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Unifesp - 2ª fase - Línguas


Questão 21 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Pronomes pessoais Concordância verbal

Poetas e tipógrafos

Vice-cônsul do Brasil em Barcelona em 1947, o poeta João Cabral de Melo Neto foi a um médico por causa de sua crônica dor de cabeça. Ele lhe receitou exercícios físicos, para “canalizar a tensão”. João Cabral seguiu o conselho. Comprou uma prensa manual e passou a produzir à mão, domesticamente, os próprios livros e os dos amigos. E, com tal “ginástica poética”, como a chamava, tornou-se essa ave rara e fascinante: um editor artesanal.

Um livro recém-lançado, “Editores Artesanais Brasileiros”, de Gisela Creni, conta a história de João Cabral e de outros sonhadores que, desde os anos 50, enriqueceram a cultura brasileira a partir de seu quarto dos fundos ou de um galpão no quintal.

O editor artesanal dispõe de uma minitipografia e faz tudo: escolhe a tipologia, compõe o texto, diagrama-o, produz as ilustrações, tira provas, revisa, compra o papel e imprime – em folhas soltas, não costuradas – 100 ou 200 lindos exemplares de um livrinho que, se não fosse por ele, nunca seria publicado. Daí, distribui-os aos subscritores (amigos que se comprometeram a comprar um exemplar). O resto, dá ao autor. Os livreiros não querem nem saber.

Foi assim que nasceram, em pequenos livros, poemas de – acredite ou não – João Cabral, Manuel Bandeira, Drummond, Cecília Meireles, Joaquim Cardozo, Vinicius de Moraes, Lêdo Ivo, Paulo Mendes Campos, Jorge de Lima e até o conto “Com o Vaqueiro Mariano” (1952), de Guimarães Rosa. E de Donne, Baudelaire, Lautréamont, Rimbaud, Mallarmé, Keats, Rilke, Eliot, Lorca, Cummings e outros, traduzidos por amor.

João Cabral não se curou da dor de cabeça, mas valeu.

(Ruy Castro. Folha de S.Paulo, 17.08.2013. Adaptado.)


Na passagem – O editor artesanal dispõe de uma minitipografia e faz tudo: escolhe a tipologia, compõe o texto, diagrama-o, produz as ilustrações –, se a expressão editor artesanal for para o plural, a sequência em destaque assume a seguinte redação, de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa:



a)
compõem o texto, diagramam-no, produzem as ilustrações.
b)
b) compõe o texto, diagramam-o, produzem as ilustrações.
c)
compõem o texto, diagramam ele, produz as ilustrações.
d)
compõe o texto, diagrama-no, produz as ilustrações.
e)
compõem o texto, diagrama-lo, produz as ilustrações.
Resolução

Se a expressão “editor artesanal” for para o plural, os verbos compor, diagramar e produzir devem, da mesma forma, ser transpostos para o plural, transformando-se, respectivamente, em “compõem” “diagramam” e “produzem”. Além disso, a forma “diagramam”, pela terminação em –m, exige que o pronome oblíquo que a segue seja iniciado por n-.

a) Correta. Os verbos compor, diagramar e produzir estão corretamente flexionados. Além disso, o pronome oblíquo que complementa a forma verbal “diagramam” está corretamente empregado.

b) Incorreta. O verbo compor não está corretamente flexionado. O pronome que complementa a forma “diagramam” não está correto.

c) Incorreta. O pronome que complementa a forma “diagramam” deve ser oblíquo, e não do caso reto, como “ele”. Além disso, o verbo produzir não está corretamente flexionado.

d) Incorreta. Os verbos compor, diagramar e produzir não estão corretamente flexionados.

e) Incorreta. Os verbos diagramar e produzir não estão corretamente flexionados. Além disso, o pronome que complementa o verbo diagramar está incorreto.

Questão 22 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Concordâncias Flexão de gênero, número e grau (substantivo) Período composto

Poetas e tipógrafos

Vice-cônsul do Brasil em Barcelona em 1947, o poeta João Cabral de Melo Neto foi a um médico por causa de sua crônica dor de cabeça. Ele lhe receitou exercícios físicos, para “canalizar a tensão”. João Cabral seguiu o conselho. Comprou uma prensa manual e passou a produzir à mão, domesticamente, os próprios livros e os dos amigos. E, com tal “ginástica poética”, como a chamava, tornou-se essa ave rara e fascinante: um editor artesanal.

