Todo o barbeiro é tagarela, e principalmentequando tem pouco que fazer; começou portanto a puxarconversa com o freguês. Foi a sua salvação e fortuna.
O navio a que o marujo pertencia viajava para aCosta e ocupava-se no comércio de negros; era um doscombóis que traziam fornecimento para o Valongo, eestava pronto a largar.
— Ó mestre! disse o marujo no meio da conversa,você também não é sangrador?
— Sim, eu também sangro...
— Pois olhe, você estava bem bom, se quisesse irconosco... para curar a gente a bordo; morre-se ali queé uma praga.
— Homem, eu da cirurgia não entendo muito...
— Pois já não disse que sabe também sangrar?
— Sim...
— Então já sabe até demais.
No dia seguinte saiu o nosso homem pela barrafora: a fortuna tinha-lhe dado o meio, cumpria sabê-loaproveitar; de oficial de barbeiro dava um salto mortal amédico de navio negreiro; restava unicamente saberfazer render a nova posição. Isso ficou por sua conta.
Por um feliz acaso logo nos primeiros dias deviagem adoeceram dois marinheiros; chamou-se omédico; ele fez tudo o que sabia... sangrou os doentes,e em pouco tempo estavam bons, perfeitos. Com istoganhou imensa reputação, e começou a ser estimado.
Chegaram com feliz viagem ao seu destino;tomaram o seu carregamento de gente, e voltaram parao Rio. Graças à lanceta do nosso homem, nem um sónegro morreu, o que muito contribuiu para aumentar-lhea sólida reputação de entendedor do riscado.
Manuel Antônio de Almeida,
Memórias de um sargento de milícias.
Para expressar um fato que seria consequência certa de outro, pode-se usar o pretérito imperfeito do indicativo em lugar do futuro do pretérito, como ocorre na seguinte frase:
a) |
“era um dos combóis que traziam fornecimento para o Valongo”. |
b) |
“você estava bem bom, se quisesse ir conosco”. |
c) |
“Pois já não disse que sabe também sangrar?”. |
d) |
“de oficial de barbeiro dava um salto mortal a médico de navio negreiro”.
|
e) |
“logo nos primeiros dias de viagem adoeceram dois marinheiros”. |
O enunciado da questão solicita que o candidato encontre duas condições: a primeira uma relação de causa/consequência (fato que seria consequência certa de outra); a segunda condição é reconhecer o uso do pretérito imperfeito do indicativo no lugar do futuro do pretérito.
a) Incorreta. O verbo traziam está no pretérito imperfeito e substituiria adequadamente o futuro do pretérito (trariam). No entanto, não há relação de causa/consequência, já que a oração não é adverbial, mas adjetiva, como se percebe pelo uso do pronome relativo que.
b) Correta. Aqui as duas condições concorrem. A primeira oração (Você estava bem bom) é consequência certa de (Se quisesse ir conosco). O verbo estava está no pretérito imperfeito e substitui adequadamente o uso do futuro do pretérito estaria: Você estaria bem bom, se quisesse ir conosco.
c) Incorreta. Os verbos estão respectivamente no pretérito perfeito e no presente do indicativo. E a oração subordinada é de tipo substantiva.
d) Incorreta. O verbo dava está no pretérito imperfeito e substituiria adequadamente o futuro do pretérito (dariam). No entanto, não há relação de causa/consequência.
e) Incorreta. Não se trata de período composto e o verbo está no pretérito perfeito do indicativo.
Todo o barbeiro é tagarela, e principalmente quando tem pouco que fazer; começou portanto a puxar conversa com o freguês. Foi a sua salvação e fortuna.
O navio a que o marujo pertencia viajava para a Costa e ocupava-se no comércio de negros; era um dos combóis que traziam fornecimento para o Valongo, e estava pronto a largar.
— Ó mestre! disse o marujo no meio da conversa, você também não é sangrador?
— Sim, eu também sangro...
— Pois olhe, você estava bem bom, se quisesse ir conosco... para curar a gente a bordo; morre-se ali que é uma praga.
— Homem, eu da cirurgia não entendo muito...
