R. Simonsen, História econômica do Brasil. 7ª ed. São Paulo: Companhia Ed. Nacional, 1977.
A partir da análise do gráfico, no qual a ordenada corresponde a valores totais de exportação (em milhões de libras esterlinas) e a abcissa a intervalos de tempo (em décadas), justifique
a) o declínio nos valores do açúcar entre, aproximadamente, 1650 e 1710;
b) a diferença entre os valores totais e a somatória dos valores de açúcar e ouro por volta de 1760;
c) a diferença entre os valores de açúcar e ouro por volta de 1810.
a) O declínio nos índices de exportação de açúcar entre os anos de 1650 e 1710 deve-se a um aumento de concorrência com o produto holandês desenvolvido nas Antilhas a partir da expulsão dos holandeses do território brasileiro. Houve presença holandesa efetiva no Nordeste brasileiro entre os anos de 1630 e 1654. Após a restauração da monarquia portuguesa em 1640, anulando o processo de União Ibérica (1580-1640) e o evento conhecido como Insurreição Pernambucana (1645-1654), os holandeses retiraram-se do Brasil e impulsionaram o cultivo de cana e a produção de açúcar em suas colônias antilhanas. Como dominavam todas as etapas da produção, diferentemente do período no qual adquiriam açúcar bruto de Portugal e depois refinavam e comercializavam o produto, conseguiam oferecer o artigo a preços mais competitivos, fazendo frente ao açúcar produzido no Brasil e resultando em uma diminuição nas exportações açucareiras da colônia portuguesa e, consequentemente, a uma menor arrecadação de dinheiro.
b) A partir de 1760, inicia-se uma redução nas exportações de ouro e açúcar. De acordo com o gráfico, a somatória dos valores obtidos com a importação desses dois produtos seria inferior às exportações totais, o que indica um aumento na importância de outros produtos. A partir disso, podemos nos remeter à diversificação ocorrida na segunda metade do século XVIII, no período pombalino (1750-1777), que pode ser chamada de Renascimento Agrícola. Nesse momento, que conta com um esgotamento natural das minas de ouro, estimula-se a produção de outros artigos, como charque, algodão, arroz, anil, peças de couro, que passam a fazer parte da agenda de exportações nacional.
c) Desde meados do século XVIII a exploração aurífera vinha apresentando redução, devido a dificuldades técnicas de extração e também a um esgotamento dos veios. Com algumas intercorrências, a diminuição da importância do ouro na agenda de exportações brasileira é constante, e nisso o açúcar não o acompanha de maneira tão exata. No cenário de 1810, foram assinados os acordos comerciais entre Brasil e Inglaterra, principalmente o Tratado de Comércio e Navegação, que facilita a entrada de produtos ingleses no Brasil. Em 1808, com a vinda da família real à colônia, já havia ocorrido a abertura dos portos às nações amigas, fato que modifica as relações comerciais e a agenda de exportações e importações. O açúcar sofre uma ligeira queda nas exportações, o que pode ser justificado por concorrência e também pelo aumento nas exportações de outros produtos, como fumo, retratado pelo gráfico, que indica um crescimento nas exportações totais a partir do referido ano. Porém, mesmo que tanto açúcar quanto ouro tenham apresentado queda, nota-se uma diferença entre os dois produtos, que mostra o açúcar como ocupando mais espaço do que o ouro, algo explicado pelo esgotamento das reservas auríferas ao mesmo tempo em que a demanda por açúcar, mesmo reduzida, não desapareceu. Tanto que a produção açucareira continuou ocupando posição importante entre os produtos brasileiros oferecidos para exportação ao longo do século XIX, o que não ocorreu com o ouro, que apresentou uma queda constante.