Leia a tira a seguir:
(Folha de S.Paulo, 17.08.2013. Adaptado.)
Mantida a norma-padrão da língua portuguesa, a frase que preenche corretamente o segundo balão é:
a) |
a) Sempre se encontra dragões com isso.
|
b) |
Sofre disso todos os dragões.
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c) |
Todos os dragões o tem.
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d) |
Os dragões todos lhe tem.
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e) |
Todos os dragões têm isso.
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a) Incorreta. “Dragões” é sujeito do verbo “encontrar”, devendo este portanto estar no plural: “Sempre se encontram dragões com isso”.
b) Incorreta. A concordância do verbo “sofrer” está equivocada, pois o sujeito “todos os dragões” está no plural, assim, a oração deveria ser “Sofrem disso todos os dragões”.
c) Incorreta. A concordância do verbo “ter” está equivocada, pois o sujeito “todos os dragões” está no plural, portanto, o verbo deveria acompanhá-lo: “Todos os dragões o têm”.
d) Incorreta. A concordância do verbo “ter” com o sujeito “os dragões” está equivocada, já que o verbo deveria estar também no plural (têm). Além disso, o pronome oblíquo “lhe” somente substitui objetos indiretos, elemento inexistente na construção em análise. O complemento do verbo “ter” é direto, portanto, o pronome oblíquo adequado seria “o” – retomando “mau hálito”. O correto, então, seria “Os dragões todos o têm”.
e) Correta. A concordância do verbo ter, que está no plural (têm), com o sujeito, também no plural (todos os dragões), está de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa.
Casimiro de Abreu pertence à geração dos poetas que morreram prematuramente, na casa dos vinte anos, como Álvares de Azevedo e outros, acometidos do “mal” byroniano. Sua poesia, reflexo autobiográfico dos transes, imaginários e verídicos, que lhe agitaram a curta existência, centra-se em dois temas fundamentais: a saudade e o lirismo amoroso. Graças a tal fundo de juvenilidade e timidez, sua poesia saudosista guarda um não sei quê de infantil.
(Massaud Moisés. A literatura brasileira através dos textos, 2004. Adaptado.)
Os versos de Casimiro de Abreu que se aproximam da ideia de saudade, tal como descrita por Massaud Moisés, encontram- se em:
a) |
a) Minh’alma é triste como a flor que morre / Pendida à beira do riacho ingrato; / Nem beijos dá-lhe a viração que corre, / Nem doce canto o sabiá do mato!
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b) |
b) Oh! não me chames coração de gelo! / Bem vês: traí-me no fatal segredo. / Se de ti fujo é que te adoro e muito, / És bela – eu moço; tens amor, eu – medo!...
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c) |
c) Tu, ontem, / Na dança / Que cansa, / Voavas / Co’as faces / Em rosas / Formosas / De vivo, / Lascivo / Carmim; / Na valsa / Tão falsa, / Corrias, / Fugias, / Ardente, / Contente, / Tranquila, / Serena, / Sem pena / De mim!
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d) |
d) Naqueles tempos ditosos / Ia colher as pitangas, / Trepava a tirar as mangas, / Brincava à beira do mar; / Rezava às Ave-Marias, / Achava o céu sempre lindo, / Adormecia sorrindo / E despertava a cantar!
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e) |
e) Se eu soubesse que no mundo / Existia um coração, / Que só por mim palpitasse / De amor em terna expansão; / Do peito calara as mágoas, / Bem feliz eu era então!
|
Massaud Moisés aborda em seu texto o caráter saudosista da obra de Casimiro de Abreu. Os versos do poeta, normalmente, retomam imagens das brincadeiras infantis, assim como a saudade da mãe e da irmã.
a) Incorreta. Os versos retratam a tristeza do poeta que compara a sua alma a uma flor que morre e não se encanta mais por beijos e o canto do sabiá. Portanto, nesses versos não há o sentimento de saudade, mas de tristeza.
