“A instituição das corveias variava de acordo com os domínios senhoriais, e, no interior de cada um, de acordo com o estatuto jurídico dos camponeses, ou de seus mansos [parcelas de terra].”
Marc Bloch. Os caracteres originais da França rural, 1952.
Esta frase sobre o feudalismo trata
a) |
da vassalagem. |
b) |
do colonato. |
c) |
do comitatus. |
d) |
da servidão. |
e) |
da guilda. |
A questão trata da corvéia, obrigação típica dos servos no período medieval, mais precisamente no feudalismo. A corvéia, a talha e as banalidades são as obrigações mais comuns de um servo no regime feudal.
Além disso, poderiam ser eliminadas as demais alternativas:
a) Vassalagem é uma relação entre nobres – suserania e vassalagem – na qual um nobre (o suserano) doa terras para outro nobre (o vassalo), o qual deve, entre outras coisas, proteger o respectivo doador. Foi um mecanismo de proteção no feudalismo diante da ausência de poder central.
b) Colonato é uma instituição romana que pode ser considerada a base da servidão feudal. Durante a crise romana do século III, por ordem dos imperadores, ocorreu transferência de mão de obra da cidade para o campo (o colono).
c) Comitatus é uma instituição germânica – trata-se da fidelidade dos germânicos em relação a um nobre guerreiro.
e) Guildas são associações de mercadores típicas da Baixa Idade Média. Desenvolvem-se junto dos processos conhecidos como renascimento comercial e urbano.
Os primeiros jesuítas chegaram à Bahia com o governador-geral Tomé de Sousa, em 1549, e em pouco tempo se espalharam por outras regiões da colônia, permanecendo até sua expulsão, pelo governo de Portugal, em 1759. Sobre as ações dos jesuítas nesse período, é correto afirmar que
a) |
criaram escolas de arte que foram responsáveis pelo desenvolvimento do barroco mineiro. |
b) |
defenderam os princípios humanistas e lutaram pelo reconhecimento dos direitos civis dos nativos. |
c) |
foram responsáveis pela educação dos filhos dos colonos, por meio da criação de colégios secundários e escolas de “ler e escrever”. |
d) |
causaram constantes atritos com os colonos por defenderem, esses religiosos, a preservação das culturas indígenas. |
e) |
formularam acordos políticos e diplomáticos que garantiram a incorporação da região amazônica ao domínio português. |
A criação da Ordem da Companhia de Jesus está relacionada ao contexto da Contra Reforma católica, que adotou medidas para combater o avanço do protestantismo, e também dos ideais humanistas ligados ao Renascimento. Os jesuítas passaram a deter o monopólio da educação nos territórios dominados por governantes católicos, e assim a Igreja pretendia, na medida em que introduzia as letras aos indivíduos, automaticamente ir catequizando-os para consolidar a religião católica nessas regiões. No Brasil, colônia portuguesa, além da educação dos filhos dos colonos, os jesuítas tiveram um papel fundamental na catequização dos indígenas.
Nesse trato com relação aos indígenas, a atuação dos jesuítas pode ser analisada por dois aspectos: Na tentativa de catequizar os indígenas, os jesuítas lutavam para tentar evitar que colonos os explorassem como mão de obra. Entretanto, juntamente com o catolicismo, vários outros valores europeus eram transmitidos aos índios, o que contribuiu muito para que eles perdessem muitas de suas tradições culturais.
“E o pior é que a maior parte do ouro que se tira das minas passa em pó e em moeda para os reinos estranhos e a menor quantidade é a que fica em Portugal e nas cidades do Brasil...”
João Antonil. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas, 1711.
Esta frase indica que as riquezas minerais da colônia
a) |
produziram ruptura nas relações entre Brasil e Portugal. |
b) |
foram utilizadas, em grande parte, para o cumprimento do Tratado de Methuen entre Portugal e Inglaterra. |
c) |
prestaram-se, exclusivamente, aos interesses mercantilistas da França, da Inglaterra e da Alemanha. |
d) |
foram desviadas, majoritariamente, para a Europa por meio do contrabando na região do rio da Prata. |
e) |
possibilitaram os acordos com a Holanda que asseguraram a importação de escravos africanos. |
O Tratado de Methuen, mais conhecido como “Tratado de Panos e Vinhos”, foi firmado entre Portugal e Inglaterra no ano de 1703. Em termos atuais, poderíamos dizer que se tratava de uma área de livre comércio para tecidos (produzidos na Inglaterra) e vinhos (produzidos em Portugal). Como a demanda por tecidos era superior à de vinhos, tal acordo gerou um déficit na balança comercial portuguesa. Diante disso, boa parte do ouro e dos diamantes extraídos do Brasil, colônia portuguesa, foi parar em mãos inglesas, para que Portugal saldasse essa dívida.