Um livro recém-lançado, “Editores Artesanais Brasileiros”, de Gisela Creni, conta a história de João Cabral e de outros sonhadores que, desde os anos 50, enriqueceram a cultura brasileira a partir de seu quarto dos fundos ou de um galpão no quintal.

O editor artesanal dispõe de uma minitipografia e faz tudo: escolhe a tipologia, compõe o texto, diagrama-o, produz as ilustrações, tira provas, revisa, compra o papel e imprime – em folhas soltas, não costuradas – 100 ou 200 lindos exemplares de um livrinho que, se não fosse por ele, nunca seria publicado. Daí, distribui-os aos subscritores (amigos que se comprometeram a comprar um exemplar). O resto, dá ao autor. Os livreiros não querem nem saber.

Foi assim que nasceram, em pequenos livros, poemas de – acredite ou não – João Cabral, Manuel Bandeira, Drummond, Cecília Meireles, Joaquim Cardozo, Vinicius de Moraes, Lêdo Ivo, Paulo Mendes Campos, Jorge de Lima e até o conto “Com o Vaqueiro Mariano” (1952), de Guimarães Rosa. E de Donne, Baudelaire, Lautréamont, Rimbaud, Mallarmé, Keats, Rilke, Eliot, Lorca, Cummings e outros, traduzidos por amor.

João Cabral não se curou da dor de cabeça, mas valeu.

(Ruy Castro. Folha de S.Paulo, 17.08.2013. Adaptado.)


Assinale a alternativa em que se analisa corretamente o fato linguístico do texto.



a)
a) No trecho – enriqueceram a cultura brasileira a partir de seu quarto – (2.º parágrafo), o pronome em destaque refere-se ao poeta João Cabral de Melo Neto.
b)
b) No trecho – O resto, dá ao autor. – (3.º parágrafo), a vírgula está indevidamente empregada, pois não se separam termos imediatos, no caso, sujeito e verbo da oração.
c)
c) No trecho – 100 ou 200 lindos exemplares de um livrinho – (3.º parágrafo), o diminutivo do substantivo em destaque carrega-o de conotação afetiva.
d)
d) No trecho – João Cabral não se curou da dor de cabeça, mas valeu. – (5.º parágrafo), o verbo valer está flexionado, concordando com a expressão João Cabral.
e)
e) No trecho – Comprou uma prensa manual e passou a produzir à mão – (1.º parágrafo), a expressão em destaque indica circunstância de conformidade.
Resolução

a) Incorreta. O pronome em questão (“seu”) se refere, nesse período, aos vários autores que desempenhavam o papel de editores em suas próprias casas, e não apenas ao poeta João Cabral de Melo Neto.

b) Incorreta. Na construção “o resto, dá ao autor”, não ocorre a separação entre sujeito e verbo da oração, uma vez que o termo “o resto” funciona como objeto direto do verbo “dar”.

c) Correta. É possível afirmar que o diminutivo é utilizado, neste caso, com conotação afetiva, pois o autor do texto se dedica à exaltação da prática de confecção de livros caseiros retratada no texto. Além disso, o termo “lindos” reforça o caráter positivo da consideração do autor sobre os livros produzidos em casa.

d) Incorreta. Não é possível afirmar que a flexão do verbo “valer”, conjugado no pretérito perfeito, seja necessária para garantir a concordância com a expressão “João Cabral”.

e) Incorreta. A expressão destacada, “à mão” indica circunstância de meio (a forma pela qual os livros são produzidos), e não de conformidade.

Questão 23 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Pressupostos e Subentendidos paradoxo (oxímoro)

O nada que é
 

Um canavial tem a extensão

ante a qual todo metro é vão.
 

Tem o escancarado do mar

que existe para desafiar
 

que números e seus afins

possam prendê-lo nos seus sins.
 