b) Incorreta. Tais versos retratam uma temática do lirismo amoroso e o embate de sentimentos do ser enamorado, como no verso “Se de ti fujo é que te adoro e muito”, portanto, não há o sentimento da saudade, como esperado na questão.
c) Incorreta. Esses versos também retomam o encantamento do eu-lírico pela amada enquanto ela dança, em um jogo de sensualidade que atrai o poeta, não sendo assim a saudade o seu tema.
d) Correta. Os versos se iniciam com uma locução adverbial retomando tempos passados, “Naqueles tempos ditosos”; as imagens são construídas trazendo a áurea da infância alegre e pura. Os versos são marcados pelas brincadeiras realizadas pelo eu-lírico, como trepar nas mangueiras, colher pitangas, brincar à beira do mar, que demonstram o tom saudosista marcado por um não sei quê infantil, como foi expresso no texto de Massaud Moisés .
e) Incorreta: Os versos abordam a temática amorosa, o eu-lírico que sofre pela ausência de um ser amado, indiciando a contradição entre o desejo e a sua concretização.
Casimiro de Abreu pertence à geração dos poetas que morreram prematuramente, na casa dos vinte anos, como Álvares de Azevedo e outros, acometidos do “mal” byroniano. Sua poesia, reflexo autobiográfico dos transes, imaginários e verídicos, que lhe agitaram a curta existência, centra-se em dois temas fundamentais: a saudade e o lirismo amoroso. Graças a tal fundo de juvenilidade e timidez, sua poesia saudosista guarda um não sei quê de infantil.
(Massaud Moisés. A literatura brasileira através dos textos, 2004. Adaptado.)
Os substantivos do texto derivados pelo mesmo processo de formação de palavras são:
a) |
a) prematuramente e autobiográfico. |
b) |
b) juvenilidade e timidez. |
c) |
c) geração e byroniano. |
d) |
d) saudade e infantil. |
e) |
e) reflexo e imaginários. |
a) Incorreta. O advérbio “prematuramente” é formado por sufixação do adjetivo “prematuro”. O substantivo “autobiográfico” é formado por justaposição dos elementos “auto” + “biográfico”.
b) Correta. O substantivo “juvenilidade” é formado por sufixação do adjetivo “juvenil”. O substantivo “timidez” é formado por sufixação do adjetivo “tímido”.
c) Incorreta. O substantivo “geração” é formado por sufixação do verbo “gerar”. O adjetivo “byroniano” é formado por sufixação do substantivo “Byron” (Lord Byron).
d) Incorreta. O substantivo “saudade” é primitivo. O adjetivo “infantil” é formado pela sufixação do substantivo “infante”.
e) Incorreta. O substantivo “reflexo” é formado por derivação regressiva do verbo “refletir”. O substantivo “imaginários” é formado por sufixação do verbo “imaginar”.
São recursos expressivos e tema presentes no soneto, respectivamente,
a) |
metáforas e a ideia da imutabilidade das pessoas e dos lugares. |
b) |
b) antíteses e o abalo emocional vivido pelo eu lírico. |
c) |
sinestesias e a superação pelo eu lírico de seus maiores problemas. |
d) |
paradoxos e a certeza de um presente melhor para o eu lírico que o passado. |
e) |
hipérboles e a força interior que faz o eu lírico superar seus males. |
a) Incorreta. Em primeiro lugar, o texto não é marcado por metáforas, e sim por uma descrição relativamente direta do ambiente; além disso, o tema dominante é justamente a mutabilidade do local em que o eu-lírico se encontra (como evidenciado nos versos “Quem fez tão diferente aquele prado? / Tudo outra natureza tem tomado“).
