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Unesp 2020 - 1ª fase


Questão 1 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Health

Examine o cartum de Steinberg, publicado em seu Instagram em 06.04.2019.

Para o cartunista, a diferença entre estar ou não estar de dieta limita-se a um sentimento de



a)

culpa.

b)

euforia.

c)

tristeza.

d)

vazio.

e)

satisfação.
 

Resolução

No cartum, temos duas gravuras muito semelhantes, uma expressando o personagem sem a situação de dieta e outra expressando o personagem em dieta. Em ambas, ele se alimenta igualmente com um pedaço de pizza, além de haver outros alimentos e bebida sobre a mesa, demonstrando que seu comportamento alimentar não se altera entre a situação sem dieta e a situação em dieta.

O único aspecto que se altera é que, na situação da dieta, o personagem apresenta o pensamento de que ele não deveria estar comendo aquele pedaço de pizza ( I should not be eating this!) demonstrando seu sentimento de culpa.

Questão 2 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Padre Antônio Vieira Pressupostos e Subentendidos

Para responder às questões de 02 a 06, leia o trecho de uma carta enviada por Antônio Vieira ao rei D. João IV em 4 de abril de 1654.

No fim da carta de que V. M.1 me fez mercê me manda V. M. diga meu parecer sobre a conveniência de haver neste estado ou dois capitães-mores ou um só governador.

Eu, Senhor, razões políticas nunca as soube, e hoje as sei muito menos; mas por obedecer direi toscamente o que me parece.

Digo que menos mal será um ladrão que dois; e que mais dificultoso serão de achar dois homens de bem que um. Sendo propostos a Catão dois cidadãos romanos para o provimento de duas praças, respondeu que ambos lhe descontentavam: um porque nada tinha, outro porque nada lhe bastava. Tais são os dois capitães-mores em que se repartiu este governo: Baltasar de Sousa não tem nada, Inácio do Rego não lhe basta nada; e eu não sei qual é maior tentação, se a  1  , se a . Tudo quanto há na capitania do Pará, tirando as terras, não vale 10 mil cruzados, como é notório, e desta terra há-de tirar Inácio do Rego mais de 100 mil cruzados em três anos, segundo se lhe vão logrando bem as indústrias.

Tudo isto sai do sangue e do suor dos tristes índios, aos quais trata como tão escravos seus, que nenhum tem liberdade nem para deixar de servir a ele nem para poder servir a outrem; o que, além da injustiça que se faz aos índios, é ocasião de padecerem muitas necessidades os portugueses e de perecerem os pobres. Em uma capitania destas confessei uma pobre mulher, das que vieram das Ilhas, a qual me disse com muitas lágrimas que, dos nove filhos que tivera, lhe morreram em três meses cinco filhos, de pura fome e desamparo; e, consolando-a eu pela morte de tantos filhos, respondeu-me: “Padre, não são esses os por que eu choro, senão pelos quatro que tenho vivos sem ter com que os sustentar, e peço a Deus todos os dias que me os leve também.”

São lastimosas as misérias que passa esta pobre gente das Ilhas, porque, como não têm com que agradecer, se algum índio se reparte não lhe chega a eles, senão aos poderosos; e é este um desamparo a que V. M. por piedade deverá mandar acudir. Tornando aos índios do Pará, dos quais, como dizia, se serve quem ali governa como se foram seus escravos, e os traz quase todos ocupados em seus interesses, principalmente no dos tabacos, obriga-me a consciência a manifestar a V. M. os grandes pecados que por ocasião deste serviço se cometem.

(Sérgio Rodrigues (org.). Cartas brasileiras, 2017. Adaptado.)

1 V. M.: Vossa Majestade.

À questão colocada por D. João IV, Antônio Vieira



a)

responde de maneira categórica.

b)

opta por não emitir uma opinião.

c)

finge não tê-la compreendido.

d)

admite a incapacidade de respondê-la.

e)

responde de forma enigmática.

