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Fuvest 2021 - 2ª fase - dia 2


Questão 1 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Iluminismo Revolução Francesa

De acordo com o historiador Nicolau Sevcenko, é possível identificar um “confronto entre o impulso libertador, presente nos anseios de mudança social, e o caráter autoritário, elitista do planejamento reformador” em muitas obras produzidas por escritores identificados com o pensamento Iluminista.

“Apresentação”. Restif de La Bretonne. Noites revolucionárias. São Paulo: Estação Liberdade, 1989.

a) Cite um pensador identificado com o Iluminismo.

b) Identifique dois elementos do Iluminismo que contribuíram para a crítica do Antigo Regime.

c) Indique uma medida marcada pelo “impulso libertador” e outra pelo “planejamento reformador” adotada durante a Convenção Nacional ou sob o Diretório.



Resolução

a) Foram pensadores identificados com o iluminismo francês Voltaire (1694-1778), Barão de Montesquieu (1689-1755), Jean Jacques-Rousseau (1712-1778), Diderot e D'Alembert, além do inglês John Locke (1632-1704).
b) O Antigo Regime pode ser definido como o conjunto de características sociais, políticas e econômicas da Europa durante a Modernidade (entre os séculos XV a XVIII). Sua manifestação no campo político eram as monarquias absolutistas, construídas com base no poder absoluto do rei e nas tradições herdadas dos processos de consolidação das monarquias nacionais. Já no aspecto social, vigorava uma organização estamental, com as posições sociais definidas pelo nascimento e pautadas em privilégios. Por fim, em sua dimensão econômica, o mercantilismo assegurava a intervenção do rei na economia, medidas protecionistas, o metalismo, o colonialismo e a busca por balança comercial favorável (situação na qual as exportações superam as importações). Tal arranjo era alvo de críticas nos trabalhos dos pensadores iluministas, que propunham a criação de uma sociedade fundada nos postulados do racionalismo, do cientificismo e do progresso da espécie humana. Nesse sentido, quanto à política, os iluministas criticavam o absolutismo monárquico, considerando sua estrutura e legitimação pela Teoria do Direito Divino contrárias aos princípios racionalistas, à soberania popular e às liberdades individuais. Aqui, dentre os pensadores iluministas, destaca-se a contribuição de Montesquieu, pois, para o autor, as leis não deveriam ser resultado do capricho de quem governa, mas sim da realidade histórica e social do povo. Ademais, o autor também ressaltava a importância da divisão dos poderes do Estado em executivo, legislativo e judiciário, impedindo assim a concentração exclusivamente nas mãos do monarca. Outro pensador do chamado "século das luzes" contrário aos princípios do Antigo Regime foi Jean-Jacques Rousseau, que defendeu em sua obra "O Contrato Social" uma organização social na qual todos os homens deveriam ser súditos e soberanos ao mesmo tempo, ou seja, uma preservação da igualdade entre os associados do corpo político, contrapondo-se à rígida hierarquia estamental presente na organização social do Antigo Regime.
Por fim, outro elemento do Iluminismo que contribuiu para a crítica do Antigo Regime foi a preocupação de difundir informações e conhecimentos, buscando uma utilidade para suas reflexões a partir da circulação de ideias. Buscando o "esclarecimento", os iluministas Diderot e D'Alembert organizaram a Enciclopédia ou Dicionário Razoado das Ciências, Artes e Ofícios, inciativa que buscava organizar e difundir o conhecimento em contraponto à censura das cortes absolutistas, contrária à livre expressão de opiniões.
c) A questão menciona dois períodos da Revolução Francesa (1789-1799), marco inicial da Idade Contemporânea e principal evento vinculado à derrocada do Antigo Regime francês. A Convenção Nacional teve início em setembro de 1792, logo após a Proclamação da República como novo regime político pela Assembleia Nacional. Nesse período, destaca-se a implementação do projeto político jacobino, especialmente a partir de 1793, com ênfase na criação de medidas de tendência popular e na radicalização dos princípios sociais da revolução. Aqui, podemos citar como exemplos do "impulso libertador" a adoção do sufrágio universal, a definição do trabalho e da instrução pública como direitos básicos (defendendo a criação de uma educação pública e gratuita), a implementação da reforma agrária nas propriedades dos nobres emigrados, a abolição da escravidão nas colônias francesas e/ou o estabelecimento da Lei do Máximo (fixação do maior preço a ser cobrado pelas mercadorias comercializadas).
Por sua vez, o período do Diretório (1795-1799) representou a retomada do processo revolucionário pela alta burguesia, ou seja, o retorno da alta cúpula dos girondinos ao poder. No Diretório, o poder executivo era exercido por cinco pessoas eleitas pelo Legislativo, os diretores, enquanto o poder legislativo era exercido por duas Câmaras. Nesse período, podemos citar como medidas que representam o "planejamento reformador" o fim da Lei do Máximo, liberando os preços dos alimentos e de outros produtos, além do restabelecimento do voto censitário pela Constituição de 1795. Podemos citar ainda a repressão do movimento liderado por Graco Babeuf, que pregava a volta da constituição jacobina e da igualdade social, conhecido como "Conspiração dos Iguais".