— Pois já não disse que sabe também sangrar?
— Sim...
— Então já sabe até demais.
No dia seguinte saiu o nosso homem pela barra fora: a fortuna tinha-lhe dado o meio, cumpria sabê-lo aproveitar; de oficial de barbeiro dava um salto mortal a médico de navio negreiro; restava unicamente saber fazer render a nova posição. Isso ficou por sua conta.
Por um feliz acaso logo nos primeiros dias de viagem adoeceram dois marinheiros; chamou-se o médico; ele fez tudo o que sabia... sangrou os doentes, e em pouco tempo estavam bons, perfeitos. Com isto ganhou imensa reputação, e começou a ser estimado.
Chegaram com feliz viagem ao seu destino; tomaram o seu carregamento de gente, e voltaram para o Rio. Graças à lanceta do nosso homem, nem um só negro morreu, o que muito contribuiu para aumentar-lhe sólida reputação de entendedor do riscado.
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
Neste trecho, em que narra uma cena relacionada ao tráfico de escravos, o narrador não emite julgamento direto sobre essa prática. Ao adotar tal procedimento, o narrador
a) |
revela-se cúmplice do mercado negreiro, pois fica subentendido que o considera justo e irrepreensível. |
b) |
antecipa os métodos do Realismo-Naturalismo, o qual, em nome da objetividade, também abolirá os julgamentos de ordem social, política e moral. |
c) |
prefigura a poesia abolicionista de Castro Alves, que irá empregá-lo para melhor expor à execração pública o horror da escravidão. |
d) |
contribui para que se constitua a atmosfera de ausência de culpa que caracteriza a obra. |
e) |
mostra-se consciente de que a responsabilidade pelo comércio de escravos cabia, principalmente, aos próprios africanos, e não ao tráfico negreiro. |
a) Incorreta. Não há elemento textual que permita inferir posicionamento ideológico do narrador acerca da escravidão. Nem foi esse seu objetivo.
b) Incorreta. Ao contrário do que foi afirmado nesta alternativa, os julgamentos de ordem social (sobretudo, os de base política e moral) são recorrentes nas obras da estética realista.
c) Incorreta. Ao contrário do que faz o narrador de Memórias de um sargento de milícias, o eu-poemático na poesia de Castro Alves emite juízos claros e condenatórios acerca da escravidão.
d) Correta. De fato, a ausência de julgamento direto (por parte do narrador) não se restringe a esta cena nem a esta temática. Na verdade, configura-se como aspecto marcante deste narrador.
e) Incorreta. Além de não focalizar a questão da responsabilidade ‘pelo comércio de escravos’, o narrador se mostra mais irônico do que consciente.
Assim como faz o barbeiro, nesse trecho de Memórias de um sargento de milícias, também a personagem José Dias, de Dom Casmurro, irá se passar por médico (homeopata), para obter meios de subsistência. Essa correlação indica que
I. estamos diante de uma linha de continuidade temática entre o romance de Manuel Antônio de Almeida e o romance machadiano da maturidade.
II. agregados transgrediam com bastante desenvoltura princípios morais básicos, razão pela qual eram proibidos de conviver com a rígida família patriarcal do Império.
III. os protagonistas desses romances decalcam um mesmo modelo literário: o do pícaro, herói do romance picaresco espanhol.
Está correto o que se afirma em
a) |
I, apenas. |
b) |
II, apenas. |
c) |
I e II, apenas. |
d) |
II e III, apenas. |
e) |
I, II e III. |
I. Verdadeira. Muitos elementos estilísticos em comum possibilitam perceber a influência que a obra de M. A. de Almeida exerce sobre a de Machado de Assis. E, no caso mais específico, a ‘continuidade temática’ se refere ao que poderíamos considerar uma impostura/embuste por parte de um subalterno com o fim de alcançar certo benefício.
II. Falsa. A presença de um ou mais agregados era recorrente na família patriarcal brasileira dos tempos do império. Além disso, a hipocrisia era um aspecto mais definidor no comportamento da família patriarcal do que qualquer rigidez moral. A propósito, a origem de alguns agregados, por vezes, estava relacionada a transgressões morais de algum membro da família patriarcal.