Ante um canavial a medida

métrica é de todo esquecida,
 

porque embora todo povoado

povoa-o o pleno anonimato
 

que dá esse efeito singular:

de um nada prenhe como o mar.

 

(João Cabral de Melo Neto. Museu de tudo e depois, 1988.)


Ao comparar o canavial ao mar, a imagem construída pelo eu lírico formaliza-se em



a)
um eufemismo entre a ideia de metro e a de medida.
b)
um paradoxo entre a ideia de nada e a de imensidão.
c)
uma assimetria entre a ideia de nada e a de anonimato.
d)
uma descontinuidade entre a ideia de mar e a de canavial.
e)
uma contradição entre a ideia de extensão e a de canavial.
Resolução

a) Incorreta. O eufemismo é um recurso de linguagem em que uma expressão considerada muito agressiva é substituída por uma versão mais amena. Como nenhuma das palavras envolvidas na alternativa (“metro”, “medida”, “canavial” e “mar”) pode ser considerada agressiva, não faz sentido o uso do eufemismo neste caso.

b) Correta. O paradoxo aproxima, de maneira radical, duas ideias contrárias. “Nada” e “imensidão” se encaixam nessa definição, especialmente no contexto em que o eu-lírico os apresenta: tanto o canavial quanto o mar, de acordo com o poema, representam imensidões das quais saem muitas coisas (peixes e açúcar, por exemplo), mas que, se olhadas de fora, têm um aspecto de uniformidade (“porque embora todo povoado / povoa-o o pleno anonimato”) que as faz parecer “feitas de nada”.

c) Incorreta. As ideias de “nada” e “anonimato” não apresentam assimetria, e sim identificação ou simetria.

d) Incorreta. O eu-lírico busca criar justamente uma identificação entre o mar e o canavial, que não pode ser considerada “descontinuidade”: Um canavial (...) Tem o escancarado do mar.

e) Incorreta. A ideia de extensão é identificada à de canavial (Um canavial tem a extensão / ante a qual todo metro é vão.), não sendo apresentada como contraditória a ela em momento algum do poema.

Questão 24 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Pressupostos e Subentendidos

O nada que é
 

Um canavial tem a extensão

ante a qual todo metro é vão.
 

Tem o escancarado do mar

que existe para desafiar
 

que números e seus afins

possam prendê-lo nos seus sins.
 

Ante um canavial a medida

métrica é de todo esquecida,
 

porque embora todo povoado

povoa-o o pleno anonimato
 

que dá esse efeito singular:

de um nada prenhe como o mar.

 

(João Cabral de Melo Neto. Museu de tudo e depois, 1988.)


Nos versos iniciais do poema – Um canavial tem a extensão /ante a qual todo metro é vão. –, metro é concebido como



a)
forma de se medir corretamente um canavial.
b)
meio de se medir a extensão de um canavial com precisão.
c)
tradução subjetiva da extensão de um canavial.
d)
meio de se dizer mais de um canavial do que só sua extensão.
e)
forma ineficaz de se medir a extensão de um canavial.
Resolução

a) Incorreta. Embora o metro seja, no mundo real, uma forma de se medir corretamente a extensão de algo, no poema ele é apresentado de maneira oposta: “todo metro é vão”.

b) Incorreta. Esta alternativa é incorreta pelo mesmo motivo que foi apresentado no comentário da alternativa a: a precisão do metro, embora seja uma característica sua no mundo real, é considerada inexistente no contexto do poema.

c) Incorreta. Nada indica, no poema, que o metro seja considerado uma forma subjetiva de se referir à extensão do canavial; a ideia é que ele seja incapaz de medir a essa extensão, subjetiva ou objetivamente.

d) Incorreta. O metro é visto, no poema, como algo ‘vão’, ou seja, que não cumpre função alguma em relação à extensão do canavial. Ou seja, é equivocado afirmar que ele seria uma forma de dizer ainda mais sobre o canavial do que a extensão.

e) Correta. A expressão “todo metro é vão”, no contexto do poema, pode ser interpretada como uma forma de indicar a ineficácia do metro para se medir a extensão do canavial.

