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Unesp 2022 - 2ª fase


Redação Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Texto Dissertativo

Texto 1

É melhor ser alegre que ser triste

Alegria é a melhor coisa que existe

É assim como a luz no coração

Mas pra fazer um samba com beleza

É preciso um bocado de tristeza

É preciso um bocado de tristeza

Senão, não se faz um samba não

(Vinicius de Moraes/Baden Powell. “Samba da bênção”. In: Vinicius de Moraes. Livro de letras, 2015.)

Texto2

(André Dahmer. Malvados, 2019.)

Texto 3

Época: Como a felicidade se tornou uma tirania? Pascal Bruckner: No século XVIII, felicidade já deixara de ser um direito para se tornar um dever. Mas essa inversão de valores só se consolidou no século XX, depois de 1968, quando se fez uma revolução em nome do prazer, da alegria, da voluptuosidade. A partir do momento em que o prazer se torna o principal valor de uma sociedade, quem não o atinge vira um indivíduo fora da lei. Época: Sofrimento virou doença? Pascal Bruckner: Sempre detestamos o sofrimento, é normal. A novidade é que agora as pessoas não têm mais o direito de sofrer. Então, sofre-se em dobro. Querer que as pessoas se calem sobre a dor física ou psicológica é apenas agravar o mal.

Pascal Bruckner. “O mal da felicidade”. http://revistaepoca.globo.com, 16.02.2018.)

Texto 4

Naomi Osaka afirmou na capa da revista Time há alguns dias: “It’s ok to not be ok”. A tenista, que havia abandonado Roland Garros para cuidar de sua saúde mental, confirmou em um texto em primeira pessoa a pressão que sofreu nos últimos meses. Falou também da importância de trazer à tona o debate sobre a saúde mental em nosso tempo, e não só no esporte: “Espero que as pessoas entendam que está bem não estar bem, e está bem falar disso. Há pessoas que podem ajudar e, em geral, há luz no fim de qualquer túnel.”

(Noelia Ramírez. “‘Tudo bem não estar bem’, o lema da nova era que dá adeus ao pensamento positivo”. https://brasil.elpais.com, 15.07.2021. Adaptado.)

 

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

“Tudo bem não estar bem”?: A tristeza em tempos de felicidade compulsória



Comentários

A proposta de redação do vestibular da Unesp de 2022 traz a seguinte frase-tema: ““Tudo bem não estar bem”?: A tristeza em tempos de felicidade compulsória”. A pergunta que inicia a proposição exigia que sua resposta fosse pensada a partir da segunda parte da proposição que, por sua vez, enuncia a necessidade de uma reflexão sobre o lugar da tristeza em um momento em que a felicidade não é mais vista como um possível estado de espírito, dentre outros, mas como uma obrigação, algo compulsório.

Em outras palavras, o candidato deveria questionar a pasteurização da felicidade e a demonização da tristeza. Sendo assim, o projeto de texto poderia ser estruturado a partir de uma reflexão sobre o que está por trás de discursos, veiculados pela mídia e pelas redes sociais, por exemplo, que impõem padrões do que é ser feliz e alardeiam produtos e/ou posturas para o alcance de tais padrões; ou seja, a quem ou a quê serve a imposição da felicidade? Para complementar o raciocínio, também havia a possibilidade de se discutirem quais podem ser os desdobramentos da felicidade compulsória; ou seja, quais são os danos vivenciados por quem não pode ou não consegue estar sempre feliz, experimentando eventualmente momentos de tristeza? Se a infelicidade, etimologicamente, já designa uma situação de mal-estar, quais são as outras consequências ou punições, para quem se sentir infeliz em uma sociedade que obriga à felicidade?

Ademais, era possível que o projeto de texto se voltasse à contradição de se impor a felicidade, uma vez que tal imposição pode gerar exatamente a infelicidade. O filósofo Byung-Chul Han, por exemplo, tem refletido em recentes publicações sobre a sensação de frustração experimentada pelos indivíduos em função do excesso de afazeres ao qual se submetem, imersos numa lógica de produtividade, mascarada como uma condição para o alcance da plenitude e (por que não?) da felicidade.

Em relação à coletânea, observa-se, no Texto I, trecho de uma canção de Vinícius de Moraes e Baden Powell, uma mensagem que equilibra o lugar da tristeza e da alegria na vida humana, colocando-as como necessárias e comuns à existência, dado que a felicidade é “luz no coração”, mas que só se faz um bom samba com um pouco de tristeza, sendo que o samba pode ser metáfora para muitos aspectos da vida humana. Esse excerto poderia ser aproveitado para sustentar a constatação de que não é possível ser unicamente feliz e de que a tristeza é uma condição regular de nossa existência.

Os Textos II e III dão respaldo a uma análise sobre o contexto e as causas da obrigatoriedade da felicidade. A  tirinha de André Dahmer, Texto II, lida diretamente com tal imposição, chamando-a de “ditadura da alegria”. O texto aponta os interesses subjacentes a essa lógica, a exemplo da medicalização da tristeza, e cria um efeito crítico-humorístico ao declarar que não é possível saber se é triste não ter direito à tristeza por não conseguirmos mais nos sentirmos tristes por estarmos medicados para sermos sempre felizes, como se tivéssemos desaprendido o que é a tristeza. O Texto III dialoga com o anterior, pois Pascal Bruckner atesta que a felicidade deixou de ser um direito para se tornar um dever, explicando historicamente como se deu esse processo. Além disso, o especialista ainda reflete sobre o fato de que a imposição da felicidade pode produzir infelicidade.

O Texto IV, por sua vez, materializa a discussão, tornando-a mais objetiva ao apresentar o caso de Naomi Osaka, tenista de alta performance, que abandou a principal competição de sua modalidade, o torneio de Roland Garros, para cuidar de sua saúde mental, a exemplo da ginasta Simone Biles, que também deixou os jogos olímpicos devido à mesma justificativa. Sendo assim, o último excerto da coletânea colabora com a reflexão sobre os impactos da imposição da felicidade e do descuido com a saúde mental, que podem provocar um colapso emocional.

Questão 1 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

charges e tirinhas Pressupostos e Subentendidos

Para responder às questões 01 e 02, examine a tirinha do cartunista André Dahmer.


Depreende-se da fala do personagem no primeiro quadrinho que



a)

certas guerras são produzidas apenas por aberrações.

b)

todas as aberrações são produzidas pela guerra.

c)

certas aberrações acabam por produzir guerras.

d)

todas as guerras são produzidas por aberrações.

e)

certas aberrações são produzidas apenas pela guerra.

Resolução

Aberração é o substantivo que nomeia aquilo que foge do padrão, que é incoerente com a realidade. Tendo isso em vista, infere-se que a personagem diz ser “aberração” o fato de a morte pensar na vida, visto que o coerente seria a morte pensar na própria morte.  Sabendo disso e observando os aspectos gramaticais do período “Aberrações que só a guerra reproduz”, nota-se que a oração adjetiva restritiva destacada delimita o substantivo “aberrações”, fazendo referência àquelas que só são reproduzidas pela guerra. Desse modo, é possível inferir que existem outros tipos de “aberrações”, mas que o personagem restringe a sua ideia a um tipo específico, que é aquele produzido apenas pela guerra. Sendo assim, a alternativa correta é a E.

Questão 2 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

antítese prosopopeia

Para responder às questões 01 e 02, examine a tirinha do cartunista André Dahmer.


Para produzir o efeito cômico e também crítico da tirinha, o cartunista mobiliza os seguintes recursos expressivos:



a)

eufemismo e pleonasmo.

b)

personificação e hipérbole.

c)

hipérbole e eufemismo.

d)

personificação e antítese.

e)

hipérbole e antítese.

Resolução

Na tirinha, há duas figuras de linguagem que se destacam: a personificação e a antítese. A primeira ocorre pelo fato de a “Morte” ser personificada e passar a ter ações próprias de humanos; já a segunda pode ser identificada pelo uso de palavras com sentidos opostos – morte e vida.

O eufemismo, que consiste na atenuação de palavras ou expressões fortes socialmente, não aparece na tirinha. A hipérbole, figura que trabalha com o exagero proposital a fim de deixar a mensagem mais expressiva, também não aparece. Por fim, o pleonasmo – tanto o sintático quanto o semântico – não aparece, visto que não há, em nenhum fragmento da tirinha, uma redundância de ideias ou uma repetição de termos sintáticos.

Questão 3 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Interpretação de Textos

Leia o ensaio “Império reverso”, de Eduardo Giannetti, para responder às questões de 03 a 05.

Império reverso — O filósofo grego Diógenes fez da autossuficiência e do controle das paixões os valores centrais de sua vida: um casaco, uma mochila e uma cisterna de argila no interior da qual pernoitava eram suas únicas posses. Intrigado com relatos sobre essa estranha figura, o imperador Alexandre Magno resolveu conferir de perto. Foi até ele e propôs: “Sou o homem mais poderoso do mundo, peça-me o que desejar e lhe atenderei.” Diógenes [...] não titubeou: “O senhor teria a delicadeza de afastar-se um pouco? Sua sombra está bloqueando o meu banho de sol.” O filósofo e o imperador são casos extremos, mas ambos ilustram a tese socrática de que, entre os mortais, o mais próximo dos deuses em felicidade é aquele que de menor número de coisas carece. Alexandre, ex-pupilo e depois mecenas de Aristóteles, aprendeu a lição. Quando um cortesão zombou do morador da cisterna por ter “desperdiçado” a oferta que lhe caíra do céu, o imperador rebateu: “Pois saiba então você que, se eu não fosse Alexandre, eu teria desejado ser Diógenes.” Os extremos se tocam. — “Querei só o que podeis”, pondera o padre Antônio Vieira, “e sereis omnipotentes.”

(Eduardo Giannetti. Trópicos utópicos, 2016.)


Depreende-se do ensaio uma crítica, sobretudo,



a)

à insensibilidade.

b)

à intemperança.

c)

à passividade.

d)

à volubilidade.

e)

à intolerância.

Resolução

a) Incorreta. Não se trata de uma crítica à insensibilidade, uma vez que o ensaio mostra que Alexandre sente-se tocado, em outras palavras, sensibilizado, pelo estilo de vida de Diógenes, transformando-o em uma lição.

b) Correta. O ensaio configura uma crítica à intemperança, pois considera - por meio da citação de padre Antônio Vieira - que a onipotência está na capacidade de se desejar apenas aquilo que se pode ter, ao passo que a intemperança é uma característica que vai de encontro com tal postura, dado que é definida pelo descomedimento, que poderia levar o indivíduo a desejar mais do que pode ter. Além disso,  o estilo de vida de Diógenes, que dá o mote do ensaio, é descrito como moderado, comedido. 

c) Incorreta. Não há crítica à passividade, pois o ensaio não classifica a postura de Diógenes como indiferente ou apática diante da existência humana, mas adequada ao alcance da felicidade, do ponto de vista socrático. 

d) Incorreta. Embora Alexandre tenha sido convencido pelo estilo de vida de Diógenes, não é possível afirmar que o ensaio interprete o convencimento como volubilidade (falta de perseverança), mas como compreensão.

e) Incorreta. O ensaio em questão não faz uma crítica à intolerância,  afinal retrata que o suposto embate entre o imperador e o filósofo, que poderia gerar uma atitude intolerante por parte do primeiro, dadas as relações de poder, na verdade, produz uma modificação na visão de Alexandre sobre a vida, influenciado por Diógenes. 

Questão 4 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Interpretação de Textos

Leia o ensaio “Império reverso”, de Eduardo Giannetti, para responder às questões de 03 a 05.

Império reverso — O filósofo grego Diógenes fez da autossuficiência e do controle das paixões os valores centrais de sua vida: um casaco, uma mochila e uma cisterna de argila no interior da qual pernoitava eram suas únicas posses. Intrigado com relatos sobre essa estranha figura, o imperador Alexandre Magno resolveu conferir de perto. Foi até ele e propôs: “Sou o homem mais poderoso do mundo, peça-me o que desejar e lhe atenderei.” Diógenes [...] não titubeou: “O senhor teria a delicadeza de afastar-se um pouco? Sua sombra está bloqueando o meu banho de sol.” O filósofo e o imperador são casos extremos, mas ambos ilustram a tese socrática de que, entre os mortais, o mais próximo dos deuses em felicidade é aquele que de menor número de coisas carece. Alexandre, ex-pupilo e depois mecenas de Aristóteles, aprendeu a lição. Quando um cortesão zombou do morador da cisterna por ter “desperdiçado” a oferta que lhe caíra do céu, o imperador rebateu: “Pois saiba então você que, se eu não fosse Alexandre, eu teria desejado ser Diógenes.” Os extremos se tocam. — “Querei só o que podeis”, pondera o padre Antônio Vieira, “e sereis omnipotentes.”

(Eduardo Giannetti. Trópicos utópicos, 2016.)


A resposta de Diógenes a Alexandre Magno pode ser caracterizada como



a)

audaciosa.

b)

subserviente.

c)

hipócrita.

d)

compassiva.

e)

incoerente.

Resolução

a) Correta. A resposta pode ser considerada audaciosa, uma vez que é uma insubordinação do filósofo contra uma figura de autoridade máxima - o imperador Alexandre -, dado que, ao ser questionado sobre a possibilidade de obter tudo o que o poder poderia proporcionar, Diógenes apenas responde que a sombra de Alexandre atrapalhava seu banho de sol e pede ao imperador que se afaste, ou seja, mostra que a proposta e o próprio Alexandre eram menos importantes que o sol e sua sombra.

b) Incorreta. A resposta de Diógenes é o oposto de uma postura subserviente, que se curvaria à proposta e à autoridade de Alexandre.

c) Incorreta. A resposta de Diógenes não é hipócrita, dado que corresponde exatamente ao estilo de vida por ele levado.

d) Incorreta. Não há compassividade, ou seja, comiseração, na resposta de Diógenes, mas a assertividade de quem conhece o resultado de sua escolhas. 

e) Incorreta. Assim como não é hipócrita, a resposta também não é incorente, porque o texto explica que Diógenes apenas tinha um casaco, uma mochila e uma cisterna de argila onde pernoitava, ou seja, os bens materiais não eram de seu interesse. 

Questão 5 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Discurso direto Discurso indireto

Leia o ensaio “Império reverso”, de Eduardo Giannetti, para responder às questões de 03 a 05.

Império reverso — O filósofo grego Diógenes fez da autossuficiência e do controle das paixões os valores centrais de sua vida: um casaco, uma mochila e uma cisterna de argila no interior da qual pernoitava eram suas únicas posses. Intrigado com relatos sobre essa estranha figura, o imperador Alexandre Magno resolveu conferir de perto. Foi até ele e propôs: “Sou o homem mais poderoso do mundo, peça-me o que desejar e lhe atenderei.” Diógenes [...] não titubeou: “O senhor teria a delicadeza de afastar-se um pouco? Sua sombra está bloqueando o meu banho de sol.” O filósofo e o imperador são casos extremos, mas ambos ilustram a tese socrática de que, entre os mortais, o mais próximo dos deuses em felicidade é aquele que de menor número de coisas carece. Alexandre, ex-pupilo e depois mecenas de Aristóteles, aprendeu a lição. Quando um cortesão zombou do morador da cisterna por ter “desperdiçado” a oferta que lhe caíra do céu, o imperador rebateu: “Pois saiba então você que, se eu não fosse Alexandre, eu teria desejado ser Diógenes.” Os extremos se tocam. — “Querei só o que podeis”, pondera o padre Antônio Vieira, “e sereis omnipotentes.”

(Eduardo Giannetti. Trópicos utópicos, 2016.)


Ao se transpor o trecho “Foi até ele e propôs: ‘Sou o homem mais poderoso do mundo, peça-me o que desejar e lhe atenderei.’” para o discurso indireto, os termos sublinhados assumem as formas:



a)

pedisse e atenderia.

b)

pedia e atendia.

c)

pediria e atenderia.

d)

pedisse e atendesse.

e)

pediria e atendesse.

Resolução

No discurso direto, a voz do personagem é literal e, por isso, mais próxima da narrativa. Já no discurso indireto, o narrador “fala” pelo personagem e, desse modo, esse tipo de discurso utiliza flexões verbais mais distantes da narrativa.

O primeiro verbo a ser transposto para o discurso indireto é a forma no imperativo “peça”, em que o personagem se dirige diretamente ao seu interlocutor, atribuindo-lhe uma ordem. De maneira geral, os verbos no modo imperativo, ao serem transpostos para o discurso indireto, assumem a forma de pretérito imperfeito do subjuntivo, pois essa flexão traz à narrativa o distanciamento característico desse tipo de discurso, além de garantir, mesmo que de maneira indireta, o tom de ordem exigido pela forma imperativa.

A segunda forma verbal a ser transposta é “atenderei”, que está flexionada no futuro do presente do indicativo. Para se distanciar da narrativa, manter o caráter de posterioridade e respeitar o modo verbal, essa forma, no discurso indireto, deve ser substituída pelo futuro do pretérito do indicativo.

Sendo assim, a formas verbais que substituiriam “peça” e “atenderei” são “pedisse” e “atenderia".

Questão 6 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Camões Lírica de Camões

Para responder às questões de 06 a 08, leia o soneto de Luís de Camões.

Enquanto quis Fortuna1 que tivesse
Esperança de algum contentamento,
O gosto de um suave pensamento2 
Me fez que seus efeitos escrevesse.

Porém, temendo Amor3 que aviso desse
Minha escritura a algum juízo isento4 ,
Escureceu-me o engenho5 com tormento,
Para que seus enganos não dissesse.

Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
A diversas vontades, quando lerdes
Num breve livro casos tão diversos,

Verdades puras são, e não defeitos6 ,
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
Tereis o entendimento de meus versos.

(Luís de Camões. 20 sonetos, 2018.)

1 Fortuna: entidade mítica que presidia a sorte dos homens.
2 suave pensamento: sentimento amoroso.
3 Amor: entidade mítica que personifica o amor.
4 juízo isento: os inocentes do amor, aqueles que nunca se apaixonaram.
5 engenho: talento poético, inspiração.
6 defeitos: inverdades, fantasia.


No soneto, Amor teme que



a)

o eu lírico perca sua inspiração.

b)

a poesia do eu lírico não seja sincera.

c)

a poesia do eu lírico não seja compreendida.

d)

o eu lírico esqueça sua amante.

e)

o eu lírico divulgue seus enganos.

Resolução

a) Incorreta. Amor trabalha para que o eu-lírico perca sua inspiração, obscurecendo seu engenho com dores e tormentos.

b) Incorreta. Amor teme que a sinceridade da poesia do eu-lírico possa alertar os amantes sobre seus enganos.

c) Incorreta. Pelo contrário, para Amor, é importante que os leitores não entendam a poesia do eu-lírico para, assim, não tomarem consciência a respeito de seus enganos e tornarem-se vulneráveis a seus ataques.

d) Incorreta. O poeta não afirma que os tormentos de Amor provocam o esquecimento da amada. Com base na leitura do soneto, pode-se afirmar que o amor persiste apesar da experiência dos sofrimentos.

e) Correta. Na primeira estrofe, o eu-lírico declara que, enquanto a Fortuna lhe permitiu alimentar a esperança de obter algum contentamento em relação ao amor, ele se inspirou para escrever os efeitos que esse sentimento provocava em sua alma. Porém, o Amor – assumindo a face perversa do deus Cupido -, impôs inúmeros sofrimentos ao poeta de modo a perturbar a sua inspiração. O objetivo do Amor era impedir que o poeta escrevesse sobre os enganos com os quais iludia os amantes. Desse modo, aqueles leitores que tinham o “juízo isento”, ou seja, que nunca se apaixonaram, não seriam alertados sobre os perigos do Amor e, assim, não poderiam se proteger ou se esquivar das artimanhas desse deus cruel e pernicioso.

 

Questão 7 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Camões Lírica de Camões

Para responder às questões de 06 a 08, leia o soneto de Luís de Camões.

Enquanto quis Fortuna1 que tivesse
Esperança de algum contentamento,
O gosto de um suave pensamento2 
Me fez que seus efeitos escrevesse.

Porém, temendo Amor3 que aviso desse
Minha escritura a algum juízo isento4 ,
Escureceu-me o engenho5 com tormento,
Para que seus enganos não dissesse.

Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
A diversas vontades, quando lerdes
Num breve livro casos tão diversos,

Verdades puras são, e não defeitos6 ,
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
Tereis o entendimento de meus versos.

(Luís de Camões. 20 sonetos, 2018.)

1 Fortuna: entidade mítica que presidia a sorte dos homens.
2 suave pensamento: sentimento amoroso.
3 Amor: entidade mítica que personifica o amor.
4 juízo isento: os inocentes do amor, aqueles que nunca se apaixonaram.
5 engenho: talento poético, inspiração.
6 defeitos: inverdades, fantasia.


Segundo o eu lírico, Amor torna os amantes



a)

mesquinhos.

b)

melancólicos.

c)

submissos.

d)

imprudentes.

e)

insensatos.

Resolução

a) Incorreta. Em nenhum trecho do poema, o eu-lírico sugere que os amantes se tornam mesquinhos devido ao Amor.

b) Incorreta. A melancolia pode ser definida como um estado de tristeza profunda e duradoura. O poeta não afirma de modo explícito que Amor torna os amantes melancólicos. De acordo com a leitura, pode-se afirmar que tal sentimento seria consequência do estado de submissão no qual os apaixonados se encontram, visto que não está sob sua vontade o libertar-se dos sofrimentos.

c) Correta. Segundo o eu-lírico, Amor torna os amantes submissos à sua vontade, o que corresponde às convenções poéticas do período clássico, segundo as quais o deus Amor ou Cupido vencia os apaixonados, submetendo sua razão e sentimentos a seus caprichos. Pode-se verificar a recorrência desse tema nos versos em que o poeta interpela aqueles que amam dizendo: “Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos a diversas vontades”; dessa forma, ele sinaliza que os amantes já não têm mais o domínio de si.

d) Incorreta. Os amantes não são imprudentes, pois, ao se entregarem a Amor, não têm o conhecimento dos enganos com os quais ele os ilude.

e) Incorreta. Não é possível considerar que os amantes sejam insensatos, pois, uma vez sob o poder de Amor, eles não têm mais autonomia sobre suas vontades, logo,  não podem ser responsabilizados por atitudes irracionais ou insensatas.

Questão 8 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Camões Lírica de Camões Vocativo

Para responder às questões de 06 a 08, leia o soneto de Luís de Camões.

Enquanto quis Fortuna1 que tivesse
Esperança de algum contentamento,
O gosto de um suave pensamento2 
Me fez que seus efeitos escrevesse.

Porém, temendo Amor3 que aviso desse
Minha escritura a algum juízo isento4 ,
Escureceu-me o engenho5 com tormento,
Para que seus enganos não dissesse.

Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
A diversas vontades, quando lerdes
Num breve livro casos tão diversos,

Verdades puras são, e não defeitos6 ,
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
Tereis o entendimento de meus versos.

(Luís de Camões. 20 sonetos, 2018.)

1 Fortuna: entidade mítica que presidia a sorte dos homens.
2 suave pensamento: sentimento amoroso.
3 Amor: entidade mítica que personifica o amor.
4 juízo isento: os inocentes do amor, aqueles que nunca se apaixonaram.
5 engenho: talento poético, inspiração.
6 defeitos: inverdades, fantasia.


No soneto, o eu lírico dirige-se, mediante vocativo,



a)

àqueles que não entendem seus versos.

b)

a Amor.

c)

àqueles que nunca se apaixonaram.

d)

aos amantes.

e)

a Fortuna.

Resolução

A alternativa D está correta. Pode-se identificar o vocativo no primeiro verso da terceira estrofe, no qual o poeta estabelece uma interlocução com os leitores, interpelando diretamente aqueles que já se encontram sob o poder do Amor: “Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos/ A diversas vontades”. A condição de “estar sujeito a diversas vontades” caracteriza a condição dos amantes, os quais já não têm mais o domínio de si, pois seus desejos e ações encontram-se sob o poder do deus Amor.

As outras alternativas apresentam figuras e personagens que são mencionados ao longo do texto sem que o poeta os interpele ou estabeleça qualquer tipo de interlocução com eles.

Questão 9 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Crônica

Para responder às questões de 09 a 11, leia a crônica “Elegia do Guandu”, de Carlos Drummond de Andrade, publicada originalmente em 2 de novembro de 1974.

    E se reverenciássemos neste 2 de novembro os mortos do Guandu, que descem a correnteza, a caminho do mar — o mar que eles não alcançam, pois encalham na areia das margens, e os urubus os devoram?
    Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de flores consagradas aos mortos queridos. Estes não são amados de ninguém, ou o são de mínima gente. Seus corpos, não há quem os reclame, de medo ou seja lá pelo que for.
    Se algum deles tem sorte de derivar pela restinga da Marambaia e ali é recolhido por pescadores — ah, peixe menos desejado — ganha sepultura anônima, que a piedade dos humildes providencia. Mas não é prudente pescar mortos do Guandu: há sempre a perspectiva de interrogatórios que fazem perder o dia de trabalho, às vezes mais do que isso: a liberdade, que se confisca aos suspeitos e aos que explicam mal suas pescarias macabras.
    São marginais caçados pela polícia ou por outros marginais, são suicidas, são acidentados? Difícil classificá-los, se não trazem a marca registrada dos trucidadores ou estes sinais: mãos amarradas, amarrado de vários corpos, pesos amarrados aos pés. Estes últimos são mortos fáceis de catalogar, embora só se lhes vejam as cabeças em rodopio à flor d’água, mas os que vêm boiando e fluindo, fluindo e boiando, em sonho aquático deslizante, estes desesperaram da vida, ou a vida lhes faltou de surpresa?
    Os mortos vão passando, procissão falhada. Eis desce o rio um lote de seis, uns aos outros ligados pela corda fraternizante. É espetáculo para se ver da janela de moradores de Itaguaí, assistentes ribeirinhos de novela de espaçados capítulos. Ver e não contar. Ver e guardar para conversas íntimas:
    — Ontem, na tintura da madrugada, passaram três garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar também...
    Garrafinhas chamam-se eles, os trucidados com chumbo aos pés, e não mais como ficou escrito em livros de cartório. O garrafinha nº 1 não é diferente do garrafinha nº 2 ou 3. Foram todos nivelados pelo Guandu. Como frascos vazios, de pequeno porte e nenhuma importância, lá vão rio abaixo, Nova Iguaçu abaixo, rumo do esquecimento das garrafas e dos crimes que cometeram ou não cometeram, ou dos crimes que neles foram cometidos.
    [...]
    O Guandu não responde a inquéritos nem a repórteres. Não distingue, carrega. Não comenta, não julga, não reclama se lhe corrompem as águas; transporta. Em sua impessoalidade serve a desígnios vários, favorece a vida que quer se desembaraçar da morte, facilita a morte que quer se libertar da vida. Pela justiça sumária, pelo absurdo, pelo desespero.
    Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma elegia, é aos mortos do Guandu, nos quais ninguém pensa no dia de pensar os e nos mortos. Os criminosos, os não criminosos, os que se destruíram, os que resvalaram. Mortos sem sepultura e sem lembrança. Trágicos e apagados deslizantes na correnteza. Passageiros do Guandu, apenas e afinal.

(Carlos Drummond de Andrade. Os dias lindos, 2013.)


Pode-se apontar na crônica um teor, sobretudo,



a)

metalinguístico.

b)

paródico.

c)

crítico.

d)

satírico.

e)

fantástico.

Resolução

a) Incorreta. De fato, a crônica apresenta um caráter metalinguístico, visto que o autor dialoga com os leitores e faz referência ao texto; entretanto, é necessário considerar que o enunciado, ao empregar o termo “sobretudo”, não exclui que a crônica possa ter mais de um aspecto, cabendo ao candidato, apontar qual o elemento que se sobressai no texto em questão. Tendo isso em vista, o teor crítico da crônica se sobrepõe a seu caráter metalinguístico.

b) Incorreta. Não é possível apontar um caráter paródico no texto, visto que a crônica não pretende fazer uma releitura ou recriação de caráter cômico ou satírico de alguma outra obra literária. O texto pretende denunciar a ocorrência de eventos estranhos no rio Guandu, em cujas águas é comum encontrar cadáveres boiando.

c) Correta. O caráter crítico da crônica de Drummond fica evidente já na sua temática: no dia 02 de novembro, data em que se celebram os familiares mortos, o autor pretende abordar um assunto bastante incômodo: o aparecimento de cadáveres que surgem boiando pelo rio Gandu. O teor da crônica indica que tais episódios são recorrentes e até corriqueiros a ponto de serem banalizados, visto que a população ribeirinha chama esses mortos anônimos de “garrafinhas”. Essa inusitada designação refere-se ao fato de que esses corpos apresentam pedras amarradas aos pés, o que os faz descer o rio em posição vertical. Para além do desrespeito e da banalização, Drummond faz uma série de conjecturas, sugerindo que muitos desses mortos foram vítimas de execuções e assassinatos. O fato de muitos aparecerem boiando em grupos atados por cordas reforçam essa hipótese. Outros, porém, que aparecem sem cordas ou pesos, podem ter sido vítimas de acidentes ou suicídio. O viés crítico do texto pode ser verificado também na menção que o autor faz do sentimento de ameaça e medo vivido pelos pescadores e pela população que eventualmente encontra esses corpos. A denúncia à polícia pode vir a complicar sua situação, razão pela qual muitos preferem manter o silêncio. Por fim, pode-se mencionar que o caráter crítico do texto se sobressai justamente pelo absurdo da situação denunciada por Drummond: o aparecimento de cadáveres boiando no rio Guandu parece ter-se tornado recorrente, entretanto, as causas dessas mortes tendem a permanecer um mistério, visto que o rio “não responde a inquéritos nem a repórteres”. Tal silêncio evidencia a inação das autoridades que, ao omitirem-se, permitem que essa situação inaceitável continue a ocorrer.

d) Incorreta. O autor não pretende fazer uma sátira da situação incomum verificada no rio Guandu, não havendo o interesse de, justamente na celebração de Finados, despertar o riso do leitor diante de assunto tão mórbido. A crônica faz uma série de questionamentos que visam tentar provocar a reflexão (e a indignação) dos leitores frente ao estranho fenômeno dos mortos boiando no rio.

e) Incorreta. Por mais inusitados que possam ser, os acontecimentos narrados na crônica sobre o aparecimento de corpos boiando no rio Guandu são reais, e não fantásticos, e o narrador compartilha com o leitor seu espanto e estranheza frente a essa situação.

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Crônica Interlocução O imperativo e o emprego de suas formas

Para responder às questões de 09 a 11, leia a crônica “Elegia do Guandu”, de Carlos Drummond de Andrade, publicada originalmente em 2 de novembro de 1974.

    E se reverenciássemos neste 2 de novembro os mortos do Guandu, que descem a correnteza, a caminho do mar — o mar que eles não alcançam, pois encalham na areia das margens, e os urubus os devoram?
    Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de flores consagradas aos mortos queridos. Estes não são amados de ninguém, ou o são de mínima gente. Seus corpos, não há quem os reclame, de medo ou seja lá pelo que for.
    Se algum deles tem sorte de derivar pela restinga da Marambaia e ali é recolhido por pescadores — ah, peixe menos desejado — ganha sepultura anônima, que a piedade dos humildes providencia. Mas não é prudente pescar mortos do Guandu: há sempre a perspectiva de interrogatórios que fazem perder o dia de trabalho, às vezes mais do que isso: a liberdade, que se confisca aos suspeitos e aos que explicam mal suas pescarias macabras.
    São marginais caçados pela polícia ou por outros marginais, são suicidas, são acidentados? Difícil classificá-los, se não trazem a marca registrada dos trucidadores ou estes sinais: mãos amarradas, amarrado de vários corpos, pesos amarrados aos pés. Estes últimos são mortos fáceis de catalogar, embora só se lhes vejam as cabeças em rodopio à flor d’água, mas os que vêm boiando e fluindo, fluindo e boiando, em sonho aquático deslizante, estes desesperaram da vida, ou a vida lhes faltou de surpresa?
    Os mortos vão passando, procissão falhada. Eis desce o rio um lote de seis, uns aos outros ligados pela corda fraternizante. É espetáculo para se ver da janela de moradores de Itaguaí, assistentes ribeirinhos de novela de espaçados capítulos. Ver e não contar. Ver e guardar para conversas íntimas:
    — Ontem, na tintura da madrugada, passaram três garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar também...
    Garrafinhas chamam-se eles, os trucidados com chumbo aos pés, e não mais como ficou escrito em livros de cartório. O garrafinha nº 1 não é diferente do garrafinha nº 2 ou 3. Foram todos nivelados pelo Guandu. Como frascos vazios, de pequeno porte e nenhuma importância, lá vão rio abaixo, Nova Iguaçu abaixo, rumo do esquecimento das garrafas e dos crimes que cometeram ou não cometeram, ou dos crimes que neles foram cometidos.
    [...]
    O Guandu não responde a inquéritos nem a repórteres. Não distingue, carrega. Não comenta, não julga, não reclama se lhe corrompem as águas; transporta. Em sua impessoalidade serve a desígnios vários, favorece a vida que quer se desembaraçar da morte, facilita a morte que quer se libertar da vida. Pela justiça sumária, pelo absurdo, pelo desespero.
    Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma elegia, é aos mortos do Guandu, nos quais ninguém pensa no dia de pensar os e nos mortos. Os criminosos, os não criminosos, os que se destruíram, os que resvalaram. Mortos sem sepultura e sem lembrança. Trágicos e apagados deslizantes na correnteza. Passageiros do Guandu, apenas e afinal.

(Carlos Drummond de Andrade. Os dias lindos, 2013.)


O cronista dirige-se explicitamente a seu leitor no trecho:



a)

“São marginais caçados pela polícia ou por outros marginais, são suicidas, são acidentados?” (4º parágrafo)

b)

“Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de flores consagradas aos mortos queridos.” (2º parágrafo)

c)

“— Ontem, na tintura da madrugada, passaram três garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar também...” (6º parágrafo)

d)

“Não comenta, não julga, não reclama se lhe corrompem as águas; transporta.” (8º parágrafo)

e)

“Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma elegia, é aos mortos do Guandu, nos quais ninguém pensa no dia de pensar os e nos mortos.” (9º parágrafo)

Resolução

O enunciado pede para que seja assinalada a alternativa em que o cronista se dirige diretamente ao interlocutor. Essa marca de interlocução pode aparecer nos diversos gêneros textuais das seguintes formas: uso de pronomes de segunda pessoa, uso de vocativos, flexão de verbos no modo imperativo ou uso de perguntas literais – aquelas que exigem resposta do interlocutor.

Tendo isso em vista, a única alternativa em que há um desses recursos listados acima é a “B”, pois o cronista flexiona o verbo perdoar no modo imperativo, direcionando-o à segunda pessoa do plural e interpelando diretamente o seu interlocutor.

O candidato poderia ficar em dúvida quanto à alternativa A, pois há, nela, uma pergunta, que poderia validar a interlocução. No entanto, tal questionamento feito pelo cronista não tem como objetivo obter resposta de seu interlocutor, mas sim estabelecer a coesão textual com a ideia que vem logo em seguida. Desse modo, não se pode afirmar que há nesse fragmento uma interlocução direta com o leitor.