Resolução

a) Correta. Antônio Vieira expressa com clareza sua resposta em relação à pergunta feita por D. João IV ao afirmar que será mais fácil lidar com um ladrão do que com dois e mais difícil encontrar dois homens competentes do que um: “Digo que menos mal será um ladrão que dois; e que mais dificultoso serão de achar dois homens de bem que um”.

b) Incorreta. Padre Vieira não deixa de emitir uma opinião: para ele, é conveniente haver um só governador.

c) Incorreta. Não é possível afirmar que Padre Vieira não compreendeu a pergunta feita por D. João IV uma vez que ele elabora uma resposta para tal, em que expressa sua opinião.

d) Incorreta. Padre Vieira admite a falta de entendimento sobre as razões políticas que levam o rei D. João IV a questionar a quantidade de homens que deveriam administrar a região. Porém, isso não o impede, ainda que toscamente, de responder à pergunta.

e) Incorreta. Não é possível afirmar que no trecho “Digo que menos mal será um ladrão que dois; e que mais dificultoso serão de achar dois homens de bem que um” há uma resposta de difícil compreensão ou ambígua. Pelo contrário, Vieira é objetivo ao dizer que a presença de 2 administradores poderia ser problemática por diferentes razões.

Questão 3 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Padre Antônio Vieira Pressupostos e Subentendidos

Para responder às questões de 02 a 06, leia o trecho de uma carta enviada por Antônio Vieira ao rei D. João IV em 4 de abril de 1654.

No fim da carta de que V. M.1 me fez mercê me manda V. M. diga meu parecer sobre a conveniência de haver neste estado ou dois capitães-mores ou um só governador.

Eu, Senhor, razões políticas nunca as soube, e hoje as sei muito menos; mas por obedecer direi toscamente o que me parece.

Digo que menos mal será um ladrão que dois; e que mais dificultoso serão de achar dois homens de bem que um. Sendo propostos a Catão dois cidadãos romanos para o provimento de duas praças, respondeu que ambos lhe descontentavam: um porque nada tinha, outro porque nada lhe bastava. Tais são os dois capitães-mores em que se repartiu este governo: Baltasar de Sousa não tem nada, Inácio do Rego não lhe basta nada; e eu não sei qual é maior tentação, se a   1  , se a   2  . Tudo quanto há na capitania do Pará, tirando as terras, não vale 10 mil cruzados, como é notório, e desta terra há-de tirar Inácio do Rego mais de 100 mil cruzados em três anos, segundo se lhe vão logrando bem as indústrias.

Tudo isto sai do sangue e do suor dos tristes índios, aos quais trata como tão escravos seus, que nenhum tem liberdade nem para deixar de servir a ele nem para poder servir a outrem; o que, além da injustiça que se faz aos índios, é ocasião de padecerem muitas necessidades os portugueses e de perecerem os pobres. Em uma capitania destas confessei uma pobre mulher, das que vieram das Ilhas, a qual me disse com muitas lágrimas que, dos nove filhos que tivera, lhe morreram em três meses cinco filhos, de pura fome e desamparo; e, consolando-a eu pela morte de tantos filhos, respondeu-me: “Padre, não são esses os por que eu choro, senão pelos quatro que tenho vivos sem ter com que os sustentar, e peço a Deus todos os dias que me os leve também.”

São lastimosas as misérias que passa esta pobre gente das Ilhas, porque, como não têm com que agradecer, se algum índio se reparte não lhe chega a eles, senão aos poderosos; e é este um desamparo a que V. M. por piedade deverá mandar acudir. Tornando aos índios do Pará, dos quais, como dizia, se serve quem ali governa como se foram seus escravos, e os traz quase todos ocupados em seus interesses, principalmente no dos tabacos, obriga-me a consciência a manifestar a V. M. os grandes pecados que por ocasião deste serviço se cometem.

(Sérgio Rodrigues (org.). Cartas brasileiras, 2017. Adaptado.)

1 V. M.: Vossa Majestade.

Considerando o contexto, as lacunas numeradas no terceiro parágrafo do texto devem ser preenchidas, respectivamente, por



a)

humildade e vaidade.

b)

 necessidade e cobiça

c)

miséria e inveja.

d)

preguiça e ganância

e)

avareza e luxúria.
 