Questão 25 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Verso poesia e música

O nada que é
 

Um canavial tem a extensão

ante a qual todo metro é vão.
 

Tem o escancarado do mar

que existe para desafiar
 

que números e seus afins

possam prendê-lo nos seus sins.
 

Ante um canavial a medida

métrica é de todo esquecida,
 

porque embora todo povoado

povoa-o o pleno anonimato
 

que dá esse efeito singular:

de um nada prenhe como o mar.

 

(João Cabral de Melo Neto. Museu de tudo e depois, 1988.)


O poema está organizado em versos de



a)
a) oito sílabas poéticas que traduzem a visão de uma poesia de expressão emocional contida.
b)
sete sílabas poéticas que traduzem a visão de uma poesia de equilíbrio entre razão e sentimentalismo.
c)
dez sílabas poéticas que traduzem a visão de uma poesia descaracterizada pela falta de emoção.
d)
doze sílabas poéticas que traduzem a visão de uma poesia que prima pela razão, mas sem abrir mão da emoção.
e)
e) cinco sílabas poéticas que traduzem a visão de uma poesia de expressão sentimental exagerada.
Resolução

a) Correta. Ao fazer a escansão do poema, percebemos que ele possui 8 sílabas poéticas. Para chegar a essa conclusão, é necessário observar que as sílabas poéticas são contadas apenas até a última sílaba tônica e que pode haver a junção de duas ou mais sílabas em uma só, se elas forem pronunciadas dessa maneira. Observe abaixo a escansão dos dois primeiros versos do poema:

Um / ca / na / vial / tem / a ex / ten / são

an / te a / qual / to / do / me / tro é / vão.

Além de o número de sílabas poéticas estar adequadamente indicado na alternativa, também é possível perceber que o poema é contido em termos de expressão emocional, já que o eu-lírico dá pouca ênfase à própria subjetividade.

b) Incorreta. Além de o número de sílabas não estar corretamente indicado (como vimos no comentário da alternativa A, os versos têm 8 sílabas poéticas), há no poema um desequilíbrio em favor da razão e do distanciamento em relação à emoção, não um equilíbrio entre esses dois aspectos.

c) Incorreta. Alguém poderia argumentar que o poema de João Cabral não possui emoção; no entanto, seria equivocada a afirmação de que isso “descaracteriza” a poesia, como se apenas a emoção fosse material para obras poéticas. Além disso, a contagem de sílabas está equivocada nesta alternativa.

d) Incorreta. Novamente, poder-se-ia argumentar que o poema “prima pela razão, mas sem abrir mão da emoção”. No entanto, a contagem de sílabas está incorreta, já que o poema se organiza em versos de 8 sílabas.

e) incorreta: Além de a contagem de sílabas estar muito distante da real, a alternativa se revela incorreta ao afirmar que o poema apresenta uma “expressão sentimental exagerada”, que não está presente no texto.

Questão 26 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Regressiva e Imprópria

O nada que é
 

Um canavial tem a extensão

ante a qual todo metro é vão.
 

Tem o escancarado do mar

que existe para desafiar
 

que números e seus afins

possam prendê-lo nos seus sins.
 

Ante um canavial a medida

métrica é de todo esquecida,
 

porque embora todo povoado

povoa-o o pleno anonimato
 

que dá esse efeito singular:

de um nada prenhe como o mar.

 

(João Cabral de Melo Neto. Museu de tudo e depois, 1988.)


No título do poema – O nada que é –, ocorre a substantivação do pronome nada. Esse processo de formação de palavras também se verifica em:

 



a)
A poesia de João Cabral tem um quê de despoetização.
b)
Poema algum de João Cabral escapa de seu processo rigoroso de composição.
c)
Em Morte e Vida Severina, João Cabral expressa o homem como coisa.
d)
A poética de João Cabral assume traços do Barroco gongórico.
e)
A arquitetura do poema em João Cabral define-lhe o processo de criação.
Resolução

Alternativa A

a) Correta. O processo de substantivação se verifica nesta alternativa e fica evidenciado pela colocação do artigo indefinido antes do pronome “que”, que foi substantivado.

