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Unesp 2022 - 1ª fase - dia 1


Questão 1 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Pressupostos e Subentendidos

Examine o cartum de Pietro Soldi, publicado em sua conta do Instagram em 11.09.2019.

Depreende-se do cartum que o motorista



a)

acredita que todas as pessoas estarão extintas em menos de dez anos.

b)

duvida de que todas as pessoas estarão extintas em menos de dez anos.

c)

acredita que todas as pessoas estarão extintas em dez anos.

d)

duvida daqueles que dizem que todas as pessoas irão se extinguir.

e)

acredita que todas as pessoas estarão extintas em mais de dez anos.

Resolução

a) Correta. Para o motorista, é otimista a crença de que todos estarão extintos em dez anos, pois ele provavelmente considera que a extinção acontecerá em menos tempo.

b) Incorreta. A alternativa apenas se sustentaria se houvesse outro elemento verbal ou não-verbal que demonstrasse que o motorista, na verdade, considera que a extinção da vida humana seria um benefício para o planeta e que duvida de que isso, de fato, ocorra, o que tornaria a fala do manisfestante otimista.  Entretanto, não há elementos suficientes no cartum para a sustentação de tal análise. 

c) Incorreta. Se o motorista acreditasse que todos estarão extintos em dez anos, ele rotularia a fala do manifestante como realista.

d) Incorreta. Se o motorista duvidasse completamente da afirmação, talvez ele a classificasse como irrealista. 

e) Incorreta. Nesse caso, o motorista consideraria a fala do manifestante como pessimista.

Questão 2 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

prosa (interpretação)

Para responder às questões de 02 a 07, leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902.

  Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não adormecem as crianças com histórias de fadas e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primitiva credulidade. Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom termo qualquer grossa patifaria. As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os patifes vão rejubilando.

  O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pacato bairro — como um fantasma de grande e louvável modéstia. E tão esbatido1 passava o seu vulto na treva, tão sutilmente deslizava ao longo das casas adormecidas — que as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava — naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava — não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo — e, apesar disso, sentir a voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras2 , uma avantesma3 ...

  Assim, um profundo mistério cercava a existência do lobisomem de Catumbi — quando começaram de aparecer vestígios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hóstias consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados antigos, e dando-se à prática de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia.

  Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida de bentinhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra — um velho pardieiro6 que fica no topo de uma ladeira íngreme — alguns objetos singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os sitiantes7 empunhavam”.

  Esta nota de morcegos deve ser um chique romântico do noticiarista. No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros, esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou.

(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)

1 esbatido: de tom pálido.

2 a desoras: muito tarde.

3 avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.

4 folha: periódico diário, jornal.

5 bentinho: objeto de devoção contendo orações escritas.

6 pardieiro: prédio velho ou arruinado.

7 sitiante: policial.


Em relação à reportagem sobre a diligência policial (4o e 5o parágrafos), o cronista destaca seu caráter

 



a)

objetivo.

b)

enigmático.

c)

enfadonho.

d)

fantasioso.

e)

macabro.

Resolução

Ao analisar o modo como a imprensa - "as folhas"-  noticiou a diligência da polícia à casa do gatuno que, como um espectro, andava às noites pelo Rio de Janeiro comentendo crimes, o cronista afirma que "Esta nota de morcegos deve ser um chique romântico do noticiarista. No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta...". Sendo assim, depreeende que, para o autor, a reportagem está mais próxima da literatura de ficção do que da objetividade jornalística. Para endossar sua visão de que a cobertura dos jornais era fantasiosa, o escritor ainda revela que morcegos não era comuns ao local e ao tempo em que os eventos aconteceram.

Em tempo: objetivo indicaria que a reportagem era fiel aos fatos; enigmático indicaria que a reportagem era misteriosa; enfadonho indicaria que a reportagem era monótona; macabro indicaria que a reportagem despertaria horror ao leitor.

Questão 3 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Iluminismo

Para responder às questões de 02 a 07, leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902.

  Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não adormecem as crianças com histórias de fadas e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primitiva credulidade. Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom termo qualquer grossa patifaria. As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os patifes vão rejubilando.