Resolução

a) Incorreta. O fato de Baltasar de Sousa “não ter nada” não é suficiente para caracterizá-lo como alguém humilde, isto é, “consciente de suas limitações, modesto”. Além disso, a vaidade é a uma “valorização exacerbada dos próprios atributos”, o que não corresponde ao “desejo de ter” de Inácio do Rego.

b) Correta. Padre Vieira, ao utilizar o exemplo de Roma, menciona dois capitães-mores propostos por Catão: Baltasar de Sousa e Inácio do Rego. O primeiro é caracterizado “por não ter nada” e o segundo por “nada lhe bastar”, ou seja, por nada ser suficiente para lhe satisfazer, contentar. Nesse sentido, os adjetivos adequados, para sanar as lacunas do terceiro parágrafo, seriam: necessidade, ou seja, “aquilo que é indispensável, essencial”; e cobiça, que é o “sentimento ou impulso de quem quer intensamente ter, obter ou acumular riqueza”.

c) Incorreta. O fato de Baltasar de Sousa “não ter nada” poderia ser visto como uma situação de miséria, ou seja, uma situação de extrema pobreza; porém, a inveja, que é o “misto de desgosto e ódio provocado pelo sucesso ou pelas posses de outrem” não corresponde à característica de querer insaciavelmente “obter e acumular riqueza”, atribuída a Inácio do Rego.

d) Incorreta. A ganância seria apropriada ao comportamento de Inácio do Rego, porém o texto não menciona uma “falta de vontade de trabalhar ou lentidão nas ações” por parte de Baltasar de Sousa.

e) Incorreta. Baltasar de Sousa “não tinha nada” e, por isso, não pode ser qualificado como avarento (aquele que possui apego excessivo aos bens materiais). Seria incorreto, também, a classificação do comportamento de Inácio do Rego como luxurioso, ou seja, “lascivo, excessivamente sexual”, pois não há qualquer menção a esse aspecto.

Questão 4 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Padre Antônio Vieira Pressupostos e Subentendidos

Para responder às questões de 02 a 06, leia o trecho de uma carta enviada por Antônio Vieira ao rei D. João IV em 4 de abril de 1654.

No fim da carta de que V. M.1 me fez mercê me manda V. M. diga meu parecer sobre a conveniência de haver neste estado ou dois capitães-mores ou um só governador.

Eu, Senhor, razões políticas nunca as soube, e hoje as sei muito menos; mas por obedecer direi toscamente o que me parece.

Digo que menos mal será um ladrão que dois; e que mais dificultoso serão de achar dois homens de bem que um. Sendo propostos a Catão dois cidadãos romanos para o provimento de duas praças, respondeu que ambos lhe descontentavam: um porque nada tinha, outro porque nada lhe bastava. Tais são os dois capitães-mores em que se repartiu este governo: Baltasar de Sousa não tem nada, Inácio do Rego não lhe basta nada; e eu não sei qual é maior tentação, se a   1  , se a   2  . Tudo quanto há na capitania do Pará, tirando as terras, não vale 10 mil cruzados, como é notório, e desta terra há-de tirar Inácio do Rego mais de 100 mil cruzados em três anos, segundo se lhe vão logrando bem as indústrias.

Tudo isto sai do sangue e do suor dos tristes índios, aos quais trata como tão escravos seus, que nenhum tem liberdade nem para deixar de servir a ele nem para poder servir a outrem; o que, além da injustiça que se faz aos índios, é ocasião de padecerem muitas necessidades os portugueses e de perecerem os pobres. Em uma capitania destas confessei uma pobre mulher, das que vieram das Ilhas, a qual me disse com muitas lágrimas que, dos nove filhos que tivera, lhe morreram em três meses cinco filhos, de pura fome e desamparo; e, consolando-a eu pela morte de tantos filhos, respondeu-me: “Padre, não são esses os por que eu choro, senão pelos quatro que tenho vivos sem ter com que os sustentar, e peço a Deus todos os dias que me os leve também.”