III. Falsa. Embora alguns estudiosos (a exemplo do que faz Mário de Andrade) aproximem Leonardo (o protagonista das Memórias de um sargento de milícias) do pícaro espanhol, a associação entre este e Bento de Albuquerque Santiago (protagonista de Dom Casmurro) seria insustentável. O pícaro é um pobre diabo a quem cabe (sobre-)viver de trambiques e como um andarilho malquisto enquanto que Bento é um proprietário ensimesmado que escolhe a clausura.
A linguagem de cunho popular que está presente tanto na fala das personagens quanto no discurso do narrador do romance de Manuel Antônio de Almeida, está mais bem exemplificada em:
a) |
“quando tem pouco que fazer”; “cumpria sabê-lo aproveitar”.
|
b) |
“Foi a sua salvação”; “a que o marujo pertencia”.
|
c) |
“saber fazer render a nova posição”; “Chegaram com feliz viagem ao seu destino”.
|
d) |
“puxar conversa”; “entendedor do riscado”.
|
e) |
“adoeceram dois marinheiros”; “sólida reputação”. |
a) Incorreta. A primeira sentença tanto é usada em variantes populares quanto em variantes cultas. A segunda traz a expressão “cumpria sabê-lo”, sendo o uso do pronome oblíquo “lo” considerado culto. Popularmente teríamos “cumpria saber aproveitar ele”.
b) Incorreta. Na primeira sentença uso de “sua” está adequado, pois se refere à salvação do barbeiro. Na segunda, o pronome “a que” está adequado às regras de regência da Norma Culta, já que retoma Navio, que sendo o objeto indireto do verbo “pertencer”: O marujo pertencia ao navio.
c) Incorreta. A expressão fazer render pode ser considerada de uso popular, no entanto “Chegar com” é um uso considerado formal, utilizado, sobretudo em contextos náuticos.
d) Correta. A expressão “puxar conversa” é de uso popular corrente. Sendo considerada uma expressão estabilizada pelo uso no sentido de “Iniciar um diálogo, uma conversa”. Já “entendedor do riscado” não é de uso corrente, mas no contexto pode ser considerada uma metáfora de caráter popular, porque riscado aqui se refere às cirurgias feitas pelo barbeiro, que se assemelham a um riscado, ou corte na pele.
e) Incorreta. Na primeira sentença, o uso popular corresponderia a “adoeceu dois marinheiros”, sendo esta uma concordância muito comum na modalidade oral popular da Língua Portuguesa, ocorrendo comumente com a antecipação do verbo ao sujeito. Na segunda sentença, tanto “sólida” quanto, “reputação” correspondem a palavras consideradas formais e não populares.
Considere a seguinte afirmação: Ambas as obras criticam a sociedade, mas apenas a segunda milita pela subversão da hierarquia social nela representada.
Observada a sequência, essa afirmação aplica-se a
a) |
A cidade e as serras e Capitães da areia. |
b) |
Vidas secas e Memórias de um sargento de milícias. |
c) |
O cortiço e Iracema. |
d) |
Auto da barca do inferno e A cidade e as serras. |
e) |
Iracema e Memórias de um sargento de milícias. |
a) Correta. Embora em A Cidade e as Serras (de Eça de Queirós), a criticidade não seja o aspecto predominante, ela está presente. Sobretudo no modo como o autor descreveu as precárias condições em que viviam alguns dos trabalhadores rurais nas propriedades de Jacinto (em Tormes). Além disso, a surpresa de Jacinto ao entrar em contato com tal realidade (ou seja, o choque de realidade vivenciado por ele) pode ser interpretado como uma ironia do autor em relação à alienação da elite em relação ao sofrimento dos pobres. No entanto, é na obra Capitães da Areia, composta pelo comunista Jorge Amado, e publicada no mesmo ano em que se inicia no Brasil o Estado Novo, que verificamos claramente uma ‘subversão da hierarquia social’. Sobretudo, no modo como são descritos os personagens (historicamente embasados) Querido de Deus e Lampião; e os comportamentos dos personagens Pedro Bala e Pe José Pedro. Ambos desobedecem consciente e intencionalmente regras impostas por instituições ou por pessoas com maior prestígio ou poder de influência. A exemplo do que ocorre na cena em que Pedro Bala se recusa a enviar Almiro para o lazareto e que Pe José Pedro concorda em desrespeitar a lei (segundo à qual seria necessário denunciar os variolosos).