  O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pacato bairro — como um fantasma de grande e louvável modéstia. E tão esbatido1 passava o seu vulto na treva, tão sutilmente deslizava ao longo das casas adormecidas — que as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava — naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava — não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo — e, apesar disso, sentir a voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras2 , uma avantesma3 ...

  Assim, um profundo mistério cercava a existência do lobisomem de Catumbi — quando começaram de aparecer vestígios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hóstias consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados antigos, e dando-se à prática de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia.

  Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida de bentinhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra — um velho pardieiro6 que fica no topo de uma ladeira íngreme — alguns objetos singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os sitiantes7 empunhavam”.

  Esta nota de morcegos deve ser um chique romântico do noticiarista. No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros, esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou.

(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)

1 esbatido: de tom pálido.

2 a desoras: muito tarde.

3 avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.

4 folha: periódico diário, jornal.

5 bentinho: objeto de devoção contendo orações escritas.

6 pardieiro: prédio velho ou arruinado.

7 sitiante: policial.


“Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo — e, apesar disso, sentir a voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras, uma avantesma...” (2o parágrafo)

Nesse trecho, o cronista acaba por desconstruir a oposição entre



a)

razão e século de luzes.

b)

razão e crendice.

c)

razão e descrença.

d)

Iluminismo e Liberalismo.

e)

Iluminismo e Revolução Francesa.

Resolução

O Iluminismo representou a principal matriz intelectual do século XVIII, período que ficou conhecido como século das luzes. Esse movimento contrapunha-se ao Antigo Regime europeu, conceito que abrange o absolutismo monárquico, a organização estamental da sociedade e o mercantilismo. A partir da crítica da antiga ordem europeia, os iluministas defendiam a criação de uma sociedade fundada nos postulados da Razão e do progresso da espécie humana. Para muitos especialistas, o Iluminismo é o ponto de partida das sociedades contemporâneas, baseadas na valorização da racionalidade científica. 

a) Incorreta. Não existe uma oposição entre razão e o século das luzes. O Iluminismo, movimento que tem como principal característica a valorização da racionalidade, triunfou no século XVIII e fez com que o período ficasse conhecido como século das luzes. Os iluministas acreditavam estarem iluminando com as "luzes da razão" a humanidade, após um período de obscurantismo e ignorância. 

b) Correta. O trecho desconstrói a oposição entre razão e crendice, pois sugere que, mesmo tendo "nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa", um homem pode sentir medo quando encontra um fantasma tarde da noite. Ou seja, ainda que sejamos herdeiros do Iluminismo, fenômenos sem explicação racional - chamados de crendices - podem causar medo. 

c) Incorreta. Razão e descrença não são opostos. No contexto do Iluminismo, a concepção de "descrença" está relacionada a crer ou não nas "crendices", crenças populares sem fundamentos e vistas pelos iluministas como pejorativas, pois representavam a oposição do amparo no conhecimento racional. Os iluministas tinham a pretensão de libertar seus contemporâneos dessas superstições, consideradas sinais de ignorância por eles. 

d) Incorreta. Iluminismo e Liberalismo não configuram uma oposição. Os princípios do Liberalismo político foram desenvolvidos por John Locke (1632-1704) e os do liberalismo econômico por Adam Smith (1723-1790), ambos vinculados ao Iluminismo. 

e) Incorreta. Não há oposição entre Iluminismo e Revolução francesa. A revolução ocorrida na França em 1789 teve como principal base o Iluminismo e representou a derrocada do Antigo Regime naquele país. 

Questão 4 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Interpretação de Textos

Para responder às questões de 02 a 07, leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902.

  Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não adormecem as crianças com histórias de fadas e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primitiva credulidade. Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom termo qualquer grossa patifaria. As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os patifes vão rejubilando.

  O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pacato bairro — como um fantasma de grande e louvável modéstia. E tão esbatido1 passava o seu vulto na treva, tão sutilmente deslizava ao longo das casas adormecidas — que as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava — naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava — não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo — e, apesar disso, sentir a voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras2 , uma avantesma3 ...