São lastimosas as misérias que passa esta pobre gente das Ilhas, porque, como não têm com que agradecer, se algum índio se reparte não lhe chega a eles, senão aos poderosos; e é este um desamparo a que V. M. por piedade deverá mandar acudir. Tornando aos índios do Pará, dos quais, como dizia, se serve quem ali governa como se foram seus escravos, e os traz quase todos ocupados em seus interesses, principalmente no dos tabacos, obriga-me a consciência a manifestar a V. M. os grandes pecados que por ocasião deste serviço se cometem.

(Sérgio Rodrigues (org.). Cartas brasileiras, 2017. Adaptado.) 

1 V. M.: Vossa Majestade.

Em sua carta, Antônio Vieira relata os padecimentos



a)

dos nativos e dos capitães-mores.

b)

dos negros e dos colonos pobres.

c)

dos nativos e dos colonos pobres.

d)

dos negros e dos capitães-mores.

e)

dos nativos e dos negros.

Resolução

Em sua carta, Padre Vieira não faz menção aos negros, o que invalida as alternativas B, D e E.

a) Incorreta. A citação aos capitães-mores não relata qualquer tipo de sofrimento vivido por eles, mas sim suas qualificações (necessidade e cobiça), uma vez que poderiam interferir na forma como governariam.

c) Correta. Padre Viera expressa preocupação em relação à forma como a capitania do Pará seria administrada, principalmente se Inácio do Rego assumisse como governador, pois enriqueceria injustamente às custa da exploração dos índios escravizados (nativos) e, consequentemente, essa injustiça afetaria os portugueses e os pobres. Para sustentar sua afirmação, relata que essa riqueza é oriunda do “sangue e do suor dos tristes índios”, que são impossibilitados até mesmo de servirem a outro senhor; e tem como consequência o desespero dos pobres aos verem seus filhos morrerem de fome, como a mulher que lhe confessou pedir para que Deus também levasse os filhos que sobreviveram à fome.

Questão 5 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Economia colonial

Para responder às questões de 02 a 06, leia o trecho de uma carta enviada por Antônio Vieira ao rei D. João IV em 4 de abril de 1654.

No fim da carta de que V. M.1 me fez mercê me manda V. M. diga meu parecer sobre a conveniência de haver neste estado ou dois capitães-mores ou um só governador.

Eu, Senhor, razões políticas nunca as soube, e hoje as sei muito menos; mas por obedecer direi toscamente o que me parece.

Digo que menos mal será um ladrão que dois; e que mais dificultoso serão de achar dois homens de bem que um. Sendo propostos a Catão dois cidadãos romanos para o provimento de duas praças, respondeu que ambos lhe descontentavam: um porque nada tinha, outro porque nada lhe bastava. Tais são os dois capitães-mores em que se repartiu este governo: Baltasar de Sousa não tem nada, Inácio do Rego não lhe basta nada; e eu não sei qual é maior tentação, se a 1 , se a 2 . Tudo quanto há na capitania do Pará, tirando as terras, não vale 10 mil cruzados, como é notório, e desta terra há-de tirar Inácio do Rego mais de 100 mil cruzados em três anos, segundo se lhe vão logrando bem as indústrias.

Tudo isto sai do sangue e do suor dos tristes índios, aos quais trata como tão escravos seus, que nenhum tem liberdade nem para deixar de servir a ele nem para poder servir a outrem; o que, além da injustiça que se faz aos índios, é ocasião de padecerem muitas necessidades os portugueses e de perecerem os pobres. Em uma capitania destas confessei uma pobre mulher, das que vieram das Ilhas, a qual me disse com muitas lágrimas que, dos nove filhos que tivera, lhe morreram em três meses cinco filhos, de pura fome e desamparo; e, consolando-a eu pela morte de tantos filhos, respondeu-me: “Padre, não são esses os por que eu choro, senão pelos quatro que tenho vivos sem ter com que os sustentar, e peço a Deus todos os dias que me os leve também.”

