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Questão 6 Unesp 2022 - 2ª fase

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Questão 6

Camões Lírica de Camões

Para responder às questões de 06 a 08, leia o soneto de Luís de Camões.

Enquanto quis Fortuna1 que tivesse
Esperança de algum contentamento,
O gosto de um suave pensamento2 
Me fez que seus efeitos escrevesse.

Porém, temendo Amor3 que aviso desse
Minha escritura a algum juízo isento4 ,
Escureceu-me o engenho5 com tormento,
Para que seus enganos não dissesse.

Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
A diversas vontades, quando lerdes
Num breve livro casos tão diversos,

Verdades puras são, e não defeitos6 ,
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
Tereis o entendimento de meus versos.

(Luís de Camões. 20 sonetos, 2018.)

1 Fortuna: entidade mítica que presidia a sorte dos homens.
2 suave pensamento: sentimento amoroso.
3 Amor: entidade mítica que personifica o amor.
4 juízo isento: os inocentes do amor, aqueles que nunca se apaixonaram.
5 engenho: talento poético, inspiração.
6 defeitos: inverdades, fantasia.


No soneto, Amor teme que



a)

o eu lírico perca sua inspiração.

b)

a poesia do eu lírico não seja sincera.

c)

a poesia do eu lírico não seja compreendida.

d)

o eu lírico esqueça sua amante.

e)

o eu lírico divulgue seus enganos.

Resolução

a) Incorreta. Amor trabalha para que o eu-lírico perca sua inspiração, obscurecendo seu engenho com dores e tormentos.

b) Incorreta. Amor teme que a sinceridade da poesia do eu-lírico possa alertar os amantes sobre seus enganos.

c) Incorreta. Pelo contrário, para Amor, é importante que os leitores não entendam a poesia do eu-lírico para, assim, não tomarem consciência a respeito de seus enganos e tornarem-se vulneráveis a seus ataques.

d) Incorreta. O poeta não afirma que os tormentos de Amor provocam o esquecimento da amada. Com base na leitura do soneto, pode-se afirmar que o amor persiste apesar da experiência dos sofrimentos.

e) Correta. Na primeira estrofe, o eu-lírico declara que, enquanto a Fortuna lhe permitiu alimentar a esperança de obter algum contentamento em relação ao amor, ele se inspirou para escrever os efeitos que esse sentimento provocava em sua alma. Porém, o Amor – assumindo a face perversa do deus Cupido -, impôs inúmeros sofrimentos ao poeta de modo a perturbar a sua inspiração. O objetivo do Amor era impedir que o poeta escrevesse sobre os enganos com os quais iludia os amantes. Desse modo, aqueles leitores que tinham o “juízo isento”, ou seja, que nunca se apaixonaram, não seriam alertados sobre os perigos do Amor e, assim, não poderiam se proteger ou se esquivar das artimanhas desse deus cruel e pernicioso.