b) Incorreta. O termo “algum” funciona, neste caso, como um pronome indefinido, com sentido de negação, e não como substantivo.

c) Incorreta. Não ocorre a substantivação, pois o termo “coisa” já funciona originalmente como um substantivo.

d) Incorreta. O termo “gongórico”, que significa “próprio do gongorismo, referente ao poeta espanhol Góngora”, funciona como adjetivo, uma vez que se refere ao termo “barroco”, qualificando-o. Não ocorre, portanto, a substantivação.

e) Incorreta. O termo destacado, “lhe”, funciona como pronome oblíquo (referindo-se a “João Cabral”) e, portanto, não ocorre substantivação.

 

Questão 27 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Intertextualidade e Interdiscursividade

Leia os textos enviados a uma revista por dois de seus leitores.

 

Leitor 1: O alto número de óbitos entre as mulheres fez com que os cuidados com a saúde feminina se tornassem mais necessários. Hoje sabemos que estamos expostas a muitos fatores; por isso, conhecer os sintomas do infarto é fundamental.

Leitor 2: Os médicos devem se aprofundar nos estudos relacionados à saúde da mulher. A paciente, por sua vez, não pode deixar de se prevenir. Nesse processo, a informação, os recursos adequados e profissionais capacitados são determinantes para diminuir os infartos.

(Cartas. IstoÉ, 04.09.2013. Adaptado.)

 

A comparação dos textos enviados pelos leitores permite afirmar corretamente que



a)
duas mulheres escrevem à revista para falar da prevenção dos infartos, mais incidentes no sexo feminino.
b)
duas pessoas escrevem à revista para expressar sua indignação com a falta de recursos destinados à saúde da mulher.
c)
dois profissionais da saúde escrevem à revista para reforçar a necessidade da medicina preventiva.
d)
d) duas pessoas escrevem à revista para ressaltar a importância dos cuidados com a saúde da mulher.
e)
dois leitores escrevem à revista para informar a falta de conhecimentos sobre o infarto feminino.
Resolução

a) Incorreta. Não há indicação explícita de que ambas as cartas tenham sido escritas por mulheres; embora a primeira carta use a expressão “Hoje sabemos que estamos expostas a muitos fatores”, indicando ser de autoria de uma mulher, a segunda carta é impessoal e não dá nenhuma pista sobre o gênero de seu autor; também não se afirma em momento algum que os infartos são mais comuns em indivíduos do sexo feminino.

b) Incorreta. Em nenhum dos textos se verifica claramente um tom de indignação, pois não há afirmações agressivas nem acusações; o que os leitores apresentam são análises ponderadas sobre a importância do conhecimento e da prevenção dos infartos.

c) Incorreta. É verdade que ambas as cartas mencionam, diretamente ou não, a prevenção como um fator importante para evitar o infarto. No entanto, não se pode afirmar com certeza que os textos foram escritos por profissionais de saúde.

d) Correta. Ambas as cartas foram escritas por pessoas (não temos muitas informações sobre suas identidades, como a profissão) que falam sobre a importância dos cuidados com a saúde da mulher, como nos trechos “fez com que os cuidados com a saúde feminina se tornassem mais necessários” e “Os médicos devem se aprofundar nos estudos relacionados à saúde da mulher”.

e) Incorreta. Os textos não são essencialmente informativos, embora falem sobre o infarto feminino. Embora possamos inferir que falta informação sobre o assunto, os textos não fazem essa afirmação diretamente e nem trazem dados que supririam essa suposta desinformação.

Questão 28 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Pressupostos e Subentendidos

A sensível

Foi então que ela atravessou uma crise que nada parecia ter a ver com sua vida: uma crise de profunda piedade. A cabeça tão limitada, tão bem penteada, mal podia suportar perdoar tanto. Não podia olhar o rosto de um tenor enquanto este cantava alegre – virava para o lado o rosto magoado, insuportável, por piedade, não suportando a glória do cantor. Na rua de repente comprimia o peito com as mãos enluvadas – assaltada de perdão. Sofria sem recompensa, sem mesmo a simpatia por si própria.