São lastimosas as misérias que passa esta pobre gente das Ilhas, porque, como não têm com que agradecer, se algum índio se reparte não lhe chega a eles, senão aos poderosos; e é este um desamparo a que V. M. por piedade deverá mandar acudir. Tornando aos índios do Pará, dos quais, como dizia, se serve quem ali governa como se foram seus escravos, e os traz quase todos ocupados em seus interesses, principalmente no dos tabacos, obriga-me a consciência a manifestar a V. M. os grandes pecados que por ocasião deste serviço se cometem.1 V. M.: Vossa Majestade.(Sérgio Rodrigues (org.). Cartas brasileiras, 2017. Adaptado.)

Em um estudo publicado em 2005, o historiador Gustavo Acioli Lopes vale-se, no quadro da economia colonial, da expressão “primo pobre” para se referir ao produto derivado das lavouras mencionadas por Antônio Vieira em sua carta. No contexto histórico em que foi escrita a carta, o “primo rico” seria



a)

o açúcar.

b)

o pau-brasil.

c)

o café.

d)

o ouro.

e)

o algodão.
 

Resolução

Considerando que o Padre Antônio Vieira viveu no Brasil colonial seiscentista, a única alternativa possível para a expressão "primo rico" é o açúcar.

Desde o início da colonização, a coroa portuguesa  traçou estratégias para expandir o cultivo do açúcar em seus territórios, tendo como objetivo obter lucros e também ocupar efetivamente as terras (evitando assim eventuais invasões estrangeiras). Essa expansão ocorreu especialmente no Nordeste brasileiro, com destaque para a capitania de Pernambuco, e motivou o desenvolvimento de atividades secundárias para o abastecimento dos engenhos, como a pecuária. 

A parceria com o capital flamengo foi fundamental para o estabelecimento da lavoura açucareira na colônia, sendo os parceiros inicialmente responsáveis pelo transporte e refino do produto. A expansão dos engenhos consolidou uma economia monocultora, escravista e voltada para a exportação. 

Questão 6 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Objetos direto e indireto

Para responder às questões de 02 a 06, leia o trecho de uma carta enviada por Antônio Vieira ao rei D. João IV em 4 de abril de 1654.

No fim da carta de que V. M.1 me fez mercê me manda V. M. diga meu parecer sobre a conveniência de haver neste estado ou dois capitães-mores ou um só governador.

Eu, Senhor, razões políticas nunca as soube, e hoje as sei muito menos; mas por obedecer direi toscamente o que me parece.

Digo que menos mal será um ladrão que dois; e que mais dificultoso serão de achar dois homens de bem que um. Sendo propostos a Catão dois cidadãos romanos para o provimento de duas praças, respondeu que ambos lhe descontentavam: um porque nada tinha, outro porque nada lhe bastava. Tais são os dois capitães-mores em que se repartiu este governo: Baltasar de Sousa não tem nada, Inácio do Rego não lhe basta nada; e eu não sei qual é maior tentação, se a   1  , se a   2  . Tudo quanto há na capitania do Pará, tirando as terras, não vale 10 mil cruzados, como é notório, e desta terra há-de tirar Inácio do Rego mais de 100 mil cruzados em três anos, segundo se lhe vão logrando bem as indústrias.

Tudo isto sai do sangue e do suor dos tristes índios, aos quais trata como tão escravos seus, que nenhum tem liberdade nem para deixar de servir a ele nem para poder servir a outrem; o que, além da injustiça que se faz aos índios, é ocasião de padecerem muitas necessidades os portugueses e de perecerem os pobres. Em uma capitania destas confessei uma pobre mulher, das que vieram das Ilhas, a qual me disse com muitas lágrimas que, dos nove filhos que tivera, lhe morreram em três meses cinco filhos, de pura fome e desamparo; e, consolando-a eu pela morte de tantos filhos, respondeu-me: “Padre, não são esses os por que eu choro, senão pelos quatro que tenho vivos sem ter com que os sustentar, e peço a Deus todos os dias que me os leve também.”

São lastimosas as misérias que passa esta pobre gente das Ilhas, porque, como não têm com que agradecer, se algum índio se reparte não lhe chega a eles, senão aos poderosos; e é este um desamparo a que V. M. por piedade deverá mandar acudir. Tornando aos índios do Pará, dos quais, como dizia, se serve quem ali governa como se foram seus escravos, e os traz quase todos ocupados em seus interesses, principalmente no dos tabacos, obriga-me a consciência a manifestar a V. M. os grandes pecados que por ocasião deste serviço se cometem.

