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Unesp - 1ª fase


Questão 51 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Agricultura

 

Texto 1

 

A água sai de Cabrobó

Parnamirim, Salgueiro

Até Jati

Deixe o rio desaguar doutor

Pra acabar Com o sofrimento daqui

 

O São Francisco

Com sua transposição

No meu Nordeste

O progresso vai chegar

[...]

Na contramão

O meu sertão não vai ficar

 

(Aracílio Araújo. “Deixe o rio desaguar”. www.letras.mus.br.)

 

Texto 2

 

Os vazanteiros, que fazem horticultura no leito dos rios que perdem fluxo durante o ano, serão os primeiros a serem totalmente prejudicados. Mas os técnicos insensíveis dirão com enfado: “a cultura de vazante já era”, postergando a realocação dos heróis que abastecem as feiras dos sertões. A eles se deve conceder a prioridade em relação aos espaços irrigáveis a serem implantados com a transposição. De imediato, porém, serão os proprietários absenteístas1 da beira alta e colinas sertanejas que terão água disponível para o gado, o que agregará ainda mais valor às suas terras.

(Aziz N. Ab’Sáber. “A quem serve a transposição das águas do São Francisco?”. Carta Capital, 22.03.2011. Adaptado.)

 

1absenteísmo: sistema de exploração da terra em que o proprietário confia sua administração a intermediários, empreiteiros, rendeiros ou feitores.

 

As perspectivas expressas nos textos 1 e 2 podem ser associadas, respectivamente, aos seguintes impactos ambientais provenientes da transposição das águas do Rio São Francisco:

 



a)
aumento da demanda por serviços de saúde e valorização de sítios arqueológicos.
b)
desmobilização da mão de obra e degradação de terras potencialmente férteis.
c)
redução da oferta hídrica e aumento do potencial energético na hidrelétrica de Xingó.
d)
dinamização da economia regional e especulação imobiliária em áreas agricultáveis.
e)
diminuição da recarga dos aquíferos e decréscimo da emigração da região.
Resolução

a) Incorreta. A possibilidade de aumento na demanda por serviços de saúde existe, porém, ela dependeria de um aumento demográfico ou dos núcleos urbanos. Deste modo, não é certo que isso aconteceria e o primeiro excerto não faz alusão a isso. Não há no excerto 2 nenhuma menção aos sítios arqueológicos presentes ao longo do Rio São Francisco, mas sim menção às “comunidades tradicionais” como os vazanteiros.

b) Incorreta. No excerto 1, não há nenhuma referência à mobilização ou não da mão de obra. Sabe-se, no entanto, que a transposição em si gerou um número elevado de empregos diretos e indiretos e que grande parte dessas pessoas ficarão desempregadas após a conclusão total da obra.

c) Incorreta. A transposição do Rio São Francisco é uma obra que tem por objetivo primordial levar água para as áreas mais prejudicadas pelas secas do nordeste, embora existam polêmicas relacionadas aos impactos socioambientais gerados pela obra.

d) Correta. Um dos objetivos da obra de transposição e também fator de destaque previsto pelo EIA RIMA (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental) é justamente o maior dinamismo econômico das áreas que receberão as águas do Rio São Francisco. Tal aspecto é demonstrado quando, no excerto 1, diz-se que “O progresso vai chegar”. Porém, como o conceito de progresso é muito relativo, impactos como a especulação fundiária também podem acontecer, tal aspecto aparece no texto 2 quando se afirma que as terras da “beira alta e colinas sertanejas terão água disponível para o gado, o que agregará ainda mais valor às suas terras”.

e) Incorreta. O texto 1 não faz nenhuma alusão a possibilidade de aumento da recarga de aquífero. Fato é que apesar dos autores do projeto argumentarem que haveria um aumento da recarga dos aquíferos, o EIA RIMA previu justamente o contrário:

Outro suposto impacto positivo do projeto, o aumento da recarga fluvial dos aquíferos (impacto 40), possivelmente não ocorrerá de acordo com a previsão da equipe que desenvolveu o EIA/Rima. Isso porque a infiltração se dará especificamente nos reservatórios que serão construídos e ao longo dos trechos de leito natural dos rios receptores das águas do São Francisco. Os açudes previstos no projeto serão construídos em terrenos de embasamento cristalino, constituído por rochas pouco permeáveis e que acumulam águas em fraturamentos, formando aquíferos limitados e pontuais.

Fonte: Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA). Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/1418/1/TD_1577.pdf.

Destaca-se ainda que a redução ou não da emigração depende do dinamismo econômico da região e das consequências sociais geradas por esse dinamismo, caso a transposição beneficie apenas os grandes fazendeiros, latifundiários e as oligarquias políticas tradicionais da região haveria a permanência da pobreza e a emigração continuaria como está.

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Conferências internacionais sobre meio ambiente

Chancelado na cidade de mesmo nome no Canadá em 1987, o Protocolo de Montreal completa 30 anos em 2017. Esse tratado é considerado um dos mais bem sucedidos da história, prescrevendo obrigações aos 197 países signatários em conformidade com o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas à luz das diversas circunstâncias nacionais.

(https://nacoesunidas.org. Adaptado.)

O protocolo evidenciado no excerto estabelece metas para



a)
contenção dos fatores que contribuem para o processo de desertificação, o qual é derivado do manejo inadequado dos recursos naturais nos espaços subtropicais úmidos.
b)
proteção no campo da transferência, da manipulação e do uso seguros dos organismos vivos modificados, resultantes da biotecnologia moderna.
c)
eliminação das substâncias prejudiciais à camada de ozônio, a qual funciona como um filtro ao redor do planeta, que protege os seres vivos dos raios ultravioleta.
d)
erradicação do conhecimento das comunidades locais e populações indígenas sobre a utilização sustentável da diversidade biológica.
e)
redução das emissões de gases de efeito estufa mediante o incentivo de atividades do 2º setor que promovam a degradação florestal.
Resolução

O Protocolo ou Tratado de Montreal foi assinado no dia 16 de setembro de 1987, porém, somente entrou em vigor em 1 de janeiro de 1989. O acordo visava regulamentar a emissão de efluentes buscando inibir e eliminar a emissão de gases que pudessem reagir com o ozônio (O3) gerando assim o empobrecimento da camada protetora refletora de raios ultra violetas do sol formada principalmente por esse gás. A principal família de gases limitados pelo acordo foi a dos Clorofluorcarbonos (CFCs).

a) Incorreta. A desertificação é um processo de redução da umidade disponível em determinado bioma devido a alterações naturais e, principalmente, antrópicas relacionadas ao uso inadequado dos recursos hídricos, solos e biota. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos das Secas - UNCCD (sigla em Inglês) foi criada no âmbito da ECO92, conferência ambiental realizada no Rio de Janeiro em 1992 que reuniu os Estados-membros da ONU para debater os problemas ambientais da atualidade. Assim, a alternativa não condiz com o que se explicita no texto do enunciado.

b) Incorreta. O protocolo que regulamente a transferência, manipulação e uso dos organismos vivos modificados (OGMs) é o protocolo de Cartagena, assinado em 15 de maio de 2000 em Montreal no Canadá. Porém, era pra ter sido firmado um ano antes em Cartagena (Colômbia) de onde deriva seu nome. O protocolo entrou em vigor em setembro de 2003. Ele é Nomeado Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança, fato que invalida a alternativa.

c) Correta. De fato a alternativa que fala sobre o Protocolo de Montreal definiu a eliminação das substâncias prejudiciais à camada de ozônio, levando assim a uma ação humana mais coerente com o principal mecanismo de proteção que o planeta tem contra a ação prejudicial raios ultravioleta.

d) Incorreta. Tal medida proposta na alternativa não condiz com os princípios do desenvolvimento sustentável defendido pela ONU, tampouco integraria ao gerenciamento e uso adequado dos recursos naturais as comunidades nativas que tanto dependem dessa dinâmica para sua sobrevivência.

e) Incorreta. A alternativa é incoerente, pois propõe a redução das emissões de gases de efeito estufa a partir de desmatamentos, o que notoriamente é uma forma de emissão de gases pró efeito estufa.

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Fuso Horário

No encerramento da temporada regular 2015-2016 da liga americana de basquete, o ídolo do Los Angeles Lakers, Kobe Bryant, despediu-se das quadras numa partida diante do Utah Jazz. O jogo foi realizado na Califórnia, que fica no fuso horário 120º oeste, no dia 13.04.2016 às 19h30 (horário local).

 

(http://sportv.globo.com. Adaptado.)

 

Ciente de que os EUA utilizavam o horário de verão, a última atuação do atleta foi transmitida ao vivo às

 



a)
01h30 do dia 14.04.2016 para o arquipélago Fernando de Noronha.
b)
22h30 do dia 13.04.2016 para o estado do Acre.
c)
21h30 do dia 13.04.2016 para a capital do Amazonas.
d)
00h30 do dia 14.04.2016 para o Distrito Federal.
e)
23h30 do dia 13.04.2016 para a cidade de São Paulo.
Resolução

Para resolver a questão o vestibulando deveria ter a seguinte noção espacial:

<** DIAGRAMA VETORIAL NÃO CONVERTIDO **>

Horas aumentam para leste

Obs.: Deve-se considerar que o fuso da Califórnia, por estar em horário de Verão, avança 1 hora sincronizando-se com o fuso do meridiano 105°. Já São Paulo está no mesmo fuso de Brasília, portanto, após esse raciocínio a única resposta viável seria a alternativa E.

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Projeções Cartográficas

Hajime Narukawa, arquiteto japonês, desenvolveu uma projeção cartográfica mediante a modelagem de poliedros. Denominada de Authagraph, a sua proposta permite a representação da superfície terrestre em um plano retangular sem lacunas, mantendo de modo substancial a área e a forma de todos os oceanos e continentes, incluindo a Antártida, que foi negligenciada em muitos mapas.

(www.authagraph.com. Adaptado.)

 

Considerando conhecimentos sobre cartografia, assinale a alternativa que apresenta o planisfério elaborado com base na projeção descrita no excerto.



a)
a)
b)
b)
c)
d)
e)
Resolução

a) Incorreta. Claramente a projeção de Fuller da Terra não está representada de forma retangular, além disso, possui lacunas, o que contradiz o texto introdutório da questão.

b) Incorreta. A projeção cilíndrica conforme de Mercator apresenta distorções nas áreas dos continentes que aumentam à medida em que as latitudes aumentam, o que não condiz com a manutenção da área mencionada no texto.

c) Incorreta. A projeção cilíndrica de Robinson não se apresenta em formato retangular. Além disso, essa projeção, assim como a de Gall Peters e a projeção de Mercator, negligencia a Antártica mostrando-a de maneira distorcida.

d) Incorreta. A projeção cilíndrica equivalente de Gall-Peters apresenta distorções expressivas nas formas dos continentes. Além disso, essa projeção negligencia a Antártica representando-a muito distorcida.

e) Correta. Como dito no texto introdutório essa projeção, inspirada no origami (arte milenar japonesa), representa a Terra em um plano retangular e apresenta as formas e áreas dos oceanos e continentes muito próximas da realidade.

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Razão

Sou imperfeito, logo existo. Sustento que o ser ou é carência ou não é nada. Sustento que uma pessoa com deficiência intelectual é um ser com carências e imperfeições. Sustento que eu, você e ele somos seres com carências e imperfeições. Portanto, concluo que nós, os seres humanos, pelo fato de existir, somos – TODOS – incapazes e capazes intelectualmente. A diferença entre um autista severo e eu é o grau de carência, não a diferença entre o que somos. A “razão alterada” é um tipo de racionalidade diferenciada que considera as pessoas como seres únicos e não categorizados em padrões sociais que agrupam as pessoas por níveis, índices ou coeficientes.

(Chema Sánchez Alcón. “Crítica de la razón alterada”. http://losojosdehipatia.com.es, 30.10.2016. Adaptado.)

 

De acordo com o texto, “razão alterada” é



a)
um conceito filosófico destinado a criticar a valorização da diferença no campo intelectual.
b)
uma racionalidade tradicional voltada à pesquisa filosófica do ser como entidade metafísica.
c)
um conceito científico empregado para legitimar padrões de normalidade com base na biologia.
d)
uma metodologia científica que expressa a diferença entre seres humanos com base no coeficiente intelectual.
e)
um tipo de racionalidade contestadora de padrões sociais e dotada de pretensões universalistas.
Resolução

a) Incorreta. O conceito apresentado de “razão alterada” valoriza as diferenças, como fica claro no trecho “a “razão alterada” é um tipo de racionalidade diferenciada que considera as pessoas como seres únicos e não categorizados em padrões sociais”.

b) Incorreta. A racionalidade apresentada como razão alterada não está voltada para a pesquisa filosófica do ser como entidade metafísica, ou seja, geral e definido pela própria existência, mas sim como uma perspectiva que busca entender cada ser humano como único.

c) Incorreta. O conceito de razão alterada apresentado questiona o enquadramento de indivíduos em padrões de normalidade em geral.

d) Incorreta. A invenção do conceito de razão alterada tem como objetivo contestar “padrões sociais que agrupam as pessoas por níveis, índices ou coeficientes”, o que inclui, portanto, o coeficiente intelectual.

e) Correta. Ao afirmar que não há diferenças significativas entre o que é uma pessoa com deficiências intelectuais ou outra como o autor ou o leitor, afirmando que todos se caracterizam por ter carências e imperfeições, sendo diferente apenas o grau de carência, o autor implode os padrões sociais que entendem pessoas com deficiência como seres diferentes por definição dos outros seres humanos. Ao propor que todos são ao mesmo tempo capazes e incapazes intelectualmente, o autor traça um preceito que visa ser universal, ou seja, falar de todos os seres humanos.

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Descartes

De um lado, dizem os materialistas, a mente é um processo material ou físico, um produto do funcionamento cerebral. De outro lado, de acordo com as visões não materialistas, a mente é algo diferente do cérebro, podendo existir além dele. Ambas as posições estão enraizadas em uma longa tradição filosófica, que remonta pelo menos à Grécia Antiga. Assim, enquanto Demócrito defendia a ideia de que tudo é composto de átomos e todo pensamento é causado por seus movimentos físicos, Platão insistia que o intelecto humano é imaterial e que a alma sobrevive à morte do corpo.

(Alexander Moreira-Almeida e Saulo de F. Araujo.

“O cérebro produz a mente?: um levantamento da opinião de psiquiatras”. www.archivespsy.com, 2015.)

A partir das informações e das relações presentes no texto, conclui-se que



a)
o progresso da neurociência estabeleceu provas objetivas para resolver um debate originalmente filosófico.
b)
a dualidade entre mente e cérebro foi conceituada por Descartes como separação entre pensamento e extensão.
c)
os argumentos materialistas resgatam a metafísica platônica, favorecendo hipóteses de natureza espiritualista.
d)
o pensamento de Santo Agostinho se baseou em hipóteses empiristas análogas às do materialismo.
e)
a hipótese da independência da mente em relação ao cérebro teve origem no método científico.
Resolução

a) Incorreta. O texto é extraído de um artigo cujo título indica tratar-se de um levantamento da opinião de psiquiatras a respeito da materialidade da mente, e afirma explicitamente que entre eles existem os materialistas e os não-materialistas. Assim, não se pode afirmar a partir do texto, como pede o enunciado, que a neurociência contemporânea tenha resolvido a questão através de provas objetivas.

b) Correta. Descartes diferencia a res cogitans (substância pensante, e na, alternativa, pensamento) da res extensa (substância extensa, e na alternativa, extensão). A res extensa caracteriza-se pela sua extensão, ou seja pelo lugar que ocupa no espaço, em quantidade, forma e movimento, e por isso pode ser medida e entendida de forma mecanicista – corresponderia, na associação feita pela questão, ao corpo. A res cogitans tem como principal atributo o pensamento, sendo portanto imaterial e não estando restrita ao corpo – corresponderia, na questão, à ideia de mente. Para Descartes, o ser humano seria a unidade entre a res extensa e a res cogitans, e esta dualidade entre corpo e mente, portanto, parte de nossa constituição.

c) Incorreta. Segundo o próprio texto, Platão “insistia que o intelecto humano é imaterial e que a alma sobrevive à morte do corpo”, o que é incompatível com a perspectiva materialista mostrada no texto, para quem “a mente é um processo material ou físico, um produto do funcionamento do cérebro”.

d) Incorreta. O pensamento de Santo Agostinho parte de uma retomada do pensamento de Platão, distanciando-se em muito de qualquer bases empírica e também do materialismo como descrito pelo enunciado.

e) Incorreta. O texto afirma que a hipótese de independência da mente em relação ao corpo (e, portanto, em relação ao cérebro) tem origem muito antes da invenção histórica do método científico pela modernidade, mais especificamente na Grécia Antiga, citando como exemplo o pensamento de Platão.

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Consciência coletiva e individual

 

Texto 1

Victor Frankl descrevia o fanático por dois traços essenciais: a absorção da própria individualidade na ideologia coletiva e o desprezo pela individualidade alheia. “Individualidade” é a combinação singular de fatores que faz de cada ser humano um exemplar único e insubstituível. O que o fanático nega aos demais seres humanos é o direito de definir-se nos seus próprios termos. Só valem os termos dele. Para ele, em suma, você não existe como indivíduo real e independente. Só existe como tipo: “amigo” ou “inimigo”. Uma vez definido como “inimigo”, você se torna, para todos os fins, idêntico e indiscernível de todos os demais “inimigos”, por mais estranhos e repelentes que você próprio os julgue.

(Olavo de Carvalho. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota, 2013. Adaptado.)

 

Texto 2

É necessário questionar a função de amparo identitário de todas as formas de organização de massas – partidos, igrejas, sindicatos – independente de seu objetivo político manifesto, de esquerda ou de direita. Não é descabido supor que qualquer organização de massas tenha o potencial de favorecer em seus membros a adesão à identidade de vítimas, sendo um sério obstáculo à luta pela autonomia e pela liberdade de seus membros.

(Maria Rita Kehl. Ressentimento, 2015. Adaptado.)

 

Os dois textos



a)
concordam que o pertencimento ideológico de direita é critério exclusivo para definir o fanatismo político.
b)
sustentam que a união dos oprimidos em organizações de massa é mais importante que a individualidade.
c)
utilizam os conceitos de fanatismo e de identidade coletiva para questionar o irracionalismo.
d)
defendem a importância de diferenças claras entre amigos e inimigos no campo da política.
e)
apresentam argumentos favoráveis a ideias e comportamentos totalitários no campo da política.
Resolução

a) Incorreta. O texto 2 não fala de fanatismo, mas de identidade, e coloca de forma explícita que as questões que observa são verificáveis à esquerda e à direita do espectro político.

b) Incorreta. Pelo contrário, os dois textos afirmam a importância da individualidade.

c) Correta. O texto 1 aponta o que chama de “fanatismo” como causa para atitudes irracionais. O texto 2 contém a ideia de que qualquer “organização de massas” favorece que seus membros se entendam como vítimas, o que também se aproximaria de uma postura irracional.

d) Incorreta. O texto 1 critica a postura de dividir os indivíduos entre “amigos” e “inimigos” na política.

e) Incorreta. Ambos os textos discorrem sobre política, e apontam de forma crítica para o perigo representado pela atitude de tratar os indivíduos de maneira a desconsiderar suas diferenças e autonomia, o que é incompatível com uma defesa do comportamento totalitário.

Questão 58 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Mídias digitais

A mídia é estética porque o seu poder de convencimento, a sua força de verdade e autoridade, passa por categorias do entendimento humano que estão pautadas na sensibilidade, e não na racionalidade. A mídia nos influencia por imagens, e não por argumentos. Se a propaganda de um carro nos promete o dom da liberdade absoluta e não o entrega, a propaganda política não vai ser mais cuidadosa na entrega de suas promessas simbólicas, mesmo porque ela se alimenta das mesmas categorias de discurso messiânico que a religião, outra grande área de venda de castelos no ar.

(Francisco Fianco. “O desespero de pensar a política na sociedade do

espetáculo”. http://revistacult.uol.com.br, 11.01.2017. Adaptado.)

 

Considerando o texto, a integração entre os meios de comunicação de massa e o universo da política apresenta como implicação



a)
a redução da discussão política aos padrões da propaganda e do marketing.
b)
o apelo a recursos intelectuais superiores de interpretação da realidade.
c)
a ampliação concreta dos horizontes de liberdade na sociedade de massas.
d)
a mobilização de recursos simbólicos ampliadores da racionalidade.
e)
o fortalecimento das instituições democráticas e dos direitos de cidadania
Resolução

a) Correta. O texto afirma que, uma vez que o universo da política esteja integrado aos meios de comunicação de massa, ele passa a estar sujeito aos mesmo mecanismos de apelo que são utilizados nestes meios. Desta forma, passa a importar mais o convencimento da sensibilidade, e a formação de imagens sedutoras, que dialogam com desejos íntimos e por vezes não formulados racionalmente, do que o que acontece na realidade prática, o que é típico do universo da publicidade.

b) Incorreta. O texto apresenta uma dimensão de irracionalidade da política, especialmente no que diz respeito à importância que a propaganda ganha. Tal diagnóstico é incompatível com uma percepção que a relação entre os meios de comunicação e a política implique um apelo a recursos intelectuais superiores de interpretação da realidade. Ele afirma, ao contrário, que ocorre uma extrema simplificação do debate político, que passa a se dirigir à sensibilidade, e não à razão.

c) Incorreta. No panorama apresentado pelo texto, não há referência a perspectivas de ampliação da liberdade.

d) Incorreta. O texto sustenta que “a mídia nos influencia por imagens, e não por argumentos”, e que o convencimento da mídia se daria através da sensibilidade, não da racionalidade. Assim, seguindo a perspectiva apresentada pelo texto, a integração da lógica da mídia ao universo da política não pode implicar em ampliação da racionalidade, mas sim numa retração dela.

e) Incorreta. Ao invés de fortalecimento da democracia e dos direitos de cidadania, o texto apresenta um panorama em que a política se preocupa cada vez menos com o que entrega na realidade, e cada vez mais com o apelo ilusório de suas propostas.

Questão 59 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Filosofia Moderna

Os homens, diz antigo ditado grego, atormentam-se com a ideia que têm das coisas e não com as coisas em si. Seria grande passo, em alívio da nossa miserável condição, se se provasse que isso é uma verdade absoluta. Pois se o mal só tem acesso em nós porque julgamos que o seja, parece que estaria em nosso poder não o levarmos a sério ou o colocarmos a nosso serviço. Por que atribuir à doença, à indigência, ao desprezo um gosto ácido e mau se o podemos modificar? Pois o destino apenas suscita o incidente; a nós é que cabe determinar a qualidade de seus efeitos.

(Michel de Montaigne. Ensaios, 2000. Adaptado.)

De acordo com o filósofo, a diferença entre o bem e o mal



a)
resulta da queda humana de um estado original de bem-aventurança e harmonia geral do Universo.
b)
representa uma oposição de natureza metafísica, que não está sujeita a relativismos existenciais.
c)
depende do conhecimento do mundo como realidade em si mesma, independente dos julgamentos humanos.
d)
depende sobretudo da qualidade valorativa estabelecida por cada indivíduo diante de sua vida.
e)
relaciona-se com uma esfera sagrada cujo conhecimento é autorizado somente a sacerdotes religiosos.
Resolução

No texto do enunciado, Montaigne afirma que seria um alívio se a ideia grega de que “os homens (...) atormentam-se com a ideia que tem das coisas e não com as coisas em si” fosse verdade, pois poderíamos assim não levar o mal a sério, ou poderíamos colocá-lo “a nosso serviço”, ou modificá-lo. Isso porque, para Montaigne, caso a ideia grega seja válida, seria possível a nós, seres humanos, não considerar mal coisas que de fato consideramos mal (ele cita como exemplos doença, indigência, desprezo). Desta maneira, o texto de Montaigne apresenta uma ideia do mal (e por consequência lógica, do bem) como resultado de uma percepção humana, não como uma realidade em si, o que invalida imediatamente a alternativa C, que afirma que o julgamento humano não importa na definição de mal e bem. Uma vez que o texto apresenta a possibilidade de todas as coisas que consideramos mal serem apenas interpretadas como tal, invalidam-se também as alternativas A e B, que apresentam explicações que pressupõem uma definição exata e objetiva (e verificável da mesma forma na realidade por todos) do que seria bem e mal. Na alternativa A, bem e mal seriam resultado da queda dos seres humanos ocorrida no Velho Testamento, e a alternativa B propõe uma oposição de natureza metafísica entre bem e mal, ou seja, existiria algo definido a priori como o bem e o mal e ambos seriam opostos. Por sua vez, não há nada no texto que refira o mal como algo que deva ser definido por sacerdotes, o que invalida a alternativa E. Pelo contrário, o texto afirma que quem atribui valores aos incidentes que o destino traz somos nós mesmos (“pois o destino apenas suscita o incidente, a nós é que cabe determinar a qualidade dos seus efeitos”), de maneira que está correta a alternativa D, que menciona a importância da qualidade valorativa de cada indivíduo em relação aos acontecimentos da vida.

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Locke (FSH)

Posto que as qualidades que impressionam nossos sentidos estão nas próprias coisas, é claro que as ideias produzidas na mente entram pelos sentidos. O entendimento não tem o poder de inventar ou formar uma única ideia simples na mente que não tenha sido recebida pelos sentidos. Gostaria que alguém tentasse imaginar um gosto que jamais impressionou seu paladar, ou tentasse formar a ideia de um aroma que nunca cheirou. Quando puder fazer isso, concluirei também que um cego tem ideias das cores, e um surdo, noções reais dos diversos sons.

(John Locke. Ensaio acerca do entendimento humano, 1991. Adaptado.)


De acordo com o filósofo, todo conhecimento origina-se



a)
da experiência com os objetos reais e empíricos.
b)
da reminiscência de ideias originalmente transcendentes.
c)
de uma relação dialética do espírito humano com o mundo.
d)
de categorias a priori existentes na mente humana.
e)
da combinação de ideias metafísicas e empíricas.
Resolução

a) Correta. Como mostra o texto, para Locke as ideias têm origem nas impressões geradas nos sentidos pelas “próprias coisas”, isto é, o que a alternativa chama de objetos reais e empíricos.

b) Incorreta. Locke é um expoente do empirismo filosófico e no texto do enunciado faz uma defesa da tese de que as ideias são produzidas pelos sentidos, o que se choca frontalmente com a ideia de ideias transcendentes, já presentes no intelecto humano de forma inata, independentes da experiência.

c) Incorreta. Para Locke, o conhecimento vem das impressões dos sentidos, não da relação do espírito com o mundo.

d) Incorreta. O conceito de categorias a priori é muito posterior a Locke, tendo sido cunhado por Immanuel Kant.

e) Incorreta. O texto deixa claro que para Locke todas as ideias derivam da experiência dos sentidos, sendo, portanto, todas empíricas.