Carlos III, rei da Espanha entre 1759 e 1788, implementou profundas reformas – conhecidas como bourbônicas – que tiveram grandes repercussões sobre as colônias espanholas na América. Entre elas,
a) |
o estabelecimento de medidas econômicas e políticas, para maior controle da Coroa sobre as colônias. |
b) |
o redirecionamento da economia colonial, para valorizar a indústria em detrimento da agricultura de exportação. |
c) |
a promulgação de medidas políticas, levando à separação entre a Igreja Católica e a Coroa. |
d) |
a reestruturação das tradicionais comunidades indígenas, visando instituir a propriedade privada. |
e) |
a decretação de medidas excepcionais, permitindo a escravização dos africanos e, também, a dos indígenas. |
Carlos III da Espanha foi um monarca representante do Despotismo Esclarecido. Déspotas esclarecidos foram monarcas absolutistas que adotaram em seus respectivos governos algumas medidas com caráter iluminista, como a racionalização da administração pública. Dentro disso podemos citar como exemplo a tentativa de manter o equilíbrio orçamentário (por isso a intensificação da exploração colonial) e a expulsão dos jesuítas dos territórios espanhóis, pois esses, diante da forte influência que tinham sobre a sociedade, foram acusados de criarem um “estado paralelo”.
Na América, tanto portuguesa quanto espanhola, predominou a agro exportação durante todo o período colonial e mesmo após a independência. A industrialização dos países da América ocorreu somente em meados do século XX, com os regimes populistas, portanto a alternativa B está errada.
Dentre as medidas iluministas adotadas por Carlos III destaca-se o Decreto Real de 27 de Fevereiro de 1767, o qual expulsa os jesuítas da Espanha e de suas respectivas colônias, confiscando todos os seus domínios e possessões. Deve-se destacar que, mesmo com a expulsão dos jesuítas dos domínios espanhóis as relações entre Igreja e Coroa foram mantidas, o que inviabiliza a alternativa C.
Os indígenas conquistados por espanhós sofreram um verdadeiro genocídio durante a conquista. Armas de fogo, doenças e dominação cultural dos indígenas foram fatores fundamentais para a conquista dos espanhóis sobre as comunidades nativas. Posteriormente ao processo de conquista os indígenas foram, em sua maioria catequizados e colocados para trabalhar no regime de mita e encomienda, o que significou na prática a dominação de seus territórios (aldeias) pelos espanhóis. No século XVIII, nenhuma das medidas de Carlos III, bem como de qualquer outro monarca, visou reestruturar as comunidades indígenas, o que torna a alternativa D errada.
Durante todo o período colonial os espanhóis escravizavam africanos nas Antilhas, os quais trabalhavam nas plantations de cana de açucar. Os índios não foram escravizados por espanhós. Na realidade trabalhavam de forma compulsória através dos regimes conhecidos como mita e ecomienda, formas de trabalho que continuaram instituidas na América, mesmo após as reformas de Carlos III. Como já dito acima, a escravidão de negros africanos foi recorrente desde o sec. XVI nas colônias espanholas, assim não pode ser assinalada a alternativa E.
“Eis que uma revolução, proclamando um governo absolutamente independente da sujeição à corte do Rio de Janeiro, rebentou em Pernambuco, em março de 1817. É um assunto para o nosso ânimo tão pouco simpático que, se nos fora permitido [colocar] sobre ele um véu, o deixaríamos fora do quadro que nos propusemos tratar.”
F. A. Varnhagen. História geral do Brasil, 1854.
O texto trata da Revolução pernambucana de 1817. Com relação a esse acontecimento é possível afirmar que os insurgentes
a) |
pretendiam a separação de Pernambuco do restante do reino, impondo a expulsão dos portugueses desse território. |
b) |
contaram com a ativa participação de homens negros, pondo em risco a manutenção da escravidão na região. |
c) |
dominaram Pernambuco e o norte da colônia, decretando o fim dos privilégios da Companhia do Grão-Pará e Maranhão. |
d) |
propuseram a independência e a república, congregando proprietários, comerciantes e pessoas das camadas populares. |
e) |
implantaram um governo de terror, ameaçando o direito dos pequenos proprietários à livre exploração da terra. |
A disseminação da ideologia liberal iluminista, que criticava as práticas colonialistas, o descontentamento das camadas urbanas do Recife, devido à decadência econômica da região, e a elevação dos impostos, ocorrida para a manutenção da corte instalada no Brasil desde 1808, foram as principais causas da Revolução Pernambucana de 1817, que pretendia a independência da região e a instalação de um regime republicano. O movimento ganhou força quando os grandes proprietários da região aderiam a ele, pois tiveram a garantia de que o seu sucesso não alteraria o regime escravista predominante naquela região.