b) Correta. O poema é marcado pela antítese, ou seja, pela apresentação de ideias opostas próximas uma à outra, como nos versos “Ali em vale um monte está mudado” e “Árvores aqui vi tão florescentes / Que faziam perpétua a primavera: / Nem troncos vejo agora decadentes”). Também não se pode deixar de notar o abalo emocional do eu-lírico, evidenciado em versos como “E em contemplá-lo tímido esmoreço”.
c) Incorreta. A sinestesia consiste na mistura de sentidos diferentes, como a visão e o olfato, o que não está presente no poema. A superação dos problemas do eu-lírico também não ocorre, como fica claro pelos versos “se estão presentes / Meus males”.
d) Incorreta. Embora as antíteses apresentadas pelo poema pudessem ser confundidas com paradoxos (que são um tipo muito mais extremo de contradição), podemos perceber claramente que a alternativa é incorreta ao analisar a segunda parte: a certeza de um presente melhor que o passado. A sensação geral do poema remete à situação oposta, com o eu-lírico sentindo a perda das características que amava naquele local (como nos versos “E em contemplá-lo tímido esmoreço” e “nem troncos vejo agora decadentes”).
e) Incorreta. Embora a mudança experimentada pelo eu-lírico possa parecer muito grande, não verificamos no poema o recurso da hipérbole (que consiste em apresentar um elemento de maneira obviamente exagerada, de modo a causar um efeito poético). Quando o poeta diz “nem troncos vejo agora decadentes”, por exemplo, não temos elementos suficientes para afirmar que se trata de um exagero. A segunda parte da alternativa também está equivocada, pois afirma que o eu-lírico superou seus males, o que é negado pelos versos “se estão presentes / Meus males”.
Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado;
E em contemplá-lo tímido esmoreço.
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado.
Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!
Árvores aqui vi tão florescentes,
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.
Eu me engano: a região esta não era:
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera!
(Cláudio Manuel da Costa. Sonetos (VlI). In: RAMOS, Péricles Eugênio da Silva (Intr., sel. e notas): POESIA DO OUTRO - ANTOLOGIA. São Paulo: Melhoramentos, 1964, p.47.)
No soneto, o eu lírico expressa-se de forma
a) |
introspectiva, valendo-se da idealização da natureza.
|
b) |
racional, mostrando-se indiferente às mudanças.
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c) |
contida, descortinando as impressões auspiciosas do cenário.
|
d) |
eufórica, reconhecendo a necessidade de mudança.
|
e) |
reflexiva, explorando ambiguidades existenciais.
|
a) Incorreta. Há introspecção, mas não há idealização da natureza. Pelo contrário, esta é encarada como destituída das características que a faziam ser agradável.
b) Incorreta. O eu-lírico se mostra bastante afetado pelas mudanças, como explicitado no verso “E em contemplá-lo tímido esmoreço.“
c) Incorreta. O eu-lírico não se mostra contido ao analisar o cenário: pelo contrário, revela suas emoções e sensações a respeito das mudanças sofridas pelo lugar. Além disso, suas impressões não são auspiciosas (positivas, otimistas), mas sim pessimistas, como evidenciado no verso “Nem troncos vejo agora decadentes’.
d) Incorreta. O eu-lírico não se revela eufórico (ao contrário: o adjetivo usado por ele é “tímido”) e não opina sobre a necessidade ou não da mudança, limitando-se a lamentar a velocidade com que ela ocorre.
e) Correta. O eu-lírico faz uma reflexão sobre as mudanças, comparando sua própria situação à do local em que ele se encontra. A relação entre o eu-lírico e a do local é que, ao contrário do ambiente, que se degenera, os males do eu-lírico parecem permanentes; essa percepção do eu-lírico pode ser classificada como uma ambiguidade existencial.
Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado;
E em contemplá-lo tímido esmoreço.
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado.
Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!
Árvores aqui vi tão florescentes,
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.
Eu me engano: a região esta não era:
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera!
