que está na ordem direta e, importante não esquecer, mantém o sentido da oração anterior.

Relembrando: está em ordem direta toda oração em que seus termos aparecem nesta sequência:

 

SUJEITO - VERBO - COMPLEMENTO VERBAL ou PREDICATIVO (se existirem)

Qualquer oração que apresenta deslocamento de um ou mais termos está na ordem indireta.
 

a) Incorreta.

Sintaticamente:

Quem

aquele prado

fez

tão diferente

sujeito

objeto direto

verbo

predicativo do objeto

 

Colocando-se as funções sintáticas na ordem em que aparecem, temos:

 

SUJEITO - COMPLEMENTO VERBAL - VERBO

 

Assim, em “Quem aquele prado fez tão diferente?”, o termo sublinhado (complemento verbal) encontra-se deslocado, uma vez que o verbo deveria ocupar sua posição na ordem direta.

 

b) Incorreta. Nessa alternativa há duas orações. Porém, basta se analisar a primeira para se excluir essa alternativa.

 

1ª oração (“Uma fonte houve aqui”):

 

Sintaticamente:

 

Uma fonte

houve

aqui

objeto direto

verbo

adjunto adverbial

 

Colocando-se as funções sintáticas na ordem em que aparecem, temos:

 

COMPLEMENTO VERBAL - VERBO

 

Ou seja, a oração não respeita a formatação da ordem direta. Alguns alunos poderiam apontar “Uma fonte” como sujeito. Porém, vale ressaltar que sempre que o verbo haver é usado com o valor de «existir», não há sujeito, mas sim complemento verbal.
 

c) Incorreta.

Sintaticamente:

 

Ali

está

mudado

um monte

em vale

adjunto adverbial

verbo de ligação

predicativo do sujeito

sujeito

adjunto adverbial

 

Colocando-se as funções sintáticas na ordem em que aparecem, temos:

 

VERBO - PREDICATIVO - SUJEITO

 

Como o verbo está preposto ao sujeito, a oração não se encontra em ordem direta.

 

d) Correta.

Sintaticamente:

Tudo

tem tomado

outra natureza

sujeito

locução verbal

(verbo)

objeto direto

 

Colocando-se as funções sintáticas na ordem em que aparecem, temos:

 

SUJEITO - VERBO - COMPLEMENTO VERBAL

 

Ou seja, trata-se da mesma configuração da ordem direta. Além disso, tanto a ordem inversa quanto a direta possuem o mesmo significado.

 

e) Incorreta.

Sintaticamente:

Nem

troncos decadentes

vejo

agora

adjunto adverbial

objeto direto

verbo

adjunto adverbial

 

 

Colocando-se as funções sintáticas na ordem em que aparecem, temos:

 

COMPLEMENTO VERBAL - VERBO

 

Como o complemento verbal antecede o verbo, a oração não se encontra em ordem direta.

Questão 14 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Climatologia Climas brasileiros

Examine os gráficos.

(http://pt.climate-data.org)

As dinâmicas climáticas representadas nos gráficos 1 e 2 correspondem, respectivamente, aos espaços retratados em



a)

Capitães da Areia, de Jorge Amado, e O cortiço, de Aluísio Azevedo.

b)

Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Capitães da Areia, de Jorge Amado.

c)

Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.

d)

Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e O cortiço, de Aluísio Azevedo.

e)

Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e Vidas secas, de Graciliano Ramos.

Resolução

Para resolver esta questão o vestibulando precisaria conhecer o espaço geográfico em que as obras citadas estavam inseridas, para assim reconhecer, a partir suas características climáticas regionais, associando tais características com os seus respectivos climogramas.

O livro ‘Capitães da Areia’, de Jorge Amado, está ambientado na cidade de Salvador, na Bahia, que apresenta um clima Tropical atlântico ou litorâneo.

O livro ‘O cortiço’, de Aluísio Azevedo, se passa na cidade do Rio de Janeiro pertencente ao litoral do sudeste brasileiro, onde predomina o clima Tropical atlântico ou litorâneo.

O livro ‘Vidas secas', de Graciliano Ramos, está ambientado no Sertão Nordestino onde predomina o clima Tropical Semiárido.