Essa mesma senhora, que sofreu de sensibilidade como de doença, escolheu um domingo em que o marido viajava para procurar a bordadeira. Era mais um passeio que uma necessidade. Isso ela sempre soubera: passear. Como se ainda fosse a menina que passeia na calçada. Sobretudo passeava muito quando “sentia” que o marido a enganava. Assim foi procurar a bordadeira, no domingo de manhã. Desceu uma rua cheia de lama, de galinhas e de crianças nuas – aonde fora se meter! A bordadeira, na casa cheia de filhos com cara de fome, o marido tuberculoso – a bordadeira recusou-se a bordar a toalha porque não gostava de fazer ponto de cruz! Saiu afrontada e perplexa. “Sentia-se” tão suja pelo calor da manhã, e um de seus prazeres era pensar que sempre, desde pequena, fora muito limpa. Em casa almoçou sozinha, deitou-se no quarto meio escurecido, cheia de sentimentos maduros e sem amargura. Oh pelo menos uma vez não “sentia” nada. Senão talvez a perplexidade diante da Liberdade da bordadeira pobre. Senão talvez um sentimento de espera. A liberdade.

(Clarice Lispector. Os melhores contos de Clarice Lispector, 1996.)

 


A narrativa delineia entre as personagens da senhora e da bordadeira uma relação de



a)
animosidade, marcada pela recusa afrontosa da segunda em atender ao pedido emergencial da primeira.
b)
cumplicidade, entendida como ajuda entre duas mulheres cujas vidas mostram-se tão distintas.
c)
sujeição, fortalecida naturalmente pelas condições econômicas da primeira, superiores às da segunda.
d)
incompreensão, decorrente do desejo da primeira de que a segunda trabalhasse num dia de domingo.
e)
oposição, determinada pela superioridade social e econômica da primeira e a liberdade da segunda.
Resolução

a) Incorreta. Não há uma relação de animosidade entre a senhora e a bordadeira. Essa apenas se recusa a atender ao pedido emergencial por não gostar de fazer ponto de cruz.

b) Incorreta. As vidas das duas mulheres são bem distintas, marcadas pelo conflito de classes sociais, como afirma a alternativa. No entanto, não se estabelece uma relação de cumplicidade, na verdade, a bordadeira transmite uma sensação de liberdade que a senhora desconhece.

c) Incorreta. O conto mostra uma discrepância de classe social entre os personagens, mas não é estabelecida uma relação de sujeição entre a senhora e a bordadeira, já que essa parece ser livre em relação aos sentimentos, conflitos e até mesmo a sua situação financeira, dado que se recusa fazer o trabalho de ponto de cruz.

d) Incorreta. A incompreensão entre as personagens não está baseada na prática do trabalho dominical, mas no sentimento de liberdade que envolve uma delas.

e) Correta. O conto mostra claramente uma diferença de classe social entre as personagens, como se observa pela descrição do lugar e da família da bordadeira- “Desceu uma rua cheia de lama, de galinhas e de crianças nuas – aonde fora se meter! A bordadeira, na casa cheia de filhos, com cara de fome, o marido turbeculoso” – Além disso, a crise da senhora é ressaltada quando ela percebe perplexa a liberdade da bordadeira ao recusar o trabalho mesmo precisando do dinheiro - “Oh pelo menos uma vez não ‘sentia’ nada. Senão talvez a perplexidade diante da liberdade da bordadeira pobre.”.

Questão 29 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Pressupostos e Subentendidos Valores semânticos (adjetivo)

A sensível

Foi então que ela atravessou uma crise que nada parecia ter a ver com sua vida: uma crise de profunda piedade. A cabeça tão limitada, tão bem penteada, mal podia suportar perdoar tanto. Não podia olhar o rosto de um tenor enquanto este cantava alegre – virava para o lado o rosto magoado, insuportável, por piedade, não suportando a glória do cantor. Na rua de repente comprimia o peito com as mãos enluvadas – assaltada de perdão. Sofria sem recompensa, sem mesmo a simpatia por si própria.