b) Incorreta. Pois, embora oprimido e injustiçado, Fabiano segue respeitando as leis. Uma frase proferida por ele no capítulo 11 (entitulado Soldado Amarelo) é muito emblemática: Governo é governo. Tal frase marca a decisão tomada por Fabiano de informar ao soldado amarelo o caminho para a cidade em vez de matá-lo na caatinga (conforme havia cogitado na ocasião em que fora vitima de violência policial e de uso abusivo da força). Em relação à obra Memórias de um sargento de milícias, não se pode dizer que contenha incentivo à desobediência civil. Conforme muito comentado por estudiosos, há em tal obra, certa ausência de julgamento. Portanto, não há militância pró nem contra subversão de hierarquia.
c) Incorreta. Pois, embora O Cortiço apresente criticidade social (sobretudo no que tange à especulação imobiliária e ao arrivismo); o romance Iracema, do romântico José de Alencar está mais empenhado na composição de um retrato idealizado da formação do Ceará (e por metonímia, do Brasil) do que em criticar a sociedade.
d) Incorreta. Embora se possa dizer que Gil Vicente conceba sua obra com base no ‘riso moralizante’ (portanto, se valha da criticidade); conforme já comentado na alternativa (a), Eça de Queirós não incentiva subversão social na obra A Cidade e as Serras.
e) Incorreta. Conforme comentado na alternativa (c), Alencar está mais empenhado em elogiar do que em criticar; Manuel Antonio de Almeida constrói um texto irônico. A criticidade que o leitor eventualmente identifique decorre mais do aspecto irônico do que de uma programa estético. Além disso, conforme supracitado, o narrador construído por Manuel Antonio de Almeida não se mostra propositivo, engajado ou militante. Apenas despojado e irônico.
Leia o trecho de Machado de Assis sobre Iracema, de José de Alencar, e responda ao que se pede.
“....... é o ciúme e o valor marcial; ....... a austera sabedoria dos anos; Iracema o amor. No meio destes caracteres distintos e animados, a amizade é simbolizada em ....... . Entre os indígenas a amizade não era este sentimento, que à força de civilizar-se, tornou-se raro; nascia da simpatia das almas, avivava-se com o perigo, repousava na abnegação recíproca; ....... e ....... são os dois amigos da lenda, votados à mútua estima e ao mútuo sacrifício”.
Machado de Assis, Crítica.
No trecho, os espaços pontilhados serão corretamente preenchidos, respectivamente, pelos nomes das seguintes personagens de Iracema:
a) |
Caubi, Jacaúna, Araquém, Araquém, Martim. |
b) |
Martim, Irapuã, Poti, Caubi, Martim. |
c) |
Poti, Araquém, Japi, Martim, Japi. |
d) |
Araquém, Caubi, Irapuã, Irapuã, Poti. |
e) |
Irapuã, Araquém, Poti, Poti, Martim. |
No romance Iracema, Irapuã, guerreiro tabajara apaixonado por Iracema, representa o valor marcial (da guerra) e o ciúme; Araquém, o velho pajé e pai de Iracema, representa a sabedoria dos anos; Poti, o índio potiguara, e Martim, o guerreiro branco (batizado por Poti como Coatiabo) representam a amizade sincera, que ultrapassa fronteiras culturais.
A questão racial parece um desafio do presente, mas trata-se de algo que existe desde há muito tempo. Modifica-se ao acaso das situações, das formas de sociabilidade e dos jogos das forças sociais, mas reitera-se continuamente, modificada, mas persistente. Esse é o enigma com o qual se defrontam uns e outros, intolerantes e tolerantes, discriminados e preconceituosos, segregados e arrogantes, subordinados e dominantes, em todo o mundo. Mais do que tudo isso, a questão racial revela, de forma particularmente evidente, nuançada e estridente, como funciona a fábrica da sociedade, compreendendo identidade e alteridade, diversidade e desigualdade, cooperação e hierarquização, dominação e alienação.
Octavio Ianni. Dialética das relações sociais. Estudos avançados, n. 50, 2004.
Segundo o texto, a questão racial configura-se como “enigma”, porque:
a) |
é presa de acirrados antagonismos sociais. |
b) |
tem origem no preconceito, que é de natureza irracional. |
c) |
encobre os interesses de determinados estratos sociais. |
d) |
parece ser herança histórica, mas surge na contemporaneidade. |
e) |
muda sem cessar, sem que, por isso, seja superada. |
a) Incorreta. A questão racial ser considerada presa de antagonismos sociais, pode ser entendida como se ela estivesse subjugada/ dominada/determinada por antagonismos sociais. O texto não resume jogo de forças sociais (as forças das relações sociais, incluindo as antagônicas) a antagonismos sociais.
b) Incorreta. Não se fala sobre a origem do preconceito no texto.
c) Incorreta. O texto não menciona interesses de estratos sociais.
d) Incorreta. Esta alternativa contradiz o texto, pois a sentença inicial diz que a questão racial “existe desde há muito tempo”.
e) Correta. No trecho a seguir esta alternativa fica evidente: “reitera-se continuamente, modificada, mas persistente”. Ou seja, muda constantemente, mas não é superada, pois persiste.
A questão racial parece um desafio do presente, mas trata-se de algo que existe desde há muito tempo. Modifica-se ao acaso das situações, das formas de sociabilidade e dos jogos das forças sociais, mas reitera-se continuamente, modificada, mas persistente. Esse é o enigma com o qual se defrontam uns e outros, intolerantes e tolerantes, discriminados e preconceituosos, segregados e arrogantes, subordinados e dominantes, em todo o mundo. Mais do que tudo isso, a questão racial revela, de forma particularmente evidente, nuançada e estridente, como funciona a fábrica da sociedade, compreendendo identidade e alteridade, diversidade e desigualdade, cooperação e hierarquização, dominação e alienação.
Octavio Ianni. Dialética das relações sociais. Estudos avançados, n. 50, 2004.
As palavras do texto cujos prefixos traduzem, respectivamente, ideia de anterioridade e contiguidade são:
a) |
“persistente” e “alteridade”.
|
b) |
“discriminados” e “hierarquização”.
|
c) |
“preconceituosos” e “cooperação”.
|
d) |
“subordinados” e “diversidade”.
|
e) |
“identidade” e “segregados”.
|
a) Incorreta. Persistente não é uma palavra formada por meio de prefixação, sendo o morfema persist- seu radical. Alteridade também não é formada por processo de prefixação, sendo alter-, seu radical.
b) Incorreta. Em discriminados, o prefixo latino dis- representa a ideia de separação e não anterioridade. Hierarquia é uma palavra que não possui prefixo, formada a partir de radicais gregos hierós (sagrado) e arkhê (sagrado).
c) Correta. Preconceituosos é formada pelo prefixo pre- em conjunto com o nome conceito, significando o conceito (julgamento, a ideia) que é concebido previamente/anteriormente. Cooperação é formada pela junção de uma preposição latina, que tem valor de prefixo co- (com) e o pospositivo latino oper- (trabalho), ou seja, literalmente “o trabalho feito com”, “em conjunto”. Sendo co- o prefixo, temos então um sentido de contiguidade (aquilo que está próximo, junto).
d) Incorreta. Subordinado é claramente formado pelo prefixo sub que indica abaixo, inferior. Diversidade é formada pelo prefixo dis- latino que significa “separação”.
e) Incorreta. Identidade não é formada por prefixação, sendo que iden deriva de idem (o mesmo, pronome latino). Segregados é formado pelo pronome latino se- que tem o sentido de separar.