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Lei de Terras

No dia 18 de setembro de 1850, o Parlamento brasileiro aprovou a lei nº 601 que ficou conhecida como a “Lei de Terras”.

a) Indique uma alteração no regime da propriedade fundiária no Brasil prevista pela lei.

b) Quais os beneficiários desse dispositivo jurídico no século XIX?

c) Mencione dois efeitos dessa legislação sobre as formas de organização do trabalho na economia cafeeira.



Resolução

a) Durante o período colonial e em meados do Império, o acesso à terra era possível por vários meios, como a ocupação, a doação da Coroa, a compra ou a herança. A Lei de Terras alterou significativamente esse processo ao proibir a doação e ao restringir o acesso somente através da compra, tornando as propriedades sem comprovação de posse em "terras devolutas" da nação, ou seja, em terras do Estado que poderiam ser adquiridas por meio de hasta pública (leilão).
b) A Lei de Terras favoreceu a elite latifundiária, representada por cafeicultores do Rio e de São Paulo, que usavam de sua influência para legitimar a posse e conseguiram impor a maioria dos seus interesses transformando-os em ordenamento jurídico. Esse favorecimento ocorreu, pois a lei proibia a doação de terras, só sendo possível obtê-las a partir da compra. Em seu aspecto prático, os proprietários de terras ocupadas poderiam ter seus limites demarcados e ter a comprovação do pagamento de um imposto territorial, para que fossem reconhecidos como donos do direito de uso. Esses mecanismos garantiam o reconhecimento das posses, excluindo a possibilidade de grandes proprietários perderem suas terras, além das formas de registro que davam poder ao proprietário para determinar as terras possuídas e sua extensão.
c) A Lei de Terras foi aprovada alguns dias após a Lei Eusébio de Queirós (1850), que encerrava o tráfico negreiro no país e apontava para a possibilidade de intensa imigração para substituição da mão-de-obra. Nesse contexto, os grandes produtores de café buscavam uma forma de evitar que imigrantes, homens pobres livres e ex-escravos tivessem acesso à terra, embasados pelo argumento de que isso ocasionaria falta de mão-de-obra nas fazendas. Considerando o contexto de sua elaboração, podemos mencionar que a Lei de Terras teve como efeito a manutenção do sistema migratório (inicialmente o sistema de colônias de parceria e posteriormente a imigração subvencionada pelo governo), já que impossibilitava que os imigrantes preterissem o trabalho nas fazendas diante da perspectiva de trabalhar em uma terra própria ocupada. Outro efeito derivado do novo papel da terra no sistema produtivo do café foi a manutenção do trabalho organizado dentro da lógica latifundiária, com a dificultação da permanência de pequenas propriedades, especialmente localizadas nas regiões de fronteira. Surge então a figura do grileiro, que assumia um papel de expulsar os posseiros e tomava diversas medidas, lícitas e ilícitas, para regularizar a terra dos grandes proprietários. Os altos custos do processo de regularização das terras também dificultavam que pequenas propriedades se mantivessem, favorecendo a organização do trabalho dentro da lógica latifundiária.

Questão 3 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Vargas Segundo Governo Vargas João Goulart

“Em 1945, 1954 e 1964, datas de movimentos vitoriosos contra o presidente do país, a pressão civil no sentido de intervenção militar no processo político cresceu e foi comunicada aos militares através de contatos pessoais, manifestos públicos e editoriais da imprensa. [...] Normalmente, os pedidos de intervenção afirmavam que o presidente estava agindo de maneira ilegal e que, em face destas condições, a cláusula de ‘obediência dentro dos limites da lei’ os dispensava do dever de obedecer ao chefe do executivo”.