Essa mesma senhora, que sofreu de sensibilidade como de doença, escolheu um domingo em que o marido viajava para procurar a bordadeira. Era mais um passeio que uma necessidade. Isso ela sempre soubera: passear. Como se ainda fosse a menina que passeia na calçada. Sobretudo passeava muito quando “sentia” que o marido a enganava. Assim foi procurar a bordadeira, no domingo de manhã. Desceu uma rua cheia de lama, de galinhas e de crianças nuas – aonde fora se meter! A bordadeira, na casa cheia de filhos com cara de fome, o marido tuberculoso – a bordadeira recusou-se a bordar a toalha porque não gostava de fazer ponto de cruz! Saiu afrontada e perplexa. “Sentia-se” tão suja pelo calor da manhã, e um de seus prazeres era pensar que sempre, desde pequena, fora muito limpa. Em casa almoçou sozinha, deitou-se no quarto meio escurecido, cheia de sentimentos maduros e sem amargura. Oh pelo menos uma vez não “sentia” nada. Senão talvez a perplexidade diante da Liberdade da bordadeira pobre. Senão talvez um sentimento de espera. A liberdade.

(Clarice Lispector. Os melhores contos de Clarice Lispector, 1996.)

 


O emprego do adjetivo “sensível” como substantivo, no título do texto, revela a intenção de:



a)
priorizar os aspectos relacionados aos sentimentos, como conteúdo temático do conto e expressão do que vive a senhora.
b)
ironizar a ideia de sentimento, então destituído de subjetividades e ambiguidades na expressão da senhora.
c)
dar relevância aos aspectos subjetivos das relações humanas, pondo em sintonia os pontos de vista da senhora e da bordadeira.
d)
d) explorar a ideia de liberdade em uma narrativa em que o efeito de objetividade limita a expressão dos sentimentos da senhora.
e)
e) traduzir a expressão comedida da senhora ante a vida e os sentimentos mais intensos, como na relação com a bordadeira.
Resolução

a) Correta. O adjetivo “sensível’ retoma a temática do conto, a senhora “que sofreu de sensibilidade como de doença”. As sensações vão do muito sentir a não “sentir” nada, demonstrando que essa ausência de sentimento também é uma forma de sentir- “Oh pelo menos uma vez não ‘sentia’ nada (...) senão talvez um sentimento de espera. A Liberdade”. O encontro com a bordadeira expressa como vive a senhora e sua ausência de liberdade em oposição à liberdade da bordadeira pobre que recusa o trabalho de ponto de cruz.

b) Incorreta. O sentimento da senhora é marcado por ambiguidades, o sentir atinge o extremo entre o muito sentir e o não sentir nada, o que é também marcado pela diferença de classe social entre as personagens e a perplexidade da senhora diante da liberdade da bordadeira. Defronte da sensibilidade da senhora não há, do mesmo modo, uma destituição da subjetividade.

c) Incorreta. Não há uma sintonia entre os pontos de vista da senhora e da bordadeira; a senhora sofre de um sentir que a prende e de uma angústia em oposição à liberdade da bordadeira que recusou serviço mesmo precisando do dinheiro.

d) Incorreta: A narrativa não é marcada por um viés objetivo, mas por uma expressão subjetiva dos sentimentos da senhora, os quais se revelam opostos à liberdade da bordadeira.

e) Incorreta. Não há um comedimento na abordagem dos sentimentos da senhora, que se revelam intensos conforme a descrição da personagem diante de algumas situações: imagem do “tenor enquanto este cantava alegre”; angústia ao andar na rua, o que a leva comprimir o peito com as mãos enluvadas; o passeio pela calçada que relembra a infância; e a liberdade da bordadeira que deixa perplexa a senhora.

Questão 30 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Regências

A sensível

Foi então que ela atravessou uma crise que nada parecia ter a ver com sua vida: uma crise de profunda piedade. A cabeça tão limitada, tão bem penteada, mal podia suportar perdoar tanto. Não podia olhar o rosto de um tenor enquanto este cantava alegre – virava para o lado o rosto magoado, insuportável, por piedade, não suportando a glória do cantor. Na rua de repente comprimia o peito com as mãos enluvadas – assaltada de perdão. Sofria sem recompensa, sem mesmo a simpatia por si própria.

Essa mesma senhora, que sofreu de sensibilidade como de doença, escolheu um domingo em que o marido viajava para procurar a bordadeira. Era mais um passeio que uma necessidade. Isso ela sempre soubera: passear. Como se ainda fosse a menina que passeia na calçada. Sobretudo passeava muito quando “sentia” que o marido a enganava. Assim foi procurar a bordadeira, no domingo de manhã. Desceu uma rua cheia de lama, de galinhas e de crianças nuas – aonde fora se meter! A bordadeira, na casa cheia de filhos com cara de fome, o marido tuberculoso – a bordadeira recusou-se a bordar a toalha porque não gostava de fazer ponto de cruz! Saiu afrontada e perplexa. “Sentia-se” tão suja pelo calor da manhã, e um de seus prazeres era pensar que sempre, desde pequena, fora muito limpa. Em casa almoçou sozinha, deitou-se no quarto meio escurecido, cheia de sentimentos maduros e sem amargura. Oh pelo menos uma vez não “sentia” nada. Senão talvez a perplexidade diante da Liberdade da bordadeira pobre. Senão talvez um sentimento de espera. A liberdade.

(Clarice Lispector. Os melhores contos de Clarice Lispector, 1996.)

 


A alternativa em que o enunciado está de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa e coerente com o sentido do texto é:



a)
A senhora gostava muito de passear, embora tivesse ainda a impressão que era menina passeando pela calçada.
b)
Ao descer pela rua cheia de lama, a senhora se perguntava aonde é que estava, confusa no lugar que caminhava.
c)
A senhora, quando se dispôs a ir à bordadeira, esperava que esta não lhe recusasse o trabalho solicitado.
d)
A senhora, pensando na recusa da bordadeira, não sabia se a perdoaria, mas achava melhor esquecer daquilo.
e)
Era comum de que a senhora, distraída com sua sensibilidade, fosse roubada, o que lhe fazia levar as mãos ao peito em sinal de inquietação.
Resolução

a) Incorreta. De acordo com a norma-padrão, está incorreto o trecho “tivesse ainda a impressão que era menina...”, devido à regência do substantivo impressão: de acordo com a norma, seria necessária a preposição de para que o texto estivesse correto: “tivesse ainda a impressão de que era menina...”

b) Incorreta. Nesta alternativa, há dois problemas: o primeiro está no uso da palavra “aonde”, que só poderia ser utilizado para indicar movimento, já que se trata de junção da preposição a e do pronome onde, sendo equivalente a “para onde”. Como, no contexto, a palavra está sendo empregada em relação ao lugar em que a senhora se encontra (“a senhora se perguntava aonde é que estava”), o correto seria usar o pronome onde, reescrevendo o trecho da seguinte maneira: “a senhora se perguntava onde é que estava”. Outro problema está na falta da preposição em, no trecho “confusa no lugar que caminhava”, que deveria ser “confusa no lugar em que caminhava”.

c) Correta. Não há nenhum problema em relação à norma-padrão da língua nesse trecho; além disso, ele representa corretamente o que ocorre no conto, já que, efetivamente, a senhora não contava com a recusa da bordadeira, tanto que, após ter seu pedido negado, “saiu afrontada e perplexa.”

d) Incorreta. Novamente, há aqui um problema de regência. De acordo com a norma-padrão, o verbo esquecer permite dois usos: “esquecer-se de algo” (com uma preposição e um pronome) ou “esquecer algo” (sem preposição nem pronome). No trecho, a expressão utilizada é “esquecer daquilo”, com uma preposição e sem pronome, o que é considerado incorreto.

e) Incorreta. Aqui, o primeiro problema é o trecho “o que lhe fazia levar as mãos ao peito”. O pronome “lhe” é equivalente a “a ela”, o que torna seu uso nesse contexto equivocado, já que o verbo “levar” não pede a preposição “a”. De acordo com a gramática normativa, o correto seria “o que a fazia levar as mãos ao peito”. Além disso, a preposição “de” na construção “Era comum de que a senhora...” está equivocada, pois o adjetivo não rege preposição. O correto seria “Era comum que a senhora...”.