(Sérgio Rodrigues (org.). Cartas brasileiras, 2017. Adaptado.) 

1 V. M.: Vossa Majestade.

Sempre que haja necessidade expressiva de reforço, de ênfase, pode o objeto direto vir repetido. Essa reiteração recebe o nome de objeto direto pleonástico.

(Adriano da Gama Kury. Novas lições de análise sintática, 1997. Adaptado.)

Antônio Vieira recorre a esse recurso expressivo em:



a)

 “Sendo propostos a Catão dois cidadãos romanos para o provimento de duas praças, respondeu que ambos lhe descontentavam” (3o parágrafo)

b)

“e, consolando-a eu pela morte de tantos filhos, respondeu-me” (4o parágrafo)

c)

“e desta terra há-de tirar Inácio do Rego mais de 100 mil cruzados em três anos, segundo se lhe vão logrando bem as indústrias” (3o parágrafo)

d)

“São lastimosas as misérias que passa esta pobre gente das Ilhas” (5o parágrafo)

e)

“Eu, Senhor, razões políticas nunca as soube, e hoje as sei muito menos” (2o parágrafo)

Resolução

O objeto direto pleonástico ocorre quando o objeto direto se encontra preposto ao verbo e é repetido por meio de um pronome oblíquo átono (o, a, os, as, me, lhe etc.).

 

a) Incorreta. No trecho há três orações: “Sendo propostos a Catão dois cidadãos romanos para o provimento de duas praças”[1], “respondeu”[2] e “que ambos lhe descontentavam”[3].

Em [1], não há objeto direto; [2] é constituída apenas por um verbo; [3] é uma oração subordinada substantiva objetiva direta. Portanto, em nenhuma delas encontra-se a formatação necessária para haver um OD pleonástico.

 

b) Incorreta. Há duas orações no trecho: “e, consolando-a eu pela morte de tantos filhos”[1] e “respondeu-me”[2]. 

Em [1], o objeto direto (pronome oblíquo “a”) localiza-se posposto ao verbo; em [2], não há objeto direto (“me” é objeto indireto).

 

c) Incorreta. No trecho há duas orações: “e desta terra há-de tirar Inácio do Rego mais de 100 mil cruzados em três anos”[1] e “segundo se lhe vão logrando bem as indústrias”[2].

O objeto direto em [1] é representado por “mais de 100 mil cruzados”, termo que não é repetido por pronome oblíquo átono dentro da estrutura oracional; em [2], o sintagma “as indústrias” faz papel de sujeito. Importante notar que “lhe” é objeto indireto.

 

d) Incorreta. Nesse trecho ocorrem duas orações, as quais, para que sejam corretamente identificadas, serão colocadas em ordem direta: As misérias [que esta pobre gente das ilhas passa] [2] são lastimosas [1].

O pronome relativo [que] exerce função de objeto indireto na segunda oração (falta a preposição "por" no texto original). Em [1], o sintagma “as misérias” é o sujeito; já [2] é classificada como oração subordinada adjetiva restritiva.

 

e) Correta. Há duas orações nesse trecho (“Eu, Senhor, razões políticas nunca as soube”[1] e “e hoje as sei muito menos”[2]), e é logo na primeira em que há objeto direto pleonástico.

O sintagma “razões políticas” (oração [1]), que faz função de objeto direto — visto que complementa o verbo “saber” —, está preposto ao verbo e é retomado pelo pronome oblíquo átono “as”, condições para que haja OD pleonástico.

Questão 7 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

charges e tirinhas

Examine a tira de André Dahmer para responder às questões 07 e 08.

(Malvados, 2008.)

Na tira, a morte é caracterizada como



a)

 frívola.

b)

 compassiva.

c)

solitária.

d)

incorruptível.

e)

materialista.
 