Stepan, A. Os militares na política. Rio de Janeiro: 1975, p. 73.

a) Identifique um partido político que atuou na oposição aos presidentes nos três momentos citados no texto.

b) Indique duas diferenças entre as crises políticas enfrentadas pelo presidente Vargas em 1945 e 1954.

c) Caracterize uma medida econômico-social que teria contribuído para as crises de 1954 e 1964.



Resolução

a) Os presidentes que sofreram oposição nos momentos mencionados no texto eram Vargas no final da Ditadura Estadonovista (1937-1945), Vargas no final de seu segundo governo (1951-1954) e João Goulart (1961-1964). O partido que atuou na oposição aos presidentes nesses três momentos foi a União Democrática Nacional (UDN), partido fundado em abril de 1945, reunindo diversos setores da oposição à Ditadura do Estado Novo. O principal aspecto desse partido era a oposição constante a Vargas e ao getulismo, sendo que seu principal adversário nas urnas era o Partido Social Democrático (PSD), de base getulista e de representação majoritária no Congresso Nacional. O partido protagonizou intensa oposição aos governos de Getúlio Vargas (1951-1954), Juscelino Kubitschek (1956-1961) e João Goulart (1961-1964), apoiando o golpe político-militar que depôs o último.
b) Podemos citar como diferenças entre as crises enfrentadas em 1945 e 1954: o contexto geral ditatorial em 1945 e democrático em 1954; as influências de questões internacionais (participação na Segunda Guerra Mundial) preponderantes na primeira e minoritárias na segunda; a crise econômica inflacionária acentuada em 1954 e a presença marcante da imprensa como elemento hostil e desestabilizador do governo em 1954 (menor em 1945 devido ao contexto ditatorial). Em meados de 1945, acentuava-se a crise política que culminou no fim da Ditadura estadonovista, estabelecida por Vargas desde 1937. A pressão pelo retorno da democracia acelerou após a participação do Brasil na Segunda Guerra, que enviou soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para lutar ao lado dos Aliados no combate aos regimes totalitários da Itália e da Alemanha. A vitória das forças aliadas representou o triunfo dos ideais democráticos contra os modelos políticos autoritários, gerando uma contradição interna ao Brasil - que, por sua vez, vivia um regime ditatorial. Nesse ponto, a oposição se articulou pela democratização e organizou protestos e manifestos políticos, com destaque ao Manifesto dos Mineiros (1943). Para contornar a crise, Vargas assegurou que o país teria suas eleições presidenciais ao fim da guerra, sem, no entanto, convencer a oposição da intenção varguista desse projeto, já que temiam um possível recuo de Vargas e um cancelamento do pleito eleitoral. Tal temor era justificado por alguns pontos, como o "queremismo" - movimento popular que manifestava apoio político incondicional ao ditador - e a destituição do chefe de Polícia do Distrito Federal, acompanhada da nomeação do irmão de Vargas para o cargo. Diante das desconfianças dos planos continuístas de Vargas, este foi deposto em outubro de 1945 por ação do Alto Comando do Exército.
Já a crise de 1954 ocorreu em um contexto de governo democrático, pois Vargas tinha sido eleito constitucionalmente em 1951. É possível mencionar como elementos da crise do Segundo Governo Vargas os seguintes pontos: a onda de greves decorrente do aumento da inflação (por exemplo, a significativa Greve dos 300 mil); o aumento das disputas políticas entre o governo getulista e a UDN; a forte oposição dos militares ao aumento de 100% do salário mínimo - proposto por João Goulart e executado por Vargas; o atentado contra Carlos Lacerda (líder da UDN e principal opositor de Vargas) na Rua Tonelero, resultando em uma investigação conduzida pelos militares e no fortalecimento da oposição que exigia sua renúncia. Nesse período, a hostilidade ao presidente também era crescente nos órgãos de comunicação, com destaque para o jornal Tribuna da Imprensa, do principal líder da oposição Carlos Lacerda, que ataca violentamente o presidente com vistas a desestabilizar o governo e forçar a renúncia. O quadro de forte crise teve seu ápice na madrugada do dia 24 de agosto de 1954, quando Vargas soube que sua proposta de afastamento do cargo enquanto durassem as investigações sobre o atentado não tinha sido aceita, sendo exigida sua renúncia incondicional. Na manhã do mesmo dia, Vargas suicidou-se, deixando uma carta-testamento justificando seu ato.
c) Uma medida econômico-social que contribuiu para a crise de 1954 foi a proposta de João Goulart, ministro do Trabalho de Vargas, de um projeto de aumento do salário-mínimo de 100%. Embora Jango tenha sido afastado do cargo, Vargas decidiu implementar a medida e anunciou no dia 1º de maio de 1954 o novo salário, causando grande descontentamento na oposição. A medida levou ao acirramento da oposição ao seu governo e os militares lançaram o chamado Manifesto dos Coronéis, com a assinatura de 82 oficiais, deixando explícito o descontentamento com a proposta e apontando a impossibilidade de um trabalhador ganhar o mesmo "salário" de um segundo-tenente do Exército. A tensa relação entre os militares e o governo foi agravada após a morte de um major da Aeronáutica no atentado contra Carlos Lacerda, já que o episódio causou um alvoroço na opinião pública devido às suspeitas do envolvimento de Vargas. Os clamores da oposição udenista ganharam apoio dos militares, exigindo a saída imediata do presidente da República.
Já em 1964, podemos mencionar como medida econômico-social que contribuiu para a crise a defesa do projeto das Reformas de Base por João Goulart. Tratava-se de um conjunto de medidas econômicas e sociais de caráter nacionalista que previam maior intervenção do Estado na economia e visavam uma alteração das estruturas econômicas, sociais e políticas do país, permitindo um desenvolvimento econômico autônomo e justiça social. As reformas abrangiam a área educacional (ampliação de matrículas, combate ao analfabetismo, reforma universitária), financeira (controle da remessa de lucros para o exterior), eleitoral (extensão do direito de voto aos analfabetos e militares de baixa patente) e, a principal delas, a reforma agrária. As reformas, com destaque para a agrária, causaram uma intensa reação conservadora no Congresso Nacional. O projeto das reformas acentuou uma drástica polarização no cenário nacional, entre os movimentos sociais que defendiam sua implementação e os setores conservadores que solicitavam intervenção militar para barrá-las. A tensão entre Goulart e o Congresso, bem como o anúncio da desapropriação de faixas de terras no Comício da Central (março de 1964) atemorizou conservadores e acelerou o golpe que causou uma ruptura democrática de 21 anos.

