As águas cristalinas do Caribe foram manchadas por uma invasão de sargaço, algas marrons que formam grandes ilhas flutuantes consideradas ecossistemas, onde se alimentam peixes, caranguejos e aves. O principal fator que contribui para a formação dessas ilhas de sargaço é a produção agrícola, com o uso de fertilizantes na região do Rio Amazonas. Os fertilizantes são arrastados pelas chuvas para o rio e chegam ao Oceano Atlântico. Em junho de 2018 a biomassa de sargaço atingiu mais de 20 milhões de toneladas.
(“Agricultura na Amazônia ‘alimenta’ formação de mancha gigante de algas marrons. https://oglobo.globo.com, 03.08.2019. Adaptado.)
(www.diariolibre.com)
a) Como é denominado o fenômeno decorrente do lançamento de fertilizantes no Oceano Atlântico, que contribui para a formação das ilhas de sargaço? Considere que em uma ilha de sargaço se alimentam uma espécie de peixe e uma espécie de ave. Esquematize uma pirâmide ecológica de biomassa que represente essa cadeia alimentar, indicando nessa pirâmide os organismos que a compõem.
b) A qual tipo de produtividade primária correspondem as 20 milhões de toneladas de biomassa de sargaço? Justifique sua resposta.
a) O fenômeno decorrente do lançamento de fertilizantes no Oceano Atlântico, que contribui para a formação das ilhas de sargaço, é a eutrofização.
A eutrofização pode ser causada por fatores naturais ou pode ter origem antrópica, ou seja, pode ser uma consequência de atividades humanas, como lançamento de fertilizantes, esgoto ou resíduos industriais nas águas de lagos, rios ou mares. Esses poluentes são ricos em nutrientes minerais, como nitrato e fosfato, os quais promovem o crescimento explosivo das populações de algas. De forma geral, a eutrofização envolve o aumento do tamanho das populações de organismos fitoplanctônicos, como cianobactérias, algas verdes, dinoflagelados, entre outras. Porém, o caso apresentado na questão envolve o crescimento explosivo de algas multicelulares pertencentes ao clado Phaeophyta (algas marrons), como o sargaço (Sargassum). As consequências da eutrofização envolvem:
A cadeia alimentar indicada na questão envolve três níveis tróficos: uma espécie de produtor (sargaço); uma espécie de consumidor primário (peixe); e uma espécie de consumidor secundário (ave). Portanto, a cadeia alimentar poderia ser representada da seguinte forma:
Sargaço → Peixe → Ave
Essa mesma cadeia alimentar também pode ser representada como uma pirâmide de biomassa, na qual a largura de cada barra ou “degrau” indica a massa seca (ou seja, a massa total menos a massa referente à quantidade de água) existente naquele nível trófico.
Quando consideramos ambiente aquáticos, em geral o nível trófico dos produtores é representado por algas unicelulares do fitoplâncton, enquanto o nível trófico dos consumidores primários é representado por organismos heterótrofos microscópicos do zooplâncton (microcrustáceos, larvas de animais, protozoários etc.). Nesse caso, o nível trófico dos produtores possui uma biomassa menor do que o nível trófico dos consumidores primários, o que resulta em uma pirâmide invertida. Esse fenômeno pode ser explicado pela alta taxa reprodutiva das algas fitoplanctônicas, que, apesar de apresentar uma menor biomassa, são capazes de sustentar uma biomassa maior de zooplâncton.
No entanto, a cadeia alimentar considerada apresenta algas multicelulares (sargaço) ocupando o nível trófico dos produtores e apresenta peixes ocupando o nível trófico dos consumidores primários. Logo, a pirâmide de biomassa será direita (base larga e topo estreito), como é característico de ambientes terrestres (Figura 1).