(Cláudio Manuel da Costa. Sonetos (VlI). In: RAMOS, Péricles Eugênio da Silva (Intr., sel. e notas): POESIA DO OUTRO - ANTOLOGIA. São Paulo: Melhoramentos, 1964, p.47.)
No contexto em que estão empregados, os termos sítio (1.º verso), tímido (4.º verso) e perpétua (10.º verso) significam, respectivamente,
a) |
lugar, receoso e eterna.
|
b) |
acampamento, imaturo e permanente.
|
c) |
fazenda, obscuro e frequente.
|
d) |
imediação, inseguro e duradoura.
|
e) |
campo, fraco e imprescindível.
|
A substituição dos vocábulos em questão no texto evidencia a pertinência da alternativa A como correta. Assim:
1º. verso: “Onde estou? Este sítio desconheço:” – “sítio” é corretamente substituído por “Onde estou? Este lugar desconheço”. As opções indicadas nas outras alternativas (acampamento, fazenda, imediação e campo) não substituem adequadamente o vocábulo “sítio”.
4º. verso: “E em contemplá-lo tímido esmoreço.” – “tímido” é corretamente substituído por “E em contemplá-lo receoso esmoreço”. A opção indicada na alternativa D poderia também ser adequada: “E em contemplá-lo inseguro esmoreço”. As opções das outras alternativas (imaturo, obscuro e fraco) não substituem adequadamente o vocábulo “tímido” no contexto do poema.
10º. verso: “Que faziam perpétua a primavera:” – “perpétua” é corretamente substituído por “Que faziam eterna a primavera:”. A opção indicada na alternativa B poderia também ser adequada: “Que faziam permanente a primavera”. As opções das outras alternativas (frequente, duradoura e imprescindível) não seriam adequadas ao contexto.
Nesse soneto, são comuns as inversões, como se vê no verso – Quanto pode dos anos o progresso! – que, em ordem direta, assume a seguinte redação:
a) |
a) O progresso quanto pode dos anos! |
b) |
b) Pode quanto dos anos o progresso! |
c) |
c) Quanto o progresso dos anos pode! |
d) |
d) Pode quanto o progresso dos anos! |
e) |
e) Quanto dos anos o progresso pode! |
Entende-se por ordem direta a oração que apresenta respectivamente os elementos sujeito – verbo – complementos (quando existirem). Na construção em questão – Quanto pode dos anos o progresso” – identifica-se como sujeito o sintagma “o progresso dos anos”, aquele que “pode” (verbo intransitivo, sem complementos). Assim, a ordem direta da oração está corretamente indicada na alternativa c: “Quanto o progresso dos anos pode!”.
(http://educacao.uol.com.br. Adaptado.)
Para que a fala do pescador seja coerente, as lacunas do primeiro balão devem ser preenchidas, de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, com:
a) |
a) bocona – homão – rapazão. |
b) |
b) bocão – homenzão – rapagão. |
c) |
c) bocarra – homenzão – rapazão. |
d) |
d) bocão – homenzarrão – rapazão. |
e) |
e) bocarra – homenzarrão – rapagão. |
Em língua portuguesa, os aumentativos se formam geralmente com o acréscimo dos sufixos regulares –ão e –zão. Alguns vocábulos, contudo, segundo a norma-padrão da língua, têm seus aumentativos formados pelo sufixo irregular –arra. Os vocábulos em questão são distintos e os usos populares não correspondem ao que é preconizado pela gramática normativa. Assim:
- Para “boca”, espera-se o uso do sufixo –arra, formando bocarra.
As formas “bocão” e “bocona” não são aceitas pela norma-padrão (outras configurações corretas seriam boqueirão e bocaça).
- Para “homem”, espera-se o uso do sufixo –ão, formando homenzarrão, única opção preconizada pela gramática normativa.
As variantes “homão” e “homenzão” não são consideradas adequadas do ponto de vista da norma-padrão.