  Assim, um profundo mistério cercava a existência do lobisomem de Catumbi — quando começaram de aparecer vestígios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hóstias consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados antigos, e dando-se à prática de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia.

  Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida de bentinhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra — um velho pardieiro6 que fica no topo de uma ladeira íngreme — alguns objetos singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os sitiantes7 empunhavam”.

  Esta nota de morcegos deve ser um chique romântico do noticiarista. No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros, esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou.

(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)

1 esbatido: de tom pálido.

2 a desoras: muito tarde.

3 avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.

4 folha: periódico diário, jornal.

5 bentinho: objeto de devoção contendo orações escritas.

6 pardieiro: prédio velho ou arruinado.

7 sitiante: policial.


Constitui exemplo de interação do cronista com o leitor o trecho



a)

“o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados antigos” (3o parágrafo).

b)

“As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os patifes vão rejubilando” (1o parágrafo).

c)

“Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hóstias consagradas da igreja de Catumbi” (3o parágrafo).

d)

“as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea” (2o parágrafo).

e)

“O fantasma não falava — naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas” (2o parágrafo).

Resolução

a) Incorreta. O cronista descreve as atitudes do lobisomem. 

b) Incorreta. O cronista descreve o modo como os patifes - os prováveis criminosos - aproveitavam-se da crença em elementos fantasmagóricos.

c) Correta. O verbo "ir",  conjugado na segunda pessoa do plural no imperativo negativo (não vades), é a forma verbal escolhida pelo cronista para se dirigir aos leitores.

d) Incorreta. O cronista descreve a reação daqueles que haviam visto o suposto fantasma do Catumbi.

e) Incorreta. O cronista descreve a forma como o gatuno se comportava 

Questão 5 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Figuras de Linguagem

Para responder às questões de 02 a 07, leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902.

  Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não adormecem as crianças com histórias de fadas e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primitiva credulidade. Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom termo qualquer grossa patifaria. As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os patifes vão rejubilando.

  O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pacato bairro — como um fantasma de grande e louvável modéstia. E tão esbatido1 passava o seu vulto na treva, tão sutilmente deslizava ao longo das casas adormecidas — que as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava — naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava — não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo — e, apesar disso, sentir a voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras2 , uma avantesma3 ...

  Assim, um profundo mistério cercava a existência do lobisomem de Catumbi — quando começaram de aparecer vestígios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hóstias consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados antigos, e dando-se à prática de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia.

  Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida de bentinhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra — um velho pardieiro6 que fica no topo de uma ladeira íngreme — alguns objetos singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os sitiantes7 empunhavam”.

  Esta nota de morcegos deve ser um chique romântico do noticiarista. No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros, esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou.

(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)

1 esbatido: de tom pálido.

2 a desoras: muito tarde.

3 avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.

4 folha: periódico diário, jornal.

5 bentinho: objeto de devoção contendo orações escritas.

6 pardieiro: prédio velho ou arruinado.

7 sitiante: policial.


Em “o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados antigos, e dando-se à prática de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia” (3o parágrafo), o trecho sublinhado constitui um exemplo de



a)

sinestesia.

b)

paradoxo.

c)

pleonasmo.

d)

hipérbole.

e)

eufemismo.

Resolução

a) Incorreta. Sinestesia é a combinação de sensações diferentes (olfato, audição, tato, paladar e visão) na construção de um enunciado, com vistas à produção de sentido.

b) Incorreta. Paradoxo é a aproximação de ideias contraditórias, criando uma contradição.

c) Incorreta. Pleonasmo é a repetição de ideias.

d) Incorreta. Hipérbole é a expressão exagerada de ideias.

e) Correta. Eufemismo é a amenização de ideias. O trecho "excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia” é eufemístico, pois o cronista, ao utilizar o termo "excessos", suaviza a ideia de crime. Além disso, ao declarar que a situação deveria ser punida com cadeia e não com exorcismos, o autor apresenta sua crítica ao modo como os crimes eram tratados pelas autoridades. 

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Interpretação de Textos

Para responder às questões de 02 a 07, leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902.

  Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não adormecem as crianças com histórias de fadas e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primitiva credulidade. Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom termo qualquer grossa patifaria. As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os patifes vão rejubilando.

  O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pacato bairro — como um fantasma de grande e louvável modéstia. E tão esbatido1 passava o seu vulto na treva, tão sutilmente deslizava ao longo das casas adormecidas — que as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava — naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava — não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo — e, apesar disso, sentir a voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras2 , uma avantesma3 ...

  Assim, um profundo mistério cercava a existência do lobisomem de Catumbi — quando começaram de aparecer vestígios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hóstias consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados antigos, e dando-se à prática de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia.

  Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida de bentinhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra — um velho pardieiro6 que fica no topo de uma ladeira íngreme — alguns objetos singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os sitiantes7 empunhavam”.

  Esta nota de morcegos deve ser um chique romântico do noticiarista. No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros, esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou.

(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)

1 esbatido: de tom pálido.

2 a desoras: muito tarde.

3 avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.

4 folha: periódico diário, jornal.

5 bentinho: objeto de devoção contendo orações escritas.

6 pardieiro: prédio velho ou arruinado.

7 sitiante: policial.


Em “Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos” (5o parágrafo), o termo sublinhado está empregado na mesma acepção do termo sublinhado em



a)

“ela correu um risco desnecessário”.

b)

“a notícia corria por toda a cidade”.

c)

“a manhã corria especialmente tranquila”.

d)

“segundo corria, ela seria facilmente eleita”.

e)

“um arrepio correu-lhe pela espinha”.

Resolução

No trecho “Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos”, o verbo "correr" significa transcorrer, ter seguimento no tempo. Portanto:

a) Incorreta. “Ela correu um risco desnecessário”. Correr = viver, passar por uma situação.

b) Incorreta. “A notícia corria por toda a cidade”. Correr = espalhar.

c) Correta. “a manhã corria especialmente tranquila”. Correr = transcorrer.

d) Incorreta. “Segundo corria, ela seria facilmente eleita”. Correr = divulgar, fazer saber de algo.

e) Incorreta. “Um arrepio correu-lhe pela espinha”. Correr = passar.

Questão 7 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Termos integrantes da oração

Para responder às questões de 02 a 07, leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902.

  Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não adormecem as crianças com histórias de fadas e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primitiva credulidade. Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom termo qualquer grossa patifaria. As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os patifes vão rejubilando.

  O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pacato bairro — como um fantasma de grande e louvável modéstia. E tão esbatido1 passava o seu vulto na treva, tão sutilmente deslizava ao longo das casas adormecidas — que as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava — naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava — não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo — e, apesar disso, sentir a voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras2 , uma avantesma3 ...

  Assim, um profundo mistério cercava a existência do lobisomem de Catumbi — quando começaram de aparecer vestígios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hóstias consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados antigos, e dando-se à prática de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia.

  Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida de bentinhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra — um velho pardieiro6 que fica no topo de uma ladeira íngreme — alguns objetos singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os sitiantes7 empunhavam”.

  Esta nota de morcegos deve ser um chique romântico do noticiarista. No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros, esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou.

(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)

1 esbatido: de tom pálido.

2 a desoras: muito tarde.

3 avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.

4 folha: periódico diário, jornal.

5 bentinho: objeto de devoção contendo orações escritas.

6 pardieiro: prédio velho ou arruinado.

7 sitiante: policial.


A expressão sublinhada em “No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta...” (5o parágrafo) exerce a mesma função sintática da expressão sublinhada e



a)

Esta nota de morcegos deve ser um chique romântico do noticiarista.” (5o parágrafo)

b)

“Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primitiva credulidade.” (1o parágrafo)

c)

“Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas...” (5o parágrafo)

d)

“Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias...” (3o parágrafo)

e)

“Dizem as folhas que a polícia, competentemente munida de bentinhos e de revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma.” (4o parágrafo)

Resolução

Em “No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta”, o termo sublinhado exerce a função de objeto direto do verbo haver, impessoal.

a) Incorreta. Em “Esta nota de morcegos deve ser um chique romântico do noticiarista.”, o termo sublinhado exerce a função de sujeito da locução verbal "deve ser".