Figura 1: pirâmide de biomassa para uma cadeia alimentar constituída por sargaço, peixes e aves. A biomassa de sargaço será maior do que a biomassa de peixes, uma vez que essas algas multicelulares não apresentam uma taxa reprodutiva tão elevada quanto à das algas unicelulares do fitoplâncton.
b) O tipo de produtividade primária correspondente aos 20 milhões de toneladas de biomassa de sargaço é a produtividade primária líquida (PPL). A PPL representa a energia, na forma de compostos orgânicos, presente no nível trófico dos produtores. Essa energia química foi convertida por meio da fotossíntese realizada pelos cloroplastos dos organismos autótrofos, cujo valor total é chamado de produtividade primária bruta (PPB). A diferença entre o valor total de energia convertido pela fotossíntese (PPB) e a energia armazenada nas células (PPL) representa o calor perdido pela utilização dos compostos orgânicos durante a respiração aeróbica (R), para a síntese de ATP. Logo, temos que:
PPL = PPB – R
A produtividade primária líquida é a energia utilizada pelas algas e também pelas plantas para a produção de novas células e, portanto, para o crescimento, o desenvolvimento e a reprodução. Assim, a produtividade primária líquida é a quantidade de energia presente no nível trófico dos produtores e é representada pelo tamanho da barra em uma pirâmide de biomassa.
Em células-tronco embrionárias (CTEs), o potencial de pluripotência pode variar entre as células oriundas de um mesmo embrião. À medida que o embrião se desenvolve, as células-tronco alteram a quantidade de determinados microRNAs, pequenas moléculas de RNA que apresentam uma sequência de nucleotídeos complementar à de um RNA mensageiro. Os microRNAs degradam ou impedem a tradução dos RNAs mensageiros a que se associam e, dessa forma, contribuem para a manutenção da pluripotência das CTEs.
O entendimento desses mecanismos de regulação da pluripotência pode auxiliar as pesquisas com as CTEs e também com as células-tronco pluripotentes induzidas (iPS), obtidas a partir de células adultas de pacientes, modificadas em laboratório.
(“Novos mecanismos que regulam a pluripotência em células-tronco embrionárias são desvendados”. www.portaldaenfermagem.com.br, 18.08.2019. Adaptado.)
a) Qual é a sequência de bases nitrogenadas no microRNA que se liga à sequência de bases CAGU de um RNA mensageiro? Cite outra molécula de RNA que pode se ligar ao RNA mensageiro.
b) No que consiste a pluripotência das CTEs? Qual a vantagem do uso de células iPS na formação de tecidos para transplantes?
a) A complementaridade observada entre fitas de RNA são as seguintes: a base A é complementar à base U e a base C é complementar a G. Dessa forma a sequência do microRNA complementar à sequência CAGU do RNA mensageiro (RNAm) seria GUCA.
Durante a síntese de proteínas, as moléculas de RNA transportador ou de transferência (RNAt), que carregam os aminoácidos que serão adicionados à cadeia polipeptídica, posicionam-se nos sítios P (peptidil) e A (aminoacil) da subunidade maior do ribossomo. Nesse processo, a definição da sequência dos aminoácidos adicionado à cadeia é definida pelos códons existentes na molécula de RNAm. Cada RNAt tem em uma das extremidade o aminoácido transportado e na outra um anticódon, que deverá ser complementar ao códon do RNAm, como na figura abaixo:
Assim sendo, a molécula que pode se ligar ao RNA mensageiro é o RNA transportador e essa ligação ocorre durante a síntese de proteínas em uma etapa denominada tradução.
b) A pluripotência das células-tronco embrionárias (CTEs) consiste na capacidade que essas células têm de se diferenciar em inúmeros tipos de células. Possuímos em nosso corpo mais de duzentos tipos celulares distintos, cada um dotado de características particulares e funções específicas. Diferentemente das células já adultas e especializadas, as CTEs são indiferenciadas e não possuem especialização. Durante o desenvolvimento embrionário, essas células podem ser induzidas à diferenciação e passarão a apresentar as características morfológicas, fisiológicas e funcionais do tecido ao qual fazem parte.
As células-tronco pluripotentes induzidas (iPS) são obtidas a partir de células já adultas que passaram por um processo que as induziram a retroceder no caminho de diferenciação. Desse modo, as iPS também podem possuir pluripotência e serem utilizadas em uma infinidade de pesquisas e terapias. A vantagem do uso de iPS é que elas podem ser obtidas a partir de células retiradas do próprio paciente, evitando problemas de rejeição, como aquelas que poderiam ocorrer em casos de transplantes de tecidos. Como as células originais são obtidas da mesma pessoa na qual o tratamento será realizado não haverá problemas de incompatibilidade.
