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Questão 4 Fuvest 2021 - 2ª fase - dia 2

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Questão 4

Baixo Império romano Cristianismo Cesaropapismo

“Assim se realizam, no correr do século IV, a transformação do cristianismo de religião perseguida em religião do estado e a transformação de um deus rejeitado em um Deus oficial. Os homens e as mulheres que vivem na Europa ocidental passam, em poucos decênios, do culto de uma multiplicidade de deuses a um Deus único”.

LE GOFF, J. O Deus da Idade Média. Conversas com Jean-Luc Pouthier. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 19-20.

a) Indique uma motivação que levou o Império Romano a adotar o cristianismo como religião oficial em seus domínios.

b) Aponte dois exemplos da incorporação de elementos do paganismo às práticas devocionais cristãs na passagem da Antiguidade para a Idade Média.

c) Indique duas características do cesaropapismo que se desenvolveu na cristandade oriental. 



Resolução

a) Durante os primeiros séculos de sua existência, enquanto definia sua doutrina e iniciava sua organização institucional, o Cristianismo foi perseguido pelo Império Romano. O culto ao Cristo não se coadunava com a adoração recebida pelo imperador e os pressupostos cristãos de desprendimento da vida terrena não dialogavam com o materialismo presente na cultura clássica romana. Dessa forma, as diferenças doutrinárias estenderam-se às questões políticas. Imperadores como Nero (que reinou de 54 a 68) e Diocleciano (cujo governo se estendeu de 284 a 305) tornaram-se famosos pelas perseguições aos cristãos. Porém, durante o governo de Constantino (306-337) a situação se alterou. Além do próprio imperador ter se convertido ao cristianismo, o Concílio de Niceia (325) permitiu a liberdade religiosa e encerrou a perseguição. Posteriormente, o imperador Teodósio (378-395), por meio do Édito de Tessalônica (380), tornou o cristianismo religião oficial do Império Romano. A partir de então, a perseguição passou a ocorrer direcionada a qualquer um que não fosse cristão.

Como motivação para a adoção do Cristianismo como religião oficial nos domínios romanos, podem ser indicados: a influência política e simbólica que a conversão do imperador Constantino representa naquele momento; o alto número de cristãos que já existia nos domínios do Império Romano, parcela da população que se destaca ainda mais depois de receber a liberdade religiosa no Concílio de Niceia; a oportunidade de que a institucionalização da Igreja pudesse criar uma estrutura burocrática administrativa eficiente, já que havia diversos bispos católicos atuando em boa parte do território dominado por Roma; a perspectiva de que a unificação doutrinária do Cristianismo, inclusive com a definição de quais textos comporiam a Bíblia, poderia evitar dissensões religiosas e culturais e frear parcialmente um processo de desagregação que o Império Romano vinha sofrendo.

b) Mesmo com o Cristianismo tendo se tornado religião oficial em um território bastante extenso, práticas pagãs continuaram existindo e foram inclusive incorporadas aos rituais cristãos, principalmente no contexto posterior às invasões bárbaras, que marcam a queda do Império Romano, a passagem da Antiguidade para a Idade Média e o início da formação dos reinos cristãos bárbaros. Essa junção de elementos religiosos era bastante eficiente na pregação religiosa e na mediação cultural entre populações de diferentes origens.

Como exemplos de práticas do paganismo que são incorporadas à devoção cristã podem ser apontados: a utilização de imagens e de ídolos para representar a divindade; a manutenção dos lugares de culto pagãos, apenas substituindo os templos por igrejas; a realização de festas pagãs ressignificadas (como a comemoração do solstício de inverno tornada Natal e a comemoração do solstício de verão tornada Festa de São João); a associação de figuras cristãs com divindades pagãs, como a aproximação que se faz entre Mitra e Jesus Cristo; a adaptação de alguns cânticos pagãos para a forma de orações.

c) O cesaropapismo (termo que une os conceitos de césar - imperador - e papa), destacou-se principalmente no Império Bizantino, ou Império Romano do Oriente, ou seja, entre a cristandade oriental, tem como características principais: a unificação dos poderes religioso e político na figura do soberano, que se torna representante da Igreja e do Estado e define as atribuições de cada um; a subordinação da Igreja ao Estado; a representação do imperador como representante de Deus na terra; a falta de autonomia de sacerdotes e demais representantes religiosos para definirem questões próprias à esfera de sua crença, tanto administrativas quanto doutrinárias.