Resolução

a) Incorreta. A tarefa da morte na situação retratada é bastante objetiva, ou seja, levar o rapaz embora. O fato de o personagem não demonstrar sentimentos quanto à situação do rapaz é fruto de sua profissão, já que constantemente ele lida com o fim da vida, como fica claro na primeira tirinha: “Vamos indo, ainda vou trabalhar a noite inteira no Iraque, meu rapaz”. Assim, seu comportamento é pragmático, não frívolo.

b) Incorreta. O personagem que representa a morte não se mostra compassivo, pelo contrário, sua postura mantém-se inalterada frente ao dever de levar embora o doente.

c) Incorreta. Não há elementos suficientes na tirinha que apontem para o personagem como solitário. Apesar de seu trabalho ser feito individualmente, tal aspecto não sustenta que a morte é, necessariamente, solitária.

d) Correta. Examinando a tirinha de André Dahmer, é possível depreender que, em dois momentos, o rapaz doente tenta convencer a morte de não levá-lo, inclusive por meio de uma oferta de emprego. No entanto, as ofertas são prontamente rejeitadas, pois a morte se mostra incorruptível.

e) Incorreta. Não há como sustentar que a morte seja materialisma. Para ela, na verdade, “o importante é trabalhar com o que a gente gosta”, razão pela qual não aceita a proposta de emprego feita pelo doente.

Questão 8 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

charges e tirinhas

Examine a tira de André Dahmer para responder às questões 07 e 08.

(Malvados, 2008.)

Constituem exemplos de linguagem formal e de linguagem coloquial, respectivamente, as seguintes falas:



a)

“Ah, estou morrendo de pena...” e “Ainda vou trabalhar a noite inteira no Iraque, meu rapaz.”

b)

“Me adianta essa, vai...” e “É cedo para mim.”

c)

 “O importante é trabalhar com o que a gente gosta.” e “Posso lhe dar um emprego bem melhor...”

d)

 “É cedo para mim.” e “Posso lhe dar um emprego bem melhor...”

e)

“Posso lhe dar um emprego bem melhor...” e “Me adianta essa, vai...”
 

Resolução

Nesta questão, solicita-se que o candidato identifique exemplos de linguagem formal e de linguagem informal, respectivamente.

a) Incorreta. Ambas as falas são informais. O uso da hipérbole “morrendo de pena” é frequente na oralidade e o vocativo “meu rapaz” caracteriza um cumprimento despojado; coloquial.

b) Incorreta. O primeiro exemplo é informal, uma vez que, segundo a gramática normativa, as frases não devem ser iniciadas com um pronome oblíquo átono. Já o segundo é adequado à linguagem formal, uma vez que não há marcas de coloquialidade.

c) Incorreta. A presença do “a gente” caracteriza a primeira fala como informal.

d) Incorreta. Ambos os exemplos estão redigidos em linguagem formal, sem traços de coloquialidade.

e) Correta. A primeira fala adequa-se à linguagem formal. A segunda fala, como já mencionado na alternativa “B”, diverge do proposto pela norma-padrão. No entanto, essa construção é frequente na oralidade e em situações informais.

Questão 9 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos literários Arcadismo

Leia o soneto “VII”, de Cláudio Manuel da Costa, para responder às questões de 09 a 13.

    Onde estou? Este sítio desconheço:
    Quem fez tão diferente aquele prado?
    Tudo outra natureza tem tomado,
    E em contemplá-lo, tímido, esmoreço.

    Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
    De estar a ela um dia reclinado;
    Ali em vale um monte está mudado:
    Quanto pode dos anos o progresso!

    Árvores aqui vi tão florescentes,
    Que faziam perpétua a primavera:
    Nem troncos vejo agora decadentes.

    Eu me engano: a região esta não era;
    Mas que venho a estranhar, se estão presentes
    Meus males, com que tudo degenera!

(Cláudio Manuel da Costa. Obras, 2002.)

O tom predominante no soneto é de



a)

ingenuidade.

b)

apatia.

c)

ira.

d)

ironia.

e)

perplexidade.