O livro ‘Grande sertão:  veredas’, de Guimarães Rosa, retrata a região Norte-noroeste de Minas Gerais e o sul-sudoeste na Bahia, margem Oeste do Rio São Francisco. Uma área onde se inicia o clima Tropical semiárido brasileiro.

O livro ‘Memórias póstumas de Brás Cubas’, de Machado de Assis, assim como o livro ‘O cortiço’ acima citado também se passa na cidade do Rio de Janeiro, pertencente ao litoral do sudeste brasileiro, onde predomina o clima Tropical atlântico ou litorâneo.

Quando observamos os climogramas trazidos na questão podemos aferir que o gráfico 1 pertence ao clima Tropical Litorâneo Sudestino e o gráfico 2 pertence ao Semiárido.

Sendo assim o gráfico 1 poderia representar Memórias póstumas de Brás Cubas ou O cortiço e o gráfico 2 poderia representar Vidas Secas

Assim, a alternativa correta é a E.

Questão 15 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

conotação Machado de Assis

Para responder às questões de 15 a 17, leia o trecho de uma fala do personagem Quincas Borba, extraída do romance Quincas Borba, de Machado de Assis, publicado originalmente em 1891.


— […] O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é ondição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas. [...] Aparentemente, há nada mais contristador que uma dessas terríveis pestes que devastam um ponto do globo? E, todavia, esse suposto mal é um benefício, não só porque elimina os organismos fracos, incapazes de resistência, como porque dá lugar à observação, à descoberta da droga curativa. A higiene é filha de podridões seculares; devemo-la a milhões de corrompidos e infectos. Nada se perde, tudo é ganho. 

(Quincas Borba, 2016.)

Está empregado em sentido figurado o termo sublinhado em:



a)

“nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói”.

b)

“a supressão de uma é condição da sobrevivência da outra”.

c)

“Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos”.

d)

“Daí o caráter conservador e benéfico da guerra”.

e)

“não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição”.

Resolução

A única frase que apresenta um termo em sentido figurado é "nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói". Nesse caso, o verbo "canonizar" não está sendo usado em sua perspectiva denotativa, ou seja, "reconhecer como santo, inscrevendo no cânone dos santos, segundo as formalidades necessárias" [Dicionário Aulete Caldas], mas, sim, no sentido de louvar em excesso; enaltecer, exaltar de modo exagerado.

Assim, nenhuma pessoa enaltece uma ação que virtualmente a destrói.

Nas demais alternativas, o sentido utilizado é literal.

Questão 16 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Para responder às questões de 15 a 17, leia o trecho de uma fala do personagem Quincas Borba, extraída do romance Quincas Borba, de Machado de Assis, publicado originalmente em 1891.
— […] O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é ondição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas. [...] Aparentemente, há nada mais contristador que uma dessas terríveis pestes que devastam um ponto do globo? E, todavia, esse suposto mal é um benefício, não só porque elimina os organismos fracos, incapazes de resistência, como porque dá lugar à observação, à descoberta da droga curativa. A higiene é filha de podridões seculares; devemo-la a milhões de corrompidos e infectos. Nada se perde, tudo é ganho. 

(Quincas Borba, 2016.)

Considerando o contexto histórico de produção, verifica-se no trecho uma alusão irônica



a)

à teoria darwiniana.

b)

à filosofia idealista.

c)

à ideologia capitalista.

d)

à filosofia iluminista.

e)

à ideologia socialista.

Resolução

A obra foi escrita em 1891, portanto o contexto histórico é o século XIX. A personagem Quincas Borba é uma sátira machadiana ao pensador que propõe um sistema filosófico total e universal, como era comum no século XIX. Podem ser citados como exemplos do modelo satirizado o positivismo de Comte, o idealismo de Hegel e o materialismo histórico de Marx. O que sinaliza o caráter satírico é a construção da personagem Borba, uma figura enlouquecida e exótica. Por conta desta construção,  os discursos proferidos por Borba não se apresentam ao leitor como verdades filosóficas, mas sim com uma aura de absurdo. A frase central do texto  para chegar a alternativa correta seria "Aparentemente, há nada mais contristador que uma dessas terríveis pestes que devastam um ponto do globo? E, todavia, esse suposto mal é um benefício, não só porque elimina os organismos fracos, incapazes de resistência, como porque dá lugar à observação, à descoberta da droga curativa.". Quando Quincas Borba afirma que as pestes têm vantagens, porque eliminam os fracos, o mecanismo que está sendo destacado é uma leitura imprecisa da teoria da evolução das espécies de Darwin. A teoria de Darwin afirma que a seleção natural opera privilegiando os organismos  mais adaptados às condições que lhes são oferecidas: os mais aptos sobrevivem e transmitem suas características aos descendentes, e os menos aptos perecem. Este processo se dá ao longo de milhões de anos, sempre incidindo sobre espécies, não sobre indivíduos. Ainda, é importante lembrar que os juízos morais sobre os supostos benefícios deste processo para a humanidade não integram a teoria darwiniana, estando presentes somente na leitura feita pela personagem. Assim, a alternativa correta é A.