- Para “rapaz”, espera-se o uso do sufixo –ão, formando rapagão, única opção preconizada pela gramática normativa.
A variante “rapazão” não é considerada adequada do ponto de vista da norma-padrão.
Temos, portanto, a alternativa E como correta.
O melro veio com efeito às três horas. Luísa estava na sala, ao piano.
– Está ali o sujeito do costume – foi dizer Juliana.
Luísa voltou-se corada, escandalizada da expressão:
– Ah! meu primo Basílio? Mande entrar. - E chamando-a: – Ouça, se vier o Sr. Sebastião, ou alguém, que entre.
Era o primo! O sujeito, as suas visitas perderam de repente para ela todo o interesse picante. A sua malícia cheia, enfunada até aí, caiu, engelhou-se como uma vela a que falta o vento. Ora, adeus! Era o primo! Subiu à cozinha, devagar, — lograda.
– Temos grande novidade, Sr.a Joana! O tal peralta é primo. Diz que é o primo Basílio. - E com um risinho: – É o Basílio! Ora o Basílio! Sai-nos primo à última hora! O diabo tem graça!
– Então que havia de o homem ser se não parente? – observou Joana.
Juliana não respondeu. Quis saber se estava o ferro pronto, que tinha uma carga de roupa para passar! E sentou-se à janela, esperando. O céu baixo e pardo pesava, carregado de eletricidade; às vezes uma aragem súbita e fina punha nas folhagens dos quintais um arrepio trêmulo.
– É o primo! – refletia ela. – E só vem então quando o marido se vai. Boa! E fica-se toda no ar quando ele sai; e é roupa-branca e mais roupa-branca, e roupão novo, e tipóia para o passeio, e suspiros e olheiras! Boa bêbeda! Tudo fica na família!
Os olhos luziam-lhe. Já se não sentia tão lograda. Havia ali muito “para ver e para escutar”. E o ferro estava pronto?
Mas a campainha, embaixo, tocou.
(Eça de Queirós. O primo Basílio, 1993.)
Quando é avisada de que Basílio estava em sua casa, Luísa escandaliza-se com a forma de expressão de sua criada Juliana. A reação de Luísa decorre
a) |
da intimidade que a criada revela ter com o Basílio, o que deixa a patroa enciumada com o comentário.
|
b) |
da ambiguidade que se pode entrever nas palavras da criada, referindo-se com ironia às frequentes visitas de Basílio à patroa.
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c) |
da indiscrição da criada ao referir-se ao rapaz, o qual, apesar do vínculo familiar, não era visita frequente na casa da patroa.
|
d) |
do comentário malicioso que a criada faz à presença de Basílio, sugerindo à patroa que deveria envolver-se com o rapaz.
|
e) |
da linguagem descuidada com que a criada se refere a seu primo Basílio, rapaz cortês e de família aristocrática.
|
a) Incorreta. Não é possível afirmar, de acordo com o trecho e com o contexto da obra, que exista uma relação de intimidade entre Juliana e Basílio, pois sua fala com relação a ele (“Está ali o sujeito”) se mostra distante, inclusive. Tampouco é possível afirmar que Luísa se sinta enciumada com a situação.
b) Correta. A ironia e a ambiguidade estão marcadamente presentes na fala de Juliana, principalmente quando esta se refere à visita de Basílio como sendo “de costume”. A criada demonstra, com essa fala, que nota alguma estranheza com relação às visitas do primo de Luísa, o que deixa a patroa assustada com a possibilidade de que seu romance com o primo não seja secreto.
c) Incorreta. O contexto do trecho apresentado não permite que se afirme que Juliana trata com indiscrição o primo de sua patroa. Além disso, o trecho também deixa evidente que as visitas de Basílio a Luísa eram, de fato, frequentes.
d) Incorreta. O comentário de Juliana não pode ser qualificado como malicioso, e não há, em nenhum momento, a indicação por parte de Juliana que sua patroa deveria se envolver com Basílio.
e) Incorreta. Não é possível afirmar que Juliana trate Basílio com uma linguagem descuidada, pois a postura que a criada assume com o visitante é irônica, porém não descuidada.