b) Correta. Em “Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primitiva credulidade.”, o termo sublinhado exerce a função de objeto direto do verbo "guardar", cujo sujeito está explícito na oração anterior ("os tempos" melhoraram; [os tempos] guardam). Tal função sintática é a mesma de “No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta”, o que torna esta a alternativa correta.

c) Incorreta. Em “Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas...”, o termo sublinhado exerce a função de predicativo do sujeito "os animais".

d) Incorreta. Em “Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias...”, o termo sublinhado exerce a função de sujeito do verbo "sumir".

e) Incorreta. Em “Dizem as folhas que a polícia, competentemente munida de bentinhos e de revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma.”, o termo sublinhado exerce a função de sujeito do verbo "dizer".

Questão 8 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Arcadismo Bocage

O tópico clássico do locus amoenus está bem exemplificado nos seguintes versos do poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage:



a)

O ledo passarinho, que gorjeia

D’alma exprimindo a cândida ternura,

O rio transparente, que murmura,

E por entre pedrinhas serpenteia:

b)

Já sobre o coche de ébano estrelado

Deu meio giro a noite escura e feia;

Que profundo silêncio me rodeia

Neste deserto bosque, à luz vedado!

c)

Ante a doce visão com que me enlaças,

Já murcho, estéril já, meu ser floresce:

Mas súbito fantasma eis desvanece

Chusma de encantos, que em teu sonho abraças:

d)

Já o Inverno, espremendo as cãs nevosas,

Geme, de horrendas nuvens carregado;

Luz o aéreo fuzil, e o mar inchado

Investe ao Polo em serras escumosas;

e)

Quando por entre os véus da noite fria

A máquina celeste observo acesa,

Da angústia, de terror a imagens presa

Começa a devorar-me a fantasia.

Resolução

Locus amoenus ("lugar ameno") é uma expressão latina que designa um ambiente ideal, normalmente associado ao cenário bucólico, campestre.  A natureza é retratada de forma simples e harmoniosa, despertando sensações de conforto e segurança. O tópico do locus amoenus é bastante presente na literatura árcade, neoclássica, na qual insere-se Manuel Maria Barbosa du Bocage.

a) Correta. Os versos descrevem um cenário bucólico, caracterizando a natureza em sua simplicidade. Os elementos que compõem a paisagem despertam uma sensação agradável, tal como preconiza o tópico do locus amoenus. Ao passarinho, associam-se a alegria (“ledo”), a pureza e a meiguice (“cândida ternura”); a transparência do rio e seu murmúrio reforçam a ideia de leveza e de tranquilidade. Destacam-se também o uso do diminutivo em “pedrinhas” e o movimento em curvas das águas, que serpenteiam, na composição de um ambiente delicado, suave e harmonioso.

b) Incorreta. O excerto apresenta um ambiente noturno, escuro e feio, cenário incompatível com o locus amoenus. Além disso, os dois últimos versos sugerem que o eu lírico sente-se solitário em tal ambiente. Não há, portanto, a sensação agradável, confortável e segura despertada pelo locus amoenus.

c) Incorreta. Os versos não estão focados na descrição de um ambiente, mas na reação do eu lírico que, por um instante, reaviva-se perante uma "doce visão" associada ao interlocutor do poema. Além disso, termos como "murcho" e "estéril", associados ao eu poemático, e a menção a um "fantasma", fogem completamente ao ideal do locus amoenus.

d) Incorreta. O excerto apresenta um cenário completamente oposto ao locus amoenus: frio, violento, agitado. Trata-se do inverno, e a natureza revela-se hostil, despertando sentimentos de insegurança, medo e horror.

e) Incorreta. No trecho, o eu lírico encontra-se em um ambiente associado à angústia e terror, "por entre os véus da noite fria", incompatível com o cenário acolhedor e confortável do locus amoenus.

Questão 9 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Vocabulary

Examine o meme publicado pela comunidade “The Language Nerds” em sua conta no Facebook em 07.04.2021.

Para obter seu efeito de humor, o meme explora a ambiguidade do termo



a)

“you”.

b)

“in”.

c)

“relationship”.

d)

“stable”.

e)

“When”.