Resolução

a) Incorreta. Embora o eu lírico fique perplexo com as transformações sofridas pela natureza, ele também demonstra certa perspicácia ao atribuir esse cenário ao progresso da sociedade, ou seja, à atividade mineradora da época. Logo, não é possível sustentar que haja ingenuidade.

b) Incorreta. Ao contrário de apatia, o poeta exprime descontentamento com o cenário encontrado.

c) Incorreta. Ao deparar-se com uma natureza destruída, o eu lírico desabafa: “E em contemplá-lo [o sítio], tímido, esmoreço”. Logo, o poeta sente-se enfraquecido, sem ânimo e não revoltado ou com ira.

d) Incorreta. Não há trechos irônicos no poema.

e) Correta. No soneto “VII”, o eu lírico demonstra-se confuso, sem saber onde está. Tal sentimento é fruto das transformações ocorridas no ambiente, como apontado em: “Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço” / “Árvores aqui vi tão florescentes [...] nem troncos vejo agora decadentes”. Assim, é possível depreender que o sentimento do poeta frente à natureza modificada é de completa perplexidade.

Questão 10 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Arcadismo Intertextualidade e Interdiscursividade

Leia o soneto “VII”, de Cláudio Manuel da Costa, para responder às questões de 09 a 13.


    Onde estou? Este sítio desconheço:
    Quem fez tão diferente aquele prado?
    Tudo outra natureza tem tomado,
    E em contemplá-lo, tímido, esmoreço.


    Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
    De estar a ela um dia reclinado;
    Ali em vale um monte está mudado:
    Quanto pode dos anos o progresso!


    Árvores aqui vi tão florescentes,
    Que faziam perpétua a primavera:
    Nem troncos vejo agora decadentes.


    Eu me engano: a região esta não era;
    Mas que venho a estranhar, se estão presentes
    Meus males, com que tudo degenera!

(Cláudio Manuel da Costa. Obras, 2002.)

No soneto, o eu lírico expressa um sentimento de inadequação que, a seu turno, se faz presente na seguinte citação:



a)

“A independência, não obstante a forma em que se desenrolou, constituiu a primeira grande revolução social que se operou no Brasil.” (Florestan Fernandes. A revolução burguesa no Brasil.)

b)

“Todo povo tem na sua evolução, vista à distância, um certo ‘sentido’. Este se percebe não nos pormenores de sua história, mas no conjunto dos fatos e acontecimentos essenciais que a constituem num largo período de tempo.” (Caio Prado Júnior. Formação do Brasil
contemporâneo
.)

c)

“A ocupação econômica das terras americanas constitui um episódio da expansão comercial da Europa. A descoberta das terras americanas é, basicamente, um episódio dessa obra ingente. De início pareceu ser episódio secundário. E na verdade o foi para os portugueses durante todo um meio século.” (Celso Furtado. Formação econômica do Brasil.)

d)

“Trazendo de países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas ideias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra.” (Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil.)

e)

“A formação patriarcal do Brasil explica-se, tanto nas suas virtudes como nos seus defeitos, menos em termos de ‘raça’ e de ‘religião’ do que em termos econômicos, de experiência de cultura e de organização da família, que foi aqui a unidade colonizadora.” (Gilberto Freyre. Casa-grande e senzala.)

Resolução

As citações trazidas abordam, majoritariamente, acontecimentos históricos e análises da sociedade brasileira. Conforme solicita a questão, é necessário que o candidato identique não quaisquer semelhanças entre a citação e o soneto de Cláudio Manoel da Costa, mas, sim, uma correspondência entre uma alternativa e o sentimento de inadequação do eu lírico. Levando isso em consideração, o único excerto adequado é o de "Raízes do Brasil". Isso pois, em "Soneto VII", o poeta demontra perplexidade diante da natureza devastada, consequência da exploração de ouro. Tal sentimento fica claro na primeira estrofe: "Onde estou? Este sítio desconheço: / Quem fez tão diferente aquele prado? / Tudo outra natureza tem tomado, / E em contemplá-lo, tímido, esmoreço". Esse desabafo do eu lírico se articula com o trecho de Sérgio Buarque de Holanda, no qual o autor afirma que "(...) somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra".