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Questão 3 Unesp 2022 - 2ª fase

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Questão 3

Interpretação de Textos

Leia o ensaio “Império reverso”, de Eduardo Giannetti, para responder às questões de 03 a 05.

Império reverso — O filósofo grego Diógenes fez da autossuficiência e do controle das paixões os valores centrais de sua vida: um casaco, uma mochila e uma cisterna de argila no interior da qual pernoitava eram suas únicas posses. Intrigado com relatos sobre essa estranha figura, o imperador Alexandre Magno resolveu conferir de perto. Foi até ele e propôs: “Sou o homem mais poderoso do mundo, peça-me o que desejar e lhe atenderei.” Diógenes [...] não titubeou: “O senhor teria a delicadeza de afastar-se um pouco? Sua sombra está bloqueando o meu banho de sol.” O filósofo e o imperador são casos extremos, mas ambos ilustram a tese socrática de que, entre os mortais, o mais próximo dos deuses em felicidade é aquele que de menor número de coisas carece. Alexandre, ex-pupilo e depois mecenas de Aristóteles, aprendeu a lição. Quando um cortesão zombou do morador da cisterna por ter “desperdiçado” a oferta que lhe caíra do céu, o imperador rebateu: “Pois saiba então você que, se eu não fosse Alexandre, eu teria desejado ser Diógenes.” Os extremos se tocam. — “Querei só o que podeis”, pondera o padre Antônio Vieira, “e sereis omnipotentes.”

(Eduardo Giannetti. Trópicos utópicos, 2016.)


Depreende-se do ensaio uma crítica, sobretudo,



a)

à insensibilidade.

b)

à intemperança.

c)

à passividade.

d)

à volubilidade.

e)

à intolerância.

Resolução

a) Incorreta. Não se trata de uma crítica à insensibilidade, uma vez que o ensaio mostra que Alexandre sente-se tocado, em outras palavras, sensibilizado, pelo estilo de vida de Diógenes, transformando-o em uma lição.

b) Correta. O ensaio configura uma crítica à intemperança, pois considera - por meio da citação de padre Antônio Vieira - que a onipotência está na capacidade de se desejar apenas aquilo que se pode ter, ao passo que a intemperança é uma característica que vai de encontro com tal postura, dado que é definida pelo descomedimento, que poderia levar o indivíduo a desejar mais do que pode ter. Além disso,  o estilo de vida de Diógenes, que dá o mote do ensaio, é descrito como moderado, comedido. 

c) Incorreta. Não há crítica à passividade, pois o ensaio não classifica a postura de Diógenes como indiferente ou apática diante da existência humana, mas adequada ao alcance da felicidade, do ponto de vista socrático. 

d) Incorreta. Embora Alexandre tenha sido convencido pelo estilo de vida de Diógenes, não é possível afirmar que o ensaio interprete o convencimento como volubilidade (falta de perseverança), mas como compreensão.

e) Incorreta. O ensaio em questão não faz uma crítica à intolerância,  afinal retrata que o suposto embate entre o imperador e o filósofo, que poderia gerar uma atitude intolerante por parte do primeiro, dadas as relações de poder, na verdade, produz uma modificação na visão de Alexandre sobre a vida, influenciado por Diógenes.