Conforme o texto, na questão racial, o funcionamento da sociedade dá-se a ver de modo
a) |
concentrado. |
b) |
invertido. |
c) |
fantasioso. |
d) |
compartimentado. |
e) |
latente. |
a) Correta. De acordo com o trecho:
“... como funciona a fábrica da sociedade, compreendendo identidade e alteridade, diversidade e desigualdade, cooperação e hierarquização, dominação e alienação”.
Em tal fragmento constatamos que para o autor o funcionamento da sociedade se dá de modo concentrado na questão racial. Por isso, a enumeração de dicotomias.
b) Incorreta. Pois, nem todos os pares na enumeração representam opostos.
c) Incorreta. Pois, trata-se de uma análise concreta e minuciosa.
d) Incorreta. Trata-se antes de ‘relações entre partes’ do que de ‘partes’. Ou seja, mais do que grupos, a enumeração apresenta ‘relações’.
e) Incorreta. Pois, conforme se verifica na frase: “… de forma particularmente evidente...” que sugere algo patente (ou seja, o contrário de ‘latente’).
Já na segurança da calçada, e passando por um trecho em obras que atravanca nossos passos, lanço à queima-roupa:
— Você conhece alguma cidade mais feia do que São Paulo?
— Agora você me pegou, retruca, rindo. Hã, deixa eu ver... Lembro-me de La Paz, a capital da Bolívia, que me pareceu bem feia. Dizem que Bogotá é muito feiosa também, mas não a conheço. Bem, São Paulo, no geral, é feia, mas as pessoas têm uma disposição para o trabalho aqui, uma vibração empreendedora, que dá uma feição muito particular à cidade. Acordar cedo em São Paulo e ver as pessoas saindo para trabalhar é algo que me toca. Acho emocionante ver a garra dessa gente.
R. Moraes e R. Linsker. Estrangeiros em casa: uma caminhada pela selva urbana de São Paulo. National Geographic Brasil. Adaptado.
Os interlocutores do diálogo contido no texto compartilham o pressuposto de que
a) |
cidades são geralmente feias, mas interessantes. |
b) |
o empreendedorismo faz de São Paulo uma bonita cidade. |
c) |
La Paz é tão feia quanto São Paulo. |
d) |
São Paulo é uma cidade feia. |
e) |
São Paulo e Bogotá são as cidades mais feias do mundo. |
Para resolver esta questão, o candidato deveria compreender o conceito de pressuposto, que é a informação compartilhada previamente entre os interlocutores. Pela leitura do texto, pode-se concluir que o pressuposto é o de que a cidade de São Paulo é feia.
a) Incorreta. O erro se encontra na generalização de que todas as cidades sejam feias, apesar de interessantes. Claramente, o segundo interlocutor refere-se a cidades específicas (La Paz, Bogotá, São Paulo) e, ainda de acordo apenas com ele, a de São Paulo é a única apontada como interessante.
b) Incorreta. O empreendedorismo característico das pessoas de São Paulo confere a característica interessante à cidade. Para manutenção do efeito de sentido no texto, esse adjetivo não pode ser substituído por “bonita”. Além disso, tal conceito é aplicado à cidade apenas pelo segundo interlocutor, não, sendo, portanto, um pressuposto compartilhado entre eles.
c) Incorreta. Apesar de serem citadas pelo segundo interlocutor, não existe uma comparação explícita entre as duas cidades (La Paz e São Paulo). O único fato que as relaciona é a feiura, observada em níveis diferentes: “São Paulo é feia” (subentendido); “Bogotá é bem feia”.
d) Correta. Esta alternativa exigia que o candidato percebesse na resposta dada pelo segundo interlocutor a ausência de negação sobre o julgamento de valor expresso pelo primeiro interlocutor em relação à feiura da cidade de São Paulo. Essa negação implica no compartilhamento prévio dessa informação e, acima disso, da concordância de opinião entre os interlocutores de que a cidade seja feia.
e) Incorreta. Neste caso a superlativização confere o erro à alternativa. No texto, as cidades de Bogotá e São Paulo são citadas, mas sem comparação com as outras do globo terrestre, portanto, não se pode afirmar que são as mais feias do mundo.