 

 

Questão 17 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Conjunção Preposição Subordinação Subordinativa

Para responder às questões de 15 a 17, leia o trecho de uma fala do personagem Quincas Borba, extraída do romance Quincas Borba, de Machado de Assis, publicado originalmente em 1891.


— […] O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas. [...] Aparentemente, há nada mais contristador que uma dessas terríveis pestes que devastam um ponto do globo? E, todavia, esse suposto mal é um benefício, não só porque elimina os organismos fracos, incapazes de resistência, como porque dá lugar à observação, à descoberta da droga curativa. A higiene é filha de podridões seculares; devemo-la a milhões de corrompidos e infectos. Nada se perde, tudo é ganho. 

(Quincas Borba, 2016.)

Em “mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é condição da sobrevivência da outra” e “As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos”, os termos sublinhados estabelecem relação, respectivamente, de



a)

consequência e conformidade.

b)

causa e conformidade.

c)

conformidade e consequência.

d)

causa e finalidade.

e)

consequência e finalidade.

Resolução

A alternativa d é correta, pois, no primeiro trecho, o uso da conjunção causal porque indica que a “supressão de uma [vida] é condição da sobrevivência da outra [vida]”; é a razão pela qual não há morte, ou seja, é a causa. Já no segundo, a preposição para estabelece uma relação de finalidade: as batatas chegam com um objetivo, com um fim, o de alimentar.

Questão 18 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Fontes de energia

Examine o cartum de Pia Guerra, publicado no Instagram da revista The New Yorker em 13.11.2018.

“I had that dream again where the small hairy creatures were selling my body for three dollars a gallon.”
 

A mercadoria a que o cartum faz alusão está diretamente relacionada ao seguinte problema ambiental:



a)

desertificação.

b)

extinção de espécies.

c)

desmatamento.

d)

assoreamento.

e)

aquecimento global.

Resolução

O trecho em inglês apresentado pode ser traduzido da seguinte forma:

"Eu tive aquele sonho de novo onde criaturinhas peludas estavam vendendo meu corpo por três dólares o galão".

A frase faz alusão ao petróleo, combustível fóssil de origem orgânica predominantemente animal, formado principalmente na Era Mesozoica quando houve o soterramento de fundos de mares rasos e a matéria orgânica presente sofreu fossilização. Posteriormente, ocorreram alterações químicas que dariam origem a essa importante fonte de energia atual.

a) Incorreta. Desertificação é o processo de diminuição da umidade nos solos e alterações no microclima em um dado ambiente, algo que não possui relação com a charge que faz alusão aos combustíveis fósseis.

b) Incorreta. Extinção de espécies não possui relação com a formação do petróleo, pois como afirmado ela depende também de condições geológicas específicas.

c) Incorreta. O desmatamento é uma ação antrópica que não possui relação com a origem do petróleo.

d) Incorreta. Assoreamento é o acúmulo de sedimentos em leitos de corpos d'água resultante da ação dos agentes erosivos e não possui relação com o processo descrito.

e) Correta. A queima de combustíveis fósseis, principalmente o carvão e o petróleo, é tida como o principal motivo gerador do aquecimento global. O carvão é largamente utilizado para geração de energia termoelétrica, no setor siderúrgico entre outros. Já o petróleo tem uso bastante variado destacando-se o setor de transportes. O uso dessas fontes de energia libera gases (como o CO2) que promovem o aumento da temperatura média do planeta.