Dois ecólogos viram um toco de árvore que, à primeira vista, parecia estar morto, porém, notaram que ele estava vivo. Intrigados, os cientistas instalaram no toco e em uma árvore ao lado instrumentos para medir o fluxo de água.
Os resultados mostraram que o funcionamento das duas plantas estava intimamente interligado. Nos dias de sol, a árvore absorvia água do solo, enquanto o toco permanecia dormente. À noite, era o toco que se hidratava, e a árvore não absorvia mais água. Ao que tudo indica, a fusão de várias raízes criou um verdadeiro sistema de encanamento compartilhado no solo daquela floresta.
(A. J. Oliveira. “O toco de árvore que se recusa a morrer”. https://super.abril.com.br, 29.07.2019. Adaptado.)
a) Durante a noite, como se apresentavam os ostíolos dos estômatos nas folhas da árvore? Qual a consequência desse comportamento dos ostíolos em relação ao fluxo de dióxido de carbono da atmosfera para o mesófilo?
b) Em qual tecido vegetal os ecólogos mediram o fluxo de água presente no toco e na árvore? Por que somente a hidratação não justifica o toco estar vivo?
a) Durante a noite, os ostíolos dos estômatos nas folhas da árvore se apresentam fechados. Um dos principais fatores que regulam a abertura dos estômatos, junto com a disponibilidade de água no solo e a concentração de gás carbônico no mesófilo foliar, é a presença de luz. A luz, principalmente na faixa do azul do espectro eletromagnético, é absorvida por fotorreceptores presentes nas células-guarda. A absorção de luz por esses pigmentos estimula o funcionamento de bombas de prótons (H+), as quais criam um gradiente de H+ entre o meio intracelular e o meio extracelular ([H+]extra > [H+]intra). Esse gradiente permite a entrada de íons potássio (K+) nas células-guarda, fenômeno que aumenta a pressão osmótica dessas células e possibilita o transporte de água para o meio intracelular. Desse modo, as células-guarda ganham água e se tornam túrgidas, resultando na abertura do ostíolo. O processo inverso acontece na ausência de luz, ou seja, durante a noite, resultando no fechamento do ostíolo.
A abertura dos estômatos das folhas é fundamental para que haja um fluxo de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera para o mesófilo foliar. Isso decorre da presença, nas folhas e caules jovens, da cutícula, uma camada constituída por compostos hidrofóbicos (p. ex. cutina) que tornam a superfície da planta impermeável tanto ao transporte de água (evitando, assim, a dessecação do vegetal) quanto ao transporte de gases. Portanto, pode-se afirmar que a abertura e o fechamento dos estômatos dependem de um equilíbrio entre a necessidade de realizar trocas gasosas (O2 e CO2) e a necessidade de economizar água. Assim sendo, durante a noite, quando não há luz e, consequentemente, a taxa de fotossíntese é nula, os estômatos se fecham para limitar a perda de água, o que também leva à interrupção do fluxo de dióxido de carbono da atmosfera para o mesófilo.
b) Os ecólogos mediram o fluxo de água presente no toco e na árvore por meio de sensores instalados no tecido chamado de xilema ou lenho. Esse tecido é formado por traqueídes e elementos de vaso, células mortas e cujas paredes são impregnadas de lignina, substância hidrofóbica e que torna essas células altamente resistentes. O xilema é o tecido por onde flui a seiva bruta da planta, que é constituída por água e sais minerais que foram absorvidos do solo. A seiva bruta é sempre transportada das raízes em direção às folhas do vegetal, ou seja, o fluxo de seiva bruta é sempre unidirecional.
Somente a hidratação não justifica o toco estar vivo porque as células das plantas, assim como a de todos os seres vivos, dependem também de moléculas orgânicas para a produção de energia e para a construção de organelas e biomembranas. Portanto, para se confirmar a existência de células e tecidos vivos no toco estudado, é necessário averiguar se existe um fluxo de seiva elaborada. Esta é constituída por compostos orgânicos, como açúcares, como a sacarose, e aminoácidos, e flui através do tecido chamado de floema ou líber. A translocação de seiva elaborada no floema ocorre sempre dos órgãos fonte (regiões produtoras de carboidratos) para os órgãos dreno (regiões consumidoras de carboidratos), sendo, ao contrário do fluxo de seiva bruta, bidirecional.
Caso as células que formam o toco estejam mortas, ainda assim é possível a existência de um fluxo de seiva bruta, porém não de seiva elaborada. Isso é possível porque os traqueídes e os elementos de vaso, que constituem o xilema, são células mortas e seu diâmetro é pequeno o suficiente para que seja possível a condução de água por capilaridade. Esse fenômeno promove a subida de uma coluna de água através de tubos extremamente finos, sendo o resultado de fenômenos somente físico-químicos: adesão das moléculas de água às paredes do tubo; e também coesão entre as moléculas de água.
Pesquisadores conseguiram fazer com que macacos que sofriam de paralisia em uma das pernas, devido a lesões na espinha, pudessem retomar o movimento com o uso de um dispositivo wireless implantado no cérebro.
Os macacos tiveram chips implantados nas partes do cérebro que controlam o movimento. Os chips detectam os impulsos elétricos com as instruções para mexer a perna e enviam os dados para um computador sobre a cabeça dos macacos. O computador decifra as mensagens e envia as instruções em modo wireless para receptores, adaptados à coluna, que estimulam os nervos correspondentes por meio de sinais elétricos. A transferência de informações em modo wireless ocorre sempre em um único sentido.
(Janus Gallagher. “Tecnologia wi-fi ajuda a reverter paralisia em macacos”, 10.11.2016. www.bbc.com. Adaptado.)
a) Que células interagem com os chips implantados no cérebro dos macacos? Como se denominam os nervos que conectam a medula espinhal às células musculares que movimentam a perna dos macacos?
b) Ao espetar com um alfinete a perna que sofre paralisia, há reação de afastamento repentino da perna, porém os macacos não sentem que foram espetados. Qual o papel da medula espinhal nesse afastamento repentino? Por que a transferência de informações em modo wireless não permite que os macacos sintam que essa perna foi espetada pelo alfinete?
a) De acordo com o enunciado, os macacos tiveram chips implantados nas partes do cérebro que controlam o movimento, portanto, as células que interagem com os dispositivos implantados são os neurônios. O tecido nervoso é constituído por vários tipos de células, como oligodendrócitos, astrócitos, micróglia e outras, no entanto, são os neurônios as principais células, pois eles são os responsáveis pela atividade eletroquímica que resulta na condução e transmissão dos impulsos que controlam e integram o funcionamento de todos os sistemas corporais.
O sistema nervoso é formado pelo sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP), sendo que esse último pode ser dividido funcionalmente em sistema nervoso autônomo (SNA) e sistema nervoso somático (SNS).
O SNS é composto por neurônios sensitivos e neurônios motores. Os primeiros são responsáveis por transmitir as informações sensoriais obtidas nos órgãos sensoriais corporais até à medula do SNC. Já os neurônios motores são responsáveis por levar os impulsos gerados no SNC até à musculatura e promover o controle voluntário da musculatura esquelética.
O SNP é constituído por 12 pares de nervos cranianos e 31 pares de nervos raquidianos. Dentro desses nervos são encontrados tanto neurônios sensitivos como neurônios motores. Assim, os nervos que conectam a medula espinhal às células musculares que movimentam a perna do macaco são os nervos raquidianos (ou espinhais) e os neurônios que transportam o impulso para a contração muscular são os neurônios motores.
b) O afastamento repentino da perna descrito como resposta ao estímulo do alfinete é o ato reflexo. O comportamento é involuntário, sem participação do encéfalo e resulta do arco reflexo, um fenômeno que conta exclusivamente com neurônios da medula do SNC (neurônios associativos) e neurônios sensitivos e motores do SNP. No arco-reflexo em questão, o estímulo do alfinete resulta em um impulso nervoso que é conduzido pelo neurônio sensitivo até os neurônios associativos da medula, em seguida é transmitido diretamente ao neurônio motor que o conduz até à musculatura, produzindo o movimento. Como não há participação encefálica o processo ocorre involuntariamente e tem como objetivo fornecer uma resposta rápida à estímulos nocivos com o intuito de reduzir a intensidade da lesão causada pelo estímulo. Portanto, a função da medula no afastamento da perna, exercidas pelos neurônios associativos, é de integrar a atividade dos neurônios sensitivos à dos motores, uma vez que está conectado em ambos pelas suas extremidades.