O melro veio com efeito às três horas. Luísa estava na sala, ao piano.
– Está ali o sujeito do costume – foi dizer Juliana.
Luísa voltou-se corada, escandalizada da expressão:
– Ah! meu primo Basílio? Mande entrar. - E chamando-a: – Ouça, se vier o Sr. Sebastião, ou alguém, que entre.
Era o primo! O sujeito, as suas visitas perderam de repente para ela todo o interesse picante. A sua malícia cheia, enfunada até aí, caiu, engelhou-se como uma vela a que falta o vento. Ora, adeus! Era o primo! Subiu à cozinha, devagar, — lograda.
– Temos grande novidade, Sr.a Joana! O tal peralta é primo. Diz que é o primo Basílio. - E com um risinho: – É o Basílio! Ora o Basílio! Sai-nos primo à última hora! O diabo tem graça!
– Então que havia de o homem ser se não parente? – observou Joana.
Juliana não respondeu. Quis saber se estava o ferro pronto, que tinha uma carga de roupa para passar! E sentou-se à janela, esperando. O céu baixo e pardo pesava, carregado de eletricidade; às vezes uma aragem súbita e fina punha nas folhagens dos quintais um arrepio trêmulo.
– É o primo! – refletia ela. – E só vem então quando o marido se vai. Boa! E fica-se toda no ar quando ele sai; e é roupa-branca e mais roupa-branca, e roupão novo, e tipóia para o passeio, e suspiros e olheiras! Boa bêbeda! Tudo fica na família!
Os olhos luziam-lhe. Já se não sentia tão lograda. Havia ali muito “para ver e para escutar”. E o ferro estava pronto?
Mas a campainha, embaixo, tocou.
(Eça de Queirós. O primo Basílio, 1993.)
Observe as passagens do texto:
– Ora, adeus! Era o primo! (7.º parágrafo)
– E o ferro estava pronto? (penúltimo parágrafo)
Nessas passagens, é correto afirmar que se expressa o ponto de vista
a) |
do narrador, em terceira pessoa, distanciado, portanto, do ponto de vista de Juliana.
|
b) |
da personagem Luísa, em discurso indireto, independente da voz do narrador.
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c) |
do narrador, em primeira pessoa, próximo, portanto, do ponto de vista de Juliana.
|
d) |
da personagem Juliana, sendo que sua voz mescla-se à voz do narrador.
|
e) |
da personagem Juliana, em discurso direto, independente da voz do narrador.
|
As duas falas no contexto indicam o uso do discurso indireto livre. Tal recurso se caracteriza por entremear um pensamento de uma personagem à exposição de um narrador em 3ª pessoa, como é o caso do narrador d’O Primo Basílio. O uso de tal recurso pode ser considerado um modo de o narrador apresentar ao leitor um pensamento implícito de uma das personagens, em geral, um julgamento de valor feito por este; no caso, expressa o pensamento da personagem Juliana. Principalmente a expressão “E o ferro estava pronto?” evidencia ao candidato tratar-se de uma preocupação da empregada Juliana.
a) Incorreta. O recurso em questão aproxima o narrador e a personagem Juliana.
b) Incorreta. As três afirmações são inválidas: o discurso é da personagem Juliana, não de Luísa; não se trata de Discurso Indireto, mas Indireto Livre; não é independente da voz do narrador.
c) Incorreta. Não se trata, em O Primo Basílio, de um narrador em Primeira Pessoa, embora seja verdade que neste recurso o narrador e a personagem se aproximem.
d) Correta. Como o exposto no comentário inicial, esta é a alternativa correta.
e) Incorreta. A fala é de Juliana; o discurso não é direto; depende da voz do narrador.