Questão 4 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Baixo Império romano Cristianismo Cesaropapismo

“Assim se realizam, no correr do século IV, a transformação do cristianismo de religião perseguida em religião do estado e a transformação de um deus rejeitado em um Deus oficial. Os homens e as mulheres que vivem na Europa ocidental passam, em poucos decênios, do culto de uma multiplicidade de deuses a um Deus único”.

LE GOFF, J. O Deus da Idade Média. Conversas com Jean-Luc Pouthier. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 19-20.

a) Indique uma motivação que levou o Império Romano a adotar o cristianismo como religião oficial em seus domínios.

b) Aponte dois exemplos da incorporação de elementos do paganismo às práticas devocionais cristãs na passagem da Antiguidade para a Idade Média.

c) Indique duas características do cesaropapismo que se desenvolveu na cristandade oriental. 



Resolução

a) Durante os primeiros séculos de sua existência, enquanto definia sua doutrina e iniciava sua organização institucional, o Cristianismo foi perseguido pelo Império Romano. O culto ao Cristo não se coadunava com a adoração recebida pelo imperador e os pressupostos cristãos de desprendimento da vida terrena não dialogavam com o materialismo presente na cultura clássica romana. Dessa forma, as diferenças doutrinárias estenderam-se às questões políticas. Imperadores como Nero (que reinou de 54 a 68) e Diocleciano (cujo governo se estendeu de 284 a 305) tornaram-se famosos pelas perseguições aos cristãos. Porém, durante o governo de Constantino (306-337) a situação se alterou. Além do próprio imperador ter se convertido ao cristianismo, o Concílio de Niceia (325) permitiu a liberdade religiosa e encerrou a perseguição. Posteriormente, o imperador Teodósio (378-395), por meio do Édito de Tessalônica (380), tornou o cristianismo religião oficial do Império Romano. A partir de então, a perseguição passou a ocorrer direcionada a qualquer um que não fosse cristão.