Resolução

Ambiguidade é a propriedade de algumas palavras de terem mais de um significado em determinado contexto. No caso, temos a construção When you're in a stable relationship, cuja tradução é Quando você está em um relacionamento estável. Contudo, a palavra stable pode também significar estábulo, justamente o local onde o "casal" cavalo e égua está, gerando o efeito de humor do meme, que poderia ser interpretado como "Quando você está em um relacionamento de estábulo".

Questão 10 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Romantismo no Brasil textos literários Pressupostos e Subentendidos

Para responder às questões de 10 a 12, leia a cena inicial da comédia O noviço, de Martins Pena.

AMBRÓSIO: No mundo a fortuna é para quem sabe adquiri-la. Pintam-na cega... Que simplicidade! Cego é aquele que não tem inteligência para vê-la e a alcançar. Todo homem pode ser rico, se atinar com o verdadeiro caminho da fortuna. Vontade forte, perseverança e pertinácia são poderosos auxiliares. Qual o homem que, resolvido a empregar todos os meios, não consegue enriquecer-se? Em mim se vê o exemplo. Há oito anos, era eu pobre e miserável, e hoje sou rico, e mais ainda serei. O como não importa; no bom resultado está o mérito... Mas um dia pode tudo mudar. Oh, que temo eu? Se em algum tempo tiver de responder pelos meus atos, o ouro justificar-me-á e serei limpo de culpa. As leis criminais fizeram-se para os pobres...

(Martins Pena. Comédias (1844-1845), 2007.)


A fala de Ambrósio contém um elogio



a)

à humildade.

b)

à moderação.

c)

à meritocracia.

d)

à justiça.

e)

à burocracia

Resolução

a) Incorreta. Em sua fala, Ambrósio não demonstra humildade; ao contrário, revela-se orgulhoso de ter conquistado sua fortuna e ambiciona ainda mais riquezas: "Em mim se vê o exemplo. Há oito anos, era eu pobre e miserável, e hoje sou rico, e mais ainda serei". Além disso, ampara-se no fato de ser rico como forma de manter-se impune ("Se em algum tempo tiver de responder pelos meus atos, o ouro justificar-me-á e serei limpo de culpa."). Por fim, a afirmação de que "As leis criminais fizeram-se para os pobres..." expressa um desprezo em relação a uma possível atitude de humildade.  

b) Incorreta. A personagem não age com moderação, evitando excessos ou sendo prudente. Ambrósio valoriza explicitamente os bens materiais, almejando acumular cada vez mais riquezas ("hoje sou rico, e mais ainda serei"). 

c) Correta. De acordo com a personagem, "todo homem pode ser rico, se atinar com o verdadeiro caminho da fortuna". Ambrósio acredita que qualquer pessoa com "vontade forte, perseverança e pertinácia", e que esteja disposta "a empregar todos os meios", é capaz de enriquecer. Identifica-se, nesse discurso, o conceito de meritocracia, ou seja, a predominância de quem possui méritos, a ideia de que os recompensados serão sempre os mais competentes.

d) Incorreta. Por meio de sua fala, percebe-se que Ambrósio é uma pessoa desprovida de escrúpulos, uma vez que defende a conquista dos objetivos independentemente dos meios empregados para tal ("O como não importa; no bom resultado está o mérito..."). A personagem dá a entender que obteve sua fortuna de maneira duvidosa, uma vez que poderia, no futuro, ter de responder por seus atos. No entanto, acredita que, por ser rico, não será punido, e conclui: "As leis criminais fizeram-se para os pobres...". Todo esse discurso é completamente avesso à ideia de justiça.

e) Incorreta. O termo "burocracia" refere-se a um conjunto de regras e procedimentos que compõem uma estrutura organizada. Em sentido pejorativo, trata-se do excesso de entraves que leva à lentidão na resolução de questões. No trecho em questão, a personagem defende a ideia de que qualquer homem, "resolvido a empregar todos os meios", é capaz de enriquecer. Portanto, ao invés de exaltar o conceito de burocracia, defende a subversão de regras e de estruturas em benefício próprio.