No Ocidente, o período entre 1848 e 1875 “é primariamente o do maciço avanço da economia do capitalismo industrial, em escala mundial, da ordem social que o representa, das ideias e credos que pareciam legitimá-lo e ratificá-lo”.
E. J. Hobsbawm. A era do capital 1848-1875.
A “ordem social” e as “ideias e credos” a que se refere o autor caracterizam-se, respectivamente, como
a) |
aristocrática e conservadoras. |
b) |
socialista e anarquistas. |
c) |
popular e democráticas. |
d) |
tradicional e positivistas. |
e) |
burguesa e liberais. |
A passagem do historiador Eric Hobsbawm fala sobre o avanço da economia industrial na segunda metade do século XIX, quando tem início a Segunda Revolução Industrial (a partir de 1860). A ordem social que possui o capital industrial e que, portanto, o representa, é a burguesa.
As ideias e credos da burguesia naquele período são as do liberalismo político e econômico (liberais). Através das propostas do liberalismo, a burguesia buscava criar mecanismos que permitissem maior desenvolvimento e expansão industrial, e foi a partir de tais crenças e ideias que ocorreu um maciço avanço da economia da capitalista, conforme é destacado no texto.
No campo político (no mesmo período), percebe-se a instalação de governos liberais na Europa, sendo definitivamente sepultado o Antigo Regime europeu. O ano de 1848 poderia ser bastante elucidativo para responder a questão, pois é o momento em que ocorre a chamada Primavera dos Povos, quando uma onda liberal “varre” a Europa derrubando os regimes anti liberais ou absolutistas.
No “Manifesto Antropófago”, lançado em São Paulo, em 1928, lê-se: “Queremos a Revolução Caraíba (...). A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem (...). Sem nós, a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem.”
Essas passagens expressam a
a) |
defesa de concepções artísticas do impressionismo. |
b) |
crítica aos princípios da Revolução Francesa. |
c) |
valorização da cultura nacional. |
d) |
adesão à ideologia socialista. |
e) |
afinidade com a cultura norte-americana. |
O movimento modernista no Brasil surge basicamente com dois grandes desafios: tratar de temas característicos da sociedade brasileira e incrementar as artes com aspectos da cultura nacional, até então marcada exclusivamente pela imitação de padrões europeus. O “Manifesto Antropófago” foi um documento muito simbólico do significado do modernismo no Brasil, pois propunha a “digestão” dos padrões artísticos europeus, a exclusão daquilo que não lhes interessava e o aproveitamento daquilo dito como positivo, além da adição dos elementos nacionais.
A partir da redemocratização do Brasil (1985), é possível observar mudanças econômicas significativas no país. Entre elas, a
a) |
exclusão de produtos agrícolas do rol das principais exportações brasileiras. |
b) |
privatização de empresas estatais em diversos setores como os de comunicação e de mineração. |
c) |
ampliação das tarifas alfandegárias de importação, protegendo a indústria nacional. |
d) |
implementação da reforma agrária sem pagamento de indenização aos proprietários. |
e) |
continuidade do comércio internacional voltado prioritariamente aos mercados africanos e asiáticos. |
A redemocratização do Brasil a partir de 1985 foi marcada por rupturas e continuidades. Podemos citar como exemplo de continuidades a manutenção da extrema desigualdade social, da concentração de terras e da forte influência econômica dos EUA e da Europa Ocidental sobre nossa economia. Já em termos de rupturas, além das mudanças políticas, o Brasil vai procurar se inserir no contexto da economia globalizada e neoliberal, principalmente a partir do Governo Collor, que promoveu a abertura da economia e deu início às privatizações. Tal processo foi se consolidando ao longo dos governos seguintes (Itamar, FHC e Lula), com destaque para as privatizações do Sistema Telebrás (“teles”), no setor de comunicações, e da Companhia Vale do Rio Doce, no setor de mineração.
Cartaz de 1994 da campanha de Nelson Mandela à presidência da África do Sul.