Como motivação para a adoção do Cristianismo como religião oficial nos domínios romanos, podem ser indicados: a influência política e simbólica que a conversão do imperador Constantino representa naquele momento; o alto número de cristãos que já existia nos domínios do Império Romano, parcela da população que se destaca ainda mais depois de receber a liberdade religiosa no Concílio de Niceia; a oportunidade de que a institucionalização da Igreja pudesse criar uma estrutura burocrática administrativa eficiente, já que havia diversos bispos católicos atuando em boa parte do território dominado por Roma; a perspectiva de que a unificação doutrinária do Cristianismo, inclusive com a definição de quais textos comporiam a Bíblia, poderia evitar dissensões religiosas e culturais e frear parcialmente um processo de desagregação que o Império Romano vinha sofrendo.

b) Mesmo com o Cristianismo tendo se tornado religião oficial em um território bastante extenso, práticas pagãs continuaram existindo e foram inclusive incorporadas aos rituais cristãos, principalmente no contexto posterior às invasões bárbaras, que marcam a queda do Império Romano, a passagem da Antiguidade para a Idade Média e o início da formação dos reinos cristãos bárbaros. Essa junção de elementos religiosos era bastante eficiente na pregação religiosa e na mediação cultural entre populações de diferentes origens.

Como exemplos de práticas do paganismo que são incorporadas à devoção cristã podem ser apontados: a utilização de imagens e de ídolos para representar a divindade; a manutenção dos lugares de culto pagãos, apenas substituindo os templos por igrejas; a realização de festas pagãs ressignificadas (como a comemoração do solstício de inverno tornada Natal e a comemoração do solstício de verão tornada Festa de São João); a associação de figuras cristãs com divindades pagãs, como a aproximação que se faz entre Mitra e Jesus Cristo; a adaptação de alguns cânticos pagãos para a forma de orações.

c) O cesaropapismo (termo que une os conceitos de césar - imperador - e papa), destacou-se principalmente no Império Bizantino, ou Império Romano do Oriente, ou seja, entre a cristandade oriental, tem como características principais: a unificação dos poderes religioso e político na figura do soberano, que se torna representante da Igreja e do Estado e define as atribuições de cada um; a subordinação da Igreja ao Estado; a representação do imperador como representante de Deus na terra; a falta de autonomia de sacerdotes e demais representantes religiosos para definirem questões próprias à esfera de sua crença, tanto administrativas quanto doutrinárias.

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Chegada à América Conquista da América

No dia 12 de outubro de 1492, três navios a serviço da coroa de Castela, comandados pelo navegador genovês Cristóvão Colombo, chegaram às atuais Bahamas. Relacione tal acontecimento com a

a) concepção medieval-cristã de que a Terra era uma criação de Deus;

b) competição mercantil interestatal europeia de fins do século XV;

c) memória construída em torno dele em dois momentos dos séculos XX ou XXI.



Resolução

a) A viagem de Colombo, e seu contato com os nativo-americanos, colocaram uma série de novas questões para o contexto europeu de finais do século XV e início do XVI, contexto esse profundamente marcado pela concepção cristã a respeito da criação do mundo. Apesar de Cristóvão Colombo ter planejado uma viagem às Índias, e de ter se mantido firme na opinião de que havia atingido o continente asiático, e não aportado a um conjunto de terras ainda não explorados pelos europeus, o choque cultural decorrente do contato transforma permanentemente os americanos e também os europeus. Como a crença cristã sobre a origem da Terra baseava-se na noção de que a humanidade foi criada por Deus a partir dos seres humanos originais, Adão e Eva, que por sua vez ocupavam um território moldado pela divindade no período de uma semana, a presença de um novo continente e de novas etnias foi perturbadora para os europeus cristãos da época. Buscaram-se, então, a partir das explorações que foram acontecendo ao longo do século XVI, novos argumentos e maneiras de se explicar a origem daquelas populações. De acordo com o livro bíblico de Gênesis, Noé havia tido três filhos: Sem, Cam e Jafet. Desenvolveu-se, portanto, a noção de que a humanidade conhecida havia derivado dessas três raízes, que por sua vez remetiam à Adão e Eva e à expulsão do Jardim do Éden. Com o encontro com nativo-americanos, era necessária uma mudança na interpretação, ou ao menos um alargamento dela. A partir daí, buscaram-se teorias que pudessem ligar os indígenas do continente que ganharia o nome de América com a tradição bíblica, como a hipótese de que São Tomé teria estado nas Américas para pregar o evangelho. Outra corrente de pensamento chega a associar o continente com o paraíso terrestre, o local de onde Adão e Eva teriam sido expulsos. Mas, ao fim e ao cabo, a viagem de Colombo iniciou um processo de choque cultural que mudou definitivamemte as culturas envolvidas (com alguns resultados brutais) e trouxe a noção de alteridade aos viajantes europeus e aos nativos, ou seja, a descoberta de que havia o outro, antes separado por um oceano e agora fazendo parte do mesmo mundo. A ideia, tanto geográfica quanto religiosa, que se possuía de mundo, alargou-se de maneira inevitável e o pensamento cristão inclusive aproveitou esse alargamento para estender a pregação de sua religião entre as populações nativas.
b) Mesmo Colombo sendo de origem genovesa, sua viagem às Índias - que resultou na chegada ao que seria denominado posteriormente como América - foi patrocinada pela coroa espanhola, representada pelo Rei Fernando e pela Rainha Isabel. Dessa forma, a Espanha ganha uma certa vantagem no cenário das navegações em finais do século XV, já que um território a mais se abre para exploração e para o estabelecimento de rotas comerciais e de espaços de extração de matéria-prima. Ao mesmo tempo em que se firma essa vantagem, a competição também vai se intensificar, já que o outro país ibérico, Portugal, também era extramamente atuante nas navegações. É possível, inclusive, que Colombo tenha desenvolvido seu projeto de chegada à Ásia via circunavegação do globo terrestre quando esteve em Portugal. Não podemos afirmar nada em caráter definitivo a respeito disso, já que a documentação é incerta, mas a possibilidade de contato de Colombo com as navegações portuguesas não é algo a ser desprezado. Portugal, inclusive, já havia conseguido cruzar o Cabo das Tormentas (tornado Cabo da Boa Esperança), em 1488, antes da primeria viagem de Colombo; e chegaria às Índias, com Vasco da Gama, em 1498. O próprio Colombo continuaria suas explorações e realizaria outras viagens, o que exemplifica o cenário de competição mercantil entre os Estados europeus, representado pelas navegações.
c) A figura de Colombo foi ressignificada ao longo do tempo, com diversas pesquisas historiográficas e movimentos políticos e sociais sendo responsáveis por esse processo. Até meados do século XX, por exemplo, não se faziam grandes questionamentos sobre a ideia de descobrimento da América, ou seja, a figura de Colombo era louvada como o descobridor do continente, esquecendo detalhes como a própria crença do navegador de que havia chegado às Índias ou o conceito problemático de descobrimento. Obras como a do historiador mexicano Edmundo O'Gorman, que, em seu A Invenção da América (1958) traz documentos que lhe ajudam a argumentar sobre os problemas em se atribuir a Colombo a noção de descobrimento, derrubam o mito colombino de seu pedestal e propõem uma nova elaboração memorialística. Mesmo que O'Gorman escreva duzentas páginas para depois prejudicar toda sua tese na conclusão, ao afirmar a superioridade da cultura europeia sobre as demais, seu trabalho foi pioneiro em questionar a mitificação de Colombo e em mostrar como a noção de América foi elaborada, inventada. 
Em quase toda a América, a figura de Colombo e a noção de descobrimento são comemorados em outubro, em referência ao dia 12 de outubro de 1492, quando as naus de Colombo aportaram na atual América Central. Por ocasião dos quinhentos anos da data, em 1992, as comemorações foram ainda mais estrondosas, contando inclusive com o lançamento de um filme sobre as viagens de Colombo dirigido por Ridley Scott, 1942: A Conquista do Paraíso. Nos Estados Unidos, por exemplo, há a comemoração do Columbus Day, festa muito significativa para os ítalo-americanos, que enxergam na figura do navegador uma maneira de construir uma memória gloriosa sobre a ascendência italiana, que simbolizaria também o movimento migratório Itália-América. Movimentos sociais e organizações ligadas às lutas pelos direitos dos nativo-americanos questionam essa comemoração e esse louvor a Colombo, identificando-o não como descobridor glorioso, mas sim como iniciador do processo de genocídio indígena nas Américas. Assim, elabora-se uma memória crítica a respeito do brutal genocídio espanhol. Algumas comunidades nativas inclusive comemoram o Indigenous Peoples' Day no mesmo dia em que se comemoraria o Columbus Day. Esse movimento de crítica à memória oficial ou patriótica vem tendo mais aceitação nos últimos anos, com ações como o cancelamento das festas em honra a Colombo ou o ataque às estátuas que o representam, o que levou inclusive a que alguns momumentos fossem retirados de maneira definitiva e oficial do espaço público, levando também a uma ressignificação da memória espacial.

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Declínio do açúcar Extração de Ouro

R. Simonsen, História econômica do Brasil. 7ª ed. São Paulo: Companhia Ed. Nacional, 1977.

A partir da análise do gráfico, no qual a ordenada corresponde a valores totais de exportação (em milhões de libras esterlinas) e a abcissa a intervalos de tempo (em décadas), justifique

a) o declínio nos valores do açúcar entre, aproximadamente, 1650 e 1710;

b) a diferença entre os valores totais e a somatória dos valores de açúcar e ouro por volta de 1760;

c) a diferença entre os valores de açúcar e ouro por volta de 1810.



Resolução

a) O declínio nos índices de exportação de açúcar entre os anos de 1650 e 1710 deve-se a um aumento de concorrência com o produto holandês desenvolvido nas Antilhas a partir da expulsão dos holandeses do território brasileiro. Houve presença holandesa efetiva no Nordeste brasileiro entre os anos de 1630 e 1654. Após a restauração da monarquia portuguesa em 1640, anulando o processo de União Ibérica (1580-1640) e o evento conhecido como Insurreição Pernambucana (1645-1654), os holandeses retiraram-se do Brasil e impulsionaram o cultivo de cana e a produção de açúcar em suas colônias antilhanas. Como dominavam todas as etapas da produção, diferentemente do período no qual adquiriam açúcar bruto de Portugal e depois refinavam e comercializavam o produto, conseguiam oferecer o artigo a preços mais competitivos, fazendo frente ao açúcar produzido no Brasil e resultando em uma diminuição nas exportações açucareiras da colônia portuguesa e, consequentemente, a uma menor arrecadação de dinheiro.
b) A partir de 1760, inicia-se uma redução nas exportações de ouro e açúcar. De acordo com o gráfico, a somatória dos valores obtidos com a importação desses dois produtos seria inferior às exportações totais, o que indica um aumento na importância de outros produtos. A partir disso, podemos nos remeter à diversificação ocorrida na segunda metade do século XVIII, no período pombalino (1750-1777), que pode ser chamada de Renascimento Agrícola. Nesse momento, que conta com um esgotamento natural das minas de ouro, estimula-se a produção de outros artigos, como charque, algodão, arroz, anil, peças de couro, que passam a fazer parte da agenda de exportações nacional.
c) Desde meados do século XVIII a exploração aurífera vinha apresentando redução, devido a dificuldades técnicas de extração e também a um esgotamento dos veios. Com algumas intercorrências, a diminuição da importância do ouro na agenda de exportações brasileira é constante, e nisso o açúcar não o acompanha de maneira tão exata. No cenário de 1810, foram assinados os acordos comerciais entre Brasil e Inglaterra, principalmente o Tratado de Comércio e Navegação, que facilita a entrada de produtos ingleses no Brasil. Em 1808, com a vinda da família real à colônia, já havia ocorrido a abertura dos portos às nações amigas, fato que modifica as relações comerciais e a agenda de exportações e importações. O açúcar sofre uma ligeira queda nas exportações, o que pode ser justificado por concorrência e também pelo aumento nas exportações de outros produtos, como fumo, retratado pelo gráfico, que indica um crescimento nas exportações totais a partir do referido ano. Porém, mesmo que tanto açúcar quanto ouro tenham apresentado queda, nota-se uma diferença entre os dois produtos, que mostra o açúcar como ocupando mais espaço do que o ouro, algo explicado pelo esgotamento das reservas auríferas ao mesmo tempo em que a demanda por açúcar, mesmo reduzida, não desapareceu. Tanto que a produção açucareira continuou ocupando posição importante entre os produtos brasileiros oferecidos para exportação ao longo do século XIX, o que não ocorreu com o ouro, que apresentou uma queda constante.