Questão 19 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Parnasianismo

    Tal movimento distingue-se pela atenuação do sentimentalismo e da melancolia, a ausência quase completa de interesse político no contexto da obra (embora não na conduta) e (como os modelos franceses) pelo cuidado da escrita, aspirando a uma expressão de tipo plástico. O mito da pureza da língua, do casticismo vernacular abonado pela autoridade dos autores clássicos, empolgou toda essa fase da cultura brasileira e foi um critério de excelência. É possível mesmo perguntar se a visão luxuosa dos autores desse movimento não representava para as classes dominantes uma espécie de correlativo da prosperidade material e, para o comum dos leitores, uma miragem compensadora que dava conforto.

(Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010. Adaptado.)

O texto refere-se ao movimento denominado



a)

Romantismo.

b)

Barroco.

c)

Parnasianismo.

d)

Arcadismo.

e)

Realismo.

Resolução

O texto de Antonio Candido faz referência ao Parnasianismo, movimento literário que tinha como principais características a busca pela objetividade temática e o culto da forma, o que torna a alternativa C correta. Assim, os poetas parnasianos opunham-se, respectivamente, ao Romantismo e ao Realismo, um vez que preferiam temas universais (como a natureza, o próprio fazer poético e a história) e rejeitavam o sentimentalismo e o individualismo (“atenuação do sentimentalismo e da melancolia”); e abstinham-se dos problemas sociais da época num movimento que pode ser definido como "arte pela arte": a preocupação com metrificação e versificação seriam suficientes para que o poema fosse belo, não sendo necessário, portanto, a manifestação de intenções políticas, por exemplo (“ausência quase completa de interesse político no contexto da obra”).

Também seria equivocada a associação do texto ao Arcadismo ou ao Barroco. Em relação ao primeiro, apesar de tanto Parnasianismo quanto Arcadismo apresentarem como característica o tributo à Antiguidade Clássica (“casticismo vernacular abonado pela autoridade dos autores clássicos”), o Arcadismo não rompe com o sentimentalismo, pois a idealização da mulher é característica presente nos poemas árcades, além da linguagem simples (inutilia truncat - excesso inútil).

Em relação ao segundo, Parnasianismo e Barroco têm em comum a preocupação com o linguagem rebuscada (“o mito da pureza da língua, do casticismo vernacular”), mas não é possível, por exemplo, afirmar um afastamento em relação às questões sociais nos poemas barrocos (como os poemas satíricos de Gregório de Matos).

Questão 20 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Conceitos de História da Arte

    Perspectiva. Técnica de representação, numa superfície plana, do espaço tridimensional, baseado no uso de certos fenômenos ópticos, como a diminuição aparente no tamanho dos objetos e a convergência das linhas paralelas à medida que se distanciam do observador.

(Ian Chilvers (org.). Dicionário Oxford de arte, 2007.)

Verificam-se distorções e ambiguidades em relação à técnica da perspectiva na seguinte obra:



a)

(René Magritte. A clarividência, 1936.)

b)

(Maurits Cornelis Escher. Mirante, 1958.)

c)

(Edward Hopper. Escritório em uma cidade pequena, 1953.)

d)

(Käthe Kollwitz. A Marcha dos Tecelões, 1897.) 

e)

(René Magritte. O império da luz, 1954.)

Resolução

O enunciado solicita a imagem em que se verificam "distorções e ambiguidades em relação à técnica da perspectiva". A perspectiva é uma técnica usada para representar  numa superfície bidemensional o espaço tridimensional.  As alternativas A e E contém obras de Magritte, pintor surrealista que combinava meios tradicionais, como a pintura a óleo, o uso de perspectiva e a figuração, com elementos inusitados responsáveis por  gerar no observador a quebra de expectativa - efeito almejado pela vanguarda a que pertencia. Assim, não há distorções da perspectiva nesse caso, o que torna ambas alternativas incorretas. As obras de Hopper e Kathe Kollowitz  também fazem  uso convencional da técnica. Esse aspecto é visível na diminuição do tamanho de pessoas ou edíficios conforme elas se distanciam do plano do observador no espaço tridimensional imaginado da tela, o que invalida as alternativas C e D. A alternativa B contém uma obra de Escher, artista famoso por sua criação de perspectivas fantásticas, pela exploração lúdica e por vezes perturbadora das formas arquitetônicas. A distorção é visível se acompanharmos, por exemplo, a inserção das colunas da construção nos pisos e tetos de cada andar, viabilizando portanto a alternativa B.