Essa campanha representou a
a) |
luta dos sul-africanos contra o regime do apartheid então vigente. |
b) |
conciliação entre os segregacionistas e os partidários da democracia racial. |
c) |
proposta de ampliação da luta anti-apartheid no continente africano. |
d) |
contemporização diante dos atos de violência contra os direitos humanos. |
e) |
superação dos preconceitos raciais por parte dos africânderes. |
a) Incorreta. No final dos anos 80, mais precisamente na transição de 1989 para 1990 o presidente Frederik de Klerk da início ao fim do apartheid. O presidente fica conhecido por transformar o seu país numa democracia, permitindo à maioria negra direitos civis, iguais aos dos membros de qualquer outra etnia.
Até que em 1990 foi declarado o fim do regime de apartheid por de Klerk. Entretanto, como qualquer mudança dessa magnitude, o abandono de certos comportamentos foi gradual. Pode-se dizer que as práticas do apartheid somente foram eliminadas com alterações constitucionais promovidas por Mandela após 1995. Entretanto até hoje ainda existem resquicios do regime, que oficialmente deixou de ser vigente em 1990. Vale lembrar que o simples fato de Mandela ter tido a possibilidade de concorrer às eleições já significa o fim do regime.
b) Incorreta. Somente a partir da eleição de Mandela é que teve início a conciliação entre segregacionistas e os chamados partidários da democracia racial. Uma das primeiras ações de Mandela foi criar a Comissão Verdade e Reconciliação (em 1995 – Lei da Promoção da Unidade Nacional e da Reconciliação), que tinha como propósito promover a unidade e reconciliação nacional. Dentre as medidas da Comissão destaca-se: defesa dos direitos humanos e concessão de anistia aos antigos perseguidos políticos. A alternativa está errada pois, em 1994, ano da eleição de Mandela, a conciliação ainda não era efetiva.
c) Incorreta. Apesar do racismo e da discriminação em todo o continente africano, as leis do apartheid são típicas da África do Sul e consistem, na realidade em uma política de Estado na qual os brancos (descendentes dos colonizadores), detinham o poder e promoviam leis segregacionistas. Assim a alternativa não pode ser considerada, pois fala em apartheid no continente africano.
d) Incorreta. Conforme citado na justificativa do item b, o governo de Mandela lutou para que os direitos humanos passassem a ser respeitados na África do Sul, o que torna a alternativa incorreta.
e) Incorreta. Os africânderes, também conhecidos como bôeres são descendentes de colonos holandeses, franceses e alemães (portanto brancos). Dominaram a África do Sul até o final do XIX e instituíram uma série de leis segregacionistas, embora tais leis ainda não oficializassem o apartheid, somente consolidado pelos ingleses em 1948. A alternativa está errada porque fala em superação de preconceitos por africânderes, o que não é realidade.
Dessa forma, não há alternativa correta e propomos a anulação da questão.
NOTA: Vale comentar que o gabarito sugerido pela banca (alternativa A) pode não ter sido a escolha dos candidatos mais bem preparados. Como a afirmação da alternativa A se relaciona com o “regime do apartheid então vigente”, o candidato poderia eliminar essa alternativa pelo conhecimento do fim do regime ter sido anunciado no mandato do presidente de Klerk. Nesse caso, os candidatos iriam buscar outras alternativas e, como todas estão incorretas, não teria opção a não ser a escolha daquela que “melhor se encaixa”. Dessa forma, é possível chegar tanto na alternativa A (levando em consideração que apesar de não vigente, as práticas do regime ainda existiam) quanto a alternativa B (considerando que, como a eleição de Mandela iniciou o processo de conciliação entre os segregacionistas e os partidários da democracia racial, a campanha foi o primeiro passo para essa conciliação).
Belo Horizonte, 28 de julho de 1942.
Meu caro Mário,
Estou te escrevendo rapidamente, se bem que haja muitíssima coisa que eu quero te falar (a respeito da Conferência, que acabei de ler agora). Vem-me uma vontade imensa de desabafar com você tudo o que ela me fez sentir. Mas é longo, não tenho o direito de tomar seu tempo e te chatear.
Fernando Sabino.
Neste trecho de uma carta de Fernando Sabino a Mário de Andrade, o emprego de linguagem informal é bem evidente em
a) |
“se bem que haja”. |
b) |
“que acabei de ler agora”. |
c) |
“Vem-me uma vontade”. |
d) |
“tudo o que ela me fez sentir”. |
e) |
“tomar seu tempo e te chatear”. |
A linguagem informal, por vezes, não segue o que rege a gramática normativa. A única alternativa em que ocorre tal fenômeno é a E, cujo desvio é a falta da uniformidade de tratamento; a mistura das pessoas do discurso. O interlocutor é, ao mesmo tempo, tratado por você (o que se evidencia pelo pronome possessivo seu) e por tu (o que se evidencia pelo